domingo, 1 de outubro de 2017

VINTE E CINCO ANOS DO MASSACRE DO CARANDIRU: BARBÁRIE POLICIAL A SERVIÇO DO RECRUDESCIMENTO DO REGIME POLÍTICO CONTRA O POVO POBRE E NEGRO

“...vou pegar uma chave, se abrir [a cela], você pode entrar, se não, a gente te executa” (diz um PM a um presidiário rendido durante o massacre do Carandiru)


Há 25 anos atrás, após uma rebelião de presos na “Casa de Detenção de São Paulo”, popularmente conhecida como “Carandiru”, a polícia militar a mando do então governador Antonio Fleury Filho (PMDB), massacrou segundo dados oficiais 111 presidiários do Pavilhão 9 no dia 2 de outubro de 1992. No entanto, testemunhos afirmam que este número foi bem superior. A Pastoral Carcerária e o Movimento dos Direitos Humanos chegaram a aferir a quantidade de 280, nos quais incluem execuções a sangue frio e desaparecidos (ou “sumidos”). A operação repressiva foi de uma envergadura gigantesca, a qual se converteu numa selvageria sanguinária sem precedentes na história carcerária brasileira e mundial. 360 “meganhas” da ROTA, Tropa de Choque, Gate e COE invadiram o Pavilhão 9 do Carandiru usando pesada artilharia, metralhadoras, escopetas, fuzis, pistolas e bombas. Relatos de presos que sobreviveram escondidos entre corpos ensanguentados, revelaram que a rebelião já estava praticamente encerrada pelos próprios presidiários, os quais já haviam decidido entregar suas “terríveis armas” (estiletes de cano e “papocos” de espoleta) e se dirigiam para suas celas. Por isso mesmo, nestas condições de rendição, é que 70% dos presos foram executados com tiros na cabeça e/ou nas costas enquanto fugiam da saraivada de balas. O alto comando da PM paulista com o aval do governador Fleury ordenou que o cenário do crime fosse alterado para embaralhar futuras investigações, além do fato de que corpos crivados de balas teriam sido retirados às escondidas em caminhões de lixo. Às vésperas das eleições municipais de 1992, o governo cinicamente divulgou que apenas oito presos foram mortos. Evidentemente, por este verdadeiro extermínio de pobres, ninguém até hoje foi condenado, nem mesmo há qualquer investigação, uma vez que “ilustres juízes togados” sempre colocam obstáculos jurídicos para impedi-las, ainda mais numa etapa de recrudescimento do aparato repressivo estatal contra os movimentos sociais em plena onda “neoliberal”.

Os “artífices” do massacre não só nunca foram a julgamento pela “justiça” burguesa como muitos estão na ativa praticando homicídios de farda. O único que sofreu uma “penalização” foi o comandante da operação, Ubiratan Guimarães, porém, ao ser eleito deputado estadual em 2002 pelo PTB com o emblemático número 14111, reivindicando descaradamente o massacre, facilitou recorrer da sentença e foi absolvido por unanimidade pelos “ilustríssimos” desembargadores de Tribunal de Justiça de São Paulo em 2006, poucos meses antes de ser... assassinado em um crime supostamente passional. Neste período de profunda ofensiva militar do imperialismo sobre todos os povos, no Brasil não poderia ser diferente quando o atual governo paulista do tucano fascista Geraldo Alckmin (PSDB), pois promove um após outro comandantes que participaram do Massacre do Carandiru. Primeiro foi o Tenente Salvador Modesto Madia que o tucanato promoveu a tenente-coronel da ROTA e responsável por difundir a doutrina do “bandido bom é o bandido morto” nesta autêntica máquina mafiosa de matar pobre que é a PM paulista. No fatídico 2 de outubro, à cabeça da invasão do segundo andar do Carandiru, atirou e mandou atirar para matar em 78 presos. Durante a curta gestão de Madia, a PM matou mais de cem pessoas entre janeiro e agosto de 2012. Durante sua gestão, os casos de letalidades nas abordagens policiais aumentaram mais de 20% em relação a seu predecessor em apenas dez meses! Alckmin, dando prosseguimento a sua política de “higienização social”, resolve premiar outro comandante que participou do Massacre do Carandiru, o tenente-coronel Nivaldo César Restivo, ao comando da ROTA. Na época foi o responsável por espancar 87 presos durante a operação de “rescaldo”, organizando um corredor polonês para agredir os presos rendidos e indefesos.

O recrudescimento do aparato repressivo estatal na gestão tucana fala alto pela força das estatísticas. A PM paulista matou mais do que toda a racista polícia dos EUA. Derivam desta doutrina fascista as ações bárbaras contra o movimento operário, popular e estudantil, como a perseguição e espancamento dos moradores de rua da “Cracolândia”. Mesmo nesta espiral de violência da repressão estatal contra o proletariado, vozes da esquerda revisionista do Trotskismo ainda defendem que a polícia deva ser “mais eficiente e transparente”. O PSOL, através do candidato a prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Freixo, apoiando pelo PCB, reclama que as UPPs não chegam à totalidade dos morros cariocas para “combater as milícias”. Já o PSTU vai mais longe ao reivindicar institucionalmente a “dissolução da polícia e a criação de uma nova” dentro do Estado capitalista. O PCO, por seu turno, defende a “dissolução” do aparato repressivo pela via eleitoral e não a sua completa destruição com a ação revolucionária do proletariado. Todos, contudo, tem algo em comum, não se propõem a superar o atual regime político da democracia dos ricos, com a qual estão profundamente iludidos e integrados via sua Frente Popular ou sua versão de “frente de esquerda”. Assim como nas guerras de rapina contra a Líbia, e agora na Síria, não abstraem o fato de que esta “democracia” que tanto defendem é mais uma brutal expressão de ofensiva sobre o proletariado mundial por parte do imperialismo e que a gestão da frente popular no Planalto e seus agentes “chapa branca” engessam o movimento operário abrindo caminho para o a reação. A tarefa de derrotar e destruir a PM assassina e a violência dos bandos mafiosos organizados pelo Estado capitalista está nas mãos da classe trabalhadora e do povo pobre organizado, através da unidade dos trabalhadores da cidade e do campo a partir do norte programático da destruição do regime burguês e a construção de um novo modo de produção baseado nas necessidades de cada um e não de um punhado de endinheirados, sobre o escombros do Estado burguês e seu assassino aparato de repressão.