Nesta semana publicaremos uma série de artigos elaborados
pela LBI em homenagem a Lênin, dirigente máximo da Revolução de Outubro, falecido
há 93 anos, no dia 21 de janeiro de 1924. Hoje reproduzimos a denúncia que fizemos de Vladimir Putin, que na qualidade de representante da burguesia restauracionista na
Rússia atacou duramente a figura de Lenin e da política revolucionária do Partido
Bolchevique para a manutenção da URSS. O fato de Putin renegar Lenin demonstra a total impossibilidade
da “nova” classe dominante russa ser consequente na luta contra o imperialismo
e até mesmo na defesa da soberania nacional do país, o que só pode ocorrer com a vitória
de uma nova Revolução de Outubro na pátria Lenin, que imponha a volta da Ditadura do Proletariado e de uma verdadeira Federação das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o que não tem nenhuma similaridade com o nacionalismo burguês que enaltece a "Grande Rússia" capitalista defendida por Putin.
PUTIN RENEGA LENIN: ATAQUE VISA ENCOBRIR QUE O ATUAL GOVERNO
BURGUÊS É HERDEIRO DO BANDO RESTAURACIONISTA RESPONSÁVEL PELA DESTRUIÇÃO DA
URSS. EM DEFESA DO LENINISMO E DO PARTIDO BOLCHEVIQUE! (BLOG da LBI, 22 de Janeiro/2016)
Ganhou grande destaque na mídia mundial a entrevista em que
Vladimir Putin acusa Lenin de ser responsável pela destruição da URSS, ainda
mais quando a declaração ocorreu no dia em que se celebravam os 92 anos da
morte do principal dirigente bolchevique responsável por edificar a União
Soviética e não destruí-la! Segundo a imprensa russa (Russia Today – RT,
Interfax) no contexto da discussão sobre um verso do poeta russo Boris
Pasternak, na qual Lenin é mencionado como uma pessoa que pode “controlar o
fluxo de pensamento e, portanto, conseguiu controlar o país” Putin atacou
Lênin. Segundo o presidente russo, “Controlar o fluxo de pensamento é bom, mas
este pensamento deve trazer um resultado correto, e não como o fez Vladimir
Ilyich Porque como resultado seu pensamento levou à queda da União Soviética,
havia muitas ideias incorretas. A criação de autonomias nacionais, e assim por
diante. Eles colocaram uma bomba atômica sob o edifício chamado Rússia e este
finalmente explodiu” (RT, 21.01). Como se observa, a crítica de Putin,
ex-agente da KGB formado na escola do stalinismo, é contra a posição de Lenin
em defesa da autonomia das repúblicas soviéticas na URSS, plataforma também
defendida por Trostky em oposição às teses defendidas a época por Stálin. Além
da mídia venal, os revisionistas do trotskismo (PSTU, CST) aproveitaram a
declaração de Putin para defender suas atuais posições pró-imperialistas em
defesa da “autonomia” da Ucrânia, governada hoje pelos golpistas-fascistas de
Kiev em oposição a Moscou. Como Marxistas-Leninistas defendemos as posições de
Lênin e Trotsky e rechaçamos categoricamente os ataques de Putin ao edificador
da URSS e dirigente maior do Partido Bolchevique. As críticas de Putin
demonstram uma visão que muito se aproxima do stalinismo, em defesa da “grande
pátria mãe” própria do nacionalismo russo, plataforma duramente criticada por
Lenin. Essa crítica é condensada no artigo “A RESPEITO DO PROBLEMA DAS
NACIONALIDADES OU SOBRE A ‘AUTONOMIA’” (1922) em que Lenin chega a seguinte
conclusão “A responsabilidade política de toda esta campanha de verdadeiro
nacionalismo russo deve fazer-se recair, é claro, sobre Stalin e Dzerzhinski”
complementando que “Nestas condições é muito natural que a ‘liberdade de
separar-se da união’, com que nós nos justificamos, seja um papel molhado
incapaz de defender os não russos da invasão do russo genuíno, chauvinista, no
fundo um homem miserável e dado à violência como é o típico burocrata russo.
Não há qualquer dúvida de que a insignificante percentagem de operários
soviéticos e sovietizados afundariam nesse mar de imundícia chauvinista russa
como a mosca no leite. Em defesa desta medida diz-se que foram segregados os
Comissariados do Povo que se relacionam diretamente com a psicologia das
nacionalidades, com a instrução nas nacionalidades. Mas a respeito disto
ocorre-nos uma pergunta, a de se é possível segregar estes Comissariados por
completo, e uma segunda pergunta, a de se temos tomado medidas com a suficiente
solicitude para protegermos realmente os não russos do esbirro genuinamente
russo. Eu acho que não as tomamos, embora pudéssemos e devêssemos tê-lo feito.
Eu acho que neste assunto exerceram uma influência fatal as pressas e os afãs
administrativos de Stalin, bem como a sua aversão contra o decantado ‘social-nacionalismo’.
Via de regra, a aversão sempre exerce em política o pior papel”. Referindo-se a
esta polêmica entre Lenin e Stálin, Trotsky lembrou no texto “A QUESTÃO
UCRANIANA” (1939) que “Após a tomada do poder, teve lugar no partido uma séria
luta pela solução dos numerosos problemas nacionais herdados da velha Rússia
tsarista. No seu carácter de comissário do povo para as nacionalidades, Stalin
representou invariavelmente a tendência mais burocrática e centralista. Isto
tornou especialmente evidente na questão da Geórgia e na da Ucrânia. Até hoje,
a correspondência não foi publicada. Esperamos poder editar a pequena parte de
que dispomos. Cada linha das cartas e propostas de Lenine vibra com a urgência
de conformar na medida do possível aquelas nacionalidades que tinham sido
oprimidas no passado. Em troca, nas propostas e declarações de Stalin,
salientava invariavelmente a tendência para o centralismo burocrático. Com o
fim de garantir ‘necessidades administrativas’, quer dizer, os interesses da
burocracia, as mais legítimas reclamações das nacionalidades oprimidas foram
declaradas manifestações de nacionalismo pequeno-burguês. Estes sintomas já
podiam perceber-se bem cedo, em 1922-1923. Desde essa altura, tiveram um
monstruoso crescimento, levando a uma completa asfixia qualquer tipo de
desenvolvimento nacional independente dos povos da URSS.” Como se observa, hoje
Putin defende historicamente as mesmas posições nacionalistas de Stálin contra
a defesa do internacionalismo e da solidariedade de classe entre os povos
proclamada por Lenin e Trotsky. Lembremos que Lenin e Trotsky defendiam o
direito a autonomia no marco da defesa da URSS e de sua economia planificada e
obviamente não para facilitar a restauração do capitalismo. Esta posição fica
clara quando Lenin no mesmo texto (A RESPEITO DO PROBLEMA DAS NACIONALIDADES OU
SOBRE A ‘AUTONOMIA’) afirma “Por isso, neste caso, o interesse vital da
solidariedade proletária e, portanto da luta proletária de classe, requer que
jamais olhemos formalmente o problema nacional, senão que sempre levemos em
conta a diferença obrigatória na atitude do proletário da nação oprimida (ou
pequena) para a nação opressora (ou grande).Quê medidas prática se devem tomar
nesta situação? Primeira, cumpre manter e fortalecer a união das repúblicas
socialista; sobre isto não pode haver dúvida”. Trotsky vai no mesmo sentido no
artigo “A INDEPENDÊNCIA DA UCRÂNIA E A CONFUSÃO SECTÁRIA” (1939) em que pontua
“A necessidade de um compromisso, ou melhor, de vários compromissos, se coloca
de maneira similar no tocante à questão nacional, sendas que não são mais
retilíneas que as da revolução agrária. A estrutura federada da União Soviética
é fruto de um compromisso entre o centralismo que exige uma economia
planificada e a descentralização necessária para o desenvolvimento das nações
que no passado estavam oprimidas. Construído o Estado operário sobre o
princípio de compromisso de uma federação, o Partido Bolchevique inscreveu na
sua constituição o direito das nações à separação completa, indicando desta
maneira que não considera resolvida de uma vez e para sempre a questão
nacional.”. Mesmo rechaçando publicamente as posições de Putin, a LBI de forma
alguma se embloca hoje com os agentes do imperialismo de Kiev contra a Rússia
para aprofundar a recolonização capitalista na ex-república soviética, posição
assumida pelos revisionistas do Trotskismo. Ao contrário, defendemos a
unificação da Criméia com a Russia e apoiamos o direito à separação das
"repúblicas populares" do Leste ucraniano.
Não por acaso o mesmo Putin que ataca Lênin acaba a
entrevista dizendo que não tem o objetivo de recriar a URSS: “O Ocidente teme a
recriação da URSS, embora ninguém planeja” (RT, 21.01.2016), uma declaração
claramente voltada a tranquilizar o imperialismo e exorcizar qualquer
referência ou saudosismo do “bolchevique” no Kremlin dos dias atuais. Ainda que
estejamos no campo político e militar de uma frente única com entre Putin
contra o imperialismo, como Marxistas Revolucionários militamos neste terreno
de luta com total independência política e de classe diante do governo burguês
de Putin. A Rússia, desde sua “reconstrução” capitalista vem se configurando
como uma semicolônia do imperialismo europeu, fornecedora de commodities
agrominerais de baixo valor agregado. Apesar disso a Rússia capitalista herdou
um arsenal bélico da era soviética e todos seus projetos militares, sua força
atual advém deste legado fundamental e não de uma “ousadia” particular de
Putin. Isto permitiu que o país tenha se reafirmado como força regional que
tenta resistir à política ofensiva das potências ocidentais sob sua esfera de
influência mais próxima, com uma série de iniciativas limitadas como a União
Alfandegária Euroasiática ou mesmo subsidiando o preço do gás para aliados,
embora de nenhuma maneira se transformasse em uma grande potência capitalista:
sua economia é cada vez mais rentista e dependente do preço do petróleo e do
gás, regido pela especulação do mercado capitalista internacional. Apesar de
Putin ter retomado o controle de setores estratégicos da economia nacional
desde que ascendeu ao Kremlin, na condição de representante da nova burguesia
ele manteve intocável o modelo de restauração capitalista que colocou as
finanças do país nas mãos dos grandes bancos privados nacionais e
internacionais (rentistas) e aprofundou as relações comerciais dependentes com
o imperialismo (particularmente a Alemanha e França) importando grande parte
dos produtos industrializados, o que tem gerado um gigantesco rombo em sua
balança comercial e provocado recessão com a alta do dólar e a desvalorização
do rublo. Putin não reestatizou a economia e muito menos avançou em qualquer
medida que se chocasse com os interesses da “nova burguesia” restautacionista.
Na verdade, a camarilha de Putin, apesar de ser herdeira política direta da
contrarrevolução social comandada por Boris Yeltsin, que colocou a “grande
Rússia” de joelhos diante dos EUA, pensa em retomar o velho projeto
nacionalista de um setor da burocracia stalinista, só que agora não mais
voltado a Europa do Leste e sim ao lado oriental e asiático. Denunciando estes
limites de classe do governo burguês de Putin que via de regra deseja chegar a
um acordo "soberano" com o imperialismo, os revolucionários estão no
campo de batalha político-militar, ombro a ombro com o proletariado russo e
seus aliados, forjando as condições para edificar um partido revolucionário
internacionalista capaz não só de derrotar o imperialismo na Síria, mas para
fundamentalmente reerguer a bandeira soviética na pátria de Lenin, superando o
programa de Putin que se limita a patrocinar o sonho nacionalista-burguês da
"Grande Rússia" como um herdeiro burguês que copia a utopia
reacionária do stalinismo em pleno século XXI!
Lembramos que 20 de agosto de 1991 um golpe militar dirigido
por generais stalinistas e setores da KGB tentou barrar a divisão da URSS um
dia antes da celebração do chamado "Tratado da União" que criava uma
Federação de Repúblicas Independentes, com ampla autonomia para seus
presidentes levarem a cabo a restauração capitalista. Sob o comando do então
vice-presidente da União Soviética, Gennady Yanaiev, esta ala da burocracia
prendeu Gorbachev com o objetivo de retomar o controle do aparelho central do
então Estado operário soviético. O golpe foi derrotado militarmente e de seu
fracasso surgiu como novo ícone da restauração capitalista o "herói"
Boris Yeltsin, então presidente da Federação Russa, que tratou de dar curso ao
processo de liquidação contrarrevolucionária da URSS. Yeltsin comandou um setor
restauracionista que havia rompido com o aparato estatal do PCUS, se alçou à
condição de representante direto do “mercado” e venceu, com a ajuda da
burguesia mundial, o golpe de estado liderado pelos burocratas stalinistas do
Comitê de Emergência. Os restauracionistas tomaram o poder de estado,
instaurando um governo capitalista na Rússia, disposto a destruir as antigas
bases sociais do Estado operário através da autonomia total das então
repúblicas soviéticas, privatizar a economia estatizada e a restaurar o
capitalismo na região, transformando a antiga URSS numa semicolônia
capitalista, condição na qual atualmente se encontra a Rússia, apesar de uma
certa recuperação econômica atual. Yelstin e seu bando restauracionista foram
de fato os responsáveis pelo fim da URSS e não Lênin como cinicamente acusa
Putin, herdeiro direto do bando restauracionista que se alinhou em 1991 ao
imperialismo.
Trotsky definiu o stalinismo como um fenômeno diretamente
ligado à degeneração do Estado Operário soviético, uma casta que parasitava as
enormes conquistas da revolução de Outubro como a estatização e a planificação
da economia. Neste sentido, o combate mortal dos revolucionários ao stalinismo
se desenvolveria nos marcos da defesa incondicional do Estado operário, ou
seja, eliminar o câncer que o acometeu preservando a vida do paciente, no caso,
a própria URSS. A tarefa central do proletariado era o de restabelecer seu
poder através de uma revolução política que de forma alguma alteraria as bases
econômicas do Estado soviético conforme afirmou Trotsky da seguinte forma:
“Frente à URSS, um operário tem o direito de dizer que os bandidos da
burocracia transformaram o Estado operário em algo que só o diabo saberá dizer
o que é isso! Porém, quando passa a sua reação explosiva para a solução do
problema político, vê-se obrigado a reconhecer que tem diante de si um Estado
operário estropiado, cujo motor econômico está danificado, mas ainda continua
funcionando e que pode ser completamente recondicionado com a substituição de
algumas peças” (Em defesa do Marxismo, Léon Trotsky). Para os autênticos
trotskistas a liquidação da burocracia stalinista levada a cabo não pela classe
operária e seu partido revolucionário, mas sim por um setor da própria
burocracia, apoiada diretamente pelo imperialismo, que se lança como classe
capitalista para apropriar de forma privada os meios de produção, destruindo
assim o Estado operário e todas as conquistas da Revolução de Outubro jamais
poderá ser qualificada como uma “revolução operária democrática” ou qualquer outro
termo inventado pelos revisionistas do trotskismo como o PSTU e a CST.