sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

As “greves gerais” dos trabalhadores europeus não conseguirão derrotar a ofensiva do capital financeiro sobre suas conquistas sem a adoção de uma perspectiva revolucionária de poder
Nos últimos dias ocorreram “greves gerais” dos trabalhadores em Portugal (24/11), Inglaterra (30/11) e na Grécia (01/12). Nesses países, os governos de plantão estavam atacando suas conquistas históricas e ameaçando com demissão em massa. Em Portugal, a paralisação antecedeu a votação do orçamento do estado para 2012 em que o governo da direita tradicional (PSD), que sucedeu o PS, apresentou uma série de cortes draconianos na área social. A greve assumiu maior expressão entre os trabalhadores dos transportes terrestres e aéreos, entre os metalúrgicos e servidores públicos. Já na Inglaterra, mais de 2 milhões de trabalhadores de escolas, hospitais, repartições públicas, aeroportos realizam uma paralisação contra o ataque de Cameron sobre suas aposentadorias e empregos. O objetivo do governo conservador é demitir 710 mil servidores públicos, postergar a aposentadoria para 67 anos e aumentar em 3% a contribuição do funcionalismo para a previdência social. Na Grécia, esta é a primeira greve geral após assumir o governo da coalizão Nova Democracia-Pasok, liderado pelo primeiro-ministro “tecnocrata” Lucas Papademos. As manifestações protestaram contra a redução de salários e pensões, das demissões massivas de funcionários públicos e do aumento dos impostos indiretos e do desemprego, sob o lema “Não ao Orçamento de Rigor” e “Aproxima-se a Hora da Verdade”.
O elemento comum que marcam estas “greves gerais” é que todas têm um caráter claramente defensivo, não conseguem sequer repor as perdas salariais e barrar os ataques as suas conquistas sociais. Estas lutas defensivas ocorrem no marco de uma nova investida capitalista 20 anos depois da derrota histórica que o proletariado sofreu com a restauração capitalista da URSS e a queda contrarrevolucionária do Muro de Berlim, acontecimentos que abriram uma etapa de profunda ofensiva econômica, política e ideológica do capital contra os trabalhadores. O crash de 2008 veio a acentuar essa tendência. Pela ausência de um programa classista estas paralisações massivas tragicamente não avançam um milímetro sequer do ponto de vista de suas reivindicações econômicas e, muito menos, conseguem impor uma conquista política, como a queda de um governo “neoliberal” de esquerda ou direita pela via das mobilizações populares. Pelo contrário, a burguesia tem substituído seus governos desgastados por “tecnocratas” ainda mais aliados aos mandos da troika (BCE, FMI e UE).
A política de obrigar as massas a pagarem a conta da crise financeira estimula protestos contra governos burgueses. Por sua vez, a traição das direções e, principalmente, a falta de alternativa revolucionária à esquerda pavimenta o retrocesso ideológico e o caminho da reação. O racismo e a xenofobia não estão restritos as ações da extrema-direita, são reforçadas entre as massas por suas direções que apoiam as medidas burguesas de restrições ao acesso ao emprego e à educação, principalmente contra ciganos e negros, mas também contra estrangeiros em geral. Na Grécia, por exemplo, o stalinista KKE recentemente assumiu a condição de polícia para proteger o parlamento burguês contra os anarquistas e setores mais radicalizados das marchas de protesto, taxando-os de “provocadores”, sendo por isso elogiado pelas forças de direita governamentais pela sua “responsabilidade” e “espírito cívico”!
Neste marco, em meio a um processo de convulsão social, com o aprofundamento do desemprego e o recrudescimento da crise capitalista no Velho Mundo, a direta avança assumindo os governos até então sob a gerência da social-democracia e dos partidos ditos “socialistas”. A direita recrudescida como o PSD em Portugal, PP na Espanha e a ND na Grécia, voltam aos governos para preparar novos ataques e impor novas derrotas. Essa tarefa é facilitada pela falta de uma perspectiva política classista por parte das direções que encabeçaram o movimento para além as reivindicações econômicas, um norte estratégico que aponte para a superação da decadente ordem burguesa que impõe a retirada de direitos e conquistas operárias. Insistimos na lição de que não haverá mobilizações, por mais multitudinárias e heroicas que sejam, como as que estamos presenciando em Portugal, Inglaterra e Grécia, capazes de derrotar a burguesia e seus governos de plantão sem a adoção de uma estratégia revolucionária de luta pelo poder. Sob a direção de um programa revolucionário e de um partido bolchevique forjado no calor do combate das ruas poderemos marchar em toda a Europa para a “hora da verdade” no confronto de classe com a burguesia e vencer, caso contrário não romperemos com a onda de derrotas que estão sendo impostas aos trabalhadores!