A disputa diplomática pelo controle das ilhas Malvinas e a impotência da esquerda revisionista, convertida agora em força auxiliar da OTAN
Quase às vésperas de completarmos trinta anos do conflito militar entre Argentina e Inglaterra pela posse do arquipélago das ilhas Malvinas, assistimos uma forte movimentação diplomática (claramente não-militar) em torno da legitimidade da reivindicação nacional argentina acerca da soberania das Malvinas ou Falklands para os imperialistas britânicos. A novidade das “escaramuças” passados tinta anos da humilhante rendição do general Menéndez em 14 de junho de 1982 diante das tropas piratas, foi o fato que desta vez foi o governo inglês que recolocou o “debate” acusando a Argentina de “colonialista”. Parece que agora diante da crise financeira europeia o odiado primeiro ministro David Cameron pretende “copiar” a tática política desastrada do facínora Galtieri, para amealhar algum apoio popular, com sentimentos imperialistas de uma classe média “real” em completa bancarrota. A verdade é a que o “staff” burguês portenho, apoiado no prestígio político da presidenta Cristina Kirchner lançou uma ofensiva diplomática internacional, envolvendo os parceiros da UNASUL, para reivindicar a retomada do arquipélago, hoje comprovadamente rico em reservas marítimas de petróleo, ainda não exploradas.
Assim como ocorreu em 1982, logo se estabeleceu as discussões sobre os “direitos” da população local que habita as Malvinas, de origem britânica, conhecida como Kelpers. Estes cidadãos, na maioria de origem escocesa, tomaram o lugar dos habitantes autóctones em 1883 quando os expulsaram da ilha com a frota imperial da coroa britânica. Atualmente são quase todos ou funcionários do governo ou de empresas inglesas que exploram a pesca na região e por razões óbvias se opõe à devolução das Malvinas à nação Argentina, alegando o respeito a sua “cidadania” imperialista. Também não faltaram as vozes da esquerda do “velho mundo” para apoiar a permanência das Malvinas sob o tacão real, supostamente “sensibilizados” pelos reclamos dos Kelpers. Neste arco encontram-se correntes revisionistas como a de Alan Woods e Peter Taaff, Esquerda Marxista do PT e LSR do PSOL respectivamente. Estes agrupamentos internacionais com “matriz” em Londres, no conflito de 1982 apoiaram vergonhosamente a Inglaterra “democrática” de Thatcher contra a Argentina “autoritária” dos generais gorilas, repetindo a mesma posição pró-imperialista nos dias de hoje, como na LÍBIA.
Mas, o que realmente chama atenção na atual “guerra de posições” entre Argentina e Inglaterra não é a tradicional covardia histórica da burguesia “portenha” e seus séquitos políticos Kirchneristas, mas sim a impotência programática do revisionismo Morenista diante da questão. O conjunto das correntes pseudotrotsquistas da Argentina foram, ao longo das últimas duas décadas, sendo “ganhas” para as posições ultra-oportunistas da velha raposa política, o defunto Nahuel Moreno. Nesta conjuntura de “tensão” diplomática, os Morenistas da IS, CS e os primos do PTS e PO (anti-Morenista somente na “gramática”) afirmam que é necessário ir além da demagogia do governo “K” e expropriar os bens da Inglaterra no país. Um dos grupos Morenistas expõe que: “Desde Convergencia Socialista seguimos levantando las mismas banderas: Estamos convencidos que ¡No habrá ninguna manera de recuperar Malvinas sin afectar lo que más les duele a los ingleses, sus intereses económicos!” (BLOG da CS, citado do original em espanhol). Concordamos integralmente com as demandas anti-imperialistas apontadas pelas organizações Morenistas, só que neste caso concreto trata-se de um confronto que ultrapassou os limites do “econômico”, chegando a ocorrer uma guerra entre os dois países em 1982. Como Marxistas reivindicamos todas as medidas de confisco total contra o capital imperialista, europeu e ianque, além é claro de defendermos a própria ocupação militar das Malvinas, como uma primeira ação elementar para reconquista social definitiva da ilha para o povo argentino. Sem este pequeno “detalhe” a defesa da restituição das Malvinas não passa de mera verborragia demagógica eleitoral, seja na boca dos Kirchneristas ou Morenistas.
Passados trinta anos são muitas as trágicas lições deixadas pela guerra das Malvinas, seja no campo político e militar. A lição militar mais importante a se abstrair é que todas as nações semicoloniais, oprimidas pelo domínio global imperialista, devem possuir uma poderosa indústria bélica, genuinamente nacional, inclusive com potencial atômico. A Argentina, assim como a Líbia, pagou um preço muito alto por ter seu arsenal militar sob controle tecnológico das potências imperialistas. Seus famosos mísseis “Exocet” de origem francesa, seu principal “trunfo” contra a armada pirata, não funcionavam plenamente contra alvos europeus. Só conseguiram acertar um navio de guerra britânico, pela “desprogramação” realizada pelos fabricantes franceses, isto quando a informática apenas “engatinhava” na indústria bélica, imaginem nos tempos atuais. Do ponto de vista político ficou o legado para a classe operária mundial da incapacidade de qualquer burguesia nacional em conduzir um confronto militar com o imperialismo até a plena vitória. Somente a ação revolucionaria do proletariado, o que deve incluir sua política militar independente, terá a possibilidade de infringir uma correlação de forças desfavorável à imensa superioridade bélica dos centros imperialistas. As nações e povos oprimidos que estão hoje na mira da ofensiva do imperialismo devem ter clareza que para vencer terão que superar os estreitos limites impostos pelo modo de produção capitalista e sua classe dominante decadente.