OFENSIVA REACIONÁRIA DO GOVERNO ERDOGAN: SOB PRETEXTO DE
ATACAR O EI, TURQUIA BOMBARDEIA A SÍRIA, PERSEGUE MILÍCIAS CURDAS E PRENDE
MILITANTES DO PC E PKK. PELA UNIDADE REVOLUCIONÁRIA DOS TRABALHADORES TURCOS,
SÍRIOS, IRAQUIANOS E CURDOS PARA DERROTAR O IMPERIALISMO! FRENTE ÚNICA COM
ASSAD CONTRA O EI E A OTAN! EM DEFESA DO POVO CURDO E DE SEU DIREITO À INDEPENDÊNCIA NACIONAL!
Nesta semana o odiado governo Erdogan desferiu uma ofensiva política
e militar tanto no campo interno como no terreno internacional, inclusive
bombardeando a Síria. Utilizando o pretexto de combater o Estado Islâmico (EI),
aviões turcos atingiram milícias curdas ligadas ao Partido dos Trabalhadores do
Curdistão (PKK) nas montanhas de Qandil, no norte do Iraque e em território
sírio. A OTAN e os EUA apoiaram os ataques turcos contra os “grupos
terroristas” colocando no mesmo saco, o PKK, a YPG, o EI e inclusive o próprio
PC turco. Organizações de esquerda que atuam na Turquia tiveram cerca de 1600
militantes presos nos últimos dias em Ancara após encabeçarem manifestações
contra o governo. Este apoio do imperialismo foi dado em troca do uso da base
aérea de Incirlik, na Turquia, contra o EI: “Estamos todos unidos em
solidariedade com a Turquia”, disse o secretário-geral da OTAN, Jens
Stoltenberg. Por seu turno, “Os Estados Unidos, é claro, reconhecem o PKK como uma
organização terrorista. E, então, a Turquia tem o direito de tomar medidas
relacionadas com os objetivos terroristas”, afirmou o porta-voz da Casa Branca,
Ben Rhodes. A ofensiva foi detonada depois que Erdogan perdeu a maioria
absoluta do parlamento nas eleições do mês passado e está voltada a
recompor o controle do legislativo em novas disputas nas urnas que ocorrerão no
final do ano. Ao mesmo tempo em que lançou seus aviões para bombardear posições
do EI, o governo de Erdogan desferiu uma ampla operação policial em todo o
país, dirigida em primeiro lugar contra ativistas curdos, na qual foram detidas
mais ou menos 300 pessoas por pressuposta vinculação com grupos terroristas.
Milícias curdas na Síria também acusaram a Turquia de bombardear suas posições.
De acordo com essas milícias, vários tanques turcos dispararam contra duas
aldeias na zona fronteiriça de Zur Maghar, na província de Aleppo (norte da
Síria): "Em vez de atacar posições dos terroristas do EI, as forças turcas
atacam nossas posições de defesa", denunciaram em um comunicado as
Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG). "Pedimos ao exército turco que
pare de atirar contra nossos combatentes e as suas posições",
acrescentaram. Em paralelo a sua ofensiva contra o EI, Ancara tem realizado
bombardeios contra bases do PKK no norte do Iraque. Vários aviões F-16
decolaram da base de Diyarbakir, no sudeste da Turquia, em direção às montanhas
Kandil, onde estão as bases de retaguarda do movimento de resistência. Como
Marxistas Revolucionários denunciamos os bombardeios ordenados pelo governo
Erdogan contra o território sírio a pretexto de combater o EI, uma ofensiva
militar apoiada pela OTAN e os EUA que tem como objetivo estratégico derrubar o
governo nacionalista burguês de Bashar Al Assad. Ao mesmo tempo, rechaçamos os ataques as milícias curdas no Iraque e na Síria assim como a perseguição a militantes de
esquerda no interior da Turquia. Defendemos a unidade revolucionária dos trabalhadores turcos
com a minoria curda para derrotar Erdogan e o estabelecimento de uma frente única com Assad contra a
agressão do imperialismo e da Turquia. Por fim não assinamos nenhum “cheque em
branco” para Obama, Erdogan ou a OTAN atacarem o EI, a tarefa de derrotar os
grupos terroristas armados pelo imperialismo e que saíram de seu controle está
nas mãos da classe operária pela via de sua unidade revolucionária e
internacionalista!
Os bombardeios da Turquia contra o EI, apoiados pela OTAN e
o EUA, podem servir a qualquer momento como pretexto para as forças
imperialistas atacarem Damasco ou mesmo o sul do Líbano controlado pelo
Hezbolah. Ao denunciar a agressão imperialista, no campo militar os trotskistas
reafirmam a frente única com o exército nacional comandado por Bashar Al-Assad
contra toda a malta de “rebeldes” armados e financiados pela Casa Branca! No
marco deste conflito encontra-se a questão curda. Durante muito tempo, os
curdos ficaram sozinhos defendendo a região de Kobani, já que o governo da
Turquia se recusava deixar ingressar curdos turcos e iraquianos (peshmerga)
pela sua fronteira. Entretanto, a principal milícia síria curda (YPG-YPJ)
conseguiu expulsar o EI com o apoio das bombas da coligação imperialista
liderada pelos Estados Unidos e formada há um ano para lançar ataques aéreos
contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria. Tratava-se da mesma política
utilizada pelo imperialismo ianque no Iraque com relação aos curdos, ou seja, a
tentativa de um acordo para dar relativa autonomia para a região desde que suas
direções se aliem as iniciativas militares do Pentágono. Pelo visto, devido ao
acordo em Erdogan, esta “colaboração” está ameaçada porque o centro da
preocupação turca é que os curdos se fortaleçam ainda mais na região, devido ao
estabelecimento do governo autônomo curdo no norte do Iraque e a posse de
cidades iraquianas de Mosul e Kirkut, após a ocupação, importantes centros de
reserva e extração petrolífera, que deu grande impulso a um sentimento popular
que exige a constituição de um Estado independente. O ascenso do movimento
nacionalista curdo também desestabiliza internamente a própria Turquia, já que
em seu território existem mais de 12 milhões de curdos vivendo sob um férreo regime
de opressão nacional, cuja expressão mais conhecida é a prisão do líder curdo
nacionalista do PKK, Abdullah Ocalan, ainda mais agora quando o Partido
Democrático do Povo (HDP), de orientação pró-curda conquistou importante
representação parlamentar nas eleições legislativas e
tirou a maioria absoluta ao partido de Erdogan. A consequente defesa do direito
à autodeterminação curda através de um programa marxista revolucionário passa,
neste momento, pelo chamado à unidade revolucionária dos trabalhadores turcos,
iraquianos, iranianos, sírios e curdos, conformando milícias multiétnicas para
derrotar o imperialismo ianque e seu agente Erdogan. Não somos partidários da
atual existência de uma imaginária “Kobani Vermelha” como fazem os revisionistas
do trotskismo partidários da “revolução árabe”, que saúdam o apoio que as
milícias curdas recebem dos EUA para enfrentar o EI, via os bombardeios e
armas, como proclamam a LIT, UIT e a CS-MRS. Os Marxistas Revolucionários
pacientemente estão ao lado dos combatentes curdos em Kobani demonstrando a
inutilidade estratégica de uma aliança com os EUA, como vimos agora
concretamente no apoio de Obama aos bombardeios turcos contra as milícias do
YPG. Muito menos nos colocamos ao lado dos jishadistas islâmicos contra a
minoria curda, rechaçamos os ataques do EI a Kobani e suas provocações
terroristas na região. Chamamos os combatentes do YPG a lutar pela sua
independência nacional unindo os curdos do Iraque, Turquia e Síria em frente
única com o governo Assad, contra a coalização imperialista, Erdogan e o EI,
dando assim um caráter extremamente progressista a sua justa aspiração
nacional.
Grande parte da população turca se opõe à política
pró-imperialista de ataque ao Irã e a Síria. Como a Turquia é um estado-membro
da OTAN, a aliança imperialista pode agredir a Síria sem a necessidade de
aprovação formal de outras instâncias internacionais como a ONU se o país
alegar que foi atacado, usando assim o EI de pretexto como foi nesta cado. Na
verdade, a Turquia já invadiu várias vezes o espaço aéreo sírio e montou uma
verdadeira base militar do ELS na fronteira com o país, onde os mercenários
financiados pelos EUA recebem armas e treinamento. Não esqueçamos que em 2003 a
mesma Turquia pediu assistência da OTAN para garantir sua segurança diante da
iminência da guerra do Iraque.
Para que a luta contra o governo Erdogan avance é preciso
reivindicar não só a queda do seu governo, mas que tenha uma perspectiva mais
ampla, o que passa pela reivindicação de que o país não ataque os curdos no
Iraque e na Síria. Não se pode lutar consequentemente contra o governo Erdogan
apoiando sua política se prestar suporte logístico e militar, via OTAN, aos
“rebeldes” na Síria, como faz a LIT e os revisionistas que dizem defender a
“Kobani Vermelha”! A questão síria e turca polariza as mobilizações na Turquia,
o que coloca na ordem do dia a luta pelo fim das bases da OTAN do país,
exigindo sua saída da aliança militar imperialista como um passo concreto para
derrotar Erdogan, que não passa de uma marionete das potências capitalistas a
frente do governo da Turquia!