CELAC: fachada “soberana” para mais um instrumento de barganha política e econômica com o imperialismo
Os presidentes de 33 países da América Latina e Caribe reúnem-se em Caracas nestes dias 02 e 03 de dezembro para assinarem o tratado de criação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). A CELAC formaliza uma política comum dos governos da centro-esquerda burguesa desta região e integra a esse fórum Cuba, excluída da OEA, controlada diretamente pelo imperialismo ianque. A Colômbia, até então isolada por sua relação umbilical com imperialismo ianque se aproxima desta articulação via seus recentes acordos com o chavismo, cuja “parceria” já resultou na morte e prisão de vários dirigentes das FARC.
O comunicado publicado no site Cubadebate resume bem essa política: “Unidos os governos da Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai, e mais recentemente Peru, fizeram possível dar um impulso sem precedente a integração latino-americana, manifestada na criação da Unasul, a extensão da Alba até a América Central e o Caribe e a gestação do projeto da CELAC. Os governos de direita compreenderam a necessidade de participar desta tendência, pelo menos formalmente, para não ficarem isolados do fórum latino-caribenho... A CELAC nasce quando mais se necessita enfrentar a gigantesca crise do sistema capitalista e promover em nossa comunidade de 500 milhões de seres humanos os fundamentos de uma nova civilização amistosa com a natureza onde vivamos todos com, paz, justiça e dignidade. Para a CELAC o desafio consistirá em manter-se unida por sobre diferenças ideológicas” (01/12). Como se vê, almeja-se um verdadeiro “tratado” de coexistência falsamente “soberana” com os EUA mas sequer estas pretensões podem se concretizar porque os governos dos países latino-americanos e caribenhos, a exceção do Estado operário cubano, são impotentes devido ao seu caráter de classe burguês, a exercer uma consequente “soberania” frente o imperialismo ianque. A relação semicolonial destes países com os EUA e a Europa, sem poder militar e econômico independente, colocam por terra a farsa montada em torno do projeto. O silêncio ou conivência da maioria destes governos frente à agressão imperialista a Líbia só comprova o que afirmamos!
Sob o comando desta centro-esquerda burguesa, particularmente dos governos Dilma e Chávez, formar-se um cinturão político que exerce o papel de árbitro dos conflitos, que não questiona seriamente as ordens do imperialismo ianque, como vimos em Honduras, mas ao mesmo tempo se apresenta formalmente como alternativa a desmoralizada OEA. Nesse sentido, a CELAC é projetada como um fórum, sem a presença formal dos EUA, onde os governos dos países membros buscariam dirimir conflitos políticos e militares, além de planificar investimentos. Do ponto de vista político, a melhor forma do imperialismo ianque seguir dominando a região, principalmente com Obama se reelegendo para um novo mandato a frente da Casa Branca, é isolando Cuba através de um abraço de urso de seus aliados “amistosos” e recorrendo a ajuda de seus parceiros de “esquerda”, que têm uma ampla margem de manobra e apoio do movimento de massas, fator fundamental que tem estabilizado o continente, apesar das crises. O processo de aproximação entre Chávez e Santos, enquanto o presidente colombiano liquida as FARC, demonstrou a consolidação desse caminho. Esse é o “espírito” da CELAC.
A CELAC consiste em uma tentativa dos governos burgueses latino-americanos de negociarem com o imperialismo ianque e europeu melhores condições para suas classes dominantes nativas, na qualidade de sócias menores, terem acesso a uma fatia do mercado mundial, incrementando a exploração de seus trabalhadores. Apesar da retórica nacionalista, da defesa da “soberania continental”, se pretende estabelecer um pacto com o grande capital internacional. O objetivo da criação de blocos econômicos e tratados como a CELAC ou o Mercosul não se constituem, mesmo do ponto de vista burguês, na defesa dos interesses econômicos nacionais de cada país visando um desenvolvimento não tutelado pelos monopólios estrangeiros. Os interesses econômicos que dão alicerce a CELAC são associações das empresas nativas aos dos monopólios imperialistas, que através desta fórmula, teriam maior penetração na região, sem o temor de “nacionalizações” e serviriam inclusive para impulsionar o processo de restauração capitalista em Cuba. Traduzindo, a CELAC visa estabilizar a região para garantir mais lucros as empresas transnacionais e seus sócios nativos, além de catapultar obras que favoreçam estes conglomerados, como ferrovias, rodovias, pontes e linhas de transmissão. O modelo de extração de petróleo na Bacia do Orinoco entre a Chevron/Texaco e a PDVSA promovido pelo governo Chávez é uma expressão concreta dessa política.
As condições de vida do proletariado desta região pouco tem melhorado apesar da retórica dos seus governos de centro-esquerda em defesa “soberania e da união dos povos”. Como alternativa a esses farsantes, está colocado a luta pela expropriação dos monopólios, das transnacionais e das grandes empresas nacionais, colocando-as sob o controle dos trabalhadores. Somente a luta decida das massas pela revolução agrária e a liquidação do poder burguês nesses países, assim como a defesa incondicional do Estado Operário cubano, podem gerar as condições para uma verdadeira soberania e independência nacional, no marco da construção de uma Federação das Repúblicas Socialistas da América Latina e Caribe.