Dedicamos esta Edição Especial do Jorna Luta Operária de
Agosto a homenagear o grande chefe da revolução Bolchevique, Leon Trotsky. Não
se trata de um “mero” ato de reverência política ou humana, mas sim do sincero
reconhecimento militante do valor revolucionário de sua vida e da sua
trajetória comunista por nossa corrente política que reivindica e aplica na
práxis, dentro de suas modestas forças, o legado do velho dirigente
bolchevique, mesmo sofrendo por isso muitas vezes o isolamento político e o
ataque vil da burguesia, dos reformistas e revisionistas, estes últimos cada
vez mais adaptados a defesa da democracia como “valor universal”. Ainda jovem
Trotsky dirigiu o Soviete de Petrogrado, depois foi fundador do Exército
Vermelho, comandante da Revolução de Outubro ao lado de Lênin e de outros
camaradas valorosos. Após ser derrotado na luta interna pelas condições
históricas adversas e por limitações políticas, ele foi expulso da URSS,
percorreu o planeta na condição de opositor de esquerda da burocracia soviética.
No México, última parada de seu “exílio”, lutou com as armas que tinhas às mãos
para construir a IV Internacional, sendo assassinado em 21 de agosto de 1940
por ordem da KGB por defender a revolução mundial em oposição à tese do
“Socialismo em um só país” aplicada por Stálin mundo afora, responsável por
sabotar e derrotar levantes proletários em nome da coexistência pacífica com o
imperialismo. O assassinato de Trotsky não foi um mero "acidente"
conspirativo ou policialesco, embora tenha todos os ingredientes de uma trama
bem urdida, foi uma consequência trágica das próprias fragilidades da recém
fundada IV Internacional. Trotsky estava plenamente consciente de seu completo
isolamento político, inclusive no interior das próprias fileiras "trotsquistas",
chegou a discutir com sua companheira Natalia Sedova a possibilidade do
suicídio físico de ambos, longe de ser uma medida de desespero pessoal seria o
último ato político para evitar a rendição diante da contrarrevolução. A jovem
organização internacional que fundara não parava de sofrer baixas em seus
quadros, apesar dos gigantescos acertos programáticos a conjuntura mundial da
luta de classes era extremamente desfavorável, Trotsky foi obrigado a recorrer
a militantes sem nenhuma experiência política e de pouquíssima trajetória militante. A III Internacional de
Stalin colhia todo o prestígio da URSS no período anterior à II Guerra, mesmo
com todas as traições possua milhões de militantes em todo o mundo em franco
contraste com apenas uma dezena de militantes da IV Internacional. Porém para
Trotsky o critério numérico ou do imenso aparato stalinista não seria motivo
para estabelecer sua derrota ou falência política diante de Moscou, decidiu
correr os imensos riscos do isolamento e seguir em frente na construção
molecular da IV Internacional, consciente que pagaria com a própria vida por
sua ousadia revolucionária. Os jovens militantes que o cercavam no México não
tinham o menor preparo para defender a vida do chefe bolchevique, os
simpatizantes políticos mais reconhecidos, como o casal Rivera e Frida,
sucumbiram diante da pressão e também traíram Trotsky colaborando com o
Stalinismo. A vida do "velho" dirigente estava por um fio em sua
fortaleza de Coyacan, a infiltração de agentes de Moscou no interior da IV
internacional foi uma operação relativamente fácil de implementar, primeiro um
"militante segurança" da sede/residência localizada em um subúrbio da
cidade do México facilitou a entrada de atiradores, Trotsky escapou por pura
sorte a uma saraivada de tiros em seu próprio dormitório. Logo após ao
atentado, ficou evidente que a disposição de Stalin era pela liquidação física
do seu principal opositor no campo do movimento comunista internacional, mas as
parcas forças da IV Internacional eram incapazes de estabelecer uma reação
diante da crônica anunciada pelo Kremlin. O inseto sicário Ramon Mercader,
outro infiltrado "simpatizante", não teve grandes dificuldades de
conviver de perto com o gigante bolchevique e desferir um golpe mortal contra o
proletariado mundial em 20 de agosto de 1940. Trotsky tombou firme de pé, não
abriu mão e tampouco "flexibilizou" seu projeto socialista da
revolução permanente apesar de estar reduzido à meia dúzia de colaboradores
fiéis que por condições óbvias não poderiam fazer frente ao poderio
organizativo de centenas de partidos comunistas que aglutinavam em cada país
milhares de militantes. Passado quase um século de sua morte, os genuínos
Trotskistas guardam uma lição histórica do nosso inesquecível mestre
bolchevique: Mesmo isolados e ridicularizados pela escória revisionista que
abraçou a democracia, resistir até o limite físico de nossas forças políticas
para seguir em frente na reconstrução do Partido Bolchevique e da IV
Internacional. Não temer arriscar a própria vida na luta pelos princípios
revolucionários, o único medo possível é o da vergonha de capitular e abandonar
o Trotskismo!
O veterano Leninista viveu intensamente, na vitória e na
derrota, o “peso” de ser um dirigente comunista e internacionalista, pagou com
a vida pela defesa intransigente de suas ideias e pelo temor que as forças
adversárias das teses da Revolução Permanente tinham de seu "pequeno" partido representar a continuidade concreta das tradições de
Outubro pelo mundo afora. Cada aspecto pessoal da vida de Trotsky, desde sua
genial inteligência até seu poder de oratória, passando pela sua capacidade na elaboração
e nas polêmicas, teve a marca da luta programática pelo socialismo científico,
em debater sem medo com as diversas correntes políticas do movimento comunista internacional
(inclusive com o anarquismo) ao mesmo tempo em que combatia intransigentemente
as forças imperialistas “democráticas” ou fascistas. Não fugiu das polêmicas,
foi intransigente nos princípios, perdeu seguidores partidários, até então
leais por sua defesa incondicional da URSS (mesmo estando sob o comando do
stalinismo), como dirigentes fundamentais do SWP norte-americano, parte da
própria seção mexicana e a maioria dos agrupamentos que tinham aderido na
conferência de fundação da IV Internacional na França em 1938. O assassinato de
seus filhos o deixou deprimido por várias vezes e os dias difíceis de exílio
geraram outras graves doenças (como uma colite que o castigava impiedosamente),
mas ele ainda encontrou forças para se manter pé, firme, escrevendo e
organizando a luta política até que um covarde agente da GPU (depois de solto
da prisão no México Mercader chegou a ser condecorado em Cuba) o assassinou
covardemente pelas costas. Morreu resistindo, literalmente lutando!
Em nome da Direção Nacional da LBI lançamos o jornal
comemorativo dos 76 anos da morte de Trotsky também para reafirmar nosso
combate intransigente contra os revisionistas que maculam seu legado
programático nos dias atuais. Esses trânsfugas revisionistas, hoje melhor
representados pelo “MAIS”, ruptura recente do PSTU, desejam por formas
“modernosas” apagar o melhor da referência que o velho nos deixou: defensor
intransigente da Ditadura do Proletariado e da violência revolucionária das
massas, combatente da construção de um partido bolchevique internacionalista
centralizado e de quadros, inimigo mortal da socialdemocracia, como o PT e PSOL
no Brasil. O "velho" soube defender com maestria “frente únicas” de
combate ao fascismo e a direita reacionária sem capitular ao reformismo como
fazem seus falsos “herdeiros” atuais. Não serão com "viagens
turísticas" a Rússia capitalista de hoje que os revisionistas apagarão da
história o crime político de terem apoiado sem o menor pudor a destruição
contrarrevolucionária do Estado Operário Soviético, em nome da "Revolução
Democrática".
Dedicamos esta edição especial do Jornal Luta Operária a
crivar as polêmicas de ontem e de hoje, abordando temas atuais como a farsesca
“Revolução Árabe” ou a apologia da “Frente Popular” em nossos dias, assim como
questões teóricas como a concepção leninista do partido revolucionário, a
questão dos Soviets, a necessidade do amamento operário, o significado da
Revolução de 1905 entre outros tópicos. Além disso, abordamos a história da IV
Internacional e de suas fragmentações revisionistas, inclusive analisando a
trajetória de dirigentes como Mandel, Lambert e Moreno, pseudotroskistas que
tiveram influência decisiva na fundação de correntes políticas que atuam em
nosso país e representam o revisionismo na atualidade no continente
latino-americano e europeu.
Esperamos que nossos leitores e simpatizantes abstraiam
importantes lições com essa nossa pequena contribuição em defesa do legado de
Trotsky em pleno Século XXI, onde a barbárie, a contrarrevolução, o retrocesso
ideológico e cultural da classe operária caminham a passos largos e avançaram
muito nestes 25 anos após o fim da URSS e da queda do Muro de Berlim. Como o
Velho Bolchevique sempre optou por dizer a verdade às massas mesmo que amargas,
seguimos também nessa questão seus ensinamentos teóricos nesses dias difíceis
para a causa comunista em todo o planeta, tendo a certeza que o rigor de nossas
posições políticas, programáticas e ideológicas é a melhor forma de honrar sua
trajetória para manter-se firme, mesmo diante de nossas pequenas forças
militantes, na hercúlea tarefa de reconstruir a IV Internacional! Não será a
existência de grandes aparatos revisionistas (como os que foram erguidos ontem
e são relançados hoje com outros formatos) o caminho mais curto para retornar a
senda proletária da revolução socialista mundial, com Trotsky aprendemos a
ousar o Leninismo mesmo “calçando sapatos de criança”!