45 ANOS DO ASSASSINATO DE ALEXANDRE VANNUCHI: HONRAR SEU
CORAJOSO COMBATE A DITADURA MILITAR NA LUTA REVOLUCIONÁRIA CONTRA A FARSA DA
DEMOCRACIA DOS RICOS QUE HOJE ASSASSINOU MARIELLE!
Durante esta semana ocorreu uma sequência de fatos trágicos
para a luta popular de libertação socialista, o covarde assassinato político da
vereadora Marielle Franco no Rio de Janeiro, nos fez lembrar dos 45 anos do assassinato
do dirigente de esquerda Alexandre Vannuchi Leme, morto pela ditadura militar
em meados de março de 1973. Alexandre cursava Geologia na USP e militava na
Ação Libertadora Nacional (ALN), organização política fundada por Carlos
Marighella, que rompera com o PCB defendendo a luta armada enquanto o Partidão
fazia oposição domesticada ao regime militar, sempre a reboque da chamada
burguesia “progressista”. Ele foi preso por agentes do II Exército,
pertencentes ao DOI-CODI e torturado durante dois dias até não resistir e
morrer. Na venal Folha de S. Paulo, uma notícia fantasiosa e cínica trazia a
seguinte manchete: “Terrorista morre atropelado no Brás”. Segundo a matéria,
Alexandre morreu atropelado por um caminhão no cruzamento da rua Bresser com a
avenida Celso Garcia. Com variações, outros jornalões deram a mesma versão
oficial da ditadura assassina. Porém, os militantes do movimento estudantil e
as organizações políticas de esquerda da época sabiam que ele havia sido
trucidado pela ditadura e denunciaram “Mataram o Minhoca”, referência ao
apelido carinhoso de Vannuchi entre seus camaradas e companheiros de luta. A
UNE, controlada pelo PCdoB e o DCE-USP(entidade que leva o nome de Alexandre
Vannuchi), atualmente dirigido pelo PT,
apoiaram a Comissão da Verdade criada pelo governo Dilma (PT) e seu
Ministério da Justiça, que realizou um ato oficial de reconhecimento pelo
Estado brasileiro de Alexandre Vannuchi Leme como “anistiado político”. Na
verdade, para os Comunistas o fundamental é reivindicarmos politicamente a
decidida batalha ideológica de Alexandre pela derrubada revolucionária da
ditadura militar como parte do combate de classe para liquidar a ditadura do
capital, seja ela sob a forma de “democracia” ou “ditadura” e abrir caminho
para o socialismo!
Assim como a versão criada pelo então governo Dilma, a
“Comissão de Verdade” Paulista montada pela Assembleia Legislativa controlada
pelo tucano Alckmin, também “homenageou” Alexandre Vannuchi. Ambas "
Comissões da Verdade" sequer cogitam propor revisar a Lei de Anistia, pois
significaria quebrar o acordo firmado pela "Nova República" com os
militares desde a crise do regime militar nos estertores da década de 70. A
denominada “transição” da ditadura para o regime “democrático” burguês, elaborada
pelo general Golbery tinha como estratégia manter intacta a estrutura e os
métodos de repressão política como monopólio do Estado capitalista. A “Lei de
Anistia”, promulgada em 1979, inocentou os carrascos dos militantes de
esquerda, cujo “vespeiro” a burguesia e seus gerentes e ex-gerentes de farda ou
civis não querem abrir, pois traria à tona a imensa podridão do regime
capitalista, seus serviçais militares e civis. Todos os documentos relativos a
este período estão guardados a sete chaves por exigência das FFAA como
ultrassecretos, sendo na verdade esta comissão, tanto em nível local como
nacional, um embuste. Longe de legitimar esta farsa, é preciso aproveitar as
"homenagens" oficiais a Alexandre Vannuchi e denunciar em viva voz
que o regime da democracia dos ricos é apenas o atual gestor do Estado burguês,
um comitê dos negócios comuns da mesma classe reacionária que promoveu o golpe
de 1964 e patrocinou o regime sanguinário. Sob o capitalismo, seja qual face
expresse, o Estado não perde seu caráter ditatorial de classe. Portanto, a
Democracia Burguesa não pode e nunca irá voltar-se contra os senhores do
capital, aos quais servem tão dedicadamente. Hoje, sob os signos da democracia,
os reformistas armados de ontem administram bilionários negócios em favor de
grupos econômicos nacionais e internacionais. Os ex-stalinistas do PCdoB
atualmente officies-boys da burguesia, por exemplo, engalfinham-se junto aos
partidos tradicionais na divisão do botim estatal e dos negócios de vários
governos e prefeituras, defendendo ardentemente todas as instituições do Estado
capitalista, a mesma máquina assassina que seus ex-militantes da Guerrilha do
Araguaia combateram. Essa é, sem dúvida, a maior ofensa à memória dos que
tombaram na luta contra a ditadura militar. Um verdadeiro crime político a ser
denunciado energicamente pelos Marxistas Revolucionários.
Alexandre Vannuchi se aproximou da ALN porque era contrário
a orientação burguesa do PCB e sua capitulação frente ao golpe militar. Esta
política provocou uma série de rupturas políticas nas fileiras do Partidão. A
paralisia do stalinismo oficial gerou um leque de organizações políticas (ALN,
PCBR, VPR, VAR-Palmares), que expressando uma resposta desesperada da
pequena-burguesia radicalizada, buscaram o caminho do foquismo e da luta
guerrilheira para combater a ditadura militar. Reivindicando praticamente o
mesmo programa etapista e stalinista do PCB, mas criticando sua tática de
integração sindical e parlamentar ao regime burguês e, depois, a ação conjunta
com a própria oposição civil à ditadura militar, essas organizações políticas
viraram as costas para o trabalho sistemático de organização da classe operária
nas fábricas e seguiram o caminho da luta armada praticada por pequenos focos
de militantes, tanto através da guerrilha urbana, como por meio da guerrilha
rural. Não por acaso, a esmagadora maioria dessas organizações estavam
dizimadas uma década após o golpe de 64. Essa orientação foi equivocada na
medida que setores da classe operária e do movimento estudantil ainda resistiam
à ditadura militar até1968. São exemplos desse combate das massas, a greve dos
trabalhadores metalúrgicos de Contagem e Osasco, inclusive com ocupação de
fábrica e a manifestação do 1º de Maio em São Paulo. Em oposição ao oportunismo
do PCB e ao foquismo pequeno-burguês de suas dissidências, a posição correta
dos Marxistas Revolucionários diante do golpe militar deveria ser a defesa da
formação de uma frente única proletária abarcando todos os agrupamentos
operários revolucionários, capaz de tornar-se a espinha dorsal de um poderoso
movimento de massas para a reconquista das liberdades sindicais, operárias e
democráticas (partidos, sindicatos, imprensa, direito de reunião) estranguladas
pela ditadura militar. Somente a retomada da iniciativa política da classe
operária em torno da defesa de suas reivindicações políticas e econômicas e por
meio de comitês de frente única, que unisse o trabalho revolucionário legal e
ilegal, poderia conseqüentemente, inclusive, arrastar para a luta contra o
regime de exceção amplos setores da pequena burguesia radicalizada, projetando
as lutas operárias em curso, através da construção de comissões de empresas e
de oposições sindicais para desbancar os agentes do capital da direção do
movimento operário.
Apesar das divergências com o programa defendido pela ALN,
desde a LBI e a Juventude Bolchevique (JB), rendemos nossa sincera homenagem o
militante Alexandre Vannuchi que lutou contra o regime dos gorilas sendo
assassinado devido ao combate que fazia contra a dominação do país pelo
imperialismo e seus títeres de farda. Desgraçadamente, uma característica
fundamental da ANL foi a negação da teoria Leninista sobre o papel do partido
da vanguarda do proletariado no processo revolucionário. Sob a influência do
guevarismo e da experiência da revolução cubana, adotou como lema “a ação faz a
vanguarda”, partindo para a luta armada. O norte estratégico da ALN era a
restauração da Democracia Burguesa e a criação de um governo que realizasse
algumas reformas sociais, como a reforma agrária, e assumisse uma posição de
independência frente ao imperialismo. Como já havia demonstrado Trotsky nas
Teses da Revolução Permanente e, mais tarde, Lênin nas suas famosas Teses de
Abril, essas tarefas da revolução democrática já não podem mais ser realizadas
por nenhum setor dito “progressista” da burguesia nacional dos países coloniais
e semicoloniais, visto que nesses países a burguesia nativa tem seus interesses
diretamente vinculados ao domínio do capital imperialista. Portanto, só a
revolução proletária e a Ditadura do Proletariado podem assegurar a realização
das tarefas democráticas e de libertação nacional, abrindo caminho diretamente
para o socialismo e não para uma etapa de desenvolvimento capitalista
independente como defendia o stalinismo, visão com a qual, apesar da forma
radicalizada da luta armada, a ALN não rompeu.
Mesmo com todas essas limitações polítcas e programáticas, o
incontestável heroísmo na luta contra a ditadura militar, fazem de Alexandre
Vannuchi um herói dos estudantes brasileiros e de sua vanguarda comunista. Nós
da LBI, que estamos firmes no combate por desmascarar a democracia dos ricos
como uma face da ditadura do capital, e que continua assassinando militantes de
esquerda como Marielle Franco do PSOL, dedicamos o melhor de nossas forças e
energias à construção do Partido Bolchevique, nos espelhamos no exemplo
inquebrantável de Alexandre Vanucchi Leme que, apesar dos erros programáticos,
não traiu a causa que defendia, morreu resistindo as torturas da ditadura militar
e pagou com a sua própria vida na luta sem tréguas contra os gorilas genocidas!