terça-feira, 25 de março de 2014


“Nem militares, Nem Irmandade”: A farsa do “terceiro campo” montada pela LIT para legitimar seu apoio à ditadura “revolucionária” no Egito!

Nesta segunda-feira, 24 de março, um tribunal militar egípcio condenou à morte 529 membros da Irmandade Muçulmana (IM) anunciando a maior condenação em massa à pena capital na história moderna do Egito, uma decisão nunca vista nem mesmo nos tempos do facínora Mubarak. Na mesma data, a LIT (que apresentou o golpe militar desferido em julho de 2013 como uma vitória das massas) lançou um artigo intitulado “A revolução egípcia e as tarefas da esquerda” (sítio PSTU, 24/03) em que montam uma nova farsa. Sob o slogan de “Nem militares, Nem Irmandade”, os morenistas agora aplaudem a pena de morte aos seguidores de Mursi, alegando que não se trata de um ataque às massas “revolucionárias” e sim a setores reacionários fundamentalistas. Estes canalhas que apoiaram o golpe de estado apresentando-o como um triunfo popular e apregoavam desde o início que se deveria organizar as “massas” para atacar a IM ficaram eufóricos a decisão do tribunal egípcio, afinal de contas serão eliminados centenas de militantes “islâmicos reacionários”!!!. Sobre o sangue dos seguidores da IM e com sua eliminação física, a LIT diz que está surgindo um “terceiro campo” político alternativo no Egito. Mais um “exagero” da LBI nos dizem alguns, mais uma calúnia desta “seita” que ataca a direção do PSTU... Deixemos os próprios ratos morenistas “grunhirem”: “A política central do regime militar para derrotar a revolução não é o confronto aberto, físico, com o movimento de massas de conjunto (apesar das medidas bonapartistas), mas uma política de engano, de fazer concessões democráticas e utilizar os mecanismos da democracia burguesa (referendo, eleições etc.). Alguns poderiam perguntar: e a repressão e os massacres contra a IM? E a prisão de Morsi e ilegalização da IM? É verdade que o aparato de segurança segue reprimindo, mas o caráter da repressão não é generalizado e sim seletivo. A repressão mais violenta da ditadura se centra na IM e, apesar de querer ampliá-la a todo o movimento de massas a partir dessa ‘campanha contra o terror’, se demonstra que não tem condições, não tem correlação de forças suficiente para tal empresa, pois a situação revolucionária aberta com a saída de Mubarak não se fechou. Nesse sentido, a destituição de Morsi e sua prisão, assim como a repressão e ilegalização da IM, não podem ser consideradas como uma ‘repressão sangrenta contra a revolução’ (a não ser que se considere a HM como ‘parte da revolução’), mas sim como concessões que os militares se viram obrigados a fazer ‘para não perder os dedos’” (Idem). Como se pode ler com os próprios olhos, impor a pena de morte a mais de 500 presos políticos agora se chama concessão democrática às massas (!), já que os generais, antes apresentados como porta-vozes do povo pela LIT, agora não teriam força política e social para impor a repressão aberta frente ao avanço da “revolução”!!!

Em seu artigo, como é de praxe, primeiro a direção morenista lista as “dúvidas” de sua própria militância frente à política vergonhosa que adotou, apresentando-as como uma polêmica entre a esquerda internacional e inicia o “debate” na difícil tarefa de convencer suas próprias fileiras internas, extremamente desmoralizadas com a orientação pró-imperialista adotada! A LIT afirma que “A revolução egípcia insere uma enorme complexidade e contradições que desafiam os esquemas próprios do ‘sentido comum’ e que só podem ser entendidas a partir do marxismo e se compreendemos a fundo o significado da dramática crise de direção revolucionária nesse país e no mundo todo. As principais interrogantes são: qual foi o significando da derrubada de Morsi-IM? Sua queda foi determinada pela enorme mobilização popular de 30 de junho ou só pelo golpe militar de 3 de julho? Nesse sentido, foi uma vitória ou uma derrota das massas? O golpe militar implicou a ‘volta ao poder dos militares’ ou uma ‘derrota histórica’ que acabou com a revolução? A partir dessa definição, o que significam as mobilizações que a IM vem impulsionando desde julho? Devemos apoiá-las ou seria correto impulsionar uma unidade de ação com a IM ‘contra a ditadura’?” Frente a estas questões plantadas sob medida pela LIT vem a primeira “resposta”: “A queda de Morsi como produto de uma imensa mobilização popular, apesar da enorme contradição que significou o golpe militar, não foi uma “derrota” (como afirma a maioria da esquerda), mas sim uma imensa vitória democrática das massas, que abriu um novo capítulo na revolução egípcia”. Logo depois, mais uma vez, apoiam a repressão golpista sobre a IM: “Se a queda de Morsi foi uma vitória da ação revolucionária das massas, as mobilizações da IM pela volta de Morsi ao poder só podem ser contrarrevolucionárias. Portanto, os marxistas não podem apoiar ou participar dessas manifestações e tampouco defender qualquer direito ou liberdade democrática para que o setor derrotado da contrarrevolução (Morsi e a IM) se organize e se expresse ‘livremente’ para passar por cima de uma conquista das massas”. Como podemos observar, trata-se de um programa em defesa da frente única política e militar com as FFAA, responsáveis pelo verdadeiro banho de sangue imposto nos últimos oito meses no Egito! A farsa do “terceiro campo” é completa já que os “revolucionários” se unem aos militares servis ao Pentágono para combater a “contrarrevolução” representada supostamente pela IM!!!

Mas a LIT não para por aí e continua seu delirium tremens pró-imperialista... “Em nossa opinião, dos dois elementos embutidos na queda de Morsi (mobilização de milhões de pessoas e um golpe militar), o elemento determinante foi a mobilização das massas, sem a qual o golpe não teria ocorrido. Foi essa histórica mobilização das massas que, uma vez mais, obrigou os militares a dar o golpe contra Morsi (‘queimar um novo fusível’), para evitar que a ira popular avançasse contra o regime de conjunto”. Apesar dos morenistas em seu mundo da fantasia terem apresentado o golpe militar como uma “vitória das mobilizações populares”, o que se observou foi a deposição pelas FFAA do governo eleito da IM (relativamente frágil e sem a confiança integral do Pentágono, apesar de todos os esforços do presidente deposto), impondo um gabinete golpista escolhido “a dedo” pelo imperialismo ianque, com oficiais e civis que estão totalmente entregues ao FMI e à OTAN. O quadro atual representa que as massas estão em uma situação pior quando sob o governo da IM, porque antes tinham a capacidade de enfrentar um governo civil frágil (neoliberal e islâmico) e agora ficaram totalmente reféns da alta-cúpula militar, como na época de Mubarak, cuja queda foi apresentada por esta mesma esquerda como uma “revolução democrática triunfante”. Esses filisteus diziam que o fato da Junta Militar alinhada com o Pentágono depor um governo burguês islâmico eleito, porém fragilizado e dar um golpe de estado era uma revolução! Ao contrário desses calhordas, não nos cansamos de afirmar: a estranha aliança entre militares e um setor das “massas” em apoio ao golpe militar demonstra que na ausência de um partido comunista e de um programa revolucionário o movimento de massas pode girar à direita!

Dando curso a seu malabarismo político fantasioso, a LIT nos pergunta se no Egito houve uma “Derrota histórica” e o “fim da revolução?” para logo em seguida se opor as duas “alternativas”: “A partir dessas premissas, podemos concluir que os militares não ‘voltaram ao poder’ com o golpe de julho passado, pela simples razão de que mantêm o poder desde 1952. Por outro lado, tampouco é correto, como afirma a maior parte da imprensa internacional e a esquerda, que com o golpe ‘a revolução acabou’ ou, no mínimo, ‘retrocedeu-se ao regime de Mubarak’. O que esses setores não compreendem é o signo geral do processo revolucionário de conjunto, que não é de ‘derrota’, mas está marcado por duas enormes vitórias revolucionárias das massas (a saída de Mubarak e a de Morsi). Toda revolução passa por momentos de avanço e retrocesso. Em toda revolução atua, inevitavelmente, a contrarrevolução. Mas no caso do Egito, a contrarrevolução ainda se move no marco de uma revolução poderosa e em pleno desenrolar. Mas os fatos foram demonstrando que isso não é assim. Em primeiro lugar, porque a revolução continua, com novos fatos que assim o demonstram”. Nesse ponto a LIT parece polemizar com o PCO e outros membros da família revisionista que alegavam na época ter havido no Egito um “golpe militar preventivo” para barrar o avanço da “revolução”. Diferente dos revisionistas do PSTU e do PCO, os marxistas revolucionários já denunciavam que a ação das FFAA em 3 de julho não foi para barrar a revolução, justamente porque nunca houve uma revolução em curso no Egito, mas um processo de transição operado pela Casa Branca no curso da chamada “Primavera Árabe” que conseguiu com sucesso manipular o movimento de massas para tirar de cena um gerente senil (Mubarak) e colocar em seu lugar alternativas minimamente confiáveis a seus interesses, primeiro a Irmandade Muçulmana (que se mostrou frágil e por isto foi derrubada pelos generais), agora com um governo sustentado diretamente pela FFAA.

Como “gran finale” de sua Ópera Bufa, a LIT tenta nos convencer sobre o conto do “terceiro campo” alternativo no Egito, ainda que sempre se mantenha na sombra dos generais gorilas! Os morenistas nos asseguram que “Por isso, foi sumamente progressivo o surgimento do chamado ‘terceiro campo’ independente, que se expressa mais concretamente na Frente Caminho da Revolução, que levanta a bandeira Nem militares nem Irmandade! No marco dessa localização geral do ‘terceiro campo’, os marxistas deverão ser o polo mais consequente no enfrentamento com a ditadura, combatendo ao mesmo tempo as tentativas contrarrevolucionárias da IM para voltar ao poder e explicando pacientemente às massas a necessidade da tomada do poder pela classe operária e a construção do socialismo como saída estratégica para a crise”. Aqui, trata-se da nova farsa montada pela LIT. Enquanto aplaude a repressão à IM e não chama a derrubada dos militares golpistas (seus aliados táticos!), espera o desgaste dos generais genocidas para não se sabe quando apresentar o surgimento de uma “alternativa revolucionária”. Enquanto este conto de fadas não ocorre (e não irá ocorrer porque a repressão se aprofundará com a “eleição” de marechal genocida Abdel Fatah al-Sissi!), os revisionistas e seus supostos “revolucionários” da “Frente Caminho da Revolução” se colocam no terreno da unidade “tática” com os golpistas para esmagar física e politicamente a oposição islâmica!!! É exatamente isto que estamos presenciando neste momento no Egito. Ainda que não tenhamos nenhuma simpatia pela IM, ao contrário, sempre denunciamos seu caráter reacionário, teocrático e sua tentativa de aproximação com a Casa Branca, como vimos na atuação de Morsi na Palestina domesticando o Hamas e pactuando com o enclave nazi-sionista ou mesmo rompendo relações diplomáticas com a Síria, o certo é que o Pentágono está impondo um governo títere ainda mais servil à frente do Egito, país estratégico para seus planos no Oriente Médio, no marco da preparação de uma agressão ao Irã.

Neste momento é necessário chamar pela liberdade imediata dos presos políticos da IM, o boicote a eleição-farsa montada pelo marechal genocida Abdel Fatah al-Sissi e a derrubada dos golpistas pela via da ação direta das massas, convocando atos e manifestações em frente única com a IM os setores populares que se opõem ao golpe, construindo comitês de autodefesa contra a repressão estatal. Ao contrário dos canalhas da LIT e seus irmãos da família revisionista, que gritam cinicamente “nem... nem” para justificar seu apoio de fato à ditadura “revolucionária” no Egito, os genuínos trotsquistas estão nas tricheiras dos que combatem os golpistas, serviçais da Casa Branca, como nos ensinou o Velho! No Egito, assim como na Ucrânia, honramos as lições nos deixada pelo fundador da IV Internacional, enquanto a LIT hasteia sua bandeira ao lados dos golpistas e fascistas!