VISITA DE OBAMA A CUBA REPRESENTA A FACE DA REAÇÃO “DEMOCRÁTICA”
DA OFENSIVA IMPERIALISTA CONTRA OS POVOS, LANÇANDO AS GARRAS IANQUES SOBRE O
ESTADO OPERÁRIO PARA INCREMENTAR A RESTAURAÇÃO CAPITALISTA CONTRA AS CONQUISTAS
DA REVOLUÇÃO
A cena do avião presidencial norte-americano Air Force One aterrissando em
Cuba está sendo celebrada como “histórica” por um amplo espectro político,
desde a “direita civilizada até a esquerda reformista”. Porém a inflexão
política da Casa Branca em direção a Cuba não possui nenhum caráter
progressista, representa a outra face “democrática” da mesma ofensiva
reacionária imperialista contra os povos. Na Ilha operária os planos do
Pentágono de impulsionar uma “revolução popular” de milícias fascistas de
direita, ao estilo Líbia, Síria, Ucrânia e Venezuela não conseguiu sucesso,
forçando Obama a utilizar a velha tática da “reação democrática”. Cuba avançou
na expropriação do capital e apesar das deformações burocráticas ainda mantém
sua estrutura de poder estatal lastreada em conselhos populares e não na
formalidade da democracia burguesa e do sufrágio universal, este elemento
fundamental obriga o imperialismo a readequar sua estratégia para levar adiante
sua ofensiva contra as conquistas da revolução cubana. Entretanto os objetivos
globais do imperialismo para a América Latina permanecem os mesmos. Enquanto
ataca ferozmente o regime nacionalista burguês da Venezuela, oferece crédito e
investimos em Cuba, não há contradição alguma nestas duas linhas de ação do
imperialismo. Um exemplo é que enquanto aqui no Brasil o quadro é de intensa
polarização política entre esses dois polos burgueses em conflito, vários
porta-vozes desses distintos espectros políticos saúdam a ida de Obama a ilha e
apoiam a política de aproximação levada a cabo pelos irmãos Castro com os EUA,
aplaudindo-a como exemplo de “maturidade política” e “avanço da democracia”.
Para os Marxistas Revolucionários não há nada de progressivo na visita de Obama
a Cuba. Ao contrário, ela significa que o imperialismo ianque impõe
oficialmente as garras sobre o Estado operário para incrementar a restauração
da ilha em parceria com a burocracia estalinista, que continua avessa a
estratégia da revolução permanente. Não por acaso, logo após pisar em Cuba, o
presidente dos EUA vai imediatamente a Catedral de Havana para se encontrar com
o cardeal Jaime Ortega, representante do Papa Francisco, o artífice dos acordos
entre o imperialismo ianque e a burocracia castrista. O encontro com Raul
Castro será amanhã, transmitido ao vivo pelas TV de ambos os países. Obama já
adiantou que falará “diretamente” sobre os “obstáculos” para o exercício os
chamados “direitos humanos” na ilha, um eixo político que servirá futuramente
para atacar a própria burocracia castrista visando substituí-la por um governo
alinhado diretamente a Casa Branca, tendo como pretexto a proposta de
“democratizar a sociedade cubana”. A aposta da Casa Branca é estabelecer
vínculos mais profundos com a burocracia castrista e a oposição interna
pró-imperialista nos próximos meses, apesar do embargo econômico que o
Congresso se nega por enquanto a revogar por ser de maioria republicana, para
aprofundar essa política de cooptação a partir de 2017 com Hillary Clinton na
Presidência dos EUA. O anúncio da retomada das relações diplomáticas entre Cuba
e os EUA, além da possibilidade futura do fim do bloqueio comercial que já dura
mais de 50 anos, colocou o debate sobre a restauração capitalista na Ilha
operária no centro da pauta política da esquerda “socialista” mundial. De imediato
podemos afirmar como defensistas incondicionais do Estado Operário Cubano que a
iniciativa da Casa Branca está inserida neste momento no contexto da própria
crise que atravessa a ofensiva imperialista contra os povos, em particular no
impasse militar no “Mundo Árabe” após o êxito inicial contra o regime Kadafista
na Líbia. O empantanamento da invasão contra a Síria e as dificuldades de
iniciar a estratégica operação contra o Irã, sem falar na impossibilidade de
“dobrar” a influência militar da Rússia na região, obrigaram o Império a voltar
o “foco” do Departamento de Estado para Cuba. Na arena diplomática os gestos de
“boa vontade” do governo Obama servem como uma luva para tentar aplacar sua
própria crise interna e impulsionar a candidatura de Hillary contra a linha de
Donald Trump, abertamente belicista de intervenção militar direta. Hoje a “mão
estendida” de Obama para o regime Castrista tem por objetivo liberar as forças
até então represadas de uma restauração capitalista no mesmo modelo da chamada “via
chinesa”. Como declarou Obama no discurso que anunciou sua decisão de ir a Cuba
“Vamos discutir as diferenças diretamente - como vamos continuar a fazer sobre
as questões relacionadas com a democracia e os direitos humanos em Cuba. Mas eu
acredito que podemos fazer mais para apoiar o povo cubano e promover os nossos
valores por meio do engajamento. Afinal de contas, estes 50 anos têm
demonstrado que o isolamento não tem funcionado. É hora de uma nova abordagem.
Eu acredito que as empresas americanas não devem ser colocadas em desvantagem,
e que o aumento do comércio é bom para os americanos e para os cubanos. Então,
vamos facilitar as transações autorizadas entre os Estados Unidos e Cuba.
Instituições financeiras dos EUA serão autorizados a abrir contas em
instituições financeiras cubanas. E vai ser mais fácil para os exportadores dos
EUA para vender bens em Cuba”. O porto de Mariel em Cuba, construído pela
empreiteira Odebrecht e financiado pelo governo Dilma via empréstimo de 800
milhões do BNDES, tem um papel importante na abertura da Ilha para produtos do
EUA. A principal agenda do governo brasileiro em Cuba é aprofundar as relações
econômicas tendo por base o processo de restauração capitalista em curso
promovido pela burocracia castrista, principalmente após o último congresso do
PCC, em que copia parcialmente a chamada “via chinesa”. Trata-se da entrega de
setores da economia para o controle de grupos capitalistas, estreitando cada
vez mais os vínculos da casta dirigente com grandes empresas estrangeiras que
investem no país, ao mesmo em tempo que se fragiliza e ataca conquistas
históricas da revolução. Na atual conjuntura internacional o principal ponto de
“travamento” da ofensiva imperial encontra-se no receio de um enfrentamento
direto com o poderio militar russo, herdado do antigo Exército Vermelho. Putin
pretendia estender a influência militar russa para Cuba, com a instalação de
uma moderna base naval no Caribe, seria um duro golpe para o Pentágono e a OTAN
que hoje sequer conseguem impor um recuo de seus adversários no leste europeu.
Com uma possível “cooptação” de Cuba os EUA de uma só tacada podem conseguir
neutralizar a Venezuela e impedir a entrada da Rússia na geopolítica
latino-americana. No mesmo compasso Obama tentará ganhar pontos na disputa
eleitoral contra o Partido Republicano (Trump) nas eleições presidenciais de novembro de
2016, já que os Clinton apoiam integralmente a “jogada” de aproximação com
Cuba, o que não pode ser dito da política para o Oriente Médio onde Hillary
defende uma imediata e agressiva ação militar contra Assad. Como Trotsquistas
não podemos rejeitar possíveis manobras diplomáticas de um Estado Operário no
contexto de um mundo hegemonizado pelo capital financeiro, reconhecemos o
direito de Cuba exigir o fim do criminoso bloqueio comercial, porém não somos
“ingênuos” ao ponto de desconsiderar os objetivos estratégicos do imperialismo
ianque. Como nos ensinou Lenin que pessoalmente em sua época celebrou vários
acordos comerciais com o imperialismo europeu, é necessário aproveitar as
fissuras da crise imperialista sem “baixar a guarda” de uma política que
convoque permanentemente a mobilização do proletariado mundial contra a atual
ofensiva neoliberal contra os povos. Nesta perspectiva revolucionária não
podemos confiar plenamente na burocracia Castrista, que busca conservar o atual
regime estatal cada vez mais sob as bases de concessões econômicas e políticas.
Frente a esta disjuntiva histórica, está colocado a construção do genuíno
Partido Operário Revolucionário na Ilha com o objetivo de avançar nas
conquistas sociais e do chamado a expropriação da burguesia mundial, se opondo
a política de colaboração de classes das direções reformistas, rompendo desta
forma o isolamento de Cuba por meio da vitória da revolução proletária em outros
recantos do planeta!
A burocracia castrista instalada na cabeça do Estado
operário cubano optou por um caminho de sucessivas concessões políticas ao
imperialismo ianque, ainda que mantendo as principais bases da economia
socializada. Com a eleição da ala “democrata” do império em 1992 (Clinton), o
próprio Fidel Castro alimentou enormes expectativas na melhoria do
relacionamento político com os ianques, o que resultou em um retumbante
fracasso, levando inclusive ao relaxamento de normas de segurança que facilitaram
a prisão de militantes dos serviços de inteligência cubana em Miami, como
atesta o recente livro do escritor “progressista” Fernando Morais (Os últimos
soldados da Guerra Fria). Com a posse de Obama, o “fenômeno” da empatia dos
stalinistas cubanos com os carrascos “democratas” se repetiu. Nunca é demais
lembrar que Cuba chegou a demonstrar inicialmente simpatia com os “rebeldes”
monárquicos da Líbia. Somente quando se delineou a intervenção militar da OTAN,
Raul percebeu que o “conto” da tal “revolução árabe” estava voltado a dar uma
cobertura “humanitária” a mais uma invasão ianque, e o que é pior, o próximo
alvo “democrático” do imperialismo poderia ser a própria Cuba! Os “ziguezagues”
do castrismo diante da ofensiva mundial do imperialismo ianque colocam em risco
a defesa das conquistas históricas da revolução cubana, que mesmo debilitadas
por um bloqueio criminoso, permanecem socialmente vigentes para o proletariado
da ilha operária. Agora o mesmo se repete com a aproximação entre os EUA e Cuba
pelas mãos de Obama.
A opção do imperialismo ianque em um futuro breve é fomentar
a “reação democrática”, ou seja, minar as bases do Estado operário “por
dentro”. Inspira-se na própria dinâmica política da mal chamada “Revolução
Árabe”. Fornecendo milhões de dólares a grupos contrarrevolucionários (Igreja
católica, Damas de Branco, Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação
Nacional etc.), o Pentágono pretende criar em breve uma alternativa política ao
castrismo capaz de se alçar como direção do processo de restauração capitalista
em Cuba, para transformá-la em mais um território aberto para seu capital. Suas
iniciativas acenam também para a aproximação com setores da própria burocracia
castrista que cada vez mais se acercam do imperialismo europeu almejando
transformar-se em novos ricos diante de uma futura queda de Cuba. As bases
materiais da divisão da burocracia são as próprias relações comerciais de Cuba
com os Estados capitalistas que fortalecem no interior da camarilha burocrática
a tendência a que em pouco tempo um setor desta rompa com o aparato central do
castrismo e se lance em luta aberta pela restauração capitalista do Estado
operário. Esse perigo torna-se ainda maior diante da avançada idade de Fidel e
Raul Castro. Por essa razão, a burocracia castrista tenta aparentemente copiar
parcialmente a “via chinesa” de restauração capitalista, em um processo
ordenado e centralizado de medidas que, levadas a frente sob seu controle
político, avançam o ritmo da restauração capitalista.
Para os Marxistas Revolucionários faz-se necessário
enfrentar o “abraço de urso” restauracionista que Obama e o Papa Francisco
desejam impor ao Estado Operário com a redobrada defesa da revolução e das
conquistas sociais frente à “nova” tática do imperialismo ianque. A destruição
do Estado operário cubano seja pela via da agressão militar ou da
contrarrevolução “democrática” como deseja Obama e o Papa, inspirada na
farsesca “revolução árabe” apoiada por todo arco revisionista, não por acaso os
mesmos canalhas de “esquerda” que clamam pela “derrubada da ditadura dos irmãos
Castro”, representará uma enorme derrota para o proletariado da América Latina,
abrindo um período sem precedentes de avanço imperialista. Por isso, nossa
resposta continua sendo a defesa incondicional de Cuba e das conquistas da
revolução!