Está em curso uma divisão de tarefas no interior da Frente
Popular. Nada pode definir melhor a operação política montada pelo PT e o
governo Dilma diante das denúncias contra o presidente da Câmara dos Deputados,
o facínora Eduardo Cunha (PMDB). Enquanto a CUT, UNE, MST e setores da esquerda
petista agitam nas ruas o “Fora Cunha” promovendo atos contra o corrupto
neoliberal, o Planalto e a direção nacional do PT (sob a orientação de Lula)
trabalham nos bastidores e a luz do dia pela manutenção do presidente da Câmara
ou, pelo menos, pela sobrevida política do peemedebista mafioso até que seu
caso seja analisado pelo “Conselho de Ética”, um processo que pode se arrastar
no mínimo até abril. Não tenhamos dúvidas, as duas alas da Frente Popular
trabalham em harmonia apesar das divergências aparentes e têm um objetivo em
comum bastante claro neste engodo armado contra a independência política do
movimento de massas: prolongar a “novela Cunha” pelo máximo de tempo possível
como parte de uma manobra distracionista para tirar do foco a crise do governo
Dilma e o combate a seu ajuste neoliberal. De quebra, o PT e seus aliados
conseguem obstruir no parlamento as iniciativas da Tucanalha em torno do
impeachment da presidenta Dilma. Como se diz no popular matam-se dois coelhos
em uma só cajadada! Neste “jogo de marionetes” orquestrado por Lula conseguimos
vislumbrar porque a existência da Frente Popular foi e continua sendo bastante
útil à burguesia, diferente do que apregoam os impressionistas do “golpe da
direita”. Enquanto o Palácio do Planalto desfere seguidos ataques aos
trabalhadores (manutenção do Fator Previdenciário, restrição às pensões e
seguro-desemprego, arrocho salarial dos servidores federais, Lei
Antiterrorismo, privatizações) as direções sindicais “chapa branca” mantêm o
movimento de massas em letargia, segurando a radicalização das campanhas
salariais e da luta contra o ajuste neoliberal, como vimos antes na greve nos
bancários e agora na mobilização dos petroleiros. Em compensação, os chamados
“movimentos sociais” controlados pelo PT e suas colaterais conseguiram um
“alvo” para descomprimir a puteza de suas bases, sendo Cunha execrado em praça
pública pelos apoiadores da Frente Popular, principalmente a pequena-burguesia “progressista”.
Ocorre que o atual presidente da Câmara, um reacionário de carteirinha, nunca
foi um adversário aberto do governo Dilma como desejam passar esses setores.
Sua própria eleição para o comando da Casa teve a benção de Dilma que rifou a
candidatura de Arlindo Chinaglia (PT), com a base aliada do governo votando em
peso no nome do PMDB. A oposição demo-tucana não apoiou Cunha formalmente,
lançou Júlio Delgado (PSB). Portanto não é nenhuma surpresa que hoje o líder do
PT na Câmara, Sibá Machado e o líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE)
deem declarações no sentido de preservar Cunha, afinal de contas ele apoiou as
principais medidas neoliberais enviadas pelo governo Dilma ao Congresso, em
especial as que retiraram direitos dos trabalhadores. Mas não ficou só por aí,
Cunha indicou seu “pau-mandado”, Celso Pancera, para o Ministério da Ciência e
Tecnologia e através da camarilha peemedebista indicou centenas de cargos no
segundo e terceiro escalão do governo, todas as nomeações articuladas
diretamente com as lideranças maiores da quadrilha partidária (Temer, Renan,
Eunício e Sarney). Não só ao Palácio do Planalto mas estrategicamente ao
conjunto da Frente Popular interessa o “carnaval fora de época” montado em
torno do “Fora Cunha”. Esta bandeira distracionista amplia o arco de alianças
do PT e da CUT no movimento de massas, como vimos com o lançamento da Frente
Brasil Popular (FBP) e, principalmente, da Frente Povo Sem Medo (FPSM), que
incorporou a essa tarefa inglória o MTST e a Intersindical, ligada a setores
PSOL. Enquanto não há nenhuma mobilização contra os ataques covardes do governo
Dilma aos trabalhadores, que acaba de anunciar um plano de demissões
“voluntárias” para 2600 funcionários da Infraero devido à privatização dos
Aeroportos no marco do pacote de concessões de toda a infraestrutura nacional,
pipocam atos pelo “Fora Cunha” no país como o que a FPSM promoveu no dia 08 e a
FBP promete para este dia 13. Com o seu “ídolo” Cunha acuado e, no fundo,
sustentado nos bastidores pelo governo Dilma, a direita sequer consegue
convocar novas marchas reacionárias “verde-amarelas”, em uma prova concreta que
a divisão de tarefas no interior da Frente Popular esta dando resultados
satisfatórios.
Como parte desse jogo de ilusionismo, os líderes do PT e do
governo na Câmara articularam para os partidos da base aliada assinarem uma
nota de apoio a Cunha, documento que obviamente não teve a assinatura do PT
justamente para que parecesse uma iniciativa independente da vontade do
Planalto e um claro movimento de autopreservação diante de sua base política e
social. Doze partidos assinaram o manifesto: PMDB, PSD, PSC, PR, PP, PTB, PRP,
PTN, PTdoB, PHS, PEN e Solidariedade. Com se observa aqui se encontra o grosso
das legendas apoiadoras de Dilma, tanto que o líder do governo, José Guimarães,
declarou “Acho que tem [condição de permanecer no cargo]. O processo corre
naturalmente. Ninguém pode ser excluído de suas funções ou condenado sem o
trânsito em julgado. E isso também vale para o Conselho de Ética” (G1, 04/11) e
depois arrematou “Ele tem colaborado. Ele não tem criado nenhuma dificuldade na
votação das matérias. Não tem troca. Eu sou o líder do governo e como tal tenho
que dialogar com ele institucionalmente” (Idem). Mais claro impossível! A
estratégia planaltina é prolongar a agonia de Cunha que pode no mês de abril,
ao final do processo no Conselho de Ética, até renunciar ao cargo de presidente
da Câmara já que seu mandato no comando da Casa acaba em agosto, porém
mantendo-se deputado federal com o voto de seus “pares” no plenário e o aval do
governo petista. Desta vez, o jogo se inverteu, já que PSDB, DEM e PPS não
subscreveram a nota justamente porque sabem que a manutenção de Cunha vem sendo
costurada pelo Planalto como uma forma de barrar o processo de impeachment de
Dilma impulsionada pela oposição conservadora no parlamento. Somente picaretas
a soldo do governo Dilma, corrompidos materialmente pelas benesses da Frente
Popular, seja pela via estatal ou sindical, podem proclamar que o PT e o
governo Dilma estão pela saída de Cunha. A reunião do diretório nacional do PT
não se pronunciou sobre o tema, deixando-o em aberto justamente para deixar de
mãos livres seus “interlocutores” para fazerem a estratagema em curso. Em
harmonia com esta tática canalha, Sibá Machado, líder do partido na Câmara
declarou “Não chegou nada de contundente. É preciso aguardar a documentação. É
uma questão de foro íntimo. Se se sentir à vontade para permanecer... Não tem
fundamentação nenhuma. O debate será eminentemente político. O presidente age
como achar melhor. E as bancadas partidárias tomarão as providências que
acharem melhor. Não tomaremos posição extemporânea” (G1, 04/11).
O “truque” mais sofisticado dessa mágica promovida pela
Frente Popular está voltado justamente para ampliar o horizonte de sua política
de colaboração de classes para garantir de fato a governabilidade burguesa da
“gerentona” petista. Enquanto sua ala direita trabalha pela permanência do
corrupto neoliberal Cunha, sua ala esquerda agrupada na FBP e FPSM tem espaço
até para junto dos slogans “Fora Cunha” e “Em defesa da Democracia” se colocar
“Contra o Ajuste Fiscal”! Estes três eixos estão estampados nos cartazes que
convocam o ato do dia 13 de novembro. Esta política distracionista de críticas
pontuais ao ajuste é avalizada pelo PT porque permite que as direções sindicais
“chapa branca” (CUT, UNE e MST) mobilizem suas bases não contra Dilma e seus
ataques aos trabalhadores mas pelo “Fora Cunha”! Este é o segrego do embuste
que agora denunciamos vigorosamente! Não fazemos parte desse séquito governista
e muito menos somos adoradores da “ética na política” bem ao gosto da
pequena-burguesia progressista, eleitorado preferencial do PT e do PSOL. Neste
combate de classe também denunciamos o MTST que através da FPSM dão guarida a
esta política que preserva o governo Dilma, tanto que os eixos das duas frentes
são os mesmos, a diferença é que a FPSM é exclusivamente sindical, agregando
entidades ligadas ao PT, PCdoB e PSOL. Desgraçadamente, a luta contra o ajuste
neoliberal vem sendo secundarizada e apenas figurativa, já que a luta direta
dos trabalhadores vem sendo sabotada pela CUT, UNE e MST, que conseguiram
amarrar o MTST e o PSOL no engodo dessa política governista. Não por acaso, o
PCO, em seu governismo embriagado “alerta” seus parceiros frentistas: “A luta
contra Eduardo Cunha, embora seja correta, é totalmente insuficiente se não
estiver ligada ao problema do golpe. O presidente da Câmara é um dos principais
articuladores políticos do impeachment e por isso não é atingido pelas
denúncias de corrupção” (Frente Povo sem medo: Apesar da confusão política das
direções, movimentos saem às ruas contra a direita, sítio PCO, 09/11). Em
resumo, para esse amplo leve de forças políticas todas as manifestações pelo
“Fora Cunha” devem estar subordinada a dinâmica política que leve a garantia da
governabilidade burguesa da presidente Dilma e não o contrário!
Como parte de nossa delimitação com as manifestações pelo
“Fora Cunha” e “Em defesa de Democracia” a LBI considera que não há risco de
golpe militar no Brasil a curto prazo, como afirmam o PT, PCdoB, PCO e outros
setores chapa branca que na verdade desejam blindar o governo Dilma e sabotar a
resistência operária ao ajuste neoliberal imposto pelo PT. Em nenhum momento
flertamos com o “Fora Dilma” e muito menos assistimos com alguma simpatia as
marchas da reação fascista. Desde as manifestações de março e abril chamamos a
enfrentar a direita e inclusive nas ruas através de brigadas de militantes para
responder as provocações fascistas em tom “verde-amarelo”. Neste momento,
consideramos que o melhor caminho para enfrentar o ajuste neoliberal é
fortalecendo as greves e a ação direta dos trabalhadores. Como já afirmamos
nossa tarefa é ganhar as ruas não para defender o lacaio governo Dilma de um
suposto golpe militar inexistente ou para dar suporte ao “Estado Democrático”
que espolia e assassina a população pobre e negra. Vamos mobilizar o
proletariado para com a ação direta derrotar a ‘Agenda Brasil’, a direita
fascista e impor nosso programa histórico de reivindicações sociais! A
vanguarda classista também não pode ser ludibriada com o truque do “Fora Levy”,
levantado pelo arco da esquerda reformista com parte da suposta luta contra o
ajuste neoliberal, quando este estafeta é apenas um instrumento de negociação
do governo com a burguesia nacional e o imperialismo. Combater o “ajuste”
contra o povo e a nação sem derrotar quem o impulsiona, ou seja, governo Dilma
em seu conjunto, é completamente inócuo!
Nossa análise marxista da conjuntura vai além das aparências
e das ilusões democratizantes da pequena-burguesia, está a serviço de apontar
as tarefas revolucionárias para a vanguarda política e militante dos
trabalhadores assim como para os ativistas classistas. Demos ter como eixo
central neste momento a luta contra os ataques covardes do governo Dilma aos
trabalhadores, o apoio às greves e manifestações classistas contra as demissões
como ocorreu na Usiminas de Cubatão (SP) ou o fechamento das escolas por
Alckmin. Em cada greve, luta e manifestação ligar as demandas imediatas a esta
batalha estratégica. Nesse sentido, nossa palavra de ordem é “Fora Cunha, Renan
e o parlamento burguês corrupto que aprovou o ajuste neoliberal de Dilma e a
contrarreforma política! Construir uma alternativa revolucionária de poder dos
trabalhadores!”. Agitar somente o “Fora Cunha” não basta, é preciso denunciar o
acordão em curso entre o PT e PMDB assim com o
parlamento corrupto e o conjunto do regime político burguês em que se
assenta a democracia dos ricos, apontando a necessidade de se construir uma
alternativa revolucionária ao PT, sem nunca abrir espaço para a direita
demo-tucana e a reação fascista como em geral faz a mal chamada “oposição de
esquerda” (PSOL e PSTU) que deseja capitalizar eleitoralmente a crise petista.
Desgraçadamente, o movimento operário acompanha a crise política dos partidos
burgueses e os ataques neoliberais perpetrados pelo governo Dilma sem uma
reação à altura, neste momento suas direções estão amarrando os atos do “Fora
Cunha” a política distracionista “Em defesa de Democracia” que se traduz na
defesa do mandato burguês da gerentona “petista”. Já passa da hora de
aproveitar esse momento de disputa fratricida entre as diversas alas da
burguesia para colocar em cena o movimento independente de massas empunhando suas
reivindicações políticas e econômicas, para forjar uma conjuntura que
possibilite aos explorados de forma organizada sair da defensiva a fim de
avançar na resistência com o norte socialista para derrotar os ataques
deferidos pelo conjunto dos bandidos burgueses que estão alojados em todos os
partidos da ordem capitalista, no parlamento e no Palácio do Planalto!