segunda-feira, 29 de agosto de 2016

SOMENTE 7 VOTOS PARA BARRAR O IMPEACHMENT: POR QUE DILMA E O PT NÃO CONSEGUEM DERROTAR O GOLPE PARLAMENTAR NO SENADO?


A resposta a esta questão envolve pontos estratégicos para a compreensão histórica do processo que levará a interrupção de quatro mandatos consecutivos da Frente Popular na gerência do Estado Burguês nacional e o fim do pacto social de colaboração de classes. Em primeiro lugar existem dois elementos para a análise marxista dos acontecimentos: um macro-estrutural do regime capitalista e outro da própria conjuntura político parlamentar do Congresso Nacional. Vamos começar pela abordagem mais profunda dos fatos, sejamos categóricos Dilma e o PT são apeados da gerência estatal não porque perderam apoio entre os trabalhadores ao implementarem um duro ajuste fiscal e terem dado início as reformas neoliberais para subtrair as conquistas sociais da população brasileira. Esta "tese" (que possui uma forte lógica interna) é defendida vigorosamente pelo PSTU, MAIS, CST e grande parte do PSOL, guardado os nuances de cada abordagem. O grande "furo" desta caracterização da situação falimentar de Dilma reside justamente não na evidencia do governo petista ter atacado agressivamente os trabalhadores após a vitória eleitoral de 2014, mas no gravíssimo erro de afirmar que a Frente Popular teria perdido sua base social e até mesmo eleitoral com a implementação do "ajuste". Segundo a lógica equivocada dos revisionistas, o PT ao perder apoio dos trabalhadores teria obrigado a burguesia a retirar-lhes a condução do Estado, pela via do golpe parlamentar. O termômetro cabal de que a Frente Popular (em seu conjunto de apêndices políticos e sindicais) está longe de ter perdido sua imensa base social e eleitoral é a constatação que o próprio campo de influência do PSOL (MAIS, PCB etc..) foi arrastado pela campanha de defesa do mandato de Dilma, muitos antes ácidos ao PT hoje se dizem "tristes" com o desfecho do impeachment... Ironia a parte o fundamental é não falsear a realidade, as enormes manifestações de rua, as declarações da intelectualidade e dos artistas, a ação enérgica da juventude mostraram um forte apoio de massas ao governo Dilma e ao PT, mesmo enquanto estes seguiam no Planalto ordenando ataques a direitos sociais e garantias democráticas, como o corte dos benefícios da Previdência e a lei Antiterror. O "X" da questão é abstrair da conjuntura atual a lição que o movimento operário e popular ainda não superou politicamente a direção da Frente Popular, ao contrario, esta continua sendo um grande polo aglutinador, capaz de atrair para o seu lado forças "críticas" como o PSOL e afins, sob o manto da democracia burguesa como um "valor universal". Mesmo diante do maior bombardeio midiático o PT, segundo as próprias pesquisas feitas pelos "institutos" corporativos, continua sendo a legenda de maior adesão nacional e sob a intensa chuva de denúncias da famigerada "Lava Jato" seus candidatos a prefeito figuram entre os mais preferidos (as quatro primeiras posições) em capitais como Recife, Fortaleza, Natal, Porto Alegre e até São Paulo. Em resumo o "default" de Dilma não pode ser explicado de forma simplista como uma "decisão indireta dos trabalhadores" descontentes com "suas medidas impopulares" como quer nos fazer crer os "tristinhos" do MAIS, a burguesia nacional está literalmente "cagando" para o sentimento político dos trabalhadores, caso contrário não teria sustentado oito anos o odiado FHC. O golpe institucional é deliberado no seio da fração majoritária da classe dominante exatamente quando Dilma revela não ter na Câmara dos Deputados um mínimo de um terço de votos para seguir adiante com o ajuste, ou seja, a primeira votação do impeachment no parlamento, pautada por Cunha, serviria na verdade como um teste de  correlação de forças onde a própria burguesia foi surpreendida com o "derretimento" da base aliada do governo. Até o momento preliminar da votação na Câmara os Sarney, Renan, Cabral etc.. estavam frontalmente contra as intenções golpistas da dupla de bandidos Cunha e Temer, porém desvelado o acachapante resultado da admissibilidade do impeachment na primeira instância parlamentar a orientação geral do "mercado" se alterou. Não por coincidência em meados de 2015 às commodities atingiram seu menor valor comercial nos últimos dez anos, abaixo até da crise internacional de 2008. Sabendo que diante da grave crise econômica (drástica redução na entrada de dólares das exportações) o governo Dilma teria que por um fim a política de subsídios fiscais  e empréstimos generosos dos bancos públicos, com o fechamento do fluxo de crédito internacional para o Brasil, o setor mais dinâmico da elite capitalista resolveu romper sua aliança de uma década com a Frente Popular e patrocinar o golpe institucional. É óbvio que este "protocolo de rompimento" não foi realizado de forma unânime no intestino da burguesia, partidos como o PDT, parte do PSB, PR e PTB e até setores do próprio PMDB se mantiveram fiéis ao governo Dilma. Porém uma tática desastrosa da liderança do PT na Câmara dos Deputados colocou definitivamente as chances de sobrevivência do Governo Dilma na lixeira, trata-se da linha sugerida pelo líder José Guimarães (considerado até então como o maior "espertalhão" do Congresso) que consistia em promoter retirar os cargos chaves do PMDB na Esplanada e entregá-los ao PP e PSD. Fechado o "conchavo" entre Guimarães, o senador Ciro Nogueira e Kassab, com o aval de Dilma, o resultado foi tragicômico... os parlamentares do PP e PSD cotados para assumir ministérios no governo Dilma no dia seguinte da votação apoiaram todos o impeachment, e claro os deputados do PMDB que ainda resistiam em seguir Temer e Cunha votaram contra o PT. A pequena margem de votos, tanto na Câmara (cerca de 20 a 25) como no Senado (cerca de 6 a 7), que selaram historicamente o fim da gerência Dilma reflete que a sentença do golpe foi definida a "contragosto" dos planos originais da burguesia, que projetavam finalizar as reformas neoliberais no "cordão de contenção" da Frente Popular. Com a certeza de que com a oposição aberta de Cunha e Temer no Congresso Dilma não conseguiria governar, é que a burguesia formou um novo "bloco de poder", granjeando a antiga oposição Demo-Tucana e a maioria fisiológica da ex-"Base Aliada". A proposta de convocar um plebiscito por novas eleições, desautorizada pelo PT, uma tentativa da anturragem Dilmista em reverter a posição de cerca de cinco senadores indecisos veio muito tarde e já não havia mais tempo para reviravoltas de última hora. Para as classes dominantes não há dúvidas da temeridade de colocar nas mãos de um governo tampão, sem o menor respaldo popular e ainda cercado de hienas famintas por verbas, a tarefa de reduzir o aparelho de estado em pelo menos um terço. Por esta razão a saída estratégica para superar o ciclo histórico da governança petista passa bem longe de Temer e da máfia Tucana, o "mercado" e os barões rentistas que antes regiam o governo Dilma agora preparam um novo regime "excepcional", o Bonapartismo de Estado, sob a supervisão direta de Washington. Curiosamente os que se dizem indignados com o golpe e "rangem os dentes de ódio" para Temer parecem gatinhos tão mansos quando se trata da "Lava Jato" e seu protagonista principal, o justiceiro Sérgio Moro. O "intocável" Moro talvez seja o elemento que dará segurança a Temer concluir o golpe institucional em pouco mais de seus dois anos de gestão biônica, obviamente com a prisão de Lula e a desmoralização dos dirigentes petistas. No Senado da Republica está se configurando para Dilma uma velha máxima soviética: "Tão perto e nunca tão distante".