ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NA RÚSSIA: PUTIN ENTRONIZADO COMO O
NOVO "TSAR" DO CAPITALISMO DE ESTADO. PARTIDO COMUNISTA RUSSO, QUE SE
DIZ HERDEIRO DE LENIN, ESCOLHEU EMPRESÁRIO MILIONÁRIO DO
"AGROBUSINESS" PARA SER SEU CANDIDATO "KEYNESIANO"
Neste domingo, 18.03, ocorreram as eleições presidenciais na
Rússia. Como era mais do que esperado, Putin venceu com 76% dos votos, seguido
de longe pelo candidato do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), o
empresário milionário do “agrobusiness” Pavel Grudinin, que alcançou pouco mais
de 11%. Em terceiro ficou Vladimir Zhirinovsky com 5,66%, o líder do
ultranacionalista Partido Liberal Democrático. Os restantes dos candidatos
ficaram na marca dos 1%, incluindo Maxim Suraikin, dirigente dos Comunistas da
Rússia, um pequeno racha do PC, que alcançou apenas 0,68%. O principal opositor
de Putin, o líder da oposição de direita apoiado pela Casa Branca, Alexei
Navalny, de 41 anos, foi impedido de concorrer às eleições devido a uma
condenação em tribunal. Com a vitória na eleição deste domingo, Putin ficará à
frente da gerência estatal burguesa russa por mais 06 anos, se reeleito ao
final do mandato poderá ser presidente até 2024. Ele foi eleito pela primeira
vez no ano 2000. Cumpriu dois mandatos de quatro anos (até 2008) antes de
passar para o cargo de primeiro-ministro devido à regra da limitação de
mandatos consecutivos. Nesse interregno de quatro anos, Putin continuou a ser a
figura mais influente do país na política e nos negócios, já que na Presidência
estava um dos seus mais aliados mais próximos, Dmitry Medvedev. Antes de ceder
novamente a Presidência a Putin, em 2012, Medvedev iniciou alterações
constitucionais para alargar o mandato presidencial para seis anos. Com a
vitória nestas eleições de domingo, Putin se converte no dirigente russo há
mais tempo no poder desde Stálin. O elemento central que diferencia Putin de
Stálin é que o primeiro foi entronizado como o novo “Tsar” do Capitalismo de
Estado, enquanto o Secretário-Geral do antigo PCUS, comandava burocraticamente
um Estado operário, produto da degeneração de um regime social parido da tomada
do poder pelo proletariado em 1917. Leon Trotsky, ao polemizar sobre a teoria
do ‘Coletivismo Burocrático’ no Livro “Em defesa do Marxismo”, recorreu ao termo
“Capitalismo de Estado” para designar o regime político-econômico que surge em
um quadro de guerra ou crise econômica aguda, quando um Estado burguês assume o
comando direto de empresas industriais e dos ramos fundamentais da economia
capitalista. É exatamente o que corre na Rússia hoje, assim como também na
China em face a disputa com o imperialismo ianque. No curso do processo de
restauração capitalista, esses dois países vêm se transformando em grandes
entrepostos comerciais e industriais, caracterizando-se por serem economias
capitalistas semicoloniais com fortes induções estatais, remanescentes da
herança stalinista. Conceitualmente, podemos afirmar que se trata de um
Capitalismo de Estado baseado no rígido controle político do aparelho do Estado
ao lado de uma lenta e gradual política de concessões econômicas ao capitalismo
que possibilite formar uma nova classe social burguesa no país, onde o controle
dos ramos fundamentais da economia se centraliza ferreamente nas mãos da nova
burguesia através do Estado. Outro elemento importante da eleição presidencial
russa foi o Partido Comunista (PCFR), que se diz herdeiro de Lenin, ter
escolhido o empresário milionário do “Agrobusiness” para ser seu candidato, um
aliado de Putin até recentemente. A candidatura de Pavel Grudinin foi proposta
pelo próprio Zyuganov, que preside o partido desde 1993 justamente para
reforçar o vínculo do partido com os empresários nacionais. Até 2010, Grudinin
era membro do principal partido do Kremlin, o Rússia Unida de Putin. Ele é também
Vice-Presidente da Comissão de Agricultura da Câmara de Comércio e Indústria
Russa. Segundo o próprio Pavel declarou “Eu não sou comunista, nem membro do
Partido Comunista. Sou empresário. Eles me escolheram para ser candidato,
apenas isso” (Folha de São Paulo, 18.03). Milionário de 57 anos é empresário e
proprietário de uma gigantesca quinta de morangos, uma das maiores
conglomerados de agronegócio do país, que além de produzir legumes em larga
escala produz sucos industrializados em um antigo Sovkhoz privatizado. Essa
fazenda era estatal mas virou uma empresa privada com a restauração
capitalista. Pavel é um exemplo clássico de burocrata que se converteu em
burguês na Rússia após o golpe de agosto de 1991 comandado por Yeltsin. Em
1991, com o fim da URSS, as fazendas viraram sociedades acionárias. Já deputado
regional, eleito em 1997, o burocrata convertido em empresário próximo de Putin
viu seus negócios crescerem. Sua empresa faturou R$ 230 milhões em 2017,
pagando salário anual de R$ 1,1 milhão a Grudinin e, mensalmente, em média R$
4.400 aos trabalhadores. O empresário declara que o comunismo é só um dogma, em
uma clara desmoralização do PCFR. Sua linha política é confortável para o
Kremlin, já que tem ligação anterior com Putin. Pavel aderiu ao partido
putinista Rússia Unida em 2001 e só saiu em 2010, quando perdeu espaço para
outro candidato. Em resumo, a candidatura de Pavel lançada pelo PCFR foi uma
completa fraude política que deve ser denunciava pelos autênticos Leninistas.
Na contramão dessa tarefa revolucionária o PCB apoiou oficialmente o candidato
empresário “keynesiano” do PCFR na Rússia, repetindo a mesma conduta de
diluição social-democrata que tem aqui no Brasil ao apoiar Boulos em uma coligação com o PSOL.
Desde a destruição contrarrevolucionária das conquistas
operárias na antiga URSS, o bando restauracionista, inaugurado por Yeltsin,
vinha desestimulando qualquer atrito político ou militar com o imperialismo
europeu e ianque, neste sentido as parcas manifestações nacionalistas russa
eram duramente reprimidas pelo Kremlin. Mas a chamada “revolução laranja”
ocorrida em 2004 na Ucrânia ascendeu o “alerta vermelho” para os
restauracionistas, era necessário parar de se “agachar” perante os EUA ou se
transformariam em mais um “quintal” do imperialismo ianque. Neste período este
setor estatal já convertido em burguesia russa (a restauração capitalista havia
terminado por completo) era comandado por Putin, um ex-dirigente da KGB e
simpatizante distante do velho stalinismo. Com o fortalecimento econômico da
Rússia no final da década passada, produto das exportações de Gás e Petróleo
para a Europa, os projetos da poderosa indústria bélica foram reiniciados,
tendo como marco o lançamento do moderno caça Sukhoi, único supersônico do
planeta com capacidade de enfrentar os F-18 norte-americanos. A dinâmica
política que vem assumindo o “novo” nacionalismo russo, sob a égide de Putin,
sentou as bases para o Capitalismo de Estado, sendo uma completa tolice para o
marxismo caracterizar este vetor nacionalista como uma expressão do
“neo-imperialismo russo”.
A Rússia, desde sua “reconstrução” capitalista vem se
configurando como uma semicolônia do imperialismo europeu, fornecedora de
commodities agrominerais de baixo valor agregado. Apesar disso a Rússia
capitalista herdou um arsenal bélico da era soviética e todos seus projetos
militares, sua força atual advém deste legado fundamental e não de uma
“ousadia” particular de Putin, hoje praticamente um novo “Tzar”. Isto permitiu
que o país tenha se reafirmado como força regional que tenta resistir à
política ofensiva das potências ocidentais sob sua esfera de influência mais
próxima, com uma série de iniciativas limitadas como a União Alfandegária
Euroasiática ou mesmo subsidiando o preço do gás para aliados, embora de
nenhuma maneira se transformasse em uma grande potência capitalista: sua
economia é cada vez mais rentista e dependente do preço do petróleo e do gás,
regido pela especulação do mercado capitalista internacional. Como não pode se
basear na venda de equipamentos bélicos para acumular divisas cambiais, a
Rússia tem organizado sua economia em torno da Gazprom, principal empresa
exportadora do país. Seria tão estúpido, do ângulo científico do Leninismo,
considerar a Rússia imperialista tanto como qualificar politicamente seu atual
curso nacionalista burguês de enfrentamento com o imperialismo como
“reacionário”. A história mundial tem demonstrado que a movimentação social de
setores das burguesias nacionais podem oscilar politicamente de acordo com a
etapa da luta de classes. Podemos citar o exemplo do nacionalismo “getulista”
no Brasil, que transitou da aberta simpatia do fascismo a um tímido
anti-imperialismo latino americano, o que lhe custou o segundo governo e a
própria vida. Na verdade, a camarilha de Putin, apesar de ser herdeira política
direta da contrarrevolução social comandada por Boris Yeltsin, que colocou a
“grande Rússia” de joelhos diante dos EUA, pensa em retomar o velho projeto
nacionalista de um setor da burocracia stalinista, só que agora não mais
voltado a Europa do Leste e sim ao lado oriental e asiático. Denunciando estes
limites de classe do governo burguês de Putin que via de regra deseja chegar a
um acordo "soberano" com o imperialismo, os revolucionários estão no
campo de batalha político-militar, ombro a ombro com o proletariado russo e
seus aliados, forjando as condições para edificar um partido revolucionário
internacionalista capaz não só de derrotar o imperialismo na Síria, mas para
fundamentalmente reerguer a bandeira soviética na pátria de Lenin, superando o
programa de Putin que se limita a patrocinar o sonho nacionalista-burguês da
"Grande Rússia" como um herdeiro burguês que copia a utopia
reacionária do stalinismo em pleno século XXI!
A LBI não nutre a menor simpatia política pelos bandos
mafiosos restauracionistas que se instalaram no poder na Rússia desde a
contrarrevolução de agosto de 1991, ao contrário, nos postamos ao lado da ala
da burocracia stalinista (Bando dos 8) que tentou barrar a seu modo torpe esse
processo então comandado por Boris Yeltsin e depois levado adiante por Putin.
Porém não apoiamos qualquer “movimento” de fachada democrática patrocinado pelo
Departamento de Estado ianque que tenha como objetivo preparar as condições
para defenestrar Putin pelas mãos de uma ofensiva imperialista para impor um
nome ainda mais alinhado com a Casa Branca. Também denunciamos o papel nefasto
que vem tendo o PCFR entre a vanguarda comunista russa, a ponde de colocar um
empresário parido da restauração capitalista como candidato do partido. Para os
Trotskistas da LBI, frente os bandos restauracionistas agrupados em torno de
Putin e diante da completa desmoralização política do PCFR é necessário
construir um novo Partido Bolchevique para comandar uma nova revolução social
que faça da construção de uma nova Rússia soviética uma realidade política
concreta, erguendo um Estado operário capaz de enfrentar a máquina que guerra
do imperialismo ianque em unidade com as ações de massas do proletariado
mundial.