“70 anos: Renato Rabelo é homenageado por camaradas e amigos”. Com esta manchete o site “Vermelho” do PCdoB definia a composição política dos presentes à festança realizada no dia 27/02, em um restaurante de alto luxo na capital paulista, para homenagear o aniversario de 70 anos do presidente nacional do partido, o veterano estalinista Renato Rabelo. Até aí nenhuma grande novidade, já que há muito tempo o PCdoB realiza seus “eventos” sociais em locais requintados para recepcionar seus “amigos” da burguesia “progressista”. A surpresa ficou por conta da presença do facínora Serra, que veio acompanhado de seu pupilo Kassab, anunciados como “convidados de honra” do PCdoB. Considerado um amigo de longa data do partido, Serra sentiu-se muito à vontade para declarar aos presentes sua intenção de abandonar definitivamente suas pretensões nacionais, focando sua “aposentadoria” política nas próximas eleições municipais. Parecia mesmo que este anúncio de “pendurar as chuteiras” era o presente de Serra dado a Renato e seus convidados “ilustres”, entre os quais o “capo” petista José Dirceu. O prefeiturável do PT em São Paulo, Fernando Haddad, também participou da comemoração do PCdoB, celebrando um verdadeiro pacto político para livrar o bandido da privataria tucana da prisão, em troca de sua prematura retirada da disputa presidencial de 2014. Caminhando para o “cadafalso” eleitoral em 2012, Serra contribui decididamente para legitimar a fraude do circo das eleições, que sob a égide da frente popular já estabeleceu preventivamente a divisão política de “poderes” entre as diversas camarilhas partidárias da política burguesa nacional. Por isto não causa espanto aos marxistas leninistas a celebração da “festa” do PCdoB, que reúne no mesmo espaço Serra, Dirceu, Temer, supostamente adversários “renhidos” na véspera das próximas eleições.
Para aqueles que ainda acreditam na “verdade das urnas”, em plena época histórica da decadência capitalista, a festa dos ex-estalinistas revelou que a soberania do “voto universal” há muito já foi substituída por um conluio das frações burguesas na repartição do botim estatal. Não afirmamos que este processo de falsificação da verdadeira vontade popular ocorra de forma pacífica entre as frações políticas das classes dominantes, ao contrário, muitas vezes se processa com disputas intestinas ferozes e até com assassinatos (físicos e políticos) entre “pares” da burguesia. A única certeza que os revolucionários mantém na atualidade é de que o povo realmente não decide mais nada no jogo pesado da institucionalidade republicana. Lenin no começo do século passado afirmava que as eleições parlamentares revelavam de forma muito deformada a vontade das massas. Acompanhando a própria decadência da democracia burguesa, que já não apresentava nenhuma característica progressista para a classe operária após o término da Primeira Guerra Mundial, a Terceira Internacional recomendava aos Partidos Comunistas que se abstivessem de participar de eleições para postos de gestão do Estado burguês (executivos), em função da impossibilidade de imprimir qualquer traço socialista em cargos da administração capitalista. Desgraçadamente, alguns dirigentes das seções da III Internacional rejeitaram esta orientação, como o húngaro Georg Lukács, e enveredaram para o campo do reformismo, “inaugurando” as primeiras revisões da teoria leninista do Estado. O PCdoB, que já passou pelas fases “Maoísta” e “Albanesa”, ambas variantes do estalinismo clássico, aderiu de malas e bagagens a farsa da democracia burguesa como um valor pétreo e universal, portanto para estes domesticados “comunistas” todos os atores do espetáculo político da democracia, sejam semifascistas de direita ou neoliberais de esquerda, merecem as mais altas honrarias, em seus atos comemorativos.
Com a entrada de Serra na disputa para a prefeitura de São Paulo, a Blogosfera chapa branca e os velhos reformistas de plantão, tentarão recriar a falsa dicotomia que tanto os agrada, ou seja, a luta do “bem” contra o “mal”. A direita agrupada no barco furado dos tucanos, sabotado pelo próprio “comandante” Alckmin, e a esquerda reunida em torno do jovem flamante Haddad, acalentado pelos ventos vindos do Planalto Central. Como em um “gran finale” de uma ópera bufa, a tragédia da população marginalizada do “deus” mercado, que sequer pode ter sonhos de consumo, em um período de franca ascensão social de camadas proletárias. Os “esquerdistas” de ontem e monetaristas de hoje apostam mais uma vez no triunfo acachapante da frente popular, em um território de forte presença da reacionária classe média, como a cidade de São Paulo.
Para a vanguarda da classe operária, em nada interessa a falsa polarização entre “esquerda” e “direita”, desprovida de qualquer conteúdo programático de classe. As eleições burguesas são exatamente como a festa promovida pelo PCdoB, onde só entram os convidados “VIPs”, pouco importando se pertencem a “direita” recalcitrante ou “esquerda” modernosa, o que realmente interessa é que comungam da mesma crença do regime da democracia dos ricos, onde o respeito à propriedade privada é sagrada. Os genuínos comunistas, que nada tem em comum com os corrompidos do PCdoB, definem claramente sua tática de publicitar a revolução socialista na tribuna das eleições parlamentares burguesas, afirmando abertamente que a ditadura da burguesia não será removida pela senda institucional, representada pela fraude do “voto universal”.