HÁ EXATOS TRÊS ANOS DA MORTE DO GENIAL GABO
A morte do escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez, há
exatos três anos no dia 17/04/2014, comocionou não só o mundo literário mas
também o conjunto da intelectualidade política mundial. Gabo, como era chamado
pelos amigos, teve “gravado” na infância as histórias contadas pelo seu avô, o
coronel Nicolás Marquez, que participou da guerra civil colombiana. Esta
“influência” talvez tenha determinado os primeiros passos literários de Gabo,
que notadamente admirava o autor tcheco Franz Kafka, em especial sua obra “A
Metamorfose”. Nesta simbiose, dos contos mágicos de seu avô e no estudo do
melhor acervo literário mundial, surge o escritor genial Gabo, que lançando o
livro “Cem anos de solidão”, em 1967, crava seu nome no panteão dos mestres ao
criar um novo estilo literário, o chamado “Realismo Mágico”. Mais do que uma
“nova escola”, o Realismo Mágico representou na arte de escrever a simbologia
da formação de uma nação, muito mais do que a história de só um país, o retrato
mítico da América Latina, com todas suas agruras reais e sua magia peculiar
fruto do “cruzamento” de várias civilizações.Além de grande escritor, Gabo era
um prodigioso jornalista. Foi correspondente internacional duas vezes: a
primeira em 1958, na Europa, e a segunda em 1961, em Nova York, onde foi
perseguido pela CIA por suas críticas a exilados cubanos (gusanos) e suas
ligações com Fidel Castro. Na época ele trabalhava em nome da agência de
notícias cubana Prensa Latina e como sua situação ficou insustentável nos EUA
se mudou para o México, onde passou boa parte da vida. Neste interregno
escreveu: Cem Anos de Solidão, O Amor nos Tempos do Cólera, Crônica de uma
morte anunciada e tantos outros livros que se tornaram referência em todo
mundo. Publicado em 1967, Cem Anos de Solidão é considerado o mais importante
da carreira de García Márquez e também a segunda obra mais relevante de toda a
literatura hispânica, ficando atrás apenas de Dom Quixote de la Mancha, de
Miguel de Cervantes. Em 1982, García Márquez foi escolhido o vencedor do Nobel
de Literatura. Foi o segundo latino-americano a receber o prêmio, tendo sido o
chileno Pablo Neruda o primeiro. Em 1971, em meio ao governo de Allende
(1970-1973), respondendo a uma pergunta de um jornalista nova-iorquino,
declarou García Márquez: “Eu tenho a esperança de que toda a América Latina
seja socialista, mas agora as pessoas estão muito iludidas com um socialismo
pacífico, dentro da constituição. Tudo isso me parece muito bonito
eleitoralmente, mas creio que é totalmente utópico. O Chile está condenado a um
processo violento muito dramático. Mesmo que a Frente Popular vá avançando –
com inteligência e muito tato, a passos bastante rápidos e firmes – chegará um
momento em que encontrará um muro que lhe opõe seriamente”. Nesta altura Gabo
já prognosticava o desenlace trágico, para a classe operária, da experiência
política chilena da Frente Popular.
Amigo pessoal de Fidel, Gabo se manteve até a morte na
defesa de Cuba... junto a Castro nos acertos e também graves erros cometidos.
Alimentando ilusões no governo do Partido Democrata de Bill Clinton, em 1998
Fidel Castro pediu que Gabo se encontrasse com o presidente ianque para
entregar-lhe um dossiê organizado pelo serviço de inteligência cubana que
atuava secretamente nos EUA em que denunciava a ação de terroristas na Flórida.
Longe de combater os agentes da reação interna, Clinton ordenou que a CIA e o
FBI montassem uma operação de “guerra” contra Cuba, resultando na prisão dos
chamados “5 Heróis cubanos”. Já em 2003, quando a “intelectualidade progressista”
mundial, como José Saramago, criticou o Estado operário cubano pelos
fuzilamentos dos sabotadores financiados pela CIA, o escritor colombiano se
manteve firme (mesmo isolado) na defesa da Ilha. Por conta disso, o ex-amigo e
depois inimigo declarado Mario Vargas Llosa lhe atacou violentamente
denunciando-o como “Lacaio de Fidel”. Neste momento, Gabo soube ser firme e não
somou-se ao “clamor” imperialista que em nome da democracia e dos supostos
“direitos humanos” rechaçava o direito a que o Estado Operário se defendesse
contra espiões e sabotadores contrarrevolucionários.García Márquez também foi
criador da Fundação do Novo Cinema Latino-Americano (FNCL), em Cuba, cuja
missão era “unificar” a nova produção cinematográfica da região. Neste ano, a
Escola Internacional de Cinema e Televisão (EICTV) completa 25 anos com 744
graduados, procedentes de 18 países da Ásia, África e América Latina. Um dos
filhos de Gabo, Rodrigo Garcia, é diretor de cinema dedicando-se atualmente à
criação de um enfoque crítico latino-americano sobre a chamada “sétima arte”.
A obra literária e a trajetória pessoal de Gabo ultrapassam
historicamente os acertos e erros cometidos por este grande escritor
latino-americano. Sua morte como uma crônica anunciada se dispersa em seus
livros que já conquistaram a imortalidade física. Magia e realidade agora se
fundem plenamente no espírito de um povo que resiste à deculturação de suas
raízes. As lágrimas de crocodilo dos chacais imperialistas, derramadas no
anúncio de sua morte, como as de Clinton e Obama, não macularão o combate
corajoso dado por Gabo por seus ideais socialistas e pela libertação de um povo
continental. Nós do Blog da LBI prestamos nosso modesto tributo ao companheiro
Gabo que soube honrar com dignidade cada minuto de sua vida na defesa de nosso
povo oprimido, muito consciente de que a arte tem sua função histórica e
revolucionária, assim como afirmou Trotsky: “Consideramos que a tarefa suprema
da arte em nossa época é participar consciente e ativamente da preparação da
revolução. No entanto, o artista só pode servir à luta emancipadora quando está
compenetrado subjetivamente de seu conteúdo social e individual, quando faz
passar por seus nervos o sentido e o drama dessa luta e quando procura
livremente dar uma encarnação artística a seu mundo interior”. (Manifesto por
uma Arte Revolucionária Independente, 1938).