quarta-feira, 15 de julho de 2015


PARLAMENTO GREGO SE ALINHA À TRAIÇÃO DE TSIPRAS, PLATAFORMA DE ESQUERDA DO SYRIZA JÁ SE COLOCA COMO NOVA ALTERNATIVA ELEITORAL PARA GERIR A CRISE CAPITALISTA

O parlamento grego aprovou na noite desta quarta-feira o novo memorando de extorsão imposto pela Troika ao país. Segundo a televisão estatal da Grécia, 229 deputados votaram a favor do acordo, seis abstiveram-se e 64 manifestaram-se contra. Dos 64 votos contrários, 32 foram de membros do Syriza, enquanto 6 desse mesmo partido se abstiveram e um esteve ausente. Outra parte dos votos favoráveis veio do PASOK, Nova Democracia e Potami. O novo pacote de "ajuste" obtido pela via de um acordo entre Tsipras e a UE, além de não conter qualquer tipo de anulação de dívidas, impõe duras condições a Atenas, que incluem o compromisso de levantar um fundo com ativos gregos equivalente a R$ 170 bilhões, além de medidas de austeridade (redução de aposentadorias e aumento de impostos) e privatizações nas áreas de portos e aeroportos que não apenas o governo do Syriza tinha se comprometido não adotar, mas que também foram recusadas por mais de 61% do povo grego na farsa do referendum realizado há duas semanas. A presidente do Parlamento da Grécia, Zoe Constantopoulou falando em sua condição de parlamentar do Syriza pediu nesta quarta-feira que a Casa de 300 assentos não aprovasse o pacote de medidas neoliberais exigido pelos parasitas do país: "Este Parlamento não pode aceitar a chantagem dos credores. Com total conhecimento de como as circunstâncias são cruciais... Acho que é dever do Parlamento não deixar que essa chantagem se materialize." A voz de Zoe não está isolada no interior do partido, o atual ministro da energia Panagiotis e o ex-chefe da pasta da economia, Yanis Varoufakis, também voltaram suas baterias políticas contra a postura de capitulação de Tsipras. No gabinete de governo estima-se que cerca de 30% de altos funcionários seguem a posição de Varoufakis. No marco partidário do Syriza o próprio Comitê Central, por pequena maioria, já declarou sua total oposição ao memorando ao que classificou como um "golpe de estado" de Bruxelas. Estes segmentos do Syriza, agora agrupados majoritariamente na tendência Plataforma de Esquerda, preparam uma iminente ruptura tanto no gabinete de Tsipras como no próprio partido. Para tanto formularam um programa social democrata alternativo a linha oficial que o governo resolveu seguir, baseado fundamentalmente na saída do Euro e o restabelecimento do Dracma: "O restabelecimento da soberania monetária, que significa automaticamente uma capacidade recuperada de injetar liquidez na economia. Não há nenhum outro meio da Grécia quebrar suas correntes com o BCE." O núcleo dirigente que baliza Tsipras está consciente da provável ruptura no Syriza e já trabalha com possibilidade de convocar novas eleições até o final do ano para compor um governo mais "amplo" com setores do PASOK. Em meio a uma situação de turbulência social, onde os sindicatos e o KKE já protagonizam mobilizações de rua contra o "regaste" financeiro da UE ao governo vendido de Tsipras, a burguesia grega articula uma nova versão do Syriza para ocupar o vazio de poder surgido de uma profunda que se anuncia próxima. Esta nova alternativa burguesa deverá seguir os passos do "Syriza das origens" com um programa de contenção das lutas no marco utópico de um "capitalismo com rosto humano e nacional". A "tragédia grega" revelou lições importantes a vanguarda proletária mundial, a principal delas é que não há saída autônoma no quadro da submissão ao imperialismo, seja dentro ou fora da zona do Euro. A ruptura com a Troika e sua espoliação financeira a Grécia só poderia ser realmente efetiva na via da revolução socialista, porém as vertentes da social democracia de "esquerda" se recusam a apontar nesta direção. Desgraçadamente estamos assistindo o surgimento de mais uma vã tentativa de "resgatar" o moribundo capitalismo, a Plataforma de Esquerda. Todas as correntes revisionistas que semearam ilusões na última cartada política do Syriza, o referendum, agora começam a migrar para a Plataforma de Esquerda, convocando este agrupamento a encabeçar as lutas contra o ajuste de Tsipras. Por outro lado o KKE apesar de suas limitações programáticas se manteve "limpo" de todas as manobras da social democracia, reunindo a autoridade política necessária para liderar os levantes populares pela conquista do poder operário, para além das arapucas eleitorais que se avizinham.

Para se credenciar junto a burguesia nacional para gerir a crise capitalista em meio a instabilidade do governo Tsipras, a Plataforma de Esquerda inclusive já apresentou um programa “alternativo” em que anuncia seu respeito à sacrossanta propriedade privada. Este foi discutido no dia 10 de julho de 2015 na plenária da bancada parlamentar do Syriza. O texto propõe “A elaboração de um plano apoiado em investimento público, sem que isso bloqueie o desenvolvimento paralelo do investimento privado. A Grécia precisa de uma nova e produtiva relação entre os setores público e privado para entrar no caminho do desenvolvimento sustentável. A realização desse projeto passa necessariamente por um restabelecimento da liquidez aliado à poupança nacional”. Mais claro impossível, a Plataforma de Esquerda defende um giro nacionalista burguês, com a saída do Euro como caminho para um suposto desenvolvimento nacional autônomo como apregoa “Nós devemos insistir no fato de que a saída do euro não é um fim em si, mas a primeira etapa de um processo de transformação social, de restabelecimento da soberania nacional e de progresso econômico que aliará crescimento e justiça social. Isso faz parte de uma estratégia de conjunto que se apoia sobre a recuperação produtiva, a estimulação de investimentos assim como a reconstituição de um Estado social e de direito”. Ocorre que não basta a saída da UE, é imprescindível a ruptura radical com o capital financeiro e não simplesmente com a “Zona do Euro”. Não é demais lembrar que a Inglaterra atravessou em 2012 sua pior crise dos últimos vinte anos, sem nunca ter ingressado na Zona do Euro e mantendo sua própria moeda nacional. O fulcro da crise capitalista vai muito além do modelo monetário adotado por um país ou mesmo uma comunidade de países, como é o caso da União Europeia. Sem abordar com radicalidade o verdadeiro cerne da questão em debate, os trabalhadores, principais vítimas da ciranda financeira vigente, ficaram à deriva dos projetos populistas e “antineoliberais” para superar o impasse de uma economia capitalista falida, mas que não deixará a cena histórica sem a construção de uma alternativa socialista e revolucionária, tudo o oposto do que defende a Plataforma de Esquerda que reivindica um desenvolvimento público e privado harmônico impossível de ocorrer em uma época de rapina imperialista sobre a Grécia. Para deixar ainda mais claro o caminho nacional-desenvolvimentista que prega, a Plataforma indica a Suécia e a Dinamarca como exemplos a serem seguidos, países sobre a direção de forças políticas cada vez mais à direita: “A Grécia não se tornará menos europeia, entretanto, ela seguirá uma via diferente daquela que seguem os países do núcleo da UE, uma opção que já foi tomada há tempos por países como a Suécia e a Dinamarca. A saída da UE não isolará nosso país, mas pelo contrário, nos permitirá interpretar um novo papel na cena internacional; um papel baseado na independência e dignidade, longe da posição de pária insignificante, imposto pelas políticas neoliberais dos memorandos”. Trata-se claramente de um programa social democrata alternativo a linha oficial que o governo resolveu seguir, baseado fundamentalmente na saída do Euro e o restabelecimento do Dracma, não apontando em nenhum momento a ruptura com a ordem capitalista.

O KKE pontuou corretamente na sua “Declaração acerca do novo acordo-memorando” (13.07), o fato de que a “Plataforma de Esquerda do SYRIZA e todos aqueles que estão tentando esconder suas enormes responsabilidades por trás da ‘abstenção’ ou do ‘voto nulo’ no parlamento desempenharam um papel particular na manipulação do movimento, para conter a radicalização. Estas forças estão tentando salvar-se politicamente e desempenham um novo papel na contenção do radicalização das lutas e na assimilação do povo dentro do sistema, preparando um novo ‘amortecedor das lutas’ político, o papel que no passado foi desempenhado pelo velho partido ‘Synaspismos’ ”. Nesse sentido, é justa a crítica do KKE a defesa da “saída da Zona do Euro” apenas como uma forma de fortalecer uma Grécia Capitalista: “Para uma solução real em favor do povo é preciso que haja uma ruptura real, a qual não tem relação com a caricatura de uma ruptura que está a ser mencionada pelas forças dentro e fora do SYRIZA que promovem a Grécia capitalista do Dracma como a saída. A opção de sair do euro e adotar uma divisa nacional, no interior do caminho capitalista de desenvolvimento, é anti-povo e apoiada por importantes seções da classe burguesa na Alemanha, na base do ‘plano Schauble’, bem como em outros estados membros da Eurozona e na verdade por outras forças reacionárias. Hoje, seções do capital no nosso país estão a namorar esta opção, na esperança de maiores lucros imediatos. Aqueles que afirmam que a saída da Grécia da Eurozona, com uma divisa desvalorizada, impulsionará a competitividade e o crescimento com consequências positivas para o povo estão empenhados no engano consciente. Qualquer que seja o crescimento capitalista alcançado no futuro não será acompanhado pela recuperação dos salários, pensões, direitos e por esta razão não beneficiará o povo. Isto levará a novos sacrifícios do povo no altar da competitividade dos monopólios. A Grécia capitalista com uma moeda nacional não constitui uma ruptura em favor do povo. As forças políticas que promovem tal objetivo como solução ou como um objetivo intermediário para mudanças radicais (Plataforma de Esquerda do SYRIZXA, ANTARSYA, etc) estão objetivamente a jogar o jogo de seções do capital”. De fato tal medida protecionista, que a frágil burguesia grega até poderá chegar a recorrer desesperadamente, tem a simpatia de setores da própria direita nacional. A entrada da Grécia na chamada Zona do Euro a colocou em um colapso previamente anunciado. Uma “saída possível” seria a renúncia ao Euro e o rompimento com o receituário draconiano da Troika, mas isso é impossível no marco estatal de uma classe dominante associada às burguesias imperialistas europeias, em especial à alemã e francesa, que se beneficiam das exportações primárias da Grécia e principalmente da jogatina especulativa de que o país é refém. Em resumo, diante da covardia da burguesia nativa, a Plataforma de Esquerda assume a defesa dessa tarefa... dando-lhe uma maquiagem "radical", mas sem questionar em nenhum momento o próprio poder burguês.              

Os Marxistas Leninistas afirmam rotundamente, mais uma vez, que somente a revolução socialista pode dar cabo definitivo ao modo de produção capitalista. Por mais que uma futura saída da Grécia da Zona do Euro nos moldes de como defende a Plataforma de Esquerda venha a “agitar” os mercados financeiros, “contaminando” inclusive outras economias frágeis como a Espanha e Portugal, o capitalismo continuará incólume e seguindo em sua ofensiva contra as conquistas operárias. Repetimos, só a ação consciente da vanguarda do proletariado mundial, pela via revolucionária, deterá os planos de “ajuste” e confisco dos povos praticados aceleradamente pelo capital financeiro internacional. Historicamente sempre fomos críticos da política do KKE por centrar suas ações de massa na pressão ao parlamento burguês, mas neste momento temos que reconhecer que sua delimitação púbica e decidida com o Syrzia e a Plataforma de Esquerda, denunciando desde o primeiro momento o governo comandado por Alexis Tsipras enquanto todos os revisionistas do trotsquismo o saldavam, com os stalinistas gregos convocando antes mesmo da eleição do Syrzia a oposição de classe a nova gerência social democrata na Grécia vem representando sem dúvida um posição justa e corajosa, que deve ser apoiada pelos Trotsquistas e Revolucionários. A PAME, conjunto de sindicatos dirigidos pelo KKE e que tem peso social e político entre a classe operária deve neste momento ser o polo de resistência classista a política de colaboração de classes do Syriza e da Plataforma de Esquerda, liderando os levantes populares pela conquista do poder operário que começam a tomar conta de Atenas como revelam as manifestações desta quarta-feira. Nesse sentido a verdadeira frente política anticapitalista deve ter o KKE em sua vanguarda, cabendo aos genuínos trotsquistas intervir neste processo para que os ativistas combativos e militantes que se proclamem leninistas superem no curso da luta política e ideológica os limites da posição do stalinismo e avancem pela senda de um programa revolucionário que coloque na ordem do dia a expropriação da burguesia, das transnacionais e a revolução proletária.