O “encontro histórico” entre Donald Trump e Kim Jong-Un vem
sendo celebrado pela mídia mundial capitalista como um importante passo para a “paz
mundial”. Setores da “esquerda” socialdemocrata e mesmo partidos stalinistas
também vem saudando a iniciava da burocracia norte-coreana, alardeando que se
trata de um gesto em nome do fim das agressões militares na península coreana.
Não por acaso, a China, principal parceira da Coreia do Norte, é avalista da
reunião. O PC chinês sabe perfeitamente que esse é o caminho para converter o
Estado operário deformado norte-coreano em uma país capitalista, tendo o “modelo
chinês” de restauração capitalista como referência. No caso em questão, as
negociações para essa conversão partem da exigência por parte da Casa Branca do
fim do programa e do arsenal nuclear da Coréia do Norte que protege a nação dos
agressores capitalistas (EUA, Japão e Coréia do Sul). Em resumo, o encontro que
ocorre hoje em Singapura pode selar o acordo estratégico para a liquidação do
regime burocrático que mesmo com todas as deformações mantém o país livre do domínio
do capital e do imperialismo. Após um longo período de ameaças militares ao
imperialismo, que nunca se concretizaram minimamente, a burocracia stalinista
da Coréia do Norte parece que enfim cedeu a “pressão chinesa”, estando disposta
a iniciar um "diálogo diplomático" com o reacionário Trump, sendo
auspiciada politicamente pelo novo governo reformista da Coréia do Sul. Seria o
primeiro passo concreto da dinastia burocrática de Kim Jong-Un em direção a um
"generoso" acordo comercial com os EUA e seu protetorado Sul Coreano,
o que poderá levar a adoção de reformas econômicas que solapariam a
planificação central do Estado Operário Coreano. Nenhum presidente dos EUA se
encontrou com um líder Norte-Coreano na história, o presidente Bill Clinton
chegou a se encontrar com o pai de Kim Jong-un, Kim Jong-il, em 2009, quando já
havia deixado o poder central do Estado Operário. Em ocasiões anteriores, Trump
disse que apenas aceitaria dialogar com a Coreia do Norte caso Jong-Un
suspendesse seu programa nuclear, como prometeu agora. Esta promessa de Kim é o
elemento fundamental que sinaliza uma disposição da burocracia coreana em
assumir as "reformas de mercado" pretendidas pelo Imperialismo, ou
seja sem o poder de barganha bélico-nuclear, não restará outra opção ao país
que não seja o retorno gradual ao capitalismo. Em 2017, a Coréia do Norte
disparou ao todo 23 mísseis em 16 testes, algumas dessas armas teriam a
capacidade de atingir inclusive o território norte-americano. Os Estados
Unidos, por sua vez, afirmaram que mesmo com a visita de Trump vão manter os
exercícios militares previstos para serem feitos com a Coreia do Sul. Portanto
estamos presenciando um fato político de grandes repercussões econômicas para
toda Ásia (China, Japão e seus vizinhos, além é claro da própria Coréia do
Sul), a abertura de um novo mercado, ainda totalmente fechado para as
corporações imperialistas, poderá revigorar os "Tigres Asiáticos",
cambaleantes desde a crise que os paralisou desde 1998. Nesse contexto, a China
conclama a República Popular Democrática da Coreia (RPDC) e os Estados Unidos a
melhorar suas relações e dar suas respectivas contribuições à manutenção da paz
e estabilidade na península, envolto no cínico discurso em defesa da “paz”, os
restauracionistas chineses traficam a rendição militar da Coreia do Norte e
apresentam oficiosamente a restauração capitalista “à chinesa” como suposta
alternativa aos problemas econômicos e sociais que enfrenta o Estado operário
norte-coreano. Como parte desse jogo político e militar pelo controle da
região, apesar de pressionar pelo acordo, está claro que não interessa a China
uma reunificação coreana sobre controle dos EUA, que daria a Casa Branca
influência estratégica na Península que lhe é fronteiriça. A política
contrarrevolucionária da burocracia stalinista, hoje formalmente dirigida por
Kim Jong-un, mas de fato controlada pelos generais do exército, está buscando
uma mediação com as potências imperialistas através da China para uma transição
ordenada ao capitalismo. Os Trotskistas não são por princípios programáticos
contra a celebração de "acordos diplomáticos" entre Estados Operários
e nações capitalistas, Lenin em vida os abonou diversas vezes, porém o que
parece estar em curso embrionário na Coréia do Norte é o objetivo estratégico
da burocracia em liquidar as bases sociais da economia socialista, reproduzindo
o exemplo dos governantes seguidores de Mao Tsé Tung na China. Como genuínos
revolucionários jamais nos somamos à sórdida e criminosa campanha da Casa
Branca que sataniza o regime político da Coreia do Norte para debilitar o
Estado operário; ao contrário, defendemos incondicionalmente suas conquistas
sociais revolucionárias. Justamente por esta razão, nos opomos a essa “trégua
nuclear” e reivindicamos o legítimo direito de defesa da Coreia do Norte,
inclusive utilizando seu arsenal bélico nuclear, para responder às provocações
imperialistas. Os Bolcheviques Trotskistas da LBI continuarão defendendo
incondicionalmente a Coréia do Norte diante de qualquer ameaça ou agressão
militar imperialista, inclusive seu pleno direito ao armamento nuclear, porém
não omitiremos nossa vigorosa crítica aos rumos políticos que a burocracia
stalinista pretende levar o Estado Operário, ameaçando sua própria existência e
conquistas históricas do proletariado. Não devemos nutrir a menor confiança
política na capacidade de “negociação” da burocracia stalinista coreana, pronta
para capitular a qualquer momento em troca de sua própria sobrevivência
enquanto uma casta social privilegiada. A tarefa que se impõe no momento é o
chamado ao conjunto do proletariado asiático que se unifique na bandeira da
derrota do imperialismo ianque e seus protetorados militares da região, em
particular convocando a classe operária do Sul para cerrar fileiras na luta
pela reunificação socialista do país.