domingo, 16 de novembro de 2014


Operação “Lava Jato” atinge diretamente o PT “limpando” o terreno para Dilma montar seu ministério ainda mais à direita como exigem os rentistas e as oligarquias reacionárias

Os respingos da “Operação Lava-Jato” após as eleições presidenciais caíram em cheio no esquema que o PT tinha dentro da Petrobras com as prisões do ex-diretor de Serviços da estatal, Renato Duque e dos executivos das grandes empreiteiras (Camargo Corrêa, Mendes Junior, OAS, UTC...) que financiaram as campanha eleitorais de Lula, Dilma assim como de todos os partidos burgueses. Segundo as denúncias, Duque (indicado pelo PT em 2004 ainda no primeiro governo Lula) recebeu de apenas uma empreiteira 60 milhões de dólares em contas no exterior. A versão espalhada pela blogosfera “chapa branca” de que os delegados da PF que levaram a cabo as prisões são tucanos e junto com o juiz Sérgio Moro fazem o jogo do PSDB para desgastar o governo Dilma e incentivar o clima de polarização política que favorece a direita derrotada nas urnas é muito simplória, ainda que seja parcialmente crível. O que parece de fato está em curso é uma operação (avalizada forçosamente pelo Planalto) para limpar o terreno a fim de que a própria presidente possa montar seu ministério com o “escândalo da Petrobras” já esgotado em seu arco de prisões e indiciados até antes da posse. Não por acaso, já se sabe que mais de 70 parlamentares estão envolvidos diretamente nas negociatas envolvendo a estatal, não só do PT mas também do PMDB, PP e demais partidos da base aliada. Com esta “lista” em mãos (que será alvo de análise no STF), Dilma pretende moldar não só a escolha de seu futuro gabinete, diminuindo o espaço do próprio PT, mas também aprimorar o modus operandi dos esquemas futuros de saque ao botim estatal.

Não por acaso, Dilma declarou depois da reunião do G-20 que “Eu acho que isso [investigações da Lava Jato] pode mudar, de fato, o Brasil para sempre. Em que sentido? No sentido de que vai se acabar com a impunidade. Mudará para sempre a relação entre a sociedade brasileira, o Estado brasileiro e a empresa privada” porque vai acabar com a impunidade. A questão da Petrobras é uma questão simbólica para o Brasil. É a primeira investigação efetiva sobre corrupção no Brasil que envolve segmentos privados e públicos. A primeira. E que vai a fundo” (G1, 16.11). Na verdade, o sistema de recebimento de comissões nas empresas estatais para obras liberadas no âmbito do Estado burguês é o cerne do engordamento do caixa que serve para alimentar as campanhas eleitorais e o próprio enriquecimento dos operadores dos partidos e seu membros. Como mola mestra deste processo, as empreiteiras “doam” para os partidos burgueses e seus representantes (de forma legal e ilegal) para na sequência serem premiadas com obras superfaturadas em que retiram o valor investido e lucram em dobro ou triplo. As palavras de Paulo Roberto Costa são cristalinas neste sentido: “Olha, em relação à Diretoria de Serviços [comandada por Renato Duque], todos sabiam que 2%, dos 3% [cobrados de propina], eram para atender ao PT, através da Diretoria de Serviços. Outras diretorias, como Gás e Energia e Exploração e Produção, também eram PT. [...] O comentário é que, neste caso, os 3% ficavam diretamente para o PT porque eram diretorias indicadas PT com PT" (G1. 14.11). Somente inocentes úteis ou a esquerda adaptada ao regime burguês (PSOL, PSTU) pode exigir a “moralização da política” e a “prisão dos corruptos” quando sabe-se que este é o funcionamento natural das relações entre a burguesia e seu Estado. O PT é, inclusive, o partido que recebe as menores comissões desde a chamada redemocratização.

A questão é saber porque estas informações vazaram para a plateia e servem agora para a PF e o Juiz Moro fazerem seu circo ético. Que o PSDB tem interesse nesta exploração midiática e política não há dúvidas, tanto que Aécio vai propor uma nova CPI no início de 2015 assim como sabe-se que Gilmar Mendes será o relator das contas da campanha da presidente Dilma em 2014. Porém o Ministério da Justiça sabia do conteúdo das investigação e José Eduardo Cardoso mesmo tendo ciência das ligações dos delegados com o PSDB vem dando carta branca para eles agirem, como aliás também fez a presidente Dilma. Pode-se alegar que o membros do Planalto foram “forçados” a agirem desta maneira para contornar a crise oriunda das denúncias... mas pelo que parece não agem apenas de forma passiva. Dilma parece que deseja “zerar” o “Petrolão” para ter mais liberdade na escolha do ministério e ao mesmo tempo deseja vender ao grande público que a lei que sancionou é a que possibilita agora prender “corruptos e corruptores”. Demagogia a parte, o certo é que essa conjuntura vai moldando um novo governo ainda mais à direita, refém do Deus mercado, voltado a atacar as conquistas sociais e a fazer o chamado “ajuste fiscal” com o corte de gastos sociais no orçamento e aumento de tarifas, como já está ocorrendo. Tudo o contrário do que o PT vendeu na campanha eleitoral e também compraram seus apoiadores mais “críticos”!

O “escândalo na Petrobras” é bastante abrangente e o script montado pode respingar em nomes como Lula e outros petistas históricos como Rui Falcão, servindo como barganha para a oposição conservadora manter frágil a quarta gerência petista a fim de viabilizar eleitoralmente para 2018 um eixo mais conservador de poder, como Alckmin a cabeça. No curso desta empreitada, os instintos golpistas de direita que tanto amedrontam setores da esquerda (como o PCO) mostram-se bastante isolados, como vimos na marcha deste dia 15 de novembro em São Paulo. Por sua vez, a manifestação do dia 13 convocada pelo MTST e a CUT em defesa do governo Dilma (contou com participação do MES e setores do PSOL) sob o lema de “por mais reformas e direitos” demonstra bem os limites desta “esquerda” em combater a reação burguesa, já que parte do pressuposto que é a partir da gerência da frente popular que os trabalhadores terão um ponto de apoio para reagir aos ataques fascisitizantes. Ocorre que é o próprio PT que vem atacando as conquistas, direitos e anunciando mais um governo alinhado com os banqueiros e as oligarquias regionais, sem nenhum acendo “à esquerda”! A vanguarda classista deve aproveitar a crise dos “de cima” para apontar como saída a destruição do conjunto do Estado burguês e seu regime corrupto, lutando para romper a paralisia que as direções “chapa branca” como a CUT, UNE e MST impõe ao movimento de massas, sabendo que neste momento não são os “golpistas” que ameaçam as condições de vida dos trabalhadores e sim o governo de Frente Popular!