COMPANHEIRO DOMENICO, PRESENTE! UM STALINISTA SIM, PORÉM NÃO ERA
NOSSO INIMIGO DE CLASSE!
Morreu hoje na Itália Domenico Losurdo aos 77 anos. A família
divulgou que a morte foi em decorrência de um súbito câncer cerebral. Rompido
com o defunto PCI (atual Partido Democrata de Esquerda - PDS) e frustrado com a
Rifondazione Comunista, Domenico aderiu recentemente ao jovem Partido dos
Comunistas Italianos. Essa trajetória foi produto de seu distanciamento do PCI,
vanguarda do eurocomunismo e que se transformou em um partido burguês
conservador, mostrando o caminho para todo um setor do stalinismo no mundo, como
o PPS do Brasil que se tornou uma sublegenda da direita pró-imperialista
enquanto na própria Itália o PDS defendeu a intervenção militar da OTAN na Líbia
e outras posições contrarrevolucionárias neocolonialistas. Nesse curso mais à
esquerda contra a integração a democracia burguesa do PCI, Losurdo tem
contribuições de grande importância, sobretudo suas denúncias muito ricas
contra o imperialismo, suas formas de dominação e manipulação, como também as
críticas arrasadoras ao liberalismo. Na sua produção intelectual, sua
contribuição questionava importantes “intelectuais de esquerda” ao criticar o
abandono da orientação anti-imperialista. Lançou um livro recentemente que
estraçalha o chamado Marxismo acadêmico, antes havia publicado várias obras
importantes, entre elas “Stalin: História e Crítica de uma Lenda Negra”. É bem
verdade que Domenico era um Stalinista, porém não era nosso inimigo de classe e sim um
adversário político a ser respeitado e enfrentado no terreno vivo do debate
político e teórico da luta de classes. Defensor “crítico” do Stalinismo,
buscava resgatar na história do movimento operário mundial justificativas para
a política de coexistência pacífica da URSS stalinizada com o imperialismo e
“explicar” as razões políticas e conjunturais que levaram o dirigente soviético
a recorrer, por exemplo, ao “Grande Terror” nos anos 30 que dizimou grande parte da vanguarda do Partido Bolchevique. Ao contrário do típico
stalinista “ortodoxo”, o intelectual marxista italiano não buscava encobrir uma
série de crimes cometidos pelo regime burocratizado na URSS, nem os qualifica
simplesmente como “erros”. Presenciamos em vários debates Losurdo denunciando
os revisionistas do Trotskysmo, como Osvaldo Coggiola (PO argentino) e grupos
como a LIT, UIT e afins pela política vergonhosa de não defenderem a URSS contra
o imperialismo. A justa crítica de Losurdo a essas correntes estava correta. O
programa de fundação da IV Internacional já apontava a necessidade do
estabelecimento da frente única entre a “fração Reiss” (referindo-se a Ignace
Reiss, trotskista soviético assassinado posteriormente por Stalin) com a
burocracia termidoriana do Kremlin, no caso de alguma ameaça ao Estado
operário, “esta perspectiva torna bastante concreta a defesa da URSS. Se amanhã
a tendência burguesa fascista, isto é a ‘fração Butenko’, entra em luta pela
conquista do poder, a ‘fração Reiss’ tomará inevitavelmente, lugar no outro
campo da barricada... Se a ‘fração Butenko’ se achar em aliança militar com
Hitler a ‘fração Reiss’ defenderá a URSS contra a intervenção militar, tanto no
interior do país, quanto a nível internacional. Qualquer outro comportamento
seria uma traição” (Programa de Transição). Ao longo da II Guerra Mundial os
autênticos trotskistas souberam combater as tropas nazistas lado a lado do Exército Vermelho, em defesa da URSS mesmo burocratizada. O intelectual marxista italiano, entretanto,
cometia o gravíssimo erro de reivindicar como justa a política do “socialismo
em um só país” de Stalin enquanto atacava a Teoria da Revolução Permanente de Trotsky.
Nesse terreno estava profundamente equivocado e negava-se a compreender a luta
política do fundador da IV Internacional contra o Stalinismo justamente como
parte do combate pela vitória da revolução proletária na arena mundial. Os
genuínos trotskistas que souberam defender a URSS mesmo burocratizada e o Muro
de Berlim como um instrumento deformado de defesa dos Estados operários contra
a restauração capitalista perderam um adversário político militante que
respeitavam e polemizavam acidamente nos debates sobre os rumos da revolução
mundial no século XXI.