POLÊMICA PCO VERSUS PSTU: "GOLPISMO OU DILMISMO", PODE HAVER
OUTRA ALTERNATIVA PARA OS TRABALHADORES?
O aprofundamento da crise do regime "democrático"
reinaugurado no país há 30 anos de forma conservadora com o advento da
"Nova República ", hoje se condensa no esgotamento do
"modelo" de gestão de colaboração de classes impulsionado pelo PT na
última década, acirrou o debate político no interior da chamada "esquerda
trotsquista" para além das tradicionais disputas de aparatos sindicais.
Diante da iminência de um "default" do governo Dilma, em meio a um
duro "ajuste" econômico contra o povo trabalhador e a clara
postulação da oposição de direita para "encurtar" a gerência estatal
petista, a esquerda começa a debater uma "tática de emergência" para
o desenlace da crise política. De cara estão formados dois grandes blocos no
movimento social, o que não exclui certas diferenças internas: os defensores da
"legalidade democrática" em apoio ao cumprimento do mandato integral
do governo Dilma versus os que advogam a necessidade da saída do governo
neoliberal de Dilma, seja pela via da mobilização de massas ou mesmo pelas mãos
de uma ação institucional. O bloco da esquerda que saiu em socorro da
governabilidade de uma acuada Dilma obviamente não é composto exclusivamente
dos revisionistas do trotsquismo, é encabeçado pelo PT (incluindo todas suas
alas de esquerda), PCdoB e PCO, este último acaba de integrar formalmente a
frente "Todos pela Democracia" (onde participam até partidos
burgueses como o PDT). O PCO migrou repentinamente do slogan "Fora
Lula" a poucos anos atrás para uma defesa intransigente do governo Dilma, que
coloca a economia do país a serviço dos rentistas do capital financeiro com um
programa neoliberal de privatizações e ataque as conquistas operárias.
Analisando as eleições de 2010, o PCO atacava os que utilizavam a expressão
"PIG" (a LBI inclusa), para definir as posições da mídia corporativa,
como uma ficção já "que não havia nenhuma intenção golpista da burguesia
contra o governo do PT". Porém todos têm o absoluto direito de mudar
bruscamente de posições, este parece ser o caso crônico do camaleônico PCO. O
que realmente chama atenção é a base programática destas mudanças que vão desde
vislumbrar a revolução dobrando a esquina até a iminência de um golpe de Estado
no Brasil. Correntes revisionistas como "O Trabalho" (PT) que também
defende incondicionalmente a permanência de Dilma, ao menos mantém uma
"coerência programática" em suas posições já que formalmente
abandonaram (cerca de 30 anos atrás) o legado da revolução social em defesa da
"democracia como valor universal". Para o PCO, um dos fundadores da
"Frente Todos pela Democracia", existe um equívoco na formulação do
nome que batiza esta articulação política: "Achamos que uma frente como
essa deveria ter um nome que falasse abertamente o seu objetivo, que definisse
claramente uma política de luta. Para nós, o ideal seria uma frente contra o
impeachment e contra o golpe." Mas segue na defesa de seu conteúdo:
"Essa divergência, no entanto, não tem nada a ver com o sentido real e
objetivo da frente e seu conteúdo, que é justamente a luta contra o golpe e a
direita. Por isso, nesse caso, o nome é um problema secundário. Por esse
motivo, entendemos que é obrigação daqueles que lutam contra direita participar
dessa frente". O incrível na inflexão governista do PCO é que no texto
onde defendem sua participação na tal Frente pela Democracia não existe uma
única palavra em referência ao socialismo e tampouco acerca da revolução, mesmo
em termos de estratégia dos trabalhadores, a única discrepância é na falta de
ênfase "contra o golpe". A política "antigolpista" (em
defesa do regime parlamentar democrático) da esquerda revisionista não é
propriamente uma novidade na América Latina, foi largamente utilizada pelo
estalinismo nos anos 60 e 70, sendo responsável por desarmar politicamente a
ofensiva operária contra as quarteladas fascistizantes. A chamada tática
"antigolpista" que abarca uma aliança entre organizações da esquerda
e partidos capitalistas "democráticos" é filha dileta da velha teoria
da "revolução por etapas", e sempre é aplicada pela esquerda em favor
de um governo burguês covarde que escancara as portas do país para a marcha
vitoriosa da direita, seja eleitoral ou não. O engodo político do
"antigolpismo" nada tem a ver com a tática leninista de "golpear
juntos e marchar separados", são opostas pelo vértice no exato momento em
que os genuínos comunistas não admitem integrar politicamente nenhum bloco
orgânico com partidos ou governos burgueses. A "Frente Todos pela
Democracia" nada mais é do que uma versão histórica requentada e piorada
da "Frente com Jango pelas Reformas", impulsionada pelo PCB em 64,
que "teorizava" que a classe operária não tinha acúmulo de forças
suficientes para postular um projeto de poder independente das variantes
burguesas, o resultado desta política de conciliação de classes resultou na
pavimentação do golpe militar e principalmente na completa ausência de uma
resistência organizada do movimento de massas. Hoje, a política de colocar o
movimento de massas à reboque a defesa do governo Dilma “contra a direita” vem
paralisando a resistência dos trabalhadores ao ajuste neoliberal imposto pelo
Palácio do Planalto completamente servil ao grande capital, na medida que a
CUT, PT, PCdoB, PCO e a “Frente pela Democracia” temem que as mobilizações operárias
contra os ataques do governo Dilma joguem água no moinho da oposição
conservadora, pois há um amplo descontentamento popular contra as medidas
recessivas. Se é correto denunciar energicamente a ofensiva reacionária da
direita contra as liberdades democráticas e de organização política e sindical
dos trabalhadores (redução da maioridade penal, terceirização, contrarreforma
eleitoral) não se pode negligenciar por nem um minuto na denúncia de que o PT é
cúmplice-mor dessa reação e garante sua governabilidade burguesa justamente
pactuando com o PSDB (como vimos na reunião com os governadores) novas
investidas contra a classe operária.