PARLAMENTO GREGO SE ALINHA À TRAIÇÃO DE TSIPRAS, PLATAFORMA
DE ESQUERDA DO SYRIZA JÁ SE COLOCA COMO NOVA ALTERNATIVA ELEITORAL PARA GERIR A
CRISE CAPITALISTA
O parlamento grego aprovou na noite desta quarta-feira o
novo memorando de extorsão imposto pela Troika ao país. Segundo a televisão
estatal da Grécia, 229 deputados votaram a favor do acordo, seis abstiveram-se
e 64 manifestaram-se contra. Dos 64 votos contrários, 32 foram de membros do
Syriza, enquanto 6 desse mesmo partido se abstiveram e um esteve ausente. Outra
parte dos votos favoráveis veio do PASOK, Nova Democracia e Potami. O novo
pacote de "ajuste" obtido pela via de um acordo entre Tsipras e a UE, além de não conter qualquer tipo de anulação de dívidas, impõe duras
condições a Atenas, que incluem o compromisso de levantar um fundo com ativos
gregos equivalente a R$ 170 bilhões, além de medidas de austeridade (redução
de aposentadorias e aumento de impostos) e privatizações nas áreas de portos e
aeroportos que não apenas o governo do Syriza tinha se comprometido não adotar, mas que também foram recusadas por
mais de 61% do povo grego na farsa do referendum realizado há duas semanas. A
presidente do Parlamento da Grécia, Zoe Constantopoulou falando em sua condição
de parlamentar do Syriza pediu nesta quarta-feira que a Casa de 300 assentos
não aprovasse o pacote de medidas neoliberais exigido pelos parasitas do país:
"Este Parlamento não pode aceitar a chantagem dos credores. Com total
conhecimento de como as circunstâncias são cruciais... Acho que é dever do
Parlamento não deixar que essa chantagem se materialize." A voz de Zoe não
está isolada no interior do partido, o atual ministro da energia Panagiotis e o
ex-chefe da pasta da economia, Yanis Varoufakis, também voltaram suas baterias
políticas contra a postura de capitulação de Tsipras. No gabinete de governo
estima-se que cerca de 30% de altos funcionários seguem a posição de
Varoufakis. No marco partidário do Syriza o próprio Comitê Central, por pequena
maioria, já declarou sua total oposição ao memorando ao que classificou como um
"golpe de estado" de Bruxelas. Estes segmentos do Syriza, agora
agrupados majoritariamente na tendência Plataforma de Esquerda, preparam uma
iminente ruptura tanto no gabinete de Tsipras como no próprio partido. Para
tanto formularam um programa social democrata alternativo a linha oficial que o
governo resolveu seguir, baseado fundamentalmente na saída do Euro e o restabelecimento
do Dracma: "O restabelecimento da soberania monetária, que significa
automaticamente uma capacidade recuperada de injetar liquidez na economia. Não
há nenhum outro meio da Grécia quebrar suas correntes com o BCE." O núcleo
dirigente que baliza Tsipras está consciente da provável ruptura no Syriza e já
trabalha com possibilidade de convocar novas eleições até o final do ano para
compor um governo mais "amplo" com setores do PASOK. Em meio a uma
situação de turbulência social, onde os sindicatos e o KKE já protagonizam
mobilizações de rua contra o "regaste" financeiro da UE ao governo
vendido de Tsipras, a burguesia grega articula uma nova versão do Syriza para
ocupar o vazio de poder surgido de uma profunda que se anuncia próxima. Esta
nova alternativa burguesa deverá seguir os passos do "Syriza das
origens" com um programa de contenção das lutas no marco utópico de um
"capitalismo com rosto humano e nacional". A "tragédia
grega" revelou lições importantes a vanguarda proletária mundial, a principal
delas é que não há saída autônoma no quadro da submissão ao imperialismo, seja
dentro ou fora da zona do Euro. A ruptura com a Troika e sua espoliação
financeira a Grécia só poderia ser realmente efetiva na via da revolução
socialista, porém as vertentes da social democracia de "esquerda" se
recusam a apontar nesta direção. Desgraçadamente estamos assistindo o
surgimento de mais uma vã tentativa de "resgatar" o moribundo
capitalismo, a Plataforma de Esquerda. Todas as correntes revisionistas que semearam
ilusões na última cartada política do Syriza, o referendum, agora começam a
migrar para a Plataforma de Esquerda, convocando este agrupamento a encabeçar
as lutas contra o ajuste de Tsipras. Por outro lado o KKE apesar de suas
limitações programáticas se manteve "limpo" de todas as manobras da
social democracia, reunindo a autoridade política necessária para liderar os
levantes populares pela conquista do poder operário, para além das arapucas
eleitorais que se avizinham.
Para se credenciar junto a burguesia nacional para gerir a
crise capitalista em meio a instabilidade do governo Tsipras, a Plataforma de
Esquerda inclusive já apresentou um programa “alternativo” em que anuncia seu
respeito à sacrossanta propriedade privada. Este foi discutido no dia 10 de
julho de 2015 na plenária da bancada parlamentar do Syriza. O texto propõe “A
elaboração de um plano apoiado em investimento público, sem que isso bloqueie o
desenvolvimento paralelo do investimento privado. A Grécia precisa de uma nova
e produtiva relação entre os setores público e privado para entrar no caminho
do desenvolvimento sustentável. A realização desse projeto passa
necessariamente por um restabelecimento da liquidez aliado à poupança
nacional”. Mais claro impossível, a Plataforma de Esquerda defende um giro
nacionalista burguês, com a saída do Euro como caminho para um suposto
desenvolvimento nacional autônomo como apregoa “Nós devemos insistir no fato de
que a saída do euro não é um fim em si, mas a primeira etapa de um processo de
transformação social, de restabelecimento da soberania nacional e de progresso
econômico que aliará crescimento e justiça social. Isso faz parte de uma
estratégia de conjunto que se apoia sobre a recuperação produtiva, a
estimulação de investimentos assim como a reconstituição de um Estado social e
de direito”. Ocorre que não basta a saída da UE, é imprescindível a ruptura
radical com o capital financeiro e não simplesmente com a “Zona do Euro”. Não é
demais lembrar que a Inglaterra atravessou em 2012 sua pior crise dos últimos
vinte anos, sem nunca ter ingressado na Zona do Euro e mantendo sua própria
moeda nacional. O fulcro da crise capitalista vai muito além do modelo
monetário adotado por um país ou mesmo uma comunidade de países, como é o caso
da União Europeia. Sem abordar com radicalidade o verdadeiro cerne da questão
em debate, os trabalhadores, principais vítimas da ciranda financeira vigente,
ficaram à deriva dos projetos populistas e “antineoliberais” para superar o
impasse de uma economia capitalista falida, mas que não deixará a cena
histórica sem a construção de uma alternativa socialista e revolucionária, tudo
o oposto do que defende a Plataforma de Esquerda que reivindica um
desenvolvimento público e privado harmônico impossível de ocorrer em uma época
de rapina imperialista sobre a Grécia. Para deixar ainda mais claro o caminho
nacional-desenvolvimentista que prega, a Plataforma indica a Suécia e a
Dinamarca como exemplos a serem seguidos, países sobre a direção de forças
políticas cada vez mais à direita: “A Grécia não se tornará menos europeia,
entretanto, ela seguirá uma via diferente daquela que seguem os países do
núcleo da UE, uma opção que já foi tomada há tempos por países como a Suécia e
a Dinamarca. A saída da UE não isolará nosso país, mas pelo contrário, nos
permitirá interpretar um novo papel na cena internacional; um papel baseado na
independência e dignidade, longe da posição de pária insignificante, imposto
pelas políticas neoliberais dos memorandos”. Trata-se claramente de um programa
social democrata alternativo a linha oficial que o governo resolveu seguir,
baseado fundamentalmente na saída do Euro e o restabelecimento do Dracma, não
apontando em nenhum momento a ruptura com a ordem capitalista.
O KKE pontuou corretamente na sua “Declaração acerca do
novo acordo-memorando” (13.07), o fato de que a “Plataforma de Esquerda do SYRIZA e todos
aqueles que estão tentando esconder suas enormes responsabilidades por trás da
‘abstenção’ ou do ‘voto nulo’ no parlamento desempenharam um papel particular
na manipulação do movimento, para conter a radicalização. Estas forças estão tentando salvar-se politicamente e desempenham um novo papel na contenção do
radicalização das lutas e na assimilação do povo dentro do sistema, preparando
um novo ‘amortecedor das lutas’ político, o papel que no passado foi
desempenhado pelo velho partido ‘Synaspismos’ ”. Nesse sentido, é justa a
crítica do KKE a defesa da “saída da Zona do Euro” apenas como uma forma de
fortalecer uma Grécia Capitalista: “Para uma solução real em favor do povo é
preciso que haja uma ruptura real, a qual não tem relação com a caricatura de
uma ruptura que está a ser mencionada pelas forças dentro e fora do SYRIZA que
promovem a Grécia capitalista do Dracma como a saída. A opção de sair do euro e
adotar uma divisa nacional, no interior do caminho capitalista de
desenvolvimento, é anti-povo e apoiada por importantes seções da classe
burguesa na Alemanha, na base do ‘plano Schauble’, bem como em outros estados membros
da Eurozona e na verdade por outras forças reacionárias. Hoje, seções do
capital no nosso país estão a namorar esta opção, na esperança de maiores
lucros imediatos. Aqueles que afirmam que a saída da Grécia da Eurozona, com
uma divisa desvalorizada, impulsionará a competitividade e o crescimento com
consequências positivas para o povo estão empenhados no engano consciente.
Qualquer que seja o crescimento capitalista alcançado no futuro não será
acompanhado pela recuperação dos salários, pensões, direitos e por esta razão
não beneficiará o povo. Isto levará a novos sacrifícios do povo no altar da
competitividade dos monopólios. A Grécia capitalista com uma moeda nacional não
constitui uma ruptura em favor do povo. As forças políticas que promovem tal objetivo
como solução ou como um objetivo intermediário para mudanças radicais
(Plataforma de Esquerda do SYRIZXA, ANTARSYA, etc) estão objetivamente a jogar
o jogo de seções do capital”. De fato tal medida protecionista, que a frágil
burguesia grega até poderá chegar a recorrer desesperadamente, tem a simpatia
de setores da própria direita nacional. A entrada da Grécia na chamada Zona do
Euro a colocou em um colapso previamente anunciado. Uma “saída possível” seria a renúncia ao Euro e o rompimento com o receituário
draconiano da Troika, mas isso é impossível no marco estatal de uma classe
dominante associada às burguesias imperialistas europeias, em especial à alemã
e francesa, que se beneficiam das exportações primárias da Grécia e principalmente
da jogatina especulativa de que o país é refém. Em resumo, diante da covardia
da burguesia nativa, a Plataforma de Esquerda assume a defesa dessa tarefa...
dando-lhe uma maquiagem "radical", mas sem questionar em nenhum momento o
próprio poder burguês.
Os Marxistas Leninistas afirmam rotundamente, mais uma vez,
que somente a revolução socialista pode dar cabo definitivo ao modo de produção
capitalista. Por mais que uma futura saída da Grécia da Zona do Euro nos moldes
de como defende a Plataforma de Esquerda venha a “agitar” os mercados
financeiros, “contaminando” inclusive outras economias frágeis como a Espanha e
Portugal, o capitalismo continuará incólume e seguindo em sua ofensiva contra
as conquistas operárias. Repetimos, só a ação consciente da vanguarda do
proletariado mundial, pela via revolucionária, deterá os planos de “ajuste” e
confisco dos povos praticados aceleradamente pelo capital financeiro
internacional. Historicamente sempre fomos críticos da política do KKE por
centrar suas ações de massa na pressão ao parlamento burguês, mas neste momento
temos que reconhecer que sua delimitação púbica e decidida com o Syrzia e a
Plataforma de Esquerda, denunciando desde o primeiro momento o governo
comandado por Alexis Tsipras enquanto todos os revisionistas do trotsquismo o
saldavam, com os stalinistas gregos convocando antes mesmo da eleição do Syrzia
a oposição de classe a nova gerência social democrata na Grécia vem
representando sem dúvida um posição justa e corajosa, que deve ser apoiada
pelos Trotsquistas e Revolucionários. A PAME, conjunto de sindicatos dirigidos
pelo KKE e que tem peso social e político entre a classe operária deve neste
momento ser o polo de resistência classista a política de colaboração de classes
do Syriza e da Plataforma de Esquerda, liderando os levantes populares pela
conquista do poder operário que começam a tomar conta de Atenas como revelam as
manifestações desta quarta-feira. Nesse sentido a verdadeira frente política
anticapitalista deve ter o KKE em sua vanguarda, cabendo aos genuínos
trotsquistas intervir neste processo para que os ativistas combativos e
militantes que se proclamem leninistas superem no curso da luta política e
ideológica os limites da posição do stalinismo e avancem pela senda de um
programa revolucionário que coloque na ordem do dia a expropriação da
burguesia, das transnacionais e a revolução proletária.