segunda-feira, 19 de março de 2018

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NA RÚSSIA: PUTIN ENTRONIZADO COMO O NOVO "TSAR" DO CAPITALISMO DE ESTADO. PARTIDO COMUNISTA RUSSO, QUE SE DIZ HERDEIRO DE LENIN, ESCOLHEU EMPRESÁRIO MILIONÁRIO DO "AGROBUSINESS" PARA SER SEU CANDIDATO "KEYNESIANO"


Neste domingo, 18.03, ocorreram as eleições presidenciais na Rússia. Como era mais do que esperado, Putin venceu com 76% dos votos, seguido de longe pelo candidato do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), o empresário milionário do “agrobusiness” Pavel Grudinin, que alcançou pouco mais de 11%. Em terceiro ficou Vladimir Zhirinovsky com 5,66%, o líder do ultranacionalista Partido Liberal Democrático. Os restantes dos candidatos ficaram na marca dos 1%, incluindo Maxim Suraikin, dirigente dos Comunistas da Rússia, um pequeno racha do PC, que alcançou apenas 0,68%. O principal opositor de Putin, o líder da oposição de direita apoiado pela Casa Branca, Alexei Navalny, de 41 anos, foi impedido de concorrer às eleições devido a uma condenação em tribunal. Com a vitória na eleição deste domingo, Putin ficará à frente da gerência estatal burguesa russa por mais 06 anos, se reeleito ao final do mandato poderá ser presidente até 2024. Ele foi eleito pela primeira vez no ano 2000. Cumpriu dois mandatos de quatro anos (até 2008) antes de passar para o cargo de primeiro-ministro devido à regra da limitação de mandatos consecutivos. Nesse interregno de quatro anos, Putin continuou a ser a figura mais influente do país na política e nos negócios, já que na Presidência estava um dos seus mais aliados mais próximos, Dmitry Medvedev. Antes de ceder novamente a Presidência a Putin, em 2012, Medvedev iniciou alterações constitucionais para alargar o mandato presidencial para seis anos. Com a vitória nestas eleições de domingo, Putin se converte no dirigente russo há mais tempo no poder desde Stálin. O elemento central que diferencia Putin de Stálin é que o primeiro foi entronizado como o novo “Tsar” do Capitalismo de Estado, enquanto o Secretário-Geral do antigo PCUS, comandava burocraticamente um Estado operário, produto da degeneração de um regime social parido da tomada do poder pelo proletariado em 1917. Leon Trotsky, ao polemizar sobre a teoria do ‘Coletivismo Burocrático’ no Livro “Em defesa do Marxismo”, recorreu ao termo “Capitalismo de Estado” para designar o regime político-econômico que surge em um quadro de guerra ou crise econômica aguda, quando um Estado burguês assume o comando direto de empresas industriais e dos ramos fundamentais da economia capitalista. É exatamente o que corre na Rússia hoje, assim como também na China em face a disputa com o imperialismo ianque. No curso do processo de restauração capitalista, esses dois países vêm se transformando em grandes entrepostos comerciais e industriais, caracterizando-se por serem economias capitalistas semicoloniais com fortes induções estatais, remanescentes da herança stalinista. Conceitualmente, podemos afirmar que se trata de um Capitalismo de Estado baseado no rígido controle político do aparelho do Estado ao lado de uma lenta e gradual política de concessões econômicas ao capitalismo que possibilite formar uma nova classe social burguesa no país, onde o controle dos ramos fundamentais da economia se centraliza ferreamente nas mãos da nova burguesia através do Estado. Outro elemento importante da eleição presidencial russa foi o Partido Comunista (PCFR), que se diz herdeiro de Lenin, ter escolhido o empresário milionário do “Agrobusiness” para ser seu candidato, um aliado de Putin até recentemente. A candidatura de Pavel Grudinin foi proposta pelo próprio Zyuganov, que preside o partido desde 1993 justamente para reforçar o vínculo do partido com os empresários nacionais. Até 2010, Grudinin era membro do principal partido do Kremlin, o Rússia Unida de Putin. Ele é também Vice-Presidente da Comissão de Agricultura da Câmara de Comércio e Indústria Russa. Segundo o próprio Pavel declarou “Eu não sou comunista, nem membro do Partido Comunista. Sou empresário. Eles me escolheram para ser candidato, apenas isso” (Folha de São Paulo, 18.03). Milionário de 57 anos é empresário e proprietário de uma gigantesca quinta de morangos, uma das maiores conglomerados de agronegócio do país, que além de produzir legumes em larga escala produz sucos industrializados em um antigo Sovkhoz privatizado. Essa fazenda era estatal mas virou uma empresa privada com a restauração capitalista. Pavel é um exemplo clássico de burocrata que se converteu em burguês na Rússia após o golpe de agosto de 1991 comandado por Yeltsin. Em 1991, com o fim da URSS, as fazendas viraram sociedades acionárias. Já deputado regional, eleito em 1997, o burocrata convertido em empresário próximo de Putin viu seus negócios crescerem. Sua empresa faturou R$ 230 milhões em 2017, pagando salário anual de R$ 1,1 milhão a Grudinin e, mensalmente, em média R$ 4.400 aos trabalhadores. O empresário declara que o comunismo é só um dogma, em uma clara desmoralização do PCFR. Sua linha política é confortável para o Kremlin, já que tem ligação anterior com Putin. Pavel aderiu ao partido putinista Rússia Unida em 2001 e só saiu em 2010, quando perdeu espaço para outro candidato. Em resumo, a candidatura de Pavel lançada pelo PCFR foi uma completa fraude política que deve ser denunciava pelos autênticos Leninistas. Na contramão dessa tarefa revolucionária o PCB apoiou oficialmente o candidato empresário “keynesiano” do PCFR na Rússia, repetindo a mesma conduta de diluição social-democrata que tem aqui no Brasil ao apoiar Boulos em uma coligação com o PSOL. 

Desde a destruição contrarrevolucionária das conquistas operárias na antiga URSS, o bando restauracionista, inaugurado por Yeltsin, vinha desestimulando qualquer atrito político ou militar com o imperialismo europeu e ianque, neste sentido as parcas manifestações nacionalistas russa eram duramente reprimidas pelo Kremlin. Mas a chamada “revolução laranja” ocorrida em 2004 na Ucrânia ascendeu o “alerta vermelho” para os restauracionistas, era necessário parar de se “agachar” perante os EUA ou se transformariam em mais um “quintal” do imperialismo ianque. Neste período este setor estatal já convertido em burguesia russa (a restauração capitalista havia terminado por completo) era comandado por Putin, um ex-dirigente da KGB e simpatizante distante do velho stalinismo. Com o fortalecimento econômico da Rússia no final da década passada, produto das exportações de Gás e Petróleo para a Europa, os projetos da poderosa indústria bélica foram reiniciados, tendo como marco o lançamento do moderno caça Sukhoi, único supersônico do planeta com capacidade de enfrentar os F-18 norte-americanos. A dinâmica política que vem assumindo o “novo” nacionalismo russo, sob a égide de Putin, sentou as bases para o Capitalismo de Estado, sendo uma completa tolice para o marxismo caracterizar este vetor nacionalista como uma expressão do “neo-imperialismo russo”.

A Rússia, desde sua “reconstrução” capitalista vem se configurando como uma semicolônia do imperialismo europeu, fornecedora de commodities agrominerais de baixo valor agregado. Apesar disso a Rússia capitalista herdou um arsenal bélico da era soviética e todos seus projetos militares, sua força atual advém deste legado fundamental e não de uma “ousadia” particular de Putin, hoje praticamente um novo “Tzar”. Isto permitiu que o país tenha se reafirmado como força regional que tenta resistir à política ofensiva das potências ocidentais sob sua esfera de influência mais próxima, com uma série de iniciativas limitadas como a União Alfandegária Euroasiática ou mesmo subsidiando o preço do gás para aliados, embora de nenhuma maneira se transformasse em uma grande potência capitalista: sua economia é cada vez mais rentista e dependente do preço do petróleo e do gás, regido pela especulação do mercado capitalista internacional. Como não pode se basear na venda de equipamentos bélicos para acumular divisas cambiais, a Rússia tem organizado sua economia em torno da Gazprom, principal empresa exportadora do país. Seria tão estúpido, do ângulo científico do Leninismo, considerar a Rússia imperialista tanto como qualificar politicamente seu atual curso nacionalista burguês de enfrentamento com o imperialismo como “reacionário”. A história mundial tem demonstrado que a movimentação social de setores das burguesias nacionais podem oscilar politicamente de acordo com a etapa da luta de classes. Podemos citar o exemplo do nacionalismo “getulista” no Brasil, que transitou da aberta simpatia do fascismo a um tímido anti-imperialismo latino americano, o que lhe custou o segundo governo e a própria vida. Na verdade, a camarilha de Putin, apesar de ser herdeira política direta da contrarrevolução social comandada por Boris Yeltsin, que colocou a “grande Rússia” de joelhos diante dos EUA, pensa em retomar o velho projeto nacionalista de um setor da burocracia stalinista, só que agora não mais voltado a Europa do Leste e sim ao lado oriental e asiático. Denunciando estes limites de classe do governo burguês de Putin que via de regra deseja chegar a um acordo "soberano" com o imperialismo, os revolucionários estão no campo de batalha político-militar, ombro a ombro com o proletariado russo e seus aliados, forjando as condições para edificar um partido revolucionário internacionalista capaz não só de derrotar o imperialismo na Síria, mas para fundamentalmente reerguer a bandeira soviética na pátria de Lenin, superando o programa de Putin que se limita a patrocinar o sonho nacionalista-burguês da "Grande Rússia" como um herdeiro burguês que copia a utopia reacionária do stalinismo em pleno século XXI!

A LBI não nutre a menor simpatia política pelos bandos mafiosos restauracionistas que se instalaram no poder na Rússia desde a contrarrevolução de agosto de 1991, ao contrário, nos postamos ao lado da ala da burocracia stalinista (Bando dos 8) que tentou barrar a seu modo torpe esse processo então comandado por Boris Yeltsin e depois levado adiante por Putin. Porém não apoiamos qualquer “movimento” de fachada democrática patrocinado pelo Departamento de Estado ianque que tenha como objetivo preparar as condições para defenestrar Putin pelas mãos de uma ofensiva imperialista para impor um nome ainda mais alinhado com a Casa Branca. Também denunciamos o papel nefasto que vem tendo o PCFR entre a vanguarda comunista russa, a ponde de colocar um empresário parido da restauração capitalista como candidato do partido. Para os Trotskistas da LBI, frente os bandos restauracionistas agrupados em torno de Putin e diante da completa desmoralização política do PCFR é necessário construir um novo Partido Bolchevique para comandar uma nova revolução social que faça da construção de uma nova Rússia soviética uma realidade política concreta, erguendo um Estado operário capaz de enfrentar a máquina que guerra do imperialismo ianque em unidade com as ações de massas do proletariado mundial.