No ato de fechamento da caravana eleitoral de Lula pela
região sul, ocorrido na noite de ontem (29.03) em Curitiba, capital do Paraná,
esteve presente o pré-candidato do PSOL à presidência, Guilherme Boulos e a
representante do PCdoB, Manuela D´ávila. Boulos declarou que “Nossas diferenças
não vão nos impedir de sentar à mesa para enfrentar o fascismo no Brasil. Lula,
Manuela, já passou da hora de criarmos uma frente democrática contra o fascismo no
Brasil, entre os partidos e as candidaturas de esquerda”. Qual a
medida de luta direta concreta contra o fascismo que Boulos apontou em sua fala diante de milhares de ativistas de esquerda em Curitiba? Nenhuma! Ele não propôs que diante dos tiros das milícias fascistas contra a
caravana de Lula dever-se-ia ter como resposta à autodefesa armada operária e
popular, não alertou que para derrotar a reação burguesa era necessário a ação
revolucionária dos trabalhadores. As hordas fascistas não distinguem as
profundas diferenças políticas no campo da esquerda, para as forças da reação
tudo que represente no passado ou no presente o combate histórico pelo
socialismo deve ser eliminado e destruído. Nesta perigosa escalada nacional da
direita, nos chama atenção a resposta que setores majoritários da esquerda (PT,
PSOL, PCdoB) pretendem dar a esta ofensiva da reação: clamam exclusivamente por
uma ação institucional da Polícia Federal, PM ou do próprio Ministério Público.
Nada contra acionar o Estado Burguês contra os delinquentes da direita, a
questão é que por esta via a resposta do movimento de massas será praticamente
nula! Diante das ações das turbas fascistas e da “inoperância” estatal em
detê-las o movimento social não pode ficar atado na espera do “socorro da
burguesia”, que a “PF aja com rigor”. É necessário debater com o movimento de
massas a tarefa de organizar de conjunto nossas milícias de autodefesa,
independente dos matizes políticos que nos separam, como nos ensinou
historicamente Trotsky: “Conclamar a organização da milícia é uma ‘provocação’,
dizem alguns adversários certamente pouco sérios e pouco honestos. Isto não é
um argumento, mas um insulto. Se a necessidade de defender as organizações
operárias surge de toda a situação, como é possível não se conclamar a criação
de milícias? É possível nos dizer que a criação de milícias ‘provoca’ os
ataques dos fascistas e a repressão do governo? Neste caso, trata-se de um
argumento absolutamente reacionário. O liberalismo sempre disse aos operários
que eles 'provocam' a reação, com sua luta de classes.” (Aonde vai a França,
LT). No campo, nas periferias e nos centros urbanos a organização dos círculos
de autodefesa deve estar colada à ação direta nos sindicatos e associações,
sempre na perspectiva da luta concreta por melhores condições de vida e
salário. Não devemos encarar a formação das milícias de autodefesa como uma
tarefa “militarista”, separada de nossas reivindicações pontuais e históricas.
Nossas lutas deverão enfrentar uma etapa bastante delicada nesta correlação de
forças, onde teremos que enfrentar o duro ajuste neoliberal e na mesma
proporção a “onda” fascistizante que deve se avolumar na medida do agravamento
da própria crise econômica. Estabelecer uma enérgica resposta política dos
oprimidos a cada ataque direitista contra nossos companheiros e lutas, perpassa
pela organização de nossas milícias de autodefesa, sabemos muito bem que com o
fascismo que ameaça nossas liberdades democráticas “Não se dialoga, se combate
de armas na mão, se preciso for!”. Por esta razão reforçamos nosso chamado ao
conjunto das organizações políticas e sindicais da esquerda para que debatam em
suas bases e organizem o mais rápido possível as milícias de autodefesa de cada
organização de esquerda, porque a sanha facínora da direita já mostrou que está
muito bem preparada. Ao contrário dessa tarefa elementar, Boulos declarou que
Lula e Marielle Franco foram vítimas do mesmo ódio e não propôs mais nada
diante de milhares de ativistas políticos!!! No caso da vereadora carioca, o
PSOL exige apenas do próprio Estado burguês “investigação e punição exemplar
para os culpados”. Em relação a Lula afirma “O PSOL considera esses fatos um
atentado contra a democracia. Não podemos permitir que o discurso de ódio e a
intolerância vençam. Não participamos da Caravana do PT e temos claras
diferenças políticas, ideológicas e programáticas com esse partido, mas somos
veementemente contrários aos atos hostis e agressivos ocorridos. Nossas
diferenças são políticas e é nesse campo que faremos embates”. Por sua vez Lula
e Manuela pediram uma “investigação exemplar ao atentado aos ônibus da
caravana”. Lula, Manuela e Boulos tem a mesma política diante dos ataques das
milícias fascista à esquerda: colocar unicamente nas mãos da justiça burguesa e
dos órgãos de repressão do Estado capitalista a “investigação e punição dos
culpados”, uma verdadeira piada tragicômica, um pedido de socorro para a PF e PM!
Na verdade, sob o pretexto de “combater o fascismo” e postar-se “em defesa da
democracia”, Boulos entrou oficialmente na campanha eleitoral de Lula, ao lado
de gente como Roberto Requião (PMDB)! Nada mais natural, sua plataforma
socialdemocrata “Vamos” é a apologia da democracia burguesa, a qual ele
pretende radicalizar caso eleito. Boulus e Lula tem a mesma vertente
programática de conceder sustentabilidade a economia capitalista. Não podem
admitir a violência revolucionária de uma classe para subjugar a outra e muito
menos reconhecer o Estado como um comitê gestor dos negócios da classe
dominante. Para os Marxistas Leninistas a ampla repercussão diante do bárbaro
assassinato de Marielle e do atentado fascista a caravana de Lula, fatos que
geraram repúdio do movimento de massas, deveria ser convertida em um chamado a
ruptura com a própria institucionalidade burguesa que pretende eliminar
política e fisicamente as principais referências da esquerda, sejam reformistas
ou revolucionárias. A organização de comitês populares de autodefesa é o
primeiro passo desta importante tarefa. Por sua vez, o estabelecimento de uma
Frente Única de Ação Antifascista contra direita neoliberal e fascista não está
a serviço de defender a Frente Popular e a democracia burguesa, mas para
derrotar a ofensiva da reação contra as limitadas liberdades democráticas
existentes em nosso país e as conquistas sociais arrancadas com muita luta pelo
proletariado, além de denunciar a política neoliberal do PT em seus mais de
doze anos de gerência do Estado capitalista. Boulos participou do ato eleitoral
de Lula simplesmente para garantir já no primeiro turno que a candidatura do
PSOL será um braço auxiliar na Frente Popular comandada pelo PT, o que se
converterá em apoio eleitoral no segundo turno, seja Lula ou Haddad o nome
petista na disputa. Setores do PSOL já inclusive articulam a possibilidade de
uma chapa Lula-Boulos. Desde a LBI declaramos que o movimento operário não necessita
de uma frente da “esquerda socialista”, leia-se frente dos reformistas de
“esquerda” nas eleições e sim de uma genuína Frente Revolucionária dos
Marxistas Leninistas que organizem as massas a combater com os métodos da
violência revolucionária do proletariado as instituições do estado burguês. Por
isso declaramos: nenhuma ilusão nas instituições do regime político, no
parlamento e no judiciário, lutemos por construir uma alternativa de poder
operário e popular baseado na democracia operária dos trabalhadores em luta
contra a direita reacionária e a Frente Popular!