PARA O BRASIL NÃO GIRAR À DIREITA, O MOVIMENTO OPERÁRIO DEVE
SER O PROTAGONISTA DO CENÁRIO NACIONAL
(Artigo histórico - Editorial do Jornal Luta Operária Nº
260, Junho/2013)
A esquerda ainda procura entender o se passa no Brasil após
a avalanche de protestos que cruzou as principais cidades do país. As passeatas
da juventude contra o aumento das tarifas no transporte público, que tiveram
origem em São Paulo e no Rio, receberam um “carinhoso” tratamento por parte da
oligarquia política dominante (PT, PCdoB, PSDB ,PMDB etc...), sendo
inicialmente desqualificados como “Vândalos e Baderneiros”. Até mesmo a
esquerda revisionista que apoiava inicialmente a convocatória do MPL para os
protestos, como o PSTU e PSOL, deu um passo de lado afirmando que não avalizava
os “atos de vandalismo” ocorridos na Av. Paulista, na mesma linha do sindicato
dos Metroviários/SP (CONLUTAS) que afirmou não ter nenhum comprometimento
político com as mobilizações que estavam ocorrendo. Lamentável papel ocupou a
prefeita “comunista” em exercício, Nádia Campeão (PCdoB), sintetizando uma
posição comum da esquerda declarou à Rede Globo no dia 12/06: “Acho que, depois
dos acontecimentos nessas três manifestações, a vontade dos manifestantes não é
dialogar. Os métodos utilizados afastam o diálogo, não aproximam. Não podemos
aceitar que o objetivo seja criar transtorno. O diálogo nessas condições não é
possível”. Para trazer a “solidariedade” da esquerda petista (DS, OT, EM), não
aos manifestantes e sim ao fascista Alckmin, entrou em cena o ministro da
Justiça, Eduardo Cardozo, oferecendo os “préstimos” da PF para monitorar o
movimento. Mesmo isolados os corajosos “vândalos” do MPL seguiram com o
movimento, que também chegou com muita força no Rio, organizando passeatas
ainda maiores, catalisando desta forma o sentimento de “puteza” do conjunto da
juventude oprimida por este regime da “Democracia dos Ricos”. Mas os quadros
estrategistas da mídia “murdochiana” percebendo o potencial explosivo das
mobilizações resolveram “abraçar” o movimento, e com a ajuda do reacionário
grupo internacional “Anonymous” conseguiram “pautar” o movimento com bandeiras
“cívicas e patrióticas”. Este foi o sinal verde para que milícias neofascistas
e hordas da classe média direitista ocupassem as marchas para impor o “terror”
indiscriminadamente contra todas as organizações da esquerda, contando
inclusive com apoio de grupos anarquistas, muito influentes neste período de
completa despolitização de setores mais atrasados da juventude plebeia.
Ganhando um caráter multitudinário nacional, o movimento das ruas não é
homogêneo e tampouco conseguiu assumir centralizadamente o eixo tão sonhado
pelo “PIG”, do “Fora Dilma”. “Comendo pelas beiradas” a reação midiática tenta
pelo menos unificar politicamente os protestos na “luta” contra a PEC 37, já
contando com o apoio do PSOL, PSTU e PCB. Trata-se de uma manobra
antidemocrática da burguesia que pretende transformar a corja reacionária do
ministério público (Roberto Gurgel e Cia.) em um superpoder neste país. A única
certeza mesmo que temos é que se o movimento operário organizado não se fizer
presente e atuante politicamente nestas mobilizações, com seu próprio programa
classista, a dinâmica do movimento nacional penderá inexoravelmente para a
direita, colocando o país na sinistra trilha da reação imperialista mundial.
A reacionária onda de ufanismo “patrioteiro” e a rejeição
agressiva de uma grande parcela dos manifestantes aos partidos de esquerda é um
fenômeno político bem mais profundo do que o desgaste provocado por dez anos de
governos burgueses da Frente Popular, ainda que este fator contribua em muito
com a “desmoralização” da esquerda reformista. Como podemos aferir também a
esquerda “socialista” não “chapa branca” foi alvo da fúria direitista, vinda de
manifestantes que não poderiam ser propriamente definidos como “desiludidos”
com a prática do PT. Como sempre, os revisionistas do marxismo tentam justificar
a guinada à direita das massas (mesmo sendo espancados e expulsos das
passeatas) como um fator “progressivo”, afinal seria uma consequência da
“repulsa ao governo Dilma” e, portanto, passível de ser “capitalizada” pela
esquerda em outra oportunidade, muito provavelmente nas próximas eleições...
Acontece que estas tendências reacionárias da população (claramente expressa
nas manifestações) são produto direto da etapa mundial contrarrevolucionária,
gerando um “vazio” ideológico na luta de massas, ainda que esta se mobilize com
métodos radicalizados. A chamada “crise de representação” não tem nada de
“avançado”, sob a ótica do marxismo, é um reflexo internacional da eliminação
das conquistas sociais dos Estados operários e da histórica derrota sofrida
pela esquerda estalinista no Leste europeu. A ausência de uma autêntica direção
revolucionária (mais além dos revisionistas que flertam com a social
democracia) nestes processos políticos só agrava esta situação e acaba
potenciando um “caldo de cultura” favorável ao crescimento de vertentes
anticomunistas no seio das massas.
A adoção de uma agenda que contemple as reivindicações mais
imediatas dos trabalhadores, em substituição à difusa pauta “verde amarela”
induzida pela mídia, está ligada diretamente a capacidade de tomar a direção
política do movimento nacional das mãos dos que manipulam hoje as chamadas
“redes sociais” na internet, o que não implica necessariamente a disputa “por
dentro” mantendo-se o atual quadro. Não se trata de uma tarefa fácil, posto que
a própria esquerda perdeu em muito seu vínculo direto com o proletariado,
reduzindo sua área de influência aos aparatos sindicais burocratizados.
Convocar as mobilizações majoritariamente pela “Rede” pressupõe atingir um
certo público atomizado e “individualizado”, ou seja indivíduos mais
despolitizados que não integram e nem participam de entidades de massas.
“Facebookeiros” são por excelência uma “audiência” nos atos muito mais propícia
a um discurso reacionário e ações violentas contra a esquerda. É necessário
primeiro estabelecer um norte de classe aos protestos nacionais e como
consequência lógica mobilizar os próprios trabalhadores mais conscientes e a
população oprimida das periferias, que com certeza não serão encontrada em
nenhum “Orkut” ou “Face” da vida...
Outra questão vigente colocada é como enfrentar as hordas de
nazi-mauricinhos que cada vez mais e em maior número nos protestos tem atacado
indiscriminadamente as correntes de esquerda, do socialdemocrata PT até a
Trotsquista LBI. Alguns agrupamentos tem defendido a formação de blocos
antifascistas ou mesmo uma suposta “frente única operária” para a defesa da
esquerda. O próprio PT convocou a organização de uma massiva coluna de toda a
esquerda para a passeata do dia 20 em SP, “onda vermelha”, que acabou virando
uma “marolinha laranja” em função da pouca receptividade de suas bases ao
chamado. O PSTU que sonhou “surfar” na maré anti-Dilma desatada pela direita,
acabou mesmo tendo é que se juntar ao PT para não apanhar, Zé Maria participou
até de um ato no Sindicato dos Químicos/SP (21/06) ao lado de Rui falcão, onde
debateram a formação de uma aliança para as próximas manifestações. Nós da LBI
temos como princípio programático a defesa ativa de todo militante do movimento
social, independente das divergências políticas ou metodológicas, diante de
qualquer perseguição ou violência sofrida pela via do Estado capitalista ou de
milícias neofascistas. Mas neste momento organizar colunas ou blocos comuns nas
manifestações com partidos da base da Frente Popular ou com os “OTANISTAS” do
PSTU/PSOL significa legitimar a própria plataforma política que conduziu a
hegemonia da direita neste processo de mobilização. A melhor alternativa de
combate às ações da direita reside na própria mudança da estratégia de condução
do movimento, e não na diluição dos revolucionários em um mesmo bloco com o
governo do PT ou mesmo a pró-imperialista “oposição de esquerda”. Para derrotar
efetivamente o “furacão verde-amarelo” é necessário não a “onda bandeira vermelha”
do PT, mas redirecionar as mobilizações para a classe operária e seus aliados,
por que nestas a “mauriçada” direitista e as hordas fascistas não terão a
coragem de sequer passar por perto de nossas “foices e martelos”.
Os Marxistas Leninistas da LBI veem com bastante preocupação
o momento que o país atravessa, fomos a primeira corrente da esquerda a alertar
o desvio do movimento, enquanto o conjunto do revisionismo (e até mesmo setores
oficialistas da esquerda) delirava com alucinações oportunistas do tipo:
“rebelião popular” no Brasil. Não se trata agora de recuar, ou perfilar-se com
o governo Dilma, temendo o potencial revolucionário das massas e da juventude
em luta. A perspectiva aberta impõe uma enérgica ação da esquerda comunista
para evitar um triunfo das forças mais retrógradas deste país. Somente o
proletariado organizado, protagonizando com suas ações políticas o cenário
nacional, poderá “virar o jogo” a favor da construção de uma verdadeira
alternativa embrionária de poder socialista. Convocamos os genuínos comunistas
e todos os coletivos classistas do país a se empenharem com a LBI nesta tarefa
revolucionária da qual depende o êxito ou a derrota destas mobilizações
nacionais em curso.