terça-feira, 26 de maio de 2015


REFORMA POLÍTICA: PRINCIPAL BANDEIRA DAS MÍTICAS “JORNADAS DE JUNHO” VIRA UMA ARMA REACIONÁRIA DO RECRUDESCIMENTO DO REGIME

As “Jornadas de Junho” de 2013 tiveram como um dos seus principais eixos políticos de reivindicação a realização de uma profunda “Reforma Política”, que também era associada por muitas correntes da esquerda revisionista a convocação de uma “Assembleia Constituinte”. Nós da LBI nos opusemos desde o início a equivocada caracterização das “Jornadas” como parte de um movimento revolucionário das massas, ao contrário, apontamos o caráter reacionário de sua “finalização” como um processo que galvanizou em sua maioria as classes médias urbanas (extratos superiores) contra as esquerdas de um modo geral. Não seria exagero algum identificar os protestos do “Vem Pra Rua” deste ano contra o governo Dilma como o principal herdeiro das míticas “Jornadas de Junho”. Pois bem se as “jornadas” de 2013 ou as recicladas de 2015 não conseguiram derrubar o governo da Frente Popular cravaram agora um golpe estratégico na direção do recrudescimento do regime democratizante. Estamos falando é claro da Reforma Política que será votada em sua primeira versão pela Câmara dos Deputados nestes dias. Trata-se do maior retrocesso das liberdades de organização política desde o “Pacote de Abril” de 1977 que instituía a figura do senador biônico para garantir a maioria parlamentar do regime militar no Congresso. A atual “Reforma Política”, na verdade uma contrarreforma ultraconservadora, impulsionada pelo PMDB de Temer, Cunha e Renan (que dizem estar cumprindo uma missão delegada pelas demandas de “Junho”) não é apenas uma manobra institucional para criar a esdrúxula figura do “Distritão” ou para acabar com o mecanismo do voto proporcional (quociente eleitoral dos partidos ou coligações) e das próprias coligações partidárias em nível parlamentar, além de revigorar a “legitimidade” do financiamento dos grupos capitalistas aos partidos burgueses. Somente a introdução destas “inovações” na legislação eleitoral vigente já seria suficiente para caracterizar essa “Reforma” como um grave retrocesso jurídico institucional no plano das parcas liberdades democráticas de organização partidária existentes. Porém o que está realmente em jogo nesta ofensiva reacionária travestida de “Reforma Política” é garantir institucionalmente a criação de um novo “super poder” republicano, ou seja, um Congresso Nacional dominado definitivamente pelas elites e oligarquias mais conservadoras, que tenha a força para subjugar inclusive o governo central eleito. Se aprovadas estas novas regras constitucionais para a eleição dos congressistas, a esquerda em geral e os representantes do movimento popular terão uma redução de mais de dois terços no parlamento nacional. Câmara e Senado Federal se converterão em um “ambiente” ainda mais restrito aos estafetas das classes dominantes mais submissas aos senhores do capital financeiro internacional, isto em uma etapa mundial de “ajuste” neoliberal contra as conquistas operárias. Como Marxistas Revolucionários afirmamos que o proletariado não necessita de “parlamentares progressistas” no Congresso Nacional para desenvolver suas lutas e conquistas sociais, na ditadura militar poucos eram os deputados da “esquerda socialista” (e nenhum senador) mas isto não eliminou as heroicas batalhas de nossa classe. Defendemos a mais ampla liberdade de organização política para a esquerda comunista, o que inclui o direito de apresentarmos candidaturas ao parlamento burguês e aos governos sem nenhuma restrição da legislação eleitoral ou mesmo o financiamento do Estado capitalista. Não acreditamos na ruptura revolucionária por dentro das instituições da república capitalista, como querem nos convencer os reformistas de vários calibres. Porém não podemos deixar de denunciar os retrocessos que avançam no atual período da ofensiva imperialista contra povos e nações. A quadrilha dirigente do PMDB, na qual Dilma entregou a condução política de seu governo, está prestes a desferir um severo golpe reacionário no já capenga regime democratizante com a iminente aprovação desta (contra) Reforma Política.

O fato da proposta da implantação do "Distritão" não ter sido aprovada em sua primeira votação na noite desta terça (26/05), configurando uma derrota do "fundamentalista" Cunha, não significa que a questão não retorne ao plenário da Câmara, mesmo que seja "embrulhada" em novo formato de um "Distritão" misto. A oposição Demo-Tucana inclusive simpatiza com a adoção da fórmula mais mitigada para a Reforma Política, temendo um aniquilamento completo de suas estruturas partidárias. O fundamental para a esquerda revolucionária é a compreensão do conjunto das medidas contidas no bojo desta "Reforma" e suas implicações para definir o caráter autocrático do próximo Congresso Nacional a ser empossado logo após a troca da "gerência" estatal em 2018. Com um novo parlamento hegemonizado plenamente pela extrema direita (bem mais conservador do que o atual) não haverá a menor possibilidade de um governo da centro- esquerda burguesa coabitar no marco das mesmas instituições republicanas do regime. Em resumo a "Reforma Política" em curso prepara as bases de um parlamento de direita para conviver com um governo central totalmente "afinado" com a etapa contrarrevolucionária.

Fica absolutamente cristalino que a burguesia nacional diante do esgotamento do ciclo histórico petista pretende estabilizar ao máximo esta transição através da "Reforma Política" com uma harmonização quase "perfeita" entre a gerência estatal comprometida com os desejos da Casa Branca e um outro Congresso Nacional. Tudo leva a crer que o "Opus Dei" Alckmin é o nome reacionário mais adequado para esta tarefa, mais além de pertencer as hostes tucanas. Neste sentido se aprovada em sua plenitude, é bom frisar que as votações da "Reforma" estão apenas em sua fase inicial, a candidatura de Lula ao Planalto estaria completamente descartada já no nascedouro petista em função do novo quadro eleitoral estabelecido para 2018.

Se por um lado cabe aos genuínos Marxistas combater intransigentemente cada retrocesso democrático burguês, por outro não podemos deixar de identificar que o caráter neoliberal e ultrarreacionário do Congresso brasileiro deverá acelerar em muito a perda das ilusões parlamentares que ainda permeiam a consciência da vanguarda proletária. Mas este processo de quebra das ilusões das massas não será mecânico e tampouco automático, exige a delimitação ideológica permanente por parte do Partido Revolucionário com todas as variantes políticas da esquerda reformista e social democrata. Somente combinando a ação direta da classe operária com a abstração das lições programáticas do Marxismo Leninismo, poderemos avançar na missão histórica de reconstrução da IV internacional em nosso país e no mundo inteiro.