sábado, 19 de março de 2016

UM PRIMEIRO BALANÇO DO 18 DE MARÇO: BASES OPERÁRIAS E MOVIMENTOS SOCIAIS REAGEM COM FORÇA CONTRA A OFENSIVA FASCISTA. LULA E O PT AINDA BUSCAM UM “ACORDÃO NACIONAL” COM A BURGUESIA, O QUE PARECE CADA VEZ MAIS DISTANTE


As manifestações convocadas pelo PT e a CUT nesta sexta-feira, 18, foram uma importante demonstração de força social da Frente Popular. Colocar mais de 150 mil pessoas na Av. Paulista e concentrar milhares de ativistas em diversas capitais do país (Salvador, Fortaleza, Porto Alegre, Brasília), obrigar a mídia capitalista, em particular a Rede Globo, a noticiar tal feito, sem dúvida demonstrou que a “jararaca não está morta”. As bases dos movimentos sociais responderam ao chamado tardio da Frente Popular e tomaram as ruas com o instinto de classe para derrotar a escalada direitista que galvanizou o país, fomentada pelos “barões” da mídia capitalista. A vitalidade deste 18 de Março comprova cabalmente que era perfeitamente possível derrotar a ofensiva fascista ainda em sua gênese, porém o governo Dilma optou em contemporizar com a direita e seguir aplicando o ajuste neoliberal exigido pelos rentistas. Mas desgraçadamente esse retardatário “bote de cobra” não esteve a serviço de “morder a burguesia” e sim demonstrar sua disposição de manter-se uma domesticada ordem do capital. A ausência de um programa classista de denúncia das instituições do regime burguês, em um claro curso retrógrado, e do chamado a classe operária a enfrentar a reação burguesa nas ruas pela via de sua ação direta, permitiu que Lula utilizasse os atos para tentar buscar novamente um “acordão” com a burguesia nacional, sua expectativa original desde que resolveu ir para a Casa Civil do governo Dilma. Lula não pensa mais em 2018, planeja agora utilizar as verbas do PAC (transferidas para seu gabinete) e voltar a “comprar” as oligarquias regionais em favor da governabilidade. O chamado feito pelo ex-presidente da República no ato no MASP de que “A gente tem que reestabelecer a paz” revela de forma cristalina a tentativa da direção nacional do PT em buscar recompor a base de sustentação do governo da Frente Popular no parlamento via um pacto com a quadrilha corrupta do PMDB comandada por Renan Calheiros, sem alimentar qualquer “guinada à esquerda” ou de ruptura com as reformas neoliberais. Cacifado por ainda ter relativo apoio de massas, Lula fez um claro convite à burguesia: “Precisa entender que democracia é a convivência da diversidade. Não quero que quem votou na Aécio goste de mim. Eu quero que a gente aprenda a conviver de forma civilizada com as nossas diferenças”. Lula, o PT e seus dirigentes estão buscando um grande “acordão nacional” com a burguesia com a ida do ex-presidente para a Casa Civil a fim de manter o mandato de Dilma até 2018 para implementar as reformas neoliberais, queimando inclusive a possibilidade do ex-presidente para uma nova disputa, já que ele não conseguirá reverter o quadro de recessão econômica que está mergulhado o país. Entretanto, a Rede Globo, o Justiceiro Sérgio Moro e setores recalcitrantes da direita resistem a aceitar esse pacto intra-burguês. A decisão do facínora Gilmar Mendes no STF suspendendo a nomeação do ministério e mantendo as investigações no âmbito da famigerada Operação Lava Jato também aponta neste sentido. Neste quadro, as manifestações deste dia 18 serviram claramente como um elemento de barganha da Frente Popular, uma demonstração de relativa força política no marco de sua política de colaboração de classes, tanto que Lula reafirmou em sua fala “Na hora que a companheira Dilma me chamou, relutei muito desde agosto do ano passado a aceitar voltar ao governo. Ao aceitar voltei a ser Lulinha paz e amor. Não vou para brigar, vou ajudar a companheira Dilma a fazer as coisas que tem que fazer nesse país. Não vou achando que os que não gostam de nós são menos brasileiros que nós”. Fica evidente que a direção do PT e da CUT é incapaz de lutar consequentemente contra a movimentação fascista em curso, na medida em que é refém das instituições do regime político burguês e joga todas as suas cartas em um acordo com a quadrilha corrupta do PMDB comandada por Renan Calheiros para recompor sua base política no parlamento para derrotar o processo de impeachment no Congresso Nacional. A própria montagem da comissão especial na Câmara dos Deputados foi através de um acordo entre José Guimarães (maior operador de “comissões” do PT) e Eduardo Cunha (PMDB). Por esta razão, não tomaram nenhuma medida concreta até agora contra a ação golpista da PF, do Ministério Público e de Moro, preferem negociar passivamente sua derrota pela via eleitoral em 2018 através de um discurso em nome da “paz social”. A militância da LBI participou de vários atos pelo país, abrindo um debate com as bases da Frente Popular (PT, CUT, PCdoB) sobre a completa nulidade dessa política suicida de pactuar com a burguesia o sangramento de Dilma até 2018 para fazer uma 'transição transada' no futuro, preservando o PT e passando o controle do Palácio do Planalto para o novo pupilo da Famiglia Marinho, Sérgio Moro. A dinâmica da luta de classes, com o ódio anticomunista da classe média sendo insuflado pelos meios de comunicação, demonstram que não está em jogo “apenas” o mandato burguês de Dilma, mas toda uma espiral reacionária que aponta para um ataque geral ao movimento operário e a “esquerda”. Por conta disso, chamamos o estabelecimento de uma Frente Única de Ação Antifascista que combata nas ruas e nas lutas o avanço da direita, superando a nefasta política de colaboração de classes da Frente Popular, que pela sua impotência pavimenta o caminho do fascismo em nosso país!

Hyrlanda Moreira, dirigente trotskista com mais de trinta anos de militância e do CC da LBI, discursa na Praça do Ferreira (Fort) convocando
 a resistência das massas a escalada fascista  

O discurso de “conciliação nacional” feito por Lula colocou nas mãos da burguesia a saída para a crise política. Em nenhum momento ele radicalizou em sua linha política, não defendeu sequer minimamente uma resposta “democrática” ao golpismo e a direta, como a demissão do diretor-geral da PF, a prisão de Moro ou o fim da concessão a Rede Globo. Ao pregar que “Não vai ter golpe”, Lula defendeu a continuidade do mandato burguês de Dilma e por tabela o ajuste neoliberal, tanto que afirmou: “Queremos um país sem ódio. Aceitei participar do governo, porque faltam dois anos e dez meses para fazer esse país voltar a ser feliz. Eu quero trabalhar para que um dia a gente possa vir na Paulista e sentar em um bar com aqueles que hoje divergem da gente”. A tentativa de uma “concertação nacional” na verdade encobre a disposição do PT de manter o ajuste neoliberal do governo Dilma, que em nenhum momento foi criticado por Lula e mesmo a CUT, ao contrário, nos últimos dias o ministro Nelson Barbosa declarou sua disposição de manter na pauta a Reforma da Previdência. No ato houve completo silêncio sobre os ataques neoliberais em curso por parte do governo do PT. Ao contrário das expectativas, tudo girou em torno da “defesa da democracia”, ou seja, da estabilidade do regime político burguês. Esse elemento é fundamental para compreender que a dinâmica política imposta pela Frente Popular aos milhares de presentes nesse dia 18 é de pactuar com a burguesia e não radicalizar a luta, nunca tensionar pela “esquerda” o quadro político que pudesse colocar as massas em luta direta contra os patrões e as instituições burguesas. Essa tática política está focada no acordo com o PMDB via sua manutenção no governo e a derrota do impeachment no Congresso. Para isso Lula vai tentar na Casa Civil liberar verbas (PAC, Minha Casa-Minha Vida) para corromper alguns setores patronais e buscar fechar acordos para manter Dilma “viva” ainda que “sangrando” mas sem apontar o atendimento de nenhuma reivindicação para a classe trabalhadora.

Combativa coluna militante da LBI marchou na Av. Paulista em oposição à desastrosa política de "acordão nacional" do PT