OS MARXISTAS REVOLUCIONÁRIOS DEVEM APOIAR A CAMPANHA PELO
“FORA DILMA” NO CURSO DOS ATUAIS PROTESTOS NACIONAIS?
(Artigo histórico - 23 de junho de 2013)
Os protestos nacionais que vem ocorrendo nos principais
centros urbanos do país aos poucos vem assumindo, sob a pressão da cobertura
midiática do PIG (braço político avançado da mídia capitalista) e em meio a uma
profunda despolitização dos manifestantes, uma pauta cada vez mais direitista e
de corte conservador. O amplo retrocesso da consciência das massas imposta
pelos dez anos do governo do PT, que cooptou as direções sindicais e estudantis
para impor violentos ataques aos trabalhadores e a juventude, em parte é
responsável por esta situação dramática, possibilitando que o descontentamento
com o conjunto do regime político burguês seja capitalizado por forças a
serviço da reação. Tanto que em meio a este curso direitista dos protestos, no
lastro nas reivindicações contra a aprovação da PEC 37 e “Contra a Corrupção”
que ganharam grande espaço nos últimos dias tanto na mídia como nas passeatas,
surgiu uma campanha na internet em defesa do “Impeachment de Dilma”, através de
uma ONG “virtual” com abrangência mundial chamada Avaaz que coleta assinaturas,
fundada e financiada por ninguém menos do que o megaespeculador George Soros, o
mesmo que financiou os grupos “rebeldes” na Líbia. A partir desta iniciativa,
páginas de Facebooks com perfis claramente fascistas começaram a espalhar esta
campanha em toda a rede, obtendo até agora a marca de 400 mil assinaturas num
“abaixo assinado” virtual pelo Impeachment. No mundo real, as manifestações
ocorridas nesta semana, gigantescas e sem um horizonte classista, marcaram nitidamente
uma tendência avessa ao movimento operário, suas demandas e organizações
políticas, com a clara hostilização aos partidos de “esquerda” que inclusive
não apoiam o governo Dilma, mas portam bandeiras vermelhas e o símbolo da foice
e do martelo. Neste quadro político, com o aprofundamento da crise política, as
próprias manifestações podem vir a adotar o “Fora Dilma”, ou seja, o
impeachment da gerentona petista. A primeiro momento, grupos como o “Acorda
Brasil” e “o Gigante Despertou” colocaram em pauta já nas marchas atuais a
“prisão imediata dos mensaleiros do PT” e uma “faxina geral no Congresso” etc.,
reivindicações claramente orientadas pela tucanalha voltada a desgastar o
governo Dilma para as eleições presidenciais do próximo ano, bandeiras que por
seu conteúdo reacionário acabaram adquirindo contornos semifascistizantes, onde
partidos e organizações de esquerda foram escorraçados das passeatas em nome de
um “protesto cívico”, “pacífico” e “patriótico”. Frente ao curso reacionário
dos atuais protestos nacionais queremos abrir o debate programático na esquerda
que se reivindica anticapitalista e proletária se os revolucionários devem
apoiar a campanha pelo “Fora Dilma”, orquestrada até o momento apenas de forma
incipiente pelos grupos nazifascistas e o PIG?
Inicialmente as massivas mobilizações contra o aumento do
preço das passagens expressavam a revolta latente da juventude contra o regime
de opressão do capitalismo. Por esta razão recebeu o ódio de conjunto da
burguesia e seus governos de plantão. Do PIG, em particular da Rede Globo,
passando pelo governo Alckmin até o prefeito petista Haddad e o Planalto na voz
do ministro Eduardo Cardoso (que anunciou que a PF iria perseguir os
“radicais”), todos atuaram em frente única para atacar os ativistas ligados ao
Movimento pelo Passe Livre (MPL), qualificando-os de “vândalos e baderneiros”
que tinham que ser tratados como caso de polícia. Aos poucos, através do
“Facebook” (manipulado pela CIA) e por meio da presença de jovens de classe
média abastada, elementos estranhos ao movimento original foram sendo
incorporados, como as bandeiras verde-amarelas tomando conta das manifestações,
ao ponto de muitos já defenderem a candidatura do presidente do STF, Joaquim
Barbosa para 2014. Foi a brecha estampada para o PIG passar a apoiar os
manifestantes e as coberturas globais ditarem a pauta do movimento! Pela
completa ausência de um norte ideológico socialista e uma direção combativa
centralizada da juventude, acabou-se por reproduzir nas manifestações no Brasil
a experiência fracassada dos “Indignados” na Espanha, do “Occupy” em Nova
Iorque e do “Anonymous”, movimentos que acabaram por abrir caminho para a
direita em seus países. Como consequência da etapa histórica
contrarrevolucionária, marcada pela destruição da URSS e a ofensiva
imperialista sobre todos os povos do planeta, a reação semifascista está
tratando de “disciplinar” o movimento objetivamente em favor da oposição
demo-tucana, insuflando o “patriotismo” e o antipartidarismo, logrando desta
forma a simpatia da classe média mais reacionária e fascistizante.
Não por acaso, as passeatas foram sendo tomadas pelo
“nazi-mauricinhos” diretamente manipulados pelo PIG e seus agentes (Acorda
Brasil, Gigante Despertou, “Anonymous”...) para atacar os partidos de esquerda,
cujos objetivos passam por expulsar qualquer elemento revolucionário que chamam
de “canalha comunista” e atingir o PT de Lula e Dilma a fim de desgastá-los
eleitoralmente a serviço do PSDB. Formaram verdadeiras “milícias neofascistas”
com marombados de academia, policiais “P2” para atacar a “escória comunista”
presente nas manifestações. No Rio de Janeiro o fascistóide Secretário de
Segurança Bertrame já fala até de pedir a presença das FFAA nas ruas, em uma
ação claramente orquestrada com a direita organizada. Neste sábado (22) as
passeatas ocorridas em São Paulo já tiveram como eixo definido pelo PIG o
protesto contra a PEC-37 estampado no site da Folha de S.Paulo: “Cartazes e
faixas contra a corrupção e a ausência de grupos organizados marcaram o ato até
o final da tarde, momento em que foi registrado o maior pico de pessoas na
avenida... Não havia sinais de partidos nem outros grupos que lideraram a série
de protestos em São Paulo nas últimas duas semanas... Além da PEC 37, pequenos
grupos gritavam contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e a
presidente Dilma Rousseff. Predomina o verde-amarelo”. O “Estadão” vai mais
longe e nomeia os organizadores: “O ato foi convocado também por integrantes
dos Ministérios Públicos Federal e do Estado, mas ganhou corpo no Facebook,
chamado por organizações que têm forte militância na internet contra a
corrupção, como o Dia do Basta, Unidos por um País Melhor (UPPM), Organização
de Combate a Corrupção (OCC) e Pátria Minha” (O Estado de S.Paulo, 22/6). A
cobertura global, evidentemente, estimula novos protestos durante a Copa das
Confederações ao ponto de Galvão Bueno reclamar no ar da “gastança com a Copa”,
enquanto ocorriam as passeatas por um “Novo Brasil Já”.
Como se observa, a dinâmica da luta de classes vai
gradativamente determinando o curso dos acontecimentos, o qual aponta para um
possível ataque direto contra o governo Dilma, principalmente nesta fase
pré-eleitoral em que a tucanalha fascistizante irá recorrer a todos os métodos
para desgastar o governo petista. Ou seja, como já afirmamos anteriormente,
estamos longe de atravessar uma autêntica rebelião de massas como querem fazer
crer os revisionistas; muito pelo contrário, de uma mobilização contra a
opressão capitalista organizada a partir do MPL, o movimento foi se
transformando no centro das demandas da classe média que pregam alternativas
“pseudodemocráticas” balizadas pela direita como a “ética na política”, “faxina
no Congresso” a serviço da oposição demo-tucana. Os protestos contra a PEC-37,
neste sentido, são a antessala que podem abrir as portas para uma ampla
campanha “murdochiana” em torno de um futuro processo de impeachment da
presidente Dilma Rousseff. Os revolucionários, não podem, neste contexto,
apoiar uma demanda reacionária de tal calibre, porque as verdadeiras consignas
emanadas a partir da luta direta do proletariado (revolução agrária, aumento
geral dos salários, fim do monopólio da mídia, passe livre, estatização do
sistema financeiro) estão completamente ausentes de todo este processo
político. Os marxistas leninistas devem lutar para que o proletariado entre em
cena com sua própria feição de classe e em unidade com o campesinato pobre
imponha uma pauta de expresse as demandas do povo trabalhador e da juventude
explorada, que passa longe das reivindicações presentes nos protestos atuais.
Somente com um combate aberto ao curso direitista das manifestações pode-se
apontar uma alternativa revolucionária para os trabalhadores, não permitindo
que o rumo político seja definido pelas mãos dos estrategistas do PIG que até
agora estão conseguindo catalisar em seu favor o descontentamento com o regime
político burguês. Desde a LBI, corrente que faz o combate sem trégua aos
governos do PT durante os três mandatos da frente popular, inclusive
identificando os ataques de Lula e Dilma ao movimento operário como responsável
por abrir caminho para a reação em nosso país, declaramos que não vemos nada de
progressivo no rumo que estão tomando os protestos e no chamado ao “Fora Dilma”
ou ao seu impeachment neste momento, já que tais demandas, se adotadas nesta
conjuntura, só favorecem a reação.
Frente a ofensiva da direita e do PIG, fazemos o chamado por
um encontro nacional da esquerda marxista e revolucionária para debater a
construção de uma alternativa classista para as lutas. Compreendemos que esta
iniciativa pode ser um embrião para se edificar um polo combativo para os
embates concretos em curso e que sirva também como um espaço para discutir
nossa posição política para a conjuntura explosiva que atravessamos. Está
colocado ao movimento de massas irromper nesta conjuntura apresentando uma
alternativa independente, radicalmente oposta à da “moralização” das
instituições apodrecidas deste regime da democracia dos ricos, de seu circo eleitoral
e aos pedidos por um “Novo Brasil”. A chave para a mudança qualitativa da
situação política consiste na entrada em cena dos batalhões pesados do
proletariado, empunhando bandeiras históricas da classe em sua ação direta nos
grandes centros urbanos, nas concentrações fabris e ocupando os grandes
latifúndios produtivos e as agroindústrias. Esta plataforma de combate
radicalizado das massas deve ligar-se umbilicalmente à necessidade da
publicidade socialista e revolucionária diante do debate eleitoral antecipado
posto no cenário nacional. A convocação desse encontro nacional se reveste em
um verdadeiro contraponto ao curso direitista das atuais manifestações, sendo
uma exigência da própria luta de classes, se constituindo um passo fundamental
para a superação do anarcossindicalismo, da confusão ideológica e a ausência de
uma direção revolucionária no movimento operário e popular, o que tem nos
custado tão caro, como estamos vendo nas manifestações dos últimos dias!