"O comandante das FARC Raul Reyes foi morto em primeiro
de março de 2008 no nordeste do Equador em um ataque aéreo e terrestre a seu
acampamento realizado pelo Exército da Colômbia. Por ter configurado violação
territorial sobre o Equador, a operação que levou à morte de Reyes desencadeou
uma crise diplomática entre Colômbia, Equador e Venezuela."
A ESQUERDA REVISIONISTA E O MASSACRE ÀS FARC
(ARTIGO PUBLICADO NO SITE DA LBI EM 28/03/2008)
Nada mais cristalino do que os próprios fatos concretos da
luta de classes para demonstrar na prática as reais posições da esquerda
revisionista. Referimos-nos ao recente massacre de uma coluna de combatentes
das FARC que se encontrava em território equatoriano. Como já era esperado o
conjunto dos agrupamentos reformistas que apóiam os governos
"nacionalistas" burgueses de Chávez e Rafael Correa, trataram de
equacionar o conflito em termos de disputa política entre o fascista Uribe e os
"bolivarianos" Chávez e Correa. Logo elegeram como foco central a
questão nacional: "defesa do Equador" ou até mesmo "defender
Venezuela e Equador" diante de uma possibilidade inexistente de guerra
entre estes países e a Colômbia. Os mais exaltados clamaram aos governos da centro-esquerda
burguesa o rompimento das relações diplomáticas com Uribe, sendo parcial e
temporariamente atendidos.
Para os revisionistas, aí incluídos os "chavistas de
carteirinha do PSUV" e os "semi-chavistas" da LIT, PTS, PO, UIT,
LOI(DO) etc... o confronto militar entre o narcogoverno de Uribe e a guerrilha
colombiana das FARC é um elemento secundário. Mesmo diante dos cadáveres dos
militantes das FARC, trucidados covardemente sob orientação do Pentágono, estes
pseudotrotskistas recusaram-se a estabelecer a defesa... das FARC, vítima real
tanto da perseguição imperialista como da política demagógica humanitária de
Chávez e Correa, que objetivamente resultou em sua vulnerabilização no terreno
militar. Os marxistas revolucionários não desconsideram o grave fato da invasão
territorial do Equador pelas tropas colombianas, mas daí eleger como foco
principal a defesa dos governos burgueses de Correa e Chávez, que em hipótese
nenhuma estavam ameaçados pelo exército de Uribe, ao invés da solidariedade
ativa com as FARC (apesar de seu programa foquista de "união
nacional") é uma demonstração cabal da completa ausência de perspectiva de
classe de todo arco revisionista.
Mais além de gastar laudas e laudas em sua imprensa
denunciando em abstrato o caráter fascista, pró-imperialista e narcotraficante
do governo Uribe, o que já é uma redundante verdade para as massas colombianas,
o bloco revisionista nem sequer cogitou em apresentar uma proposta de ação
prática para o movimento operário colombiano diante do massacre dos combatentes
das FARC, para estes senhores que inclusive levantaram o "fora Uribe"
era como se a luta de classes na Colômbia estivesse pautada entre Correa e
Chávez de um lado e Uribe de outro. A existência da última guerrilha
latino-americana em terras colombianas não é um fato de menor expressão
política, que possa ser totalmente desconsiderado por qualquer corrente que se
proclame leninista. O confronto militar direto entre as FARC e o Estado
capitalista colombiano, que já dura mais de 43 anos, é a expressão deformada da
própria luta de classes, mais particularmente da ausência de uma direção
revolucionária que aponte uma perspectiva genuinamente socialista para o país.
O acirramento da tensão entre a política de negociar uma saída institucional
para a guerrilha ou manter o combate no campo militar ao governo títere de
Uribe, deve ser entendida pelos revolucionários como uma tentativa de absoluta
capitulação histórica, sinalizando para a classe operária que o socialismo
poderá ser conquistado pela via pacífica, ou melhor dizendo, na atualidade,
pela via bolivariana. Os marxistas não podem se abster desta disjuntiva sob o
pretexto de que a guerrilha tem um caráter pequeno-burguês e possui um programa
reformista, seria como repetir o erro ocorrido em Cuba, quando os chamados
"antipablistas" recusavam-se a reconhecer a revolução cubana sob a
justificativa do caráter foquista do castrismo.
Uma política justa, tanto para o caso concreto do
assassinato do comandante Raúl Reyes e mais 16 combatentes, como para o
confronto militar entre a guerrilha e o Estado burguês passa por aplicar a
tática da frente única de ação defendida por Lênin e Trotsky, ou seja, unidade
no campo das ações contra Uribe, Bush e cia, mas absoluta independência
política em relação ao programa reformista das FARC. Trata-se da mesma posição
adotada no conflito palestino, ou mesmo no Líbano, Iraque e Afeganistão. Já os
revisionistas latino-americanos, em virtude da proximidade geopolítica das
FARC, foram obrigados a tentar dissimular o conteúdo de classe do conflito,
buscando apagar o papel protagonista jogado pelas FARC neste momento, com o
objetivo de não descolarem-se da opinião pública pequeno-burguesa simpática em
certa medida ao populismo de Chávez, mas avessa aos métodos considerados pela
mídia como "terroristas" das FARC.
A realidade com sua lógica de ferro tratou de desmoralizar
tanto a posição supostamente nacionalista de Chávez e Correa, assim como o
abstencionismo criminoso de toda sorte das tendências revisionistas. A
inexistente ameaça de guerra "continental" acabou com abraços regados
a champagne entre Uribe e Correa, com a benção de Lula e a tradicional cantoria
canastresca de Hugo Chávez na Cúpula do Rio. Para as FARC fica a perda de um
dos seus melhores dirigentes e o vazio de uma política de "negociações
humanitárias" que pode levar ao seu aniquilamento físico, além de não
garantir a libertação de nenhum de seus prisioneiros políticos nos cárceres
fascistas. Cabe a vanguarda classista colombiana abstrair todas as lições desse
trágico episódio, tratando agora de implementar a herança teórica de Lênin e
Trotsky através da tática da frente única de ação combinada a estratégia da
revolução socialista e a ditadura do proletariado.