segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014


Por que a esquerda está em silêncio
diante do atentado policial que resultou
na morte do cinegrafista da Band? Será que comprou a versão “murdochiana” responsabilizando novamente os Black Blocs?

Desde que o cinegrafista da Band foi atingido por uma bomba de gás (de alto poder lesivo) lançada contra ele pela PM do Rio de Janeiro, enquanto cobria o protesto popular contra o aumento das tarifas de transporte urbano ocorrido na noite desta quinta-feira (06/02), a mídia “murdochiana”, tendo a frente a Rede Globo, montou uma farsa para imputar nos manifestantes e particularmente aos Black Blocs a responsabilidade pelo ataque terrorista que acaba de resultar em sua morte. Já conseguiu até quem assumisse a co-autoria do ato, como ocorre nos flagrantes forjados, estando à caça de quem supostamente teria disparado o rojão que provocou a morte cerebral do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade! O JN de sexta e sábado além do Fantástico deste último domingo dedicaram vários minutos em horário nobre para reforçar com detalhes a farsa, tirando a PM totalmente do foco da agressão! Obviamente esta verdadeira orquestração midiática está voltada para manipular o conjunto da população que é solidária aos protestos a fim de formar uma “opinião pública” contra os manifestantes, acusando-os de violentos “vândalos” e “terroristas”. Frente à monstruosa farsa montada pela mafiosa Globo, a PM e o governo Cabral/Paes (PMDB), a esquerda deveria reagir energicamente denunciando o engodo montado contra os ativistas e lutadores... Deveria, mas desgraçadamente não foi isso que ocorreu desde que ocorreram os fatos, no dia 06. Já estamos na segunda-feira, 10/02 e absolutamente todas as organizações políticas lançaram artigos em seus sites e jornais, mas não falam uma vírgula sobre o atentado policial ao cinegrafista da Band. O PSTU escreveu sobre a “Lei antiterror contra os trabalhadores” no dia 09 que aborda a criminalização dos protestos e nada! Somente depois que a morte celebral de Santiago foi anunciada o PSTU abordou a questão, em uma cínica posição que reafirma sua conduta de não denunciar o atentado policial: “Independente das investigações e da suspeita de quem teria lançado o rojão, o fato é que só houve conflito nas ruas do centro da cidade, em plena tarde de uma quinta-feira, porque os governos insistem em não atender as vozes das ruas”. O PCO foi no mesmo rumo no texto “Os protestos e a Constituição. O Estado tem o monopólio do uso da força... contra os pobres” (10/02) mantendo profundo silêncio sobre o ocorrido do Rio de Janeiro. Os maoístas da “A Nova Democracia” reproduzem vídeos da violência policial ocorrida no dia 06 mas não tratam da operação policial-midiática montada para acusar os Black Blocs como responsáveis pelo ataque ao cinegrafista da Band. A CST mantém a boca calada em plena cidade onde Babá tenta eternamente um cargo eleitoral! Será que esta esquerda comprou a versão “murdochiana” responsabilizando novamente os Black Bloc? Desgraçadamente, sua conduta vergonhosa leva-nos a esta conclusão!

Para sermos justos o único que se pronunciou foi o deputado estadual Marcelo Freixo. O parlamentar do PSOL veio a público para responder a acusação da mídia “murdochiana” que o suposto Black Bloc seria ligado a ele! A farsa é tamanha que a Globo, além de transferir a responsabilidade da PM para os Black Bloc´s, quer até mesmo fazer crer que Marcelo Freixo (apoiador das UPP´s!) apoiaria os “violentos mascarados de preto”. Longe de denunciar a farsa montada por Cabral e da famiglia Marinho de que a bomba foi lançada pela PM e não era um rojão atirado por um manifestante, Freixo declarou “A acusação publicada hoje pelo portal G1 é irresponsável e leviana. Segundo a matéria, uma ativista teria ligado para o estagiário do advogado de Fábio Raposo e dito que o responsável por acender o rojão que atingiu o cinegrafista Santiago Andrade é ligado a mim. Além de a fonte da informação ser de uma fragilidade absurda e de a própria ativista negar ter me associado ao ocorrido, nenhuma prova concreta foi apresentada. Aqueles que afirmarem que o responsável pela explosão é ligado a mim terão que provar. Caso contrário, serão devidamente processados. Sempre repudiei a violência nos protestos, seja ela praticada por manifestantes ou policiais. Discordo dela como princípio e como método para conquistar qualquer coisa”. Em resumo, não tenho nada haver com isso, sou contra a violência, inclusive dos Black Bloc´s! Freixo faz um libelo em defesa da democracia burguesa e não deseja que a Globo impute nele os “atos de vandalismo”, afinal de contas isso não rende votos da classe média carioca!

Na verdade a postura venal de Freixo reflete a conduta do conjunto da esquerda que se nega a sair em defesa dos Black Bloc diante a recrudescimento da ofensiva repressiva do Estado, que é um processo político bem mais amplo, tanto que a Globo não vacilou em ir para a ofensiva contra o próprio parlamentar do PSOL. O PSTU, por exemplo, que acusa os Black Bloc´s de provocarem a PM e a repressão estatal está em silêncio porque no fundo compartilha com a farsa montada pela Globo, já que ambos condenam a “violência” dos “mascarados de preto”. Estes filisteus não percebem que a farsa montada pelo aparato de repressão e a mídia “murdochiana” está voltada contra o conjunto do movimento de massas e deveria ter o repúdio militante do conjunto da esquerda. Entretanto a adaptação destas correntes reformistas e revisionistas a democracia burguesa e a sua institucionalidade a impede de reagir com o mínimo de instinto de classe! Não por acaso, em um artigo em que supostamente defende a autodefesa dos trabalhadores, o PSTU afirma “A ação dos Black Blocs facilita a reação da polícia que encontra o movimento despreparado. As passeatas são dissolvidas e terminam de forma prematura. Para o movimento, o resultado é desastroso”. Diante desta pérola reacionária torna-se fácil comprar a versão “murdochiana” responsabilizando novamente os Black Bloc-s pelo ataque ao cinegrafista da Band. Daí o silêncio vergonhoso, compartilhado também por outros grupos políticos!

Não poderíamos deixar de registrar a conduta corrupta do PCdoB, que dirige a UNE, além dos blogueiros “chapa branca”, como o facínora Eduardo Guimarães (Blog da Cidadania), defendendo que “O protesto violento tem que virar crime inafiançável”. O blog Brasil 247 foi direto: “Black Blocs tem seu primeiro cadáver. E agora?” exigindo mais repressão:"Santiago é o primeiro cadáver do movimento de mascarados Black Blocs, que durante manifestações populares, que muitas vezes começam de forma pacífica, destroem o patrimônio público e privado, utilizam artefatos explosivos contra a polícia e escondem seus rostos enquanto praticam esses atos. Geralmente são detidos, mas sem soltos em seguida”! Estes senhores não estão em silêncio, somam-se diretamente ao coro da Globo contra os “vândalos”. O portal Vermelho insufla a farsa montada pelo governo Cabral e sua PM já que integra esta moribunda gestão burguesa do PMDB. Com o título “Polícia prende suspeito de ataque a cinegrafista no Rio” o PCdoB apimenta as acusações: “Policiais da 17ª Delegacia Policial (DP) de São Cristóvão no Rio de Janeiro prenderam, na manhã deste domingo (9), no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste da cidade, Fábio Raposo, suspeito de participação no ataque ao cinegrafista Santiago Andrade, durante manifestação de protesto contra o aumento da passagem de ônibus, no último dia 6, na Central do Brasil. O suspeito tem histórico de registro em atos violentos em manifestações nas 5ª e 14ª delegacias de polícia do Rio de Janeiro por danos ao patrimônio público, ameaça e formação de quadrilha. A polícia tentará resgatar a página de Raposo nas redes sociais e averiguar seus contatos na intenção de identificar o atirador do rojão” (Vermelho, 09/02). O que o PCdoB não diz é um dos “suspeitos” de atacar o cinegrafista da Band, apresentado como autor do “crime” na operação farsa montada pela PM tem como advogado Jonas Tadeu Nunes que defende o miliciano e ex-deputado estadual Natalino José Guimarães, que chefiou a maior milícia do Rio de Janeiro. Ou seja, trata-se de um enredo de provas forjadas, manipulações de imagens, provocações, agentes infiltrados, tudo isto utilizado pelo aparato repressivo do Estado capitalista, onde a mídia “murdochiana” tem o papel de difundir ideologicamente que mobilização de massas (protestos, greves, ocupação de terra etc.) significa ato criminoso e assim legitimar a ação violenta das polícias em todo o país, trama apoiada pelo PCdoB e os blogueiros “chapa branca”.

Não se pode mais silenciar diante desta operação que mais parece um novo “Rio Centro” em pleno século XXI, usando um método análogo aos que os militares “linha dura” aplicaram em 1981 quando organizaram um atentado e imputaram a esquerda “armada” sua autoria para forçar um recrudescimento ainda maior do regime militar.  Para a LBI é bastante óbvio que a repressão estatal não está unicamente dirigida aos chamados “Blak Blocs”, apresentados (tanto pela mídia “murdochiana” como pela blogosfera “chapa branca”) como os “demônios” que atuam contra os “interesses da pátria”. As sinistras forças do aparelho policial e militar (herdadas da época da ditadura) estão agindo contra o conjunto da esquerda revolucionária e o ativismo classista, que se recusa a ceder à pressão do reacionário discurso “patrioteiro” do Brasil “potência emergente”. Chamamos o conjunto da esquerda classista, revolucionária e os lutadores sociais a desmontarem a farsar em curso e declararem unitariamente quem são os verdadeiros culpados pela morte celebral do funcionário da Band: Cabral e sua PM assassina. Permanecer em silêncio neste momento só fortalece a reação burguesa que logo recairá com mais força sobre o conjunto do movimento de massas e suas organizações políticas e sindicais!