domingo, 2 de novembro de 2014


Porque só agora os Tucanos "descobriram" que sua própria criatura, a urna eletrônica, é "bastarda"? 

A cúpula do PSDB surpreendeu ao próprio meio político burguês quando requereu ao TSE uma auditoria para verificar os sistemas de votação da urna eletrônica. Para quem não recorda a urna eletrônica foi implantada no Brasil em 1996, sob os auspícios do governo FHC e celebrada pelos Tucanos como o "santo milagre" que iria sepultar definitivamente a fraude eleitoral no Brasil. Logo na eleição seguinte em 1998, onde se disputou a reeleição de FHC, a urna eletrônica teve um papel determinante para consagrar uma das maiores fraudes eleitorais da história republicana. Em pleno esgotamento da paridade cambial Dólar/Real, o governo Tucano em crise amargava os piores índices de aprovação popular, um segundo turno entre FHC e Lula era constatado em todas as pesquisas eleitorais inclusive o malfadado IBOPE da Rede Globo. Porém a urna eletrônica debuta "brilhantemente" em sua primeira participação na disputa pelo Planalto, FHC vence a eleição logo no primeiro turno a despeito de todas as evidências de fraude eleitoral. Na sequência em 2002 a mesma urna eletrônica ajuda o moribundo Serra a superar adversários fortes, como Garotinho e Ciro, levando o Tucano a disputar o segundo turno com Lula. Só que desta vez não deu para emplacar uma vitória ao PSDB, já que a diferença a favor do PT era desproporcional. Lembranças postas em dia voltemos a "decifrar" o mecanismo da urna roubotrônica, esta que é uma "criatura" singular em todo planeta, não existindo nada similar nos países pioneiros em informatização do sistema eleitoral como os EUA, Alemanha e Japão. A formatação da urna eletrônica brasileira é a única que não permite nenhum tipo de aferição física do voto do eleitor, deixando exclusivamente a cargo de um programa (software) a totalização do resultado final de cada seção eleitoral. Se em uma situação experimental reunirmos cem eleitores de uma urna eletrônica, sendo que 60 afirmem terem votado eletronicamente em Dilma e os outros 40 em Aécio, mas o resultado apontar exatamente o inverso seria somente a "palavra" dos eleitores contra o veredito do programa (software). No mecanismo da urna eletrônica não há a menor chance de contestação do resultado por parte do eleitor, já que seu voto é apenas virtual. Em outros sistemas eletrônicos de votação, cada registro do voto virtual deve necessariamente ter um correspondente físico discriminado o nome ou número do eleitor e sua cédula perfurada com a escolha de seus candidatos, feita a leitura eletrônica da cédula esta vai para um depósito lacrado que pode ser aferido e comprovado ao menor indício de fraude. No Brasil a suposta "modernidade" eleitoral está a serviço do controle da soberania popular por parte das oligarquias políticas dominantes, que detém o mando dos TRE's com a indicação de desembargadores de sua estreita confiança. É bem verdade que a fraude eleitoral em curso no país é um processo mais profundo do que apenas a urna roubotrônica, envolvendo o controle restrito da totalização regional/nacional de votos, os "institutos" de pesquisa e, por fim, o próprio financiamento bilhardário das principais campanhas, isto sem falar é claro da manipulação política exercida pelos monopólios da mídia corporativa. Agora que a "criatura" trocou de dono, servindo ao arco político burguês comandado pelo PT, os Tucanos "descobriram" que a urna eletrônica é falha no aspecto da aferição do voto... Porém seu "remédio" para o "mal" estimulado por eles mesmos parece estar bem longe de qualquer "lisura" do processo eleitoral... Passando não pela substituição da urna eletrônica mas pela troca dos ministros do TSE e STF...

O requerimento de uma auditoria para verificação do resultado eleitoral solicitado pelo PSDB foi encarado como uma verdadeira ofensa antidemocrática pela maioria dos "ilustres" ministros do TSE, que antecipadamente rejeitaram a solicitação Tucana. Por ironia da história agora é o PT "quem manda", e o mecanismo criado para melhor fraudar a votação obtida pela esquerda serve a outros " senhores", os atuais gerentes do Estado capitalista. O controle da Frente Popular sobre o TSE e TRE's não é absoluto, corresponde a uma maioria obtida fundamentalmente pelo apoio das oligarquias regionais ao projeto de colaboração de classes e trégua social.

Nesta correlação de forças, onde o Tucanato parte da premissa que o TRE de São Paulo é "porteira fechada" com o PSDB, o PT foi "forçado" a costurar uma maioria onde seus aliados burgueses também tem controle absoluto das cortes eleitorais. O resultado final da disputa interburguesa foi a proclamação oficial da vitória petista, pelo TSE, hoje presidido pelo ex- advogado do partido José Dias Toffoli. O PSDB que liderava a apuração nacional até poucos minutos antes do anúncio final, sentiu o "cheiro de trapaça", principalmente vindo dos boletins enviados por alguns TRE's com pouca densidade eleitoral.

Várias vezes o PT também farejou o odor da fraude em suas votações mas jamais "ousou" questionar a "sacrossanta" justiça capitalista. Não possuem sequer a coragem política de lideranças nacionalistas como Brizola, que enfrentou e derrotou a fraude do PROCONSULT em 82, denunciando também com todo vigor o embuste eleitoral de 89 que desembocou em uma vitória fraudada a Collor de Mello. Para os comunistas somente o controle das organizações do movimento operário por sobre todas as instâncias da justiça eleitoral, poderia evitar a fraude e a manipulação dos resultados finais, o que logicamente contemplaria a existência do voto físico. Como se trata de uma "missão impossível" no marco institucional do regime burguês, nossa tarefa deve estar concentrada politicamente na demolição do estado capitalista (pela via da revolução socialista), e na construção de uma democracia superior baseada nos conselhos operários e populares.