HÁ QUATRO ANOS ATRÁS NA UCRÂNIA TEVE INÍCIO A BURLESCA
"REVOLUÇÃO LARANJA", ORGANIZADA PELA CASA BRANCA & CIA
MOBILIZAR OS TRABALHADORES PARA DERROTAR A REAÇÃO
FASCISTIZANTE PRÓ-UNIÃO EUROPEIA! FRENTE ÚNICA COM O GOVERNO YANUKOVICH PARA
DERROTAR OS AGENTES DO IMPERIALISMO! EM DEFESA DE UMA UCRÂNIA SOBERANA E
SOCIALISTA!
(Artigo originalmente publicado pelo Blog da LBI em
30/01/2014)
Rapidamente os acontecimentos na Ucrânia ganham contornos de
guerra civil. A oposição pró-União Europeia (UE) atua em unidade com bandos
fascistas para derrubar o governo do presidente Viktor Yanukovich, aliado da
Rússia de Putin. Além das barricadas erguidas na Praça da Independência (em
referência ao desligamento do país da antiga URSS), hordas de manifestantes
ocuparam o Ministério da Justiça e exigiram eleições já, buscando assim dar um
verniz democrático à ofensiva reacionária. Na verdade, esses grupos de direita
patrocinados pelo imperialismo ianque e europeu desejam de fato a mudança
completa do conjunto do regime político, para impor em Kiev uma marionete
alinhada servilmente aos interesses dos grandes monopólios. Na defensiva diante
da pressão das potências capitalistas ocidentais e da OTAN, Yanukovich tenta
nos últimos dias desesperadamente um acordo para formar um gabinete de “unidade
nacional”, já que nesta terça-feira, 28 de janeiro, o primeiro-ministro Nicolai
Azarov renunciou demonstrando claramente que a oposição pró-imperialista ganhou
terreno. Ocorre que os grupos fascistas resistem até mesmo a esta vergonhosa
“fórmula de transição” e desejam a queda imediata do governo, no que são
alimentados pela Casa Branca e Bruxelas. Como resposta limitada, manifestantes
pró-governo cercaram a embaixada dos EUA em Kiev exigindo o fim da violência e
a responsabilização dos insufladores do conflito. Desde a LBI, que há dois
meses denunciamos as manifestações reacionárias na Ucrânia, chamamos a formação
de milícias operárias, camponesas e populares em todo o país para enfrentar a
ofensiva fascistizante, atuando em unidade de ação com as forças políticas que
apoiam o governo nacional. Viktor Yanukovich vem se mostrando cada vez mais incapaz
de levar consequentemente este combate, tanto que colocou nas mãos do
parlamento burguês uma saída negociada para a crise, enquanto aguarda de fato o
desfecho das negociações de cúpula entre a Rússia e a UE que ocorrem nestes
dias. Nossa resposta deve ser o chamado a mobilizar os trabalhadores para
derrotar a reação fascistizante pró-União Europeia! Por uma frente única de
ação com o governo Viktor Yanukovich! Na barricada desta luta e sem patrocinar
ilusões no governo burguês e no próprio apoio da Rússia de Putin a Yanukovich,
chamamos os trabalhadores da cidade e do campo que sabem que seus direitos
estão com os dias contados se houver a incorporação a UE a defender uma Ucrânia
soberana e socialista!
Os dois principais partidos da oposição conservadora, o
Bloco Nossa Ucrânia/Autodefesa Popular (de Viktor Juscenko) e o Partido da
Pátria/Bloco Eleitoral (de Julia Tymosenko), decidiram enfrentar diretamente o
presidente Viktor Yanukovich e o então primeiro-ministro Nicolai Azarov após o
presidente anunciar na televisão que o governo havia finalizado as negociações
com a União Europeia, postergando, mais uma vez, a eventual entrada no bloco
dos países europeus e se aproximando novamente da Rússia. Além disso, Viktor
Yanukovich ressaltava que era mais conveniente em termos econômicos e
geoestratégicos para a Ucrânia reforçar o relacionamento com a Rússia. Para os
líderes da oposição, Viktor Juscenko e a riquíssima Julia Tymosenko – que,
oficialmente, continua presa por fraude à receita – esta foi a grande ocasião
para obrigar o presidente Viktor Yanukovich a demitir o primeiro-ministro e
consequentemente, promover novas eleições. Trata-se de uma espécie de ruptura
institucional, que deveria repetir o golpe branco de 2004, chamado de
“Revolução Laranja”, que ocorreu com a direta sustentação dos serviços secretos
dos EUA e dos principais países da União Europeia, nomeadamente: Alemanha,
França, Grã Bretanha e Países Baixos. Aliás, é pública a estreita ligação da
CIA com a líder do Partido da Pátria/Bloco Eleitoral, Julia Tymosenko, e o
envolvimento da Freedom House em sua campanha, bem como o uso de fundos
secretos para comprar os votos a favor de seu partido.
Depois da Rússia, a Ucrânia é a nação mais densamente
povoada da região – com cerca de 46 milhões de habitantes, dos quais um terço
de etnia russa – e com mais centrais nucleares (11) construídas pela então
União Soviética. Aliás, o atual presidente Viktor Yanukovich assinou com a
Rússia um novo protocolo para a construção de mais 12 centrais nucleares, além de
ampliar o acordo para o fornecimento do urânio enriquecido. Um negócio que,
juntamente com o fornecimento do gás, é o cerne das opções geoestratégicas do
atual governo da Ucrânia, a partir do momento em que foi a empresa russa
Gazprom que construiu na Ucrânia todos os terminais de distribuição para
abastecer os países europeus. Por isso, o governo de Kiev paga, ainda hoje, o
gás a preço de favor (50 dólares em vez de 230 dólares por mil metros cúbicos).
Por outro lado, na Ucrânia há muitas empresas russas de aviação, metalúrgicas e
mineração que os oligarcas ucranianos pretendem nacionalizar para depois
privatizar com a ajuda de transnacionais ocidentais. Um processo que se
iniciou, em 1996, para depois se expandir no ano 2000 quando Viktor Yanukovich
foi presidente e Julia Tymosenko se assenhoreou do cargo de primeira-ministra –
até ser demitida. Paralelamente, a decisão do Departamento de Estado ianque de
apoiar a fraudulenta aventureira Julia Tymosenko foi consequência política da
necessidade de os EUA ampliarem sua influência geoestratégica na Ucrânia e,
portanto, estar cada vez mais perto da região do Cáucaso, onde a Geórgia, a
Ossétia do Sul, a Inguchétia e a Abcásia querem romper com o protecionismo da
Rússia para negociar com as transnacionais do Ocidente seu potencial de gás e
de petróleo. Nesse contexto, somente um governo pró-imperialista, tal como
Viktor Jankovic e Julia Tymosenko propõem, pode exigir da Rússia a saída da
base naval de Sebastopol e entregá-la à OTAN.
Neste contexto dramático, o primeiro-ministro da Ucrânia,
Nicolai Azarov, submeteu o seu pedido de demissão à Presidência. Segundo
Azarov, seu passo reflete uma tentativa de acabar com a atual crise política no
país (com a investida violenta da direita) de forma negociada: “Para criar
possibilidades adicionais de compromisso social e político, para uma solução
pacífica para o conflito, eu tomei a decisão pessoal de pedir ao presidente
ucraniano que aceite a minha demissão do cargo de primeiro-ministro”, afirma a
declaração de Azarov. O líder do partido Udar, da oposição, Vitaly Klitchko,
que também tem incitado as massas nas ruas contra o governo e as forças de
segurança disse que o pedido de demissão do premiê foi um passo para “salvar a
pele”: “Hoje, a questão da demissão do governo e a sua responsabilidade estão
na agenda”, disse Klitchko, citado pela agência de notícias Interfax-Ucrânia.
“Estou certo de que a demissão [de Azarov] guarda algo por trás. Ele sabe que
fez de tudo para salvar a sua pele.” Para Klitchko, a decisão do premiê é “um
passo em direção à vitória” da oposição.
Por pressão da Rússia, o governo da Ucrânia se recusou no
último minuto a assinar o Acordo de Associação com a União Europeia (UE). Uma
série de condições humilhantes tornava a Ucrânia uma moribunda semicolônia
dentro da UE, apesar do atual presidente da antiga república soviética ter
aceitado (inicialmente) colocar parte da infraestrutura do país a serviço dos
grupos capitalistas europeus, inclusive os gasodutos russos que passam por seu
território e que abastecem a Europa. Frente ao recuo do presidente Viktor
Yanukovych na assinatura do tratado, manifestações tomaram as ruas da capital
do país, Kiev, no que a mídia “murdochiana” descreveu como a segunda etapa da
“revolução laranja”, referindo-se aos protestos que levaram o país em 2004 a se
distanciar da Rússia e se aproximar dos EUA e da UE, processo que foi
interrompido com a ascensão de Viktor Yanukovych ao governo, homem próximo a
Vladimir Putin. A oposição pró-imperialista exige a realização de eleições
presidenciais e legislativas antecipadas e a demissão do presidente, mas a
disputa já entra no terreno da guerra civil. Qualquer similaridade com o que
ocorreu na Líbia e está em curso da Síria não é mera coincidência...
Esta reação ocorreu porque o presidente ucraniano decidiu em
novembro que mesmo depois de seis anos de negociações e preparações, a
associação com a UE não poderia se concretizar porque seria um passo muito
doloroso para a economia nacional. Ele também falou sobre as condições draconianas
ditadas pelo FMI (cujas negociações foram fracassadas) sobre um empréstimo de
830 milhões de dólares necessários para assegurar a transição para as normas
europeias e requisitos técnicos, que exigiam privatizações, cortes de salários
e controle fiscal extremo. O tratado com o FMI inclui rebaixamento de salários
e congelamento de pensões, aumento do preço do gás, fim dos investimentos no
setor agrícola e de energia, o que seria um fardo pesado demais para a vida dos
ucranianos. Yanukovych enfatizou, no entanto, que não descarta que o acordo
poderia ser assinado em um futuro próximo, o que desatou a onda de protestos
incentivados pela UE. Na verdade, pelo grau de crise em outros países da UE,
como Grécia, Portugal, Itália, o FMI foi mais duro com a Ucrânia. Até então aos
novos membros e os países candidatos à adesão da UE foram concedidos
empréstimos de longo prazo, algo que foi oferecido à Ucrânia. A situação de
enorme pobreza do país, produto da restauração capitalista oriunda da
liquidação contrarrevolucionária da URSS, levou um terço de sua população de
cerca de 5,3 milhões de habitantes a viver abaixo da linha de pobreza. As
dramáticas condições de vida e o descontentamento com a corrupção generalizada
foram os móveis para a crise atual, em que a UE visa tirar o máximo de proveito
possível tentando retomar sua influência sobre o país, processo que a Rússia
deseja barrar.
O líder stalinista do Partido Comunista da Ucrânia, Petro
Simonenko enviou uma carta aberta ao presidente de República Viktor Yanukovich
denunciando as forças oposicionistas que têm provocado distúrbios no país, e a
ingerência de potências estrangeiras. De acordo com Simonenko, “os atuais
acontecimentos na Ucrânia, o sério agravamento dos enfrentamentos na sociedade
ucraniana entre os apoiadores da integração europeia e os que a isto se opõem,
levaram a desordens em massa, ao bloqueio de órgãos do poder estatal, ao
sequestro de edifícios da Administração, à destruição de monumentos
históricos”. Na opinião dos stalinisas ucranianos, tudo tem causado
instabilidade no país e acarreta uma série de consequências econômicas e
sociais negativas. “A Ucrânia se encontra à beira da divisão do país e da perda
da segurança nacional”, adverte Simonenko destacando que forças estrangeiras
têm desempenhado um papel particular no agravamento da situação. Ele denuncia
que membros das missões diplomáticas na Ucrânia apoiam abertamente a escalada
dos enfrentamentos, respaldam os partidários da integração europeia e aprovam
as declarações e os apelos do “líder” da oposição para aumentar o confronto. O
dirigente stalinista denuncia ainda o apoio material de fundações e
organizações públicas ou privadas, como a Usaid (Agência para o Desenvolvimento
Internacional dos Estados Unidos), o Open Society Institute, o National
Democratic Institute for International Affairs, que sob o pretexto de “defender
os valores democráticos”, “apoiar a criação de um espaço informativo”,
fomentaram a histeria contra o Estado no espírito de um sentimento antirrusso e
instigam a escalada do enfrentamento social no país.
Longe do que pregavam os revisionistas do PCO no passado e o
PSTU até agora, os atuais opositores não passam de velhos aliados do
imperialismo e inclusive ex-apoiadores da pretensa “revolução laranja”. Como se
constata, trata-se de mais uma falsa “revolução” voltada a acomodar os
interesses capitalistas na antiga república soviética, cujo governo atual não
conseguiu servir a dois senhores e os novos gestores estão a vender seus
serviços para quem melhor pagar. Para as massas, que lutaram tanto antes como
agora contra a miséria capitalista, produto da restauração capitalista na URSS,
cabe construir uma alternativa política independente dos dois bandos burgueses
em disputa. Esta tarefa é algo bem distante da política dos revisionistas do
trotskismo que tanto em 2004 como nos dias atuais saúdam as falsas revoluções
patrocinadas pelas quadrilhas burguesas que, apesar dos conflitos conjunturais,
têm o único objetivo de rapinar o país e torná-lo um apêndice militar a serviço
de seus interesses capitalistas na região.
Está colocado para o proletariado mundial e,
particularmente, para os trabalhadores das ex-repúblicas soviéticas rechaçarem
as investidas da UE, dos EUA e de seus agentes da Ucrânia. Apesar de não
depositarmos qualquer confiança no governo burguês ucraniano de Viktor
Yanukovych e do ex-burocrata Putin-Medvedev, cuja conduta está voltada a
defender os interesses da nascente burguesia russa, as fricções com a Casa
Branca objetivamente representam um obstáculo à expansão guerreirista da OTAN
na região. Nesse sentido, os revolucionários devem denunciar as manifestações
dos grupos pró-imperialistas e seu caráter contrarrevolucionário, voltado a
fazer na Ucrânia e na própria Rússia uma “transição democrática” conservadora
aos moldes da que vem sendo operada no Oriente Médio. Opomos-nos pelo vértice à
política dos grupos revisionistas que depois de saudarem a farsesca “revolução
árabe” agora apoiam as manifestações da direita assim como festejaram no
passado as “revoluções das cores” na Ucrânia, Geórgia, Quirguistão. Tais
“revoluções” nada mais eram que a segunda etapa da restauração capitalista em
curso nas antigas repúblicas soviéticas, hoje convertidas a países capitalistas
atrasados semicoloniais, quando o imperialismo ianque e europeu impuseram
títeres nos governos que ainda estavam sob a influência do Kremlin e mantinham
relações políticas e econômicas privilegiadas com a Rússia. Agora, a Ucrânia é
novamente a bola da vez da reacionária ofensiva do imperialismo, que tomou grande
impulso com a derrubada do regime Kadaffi pela OTAN, tendo Yanukovych como o
“adversário” indesejado a ser removido do governo! Somente os genuínos
trotskistas que não se deixaram levar pelo canto de sereia “humanitário”
imperialista, que se mantêm firmes na luta para que os povos oprimidos assumam
o controle dos recursos energéticos do planeta, pela expulsão dos abutres
multinacionais e expropriação do conjunto das burguesias mafiosas, terão
autoridade suficiente perante as massas ucranianas, georgianas, ossetas e
russas para conduzir a luta estratégica por uma Federação de repúblicas
socialistas e soviéticas livres, fundadas por novas revoluções bolcheviques.
Reafirmamos mais uma vez que nossa resposta deve ser o chamado a mobilizar os
trabalhadores para derrotar a reação fascistizante pró-União Europeia! Por uma
frente única de ação com o governo Viktor Yanukovich! Na barricada desta luta e
sem patrocinar ilusões no governo burguês e no próprio apoio da Rússia de Putin
a Yanukovich, chamamos os trabalhadores da cidade e do campo que sabem que seus
direitos estão com os dias contados se houver a incorporação a UE a defender
uma Ucrânia soberana e socialista!