quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

PELÉ O PRIMEIRO ÍDOLO NACIONAL NEGRO A SERVIÇO DA ELITE BRANCA


A grande mídia "murdochiana" tem veiculado nos últimos dias artigos repercutindo à ausência de Pelé na solenidade oficial da FIFA que premia anualmente os melhores atletas do futebol mundial na temporada. Pelos mesmos problemas de saúde que atravessa Pelé também foi obrigado a se ausentar da abertura dos jogos olímpicos do Rio de Janeiro. Edison Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé, nascido na cidade de Três Corações-MG em 23 de outubro de 1940, iniciou sua carreira de jogador de futebol no time dos Santos onde conquistou o bi-campeonato mundial de clubes. Aos 17 anos, participou da copa do mundo de seleções na Suécia (1958), marcando seis gols e se destacando como a grande revelação do torneio. Quando o Brasil foi tricampeão mundial do México em 70, Pelé foi o destaque da copa, convertendo-se no primeiro ídolo nacional negro, em pleno auge da ditadura militar. Pelé foi o exemplo de atleta alienado que ascendia socialmente e que não se engajava ou sequer se posiciona de forma solidária nas questões sociais e políticas que expressasse os interesses de classe dos explorados e oprimidos no país.Postava-se como um garoto propaganda do regime burguês de plantão e das grandes corporações nacionais e multinacionais que têm o futebol como mero objeto de lucro e idiotização humana.

Para além de suas das qualidades técnicas e físicas, dos campeonatos e mundiais que ganhou ou de ter marcado 1284 gols em sua carreia, a criação do mito Pelé como maior jogador de futebol de todos os tempos e de atleta do século, extrapola em muito o fenômeno da construção de ídolos do mundo futebolístico como foi Leônidas de Silva, craque conhecido como "Diamante Negro". Na verdade representou uma manobra engendrada pela elite dominante branca em torno da construção de um símbolo étnico da nacionalidade brasileira para consumo interno e externo, baseado na imagem de um povo ordeiro, que aceita pacífica e resignadamente as condições de opressão e exploração do sistema capitalista e do Estado burguês impostas ao conjunto do proletariado. Nesse sentido, nada melhor do que um atleta negro de grande destaque para personificar a conciliação de classes, sendo usado política e ideologicamente pela burguesia racista, como ocorreu durante o regime militar.

No ápice da luta contra a opressão racial no centro do capitalismo mundial, nos EUA, o movimento Black Power e dos Panteras Negras, ficou marcado pela história dos protestos dos atletas negros norte-americanos que ergueram os braços com os punhos cerrados durante a premiação de provas do atletismo nas olimpíadas do México em 68, muitos sendo punidos e banidos do esporte por perseguição política.

Já Pelé, em 1970 e no mesmo México, cumpria o papel reacionário de não questionar e muitos menos se opor ativamente contra o racismo promovido pela sociedade de classes e capitaneado neste período pela ditadura militar, ao contrário, virou garoto-propaganda do governo assassino de Médici, que comandava as mais bárbaras torturas aos militantes de esquerda. Indagado, em 1972, sobre a ditadura militar em seu país, Pelé respondeu: "Não há ditadura militar no Brasil. O Brasil é um país liberal, uma terra de felicidade. Somos um povo livre. Nossos dirigentes sabem o que é melhor para nós, e nos governam com tolerância e patriotismo" (Entrevista a Amália Barran, jornal La Opinion, Montevideo, 1972).

A sociedade capitalista se apropria de toda a criatividade humana, científica, cultura e artística, para obter lucro. Não pode agir de maneira diferente em relação ao fenômeno chamado esporte. Entretanto para dotá-lo de valor e assim e transformá-lo em mercadoria, o esporte tem que adotar a forma de espetáculo. A criação dos ídolos no esporte e para além dele, como é o caso de Pelé, serve a essa lógica mercantilista. Portanto, não é difícil entender porque Pelé, promovido ao status não só de ídolo nacional, mas de mito, tenha também inaugurado a fase dos atletas como produto, através de transações milionárias, como foi a sua venda para o time norte-americano Cosmos em 1975, fechando a maior transação do futebol até o fim dos anos 1970 (US$ 7 milhões) quando da primeira grande tentativa de tornar o futebol de campo um negócio rentável nos EUA.

Por fim a utilização de Pelé como um ícone negro a serviço do Estado capitalista, irradiando o mito da "democracia racial", tenta mascarar o regime burguês que é verdadeiramente o responsável pelo racismo e toda a forma de opressão é mais uma prova cabal do tremendo equívoco político dos movimentos das "minorias" que dividem a luta dos oprimidos em setores como gênero, raça, etnia e orientação sexual, conferindo-lhe um caráter policlassista.

A verdadeira luta contra a opressão passa pela incorporação de uma concepção classista, por que as particularidades e problemas enfrentados por estes setores têm a mesma origem material e ideológica, a sociedade capitalista dividida em classes com interesses sociais opostos e antagônicos. Só com a edificação de uma nova forma de organização social, sem divisão de classes, parida de uma revolução socialista poderá por fim definitivamente qualquer tipo de exploração e opressão na humanidade e fazer do esporte uma verdadeira fonte de saúde e felicidade para as massas.