domingo, 5 de julho de 2015


VITÓRIA DO "OXI" SIGNIFICA A VONTADE DO POVO GREGO EM ROMPER COM A ESPOLIAÇÃO IMPERIALISTA, MAS PARA TSIPRAS O MOMENTO É DE VOLTAR A NEGOCIAR UMA RENDIÇÃO "JUSTA" COM A TROIKA

O referendum convocado para este domingo pelo governo do Syriza para decidir entre sua proposta de acordo com a UE e a exigida pela Troika (BCE, FMI e Comissão Europeia) expressou um amplo sentimento da população grega de romper definitivamente com a política de arrocho e austeridade que os rentistas e governos da União Europeia vem impondo ao país. Quase 65 % dos votos cravaram o "OXI" (NÃO) contra cerca de 32% do "NAI" (SIM), apesar da imensa chantagem exercida pela mídia local que verberou os interesses financeiros dos rentistas e governos imperialistas da Europa. Ao ser acuado por uma proposta humilhante da Troika, após ter cedido em várias exigências inaceitáveis para a população mais sofrida com o "ajuste", Tsipras não teve outra alternativa a não ser convocar um referendum popular para legitimar sua posição de um acordo menos humilhante para seu governo de "esquerda". No início da convocatória membros do gabinete do Syriza, como o ministro das finanças Yanis Varoufakis, chegaram a não se posicionar diante do referendum (com a demagogia de que o "povo decidirá"), ainda esperando um último acordo de "emergência" com o governo alemão. Tsipras chegou mesmo a declarar que suspenderia o referendum caso a Troika aceitasse uma "proposta intermediária", o que obviamente incluiria redução em novos pedidos de aposentadoria e aumento gradual do IVA (o ICMS de lá). Porém a gerente geral dos rentistas, Merkel, não pretendia somente obter mais rendimentos financeiros, tinha por objetivo desmoralizar politicamente o Syriza em face das próximas eleições em vários países da UE onde agrupamentos de "esquerda" ameaçam triunfar. A alternativa de Tsipras diante das "portas fechadas" da UE foi decretar feriado bancário até o domingo do referendum em virtude do pânico disseminado pela mídia e postergar o pagamento de 1,5 bilhões de Euros ao Banco Central Europeu. Registre-se o fato que o tal "calote" ao FMI de fato nunca ocorreu, posto que o pagamento desta parcela da "dívida grega" seria quitado com um novo empréstimo da própria Troika de cerca de 7 Bilhões que não foi disponibilizado ao país, ou seja o "calote" foi na realidade dado na Grécia pelos abutres imperialistas. Frente a radicalização dos setores mais proletarizados da população que entenderam o plebiscito como um instrumento de dar um basta à dependência financeira do país a uma dívida fictícia, Tsipras passou a defender o "Não" de forma mais enfática, anunciando que seu gabinete renunciaria de conjunto caso o "SIM" ganhasse o referendum. Em mais uma tentativa de fraudar a vontade popular, o "IBOPE" de lá afirmava que existia um empate técnico entre as duas opções, os partidos da "velha ordem" convocaram comícios pelo "SIM", inflados é claro pela mídia venal, porém as autênticas mobilizações populares ganharam o país não deixando dúvida de qual seria o resultado deste domingo. Para o Syriza e Tsipras o contundente recado das urnas significa um sinal para continuar negociando com a Troika a rendição do país em condições um pouco melhores, sua declaração após o resultado não deixa a menor dúvida: "Quero agradecer cada um e todos vocês. Independentemente de como tenham votado, hoje nós somos um. O mandato que vocês me deram não pede uma ruptura com a Europa, mas me dá mais força para negociar (...) Os gregos fizeram uma escolha corajosa. Sua resposta vai alterar o diálogo existente com a Europa". (G1/ 05/07). O cheiro da traição, à vontade do povo em estabelecer uma ruptura cabal com a zona do Euro, exala no ar! As mobilizações populares devem continuar e exigir deste governo o rompimento com o mecanismo global de uma dívida que só aumenta as custas do sacrifício dos trabalhadores. De nada adiantará receber a nova parcela de 7 bilhões e daqui a alguns meses ter que apresentar mais cortes no orçamento para pagar outra parcela.... É uma bola de neve que só cessará com a afirmação da soberania do país em romper definitivamente com o ciclo parasitário dos rentistas. Mas o Syriza está programaticamente muito distante de encabeçar uma ruptura socialista com o imperialismo europeu, somente a construção de organismos independentes de poder proletário podem levar esta tarefa histórica até a vitória. O norte político das massas gregas já foi dado, ainda que de forma limitada por este referendum, vejamos os próximos passos cambaleantes da esquerda social democrata para avançarmos na construção do partido revolucionário.

No campo do imperialismo ainda não há um consenso sobre como posicionar-se diante da vitória do "NÃO", os rentistas alemães pressionam pelo expurgo da Grécia da zona do Euro, embora cautelosos de gerar um efeito especulativo desastroso para o mercado bursátil europeu. Nesta possibilidade a Grécia ficaria no curto prazo sem reservas monetárias internacionais, Euro e Dólar, já que seu Tesouro Nacional ficaria retido no Banco Central Europeu emissor único da moeda do bloco. Este cenário, embora o mais remoto, não pode ser descartado completamente, não por um ato de afirmação da soberania nacional da parte do Syriza. O gabinete do Syriza busca de todas as formas evitar a ruptura com os credores amotinados na Troika, para tanto já anunciou a renúncia de seu ministro das finanças, Yanis Varoufakis. Segundo a agência de notícias Reuters, Varoufakis disse 'estar ciente' de que alguns membros da zona do Euro não consideravam sua presença bem-vinda em encontros de ministros de finanças. Yanis ressaltou que seu objetivo é facilitar as negociações do governo grego com credores: "O primeiro ministro considerou a ideia potencialmente útil". A alternativa mais consistente no terreno da UE, e apoiada explicitamente pela Casa Branca, é retomar as negociações partindo do ponto das próprias concessões já estabelecidas por Tsipras. Para os dirigentes da UE o referendum mostrou que não existe "alternativa de poder" parlamentar à direita do Syriza, o risco então seria radicalizar a conjuntura abrindo caminho para uma "revolução" ou golpe militar, uma via bastante delicada nesta situação. A Grécia viveu muitos anos sob um regime militar no marco histórico da chamada "Guerra Fria", porém hoje o quadro de uma guerra civil teria um efeito dominó em toda a Europa, fatalmente colocando a Rússia como protagonista deste possível conflito. Do ponto de vista estritamente financeiro as posições da Troika e do Syriza não estão muito distantes, falta "ajustar o grau do ajuste"... Mas os desdobramentos políticos de um acordo com a Troika ainda estão bem abertos ...


Os resultados finais do referendum demonstram que houve uma abstenção de quase 40% da população e 6% dos que compareceram as urnas optaram pelo voto nulo ou branco. Como declarou Dimitris Koutsoumbas, Secretário-Geral do KKE, sobre o balanço do referedum “Saudamos as milhares de pessoas que seguiram o apelo do KKE a não ceder à chantagem. Saudamos em particular as eleitoras e eleitores que inseriram o boletim do KKE com a sua proposta de formulação da pergunta para o referendo feita no Parlamento mas bloqueada pelo governo. Com isso, o povo foi privado do direito de votar sobre esta proposta, foi-lhe retirada a possibilidade de poder escolher entre várias propostas. Face à pergunta parcelar e contraditória do referendo-relâmpago, parte da população conseguiu evitar a confusão, dar uma primeira resposta com boletins nulos ou brancos, ao passo que um grande número de pessoas ficaram à margem deste voto, quanto mais não fosse por causa de dificuldades financeiras e dos custos demasiado elevados dos transportes para se deslocaram aos locais de votação. Desde a decisão tomada de organizar o referendo, constatamos, com razão, que independentemente da questão do voto, não pode haver soluções alternativas, verdadeiramente positivas para o povo, no quadro da UE, das vias capitalistas, do reconhecimento das dívidas. Todas as outras forças políticas, tanto no campo do NÃO como no do SIM apresentam soluções incluídas neste quadro. Elas encontram-se todas a defender a necessidade de se conformar às regras da UE, a defender os interesses das partes do capital que elas representam respectivamente. Dirigimo-nos particularmente às eleitoras e eleitores que hoje votaram pelo NÃO e acreditaram que poderiam assim ser posto um fim à política de austeridade, que poderiam resistir eficazmente às medidas mais duras e ao memorando. Apelamos a todos aqueles que hoje se sentem reforçados pela vitória do NÃO a não permanecerem passivos e a não validar a tentativa do governo de transformar este NÃO num SIM para novos acordos anti-populares. Nós lhes estendemos a mão para os combates que hão de vir contra o agravamento das suas condições de vida”. Em resumo, a Troika e Tsipras chantagearam o povo grego com um referendum para "escolher" entre o ruim e o pior! Os revisionistas do trotskismo de todos os matizes que acriticamente se perfilaram em defensores do NÃO e saudaram o Syriza pelo resultado obtido logo saíram a criticar a posição do KKE como sectária e irresponsável. Desde a LIT, UIT, a CMI, passando pelo PTS e PO argentino e até grupos que se dizem principistas atacaram a posição dos comunistas gregos que denunciaram o engodo do referendum e o real significado do NÃO a ser utilizado pelo governo Tsipras para se manter na Zona do Euro. Tais correntes seguem disseminando ilusões políticas na plataforma de colaboração de classes do Syriza, como vemos na declaração da CMI de Alan Woods: “O Partido Comunista da Grécia (KKE) adotou uma abordagem completamente errada no referendo, que não tem nada em comum com o leninismo. Embora ele faz uma série de críticas válidas e justas contra o governo, considera o referendo simplesmente como uma forma de obter um melhor acordo na mesa de negociações, chama a anular o voto. Este é um erro muito grave. Numa altura em que a sociedade grega está extremamente polarizada em linhas claras de classe, os líderes do KKE decidiram abster-se. É perfeitamente possível o voto NÃO ao ultimato da Troika (a questão que se coloca no referendo), continuando a campanha contra a austeridade, contra as concessões feitas pelo governo e uma alternativa socialista clara ao capitalismo” (El Militante, 04.07). Ocorre que o governo vai usar o resultado do referendum para voltar a negociar uma rendição "justa" com a Troika e não para romper com a UE e sua política de austeridade! Nesse sentido, a denúncia do referendum antidemocrático era a posição mais justa para preparar a vanguarda classista no combate ao golpe futuro do governo Syriza contra os explorados.

Como alertamos, o referendum antidemocrático convocado pelo governo do Syriza foi para o povo escolher entre a proposta humilhante da Troika europeia para seguir espoliando o proletariado grego ou a pauta de capitulação defendida por Tsipras que pouco difere dos chacais de Berlim e do FMI. Nesse sentido, a tarefa fundamental que se coloca após a vitória do NÃO é preparar o caminho de uma verdadeira ruptura socialista com os parasitas do capital financeiro e seu Estado imperialista europeu, superando as alternativas sociaisdemocratas postas pelo atual governo de "esquerda" e as diversas frações do Syrzia que só postergam o sofrimento do povo grego acossado por uma dívida fraudulenta imposta pela UE. A única medida justa a se tomar neste momento do ponto de vista dos trabalhadores e do povo explorado é o não pagamento das dívidas, voltando a riqueza nacional para o desenvolvimento do país e para a melhoria de vida dos trabalhadores, expropriando a burguesia nativa e as transnacionais. Isto significa romper com o FMI, o BCE e a própria União Europeia, buscando uma aliança comercial com a Rússia e China e outros países não alinhados com o imperialismo europeu e a Casa Branca, um caminho soberano que o governo Tsipras e o Syriza se negam a tomar. Frente a esta realidade escorchante, a PAME, conjunto de sindicatos dirigidos pelo KKE e que tem peso social e político entre a classe operária deve neste momento ser o polo de resistência classista a política de conciliação do Syrzia. Nesse sentido chamamos a conformação de uma frente política anticapitalista que tenha o KKE em sua vanguarda, cabendo aos genuínos trotskistas intervir neste processo para que os ativistas combativos e militantes que se proclamem leninistas combatam a político pró-imperialista do governo Tsipras e superem no curso da luta política e ideológica os limites da posição do stalinismo, forjando a construção de um genuíno partido revolucionária leninista! Somente desta forma poderemos derrotar mais uma gerência socialdemocrata de “esquerda” que buscará agora mais do que nunca um acordo-rendição “justo” com a Troika! A tarefa dos Marxistas-Leninistas neste momento crucial da luta de classe na Grécia é organizar desde as bases operárias e populares a luta direta contra a política de colaboração de classes do Syriza e não semear falsas expectativas no governo burguês sob o comando de Alexis Tsipras como faz grande parte da família revisionista do trotskismo! Nesse sentido o chamado a mobilização direta das massas para o governo não celebrar nenhum acordo com a Troika, desmascarando a posição conciliatória de Tsipras é a tarefa que se coloca na ordem do dia para os trabalhadores gregos!