sexta-feira, 13 de novembro de 2015


ENQUANTO A ESQUERDA DA FRENTE POPULAR AGITA O “FORA CUNHA” EM UMA MANOBRA DISTRACIONISTA, SUA ALA DIREITA TRABALHA PELA PERMANÊNCIA DO CORRUPTO NEOLIBERAL

Está em curso uma divisão de tarefas no interior da Frente Popular. Nada pode definir melhor a operação política montada pelo PT e o governo Dilma diante das denúncias contra o presidente da Câmara dos Deputados, o facínora Eduardo Cunha (PMDB). Enquanto a CUT, UNE, MST e setores da esquerda petista agitam nas ruas o “Fora Cunha” promovendo atos contra o corrupto neoliberal, o Planalto e a direção nacional do PT (sob a orientação de Lula) trabalham nos bastidores e a luz do dia pela manutenção do presidente da Câmara ou, pelo menos, pela sobrevida política do peemedebista mafioso até que seu caso seja analisado pelo “Conselho de Ética”, um processo que pode se arrastar no mínimo até abril. Não tenhamos dúvidas, as duas alas da Frente Popular trabalham em harmonia apesar das divergências aparentes e têm um objetivo em comum bastante claro neste engodo armado contra a independência política do movimento de massas: prolongar a “novela Cunha” pelo máximo de tempo possível como parte de uma manobra distracionista para tirar do foco a crise do governo Dilma e o combate a seu ajuste neoliberal. De quebra, o PT e seus aliados conseguem obstruir no parlamento as iniciativas da Tucanalha em torno do impeachment da presidenta Dilma. Como se diz no popular matam-se dois coelhos em uma só cajadada! Neste “jogo de marionetes” orquestrado por Lula conseguimos vislumbrar porque a existência da Frente Popular foi e continua sendo bastante útil à burguesia, diferente do que apregoam os impressionistas do “golpe da direita”. Enquanto o Palácio do Planalto desfere seguidos ataques aos trabalhadores (manutenção do Fator Previdenciário, restrição às pensões e seguro-desemprego, arrocho salarial dos servidores federais, Lei Antiterrorismo, privatizações) as direções sindicais “chapa branca” mantêm o movimento de massas em letargia, segurando a radicalização das campanhas salariais e da luta contra o ajuste neoliberal, como vimos antes na greve nos bancários e agora na mobilização dos petroleiros. Em compensação, os chamados “movimentos sociais” controlados pelo PT e suas colaterais conseguiram um “alvo” para descomprimir a puteza de suas bases, sendo Cunha execrado em praça pública pelos apoiadores da Frente Popular, principalmente a pequena-burguesia “progressista”. Ocorre que o atual presidente da Câmara, um reacionário de carteirinha, nunca foi um adversário aberto do governo Dilma como desejam passar esses setores. Sua própria eleição para o comando da Casa teve a benção de Dilma que rifou a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT), com a base aliada do governo votando em peso no nome do PMDB. A oposição demo-tucana não apoiou Cunha formalmente, lançou Júlio Delgado (PSB). Portanto não é nenhuma surpresa que hoje o líder do PT na Câmara, Sibá Machado e o líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE) deem declarações no sentido de preservar Cunha, afinal de contas ele apoiou as principais medidas neoliberais enviadas pelo governo Dilma ao Congresso, em especial as que retiraram direitos dos trabalhadores. Mas não ficou só por aí, Cunha indicou seu “pau-mandado”, Celso Pancera, para o Ministério da Ciência e Tecnologia e através da camarilha peemedebista indicou centenas de cargos no segundo e terceiro escalão do governo, todas as nomeações articuladas diretamente com as lideranças maiores da quadrilha partidária (Temer, Renan, Eunício e Sarney). Não só ao Palácio do Planalto mas estrategicamente ao conjunto da Frente Popular interessa o “carnaval fora de época” montado em torno do “Fora Cunha”. Esta bandeira distracionista amplia o arco de alianças do PT e da CUT no movimento de massas, como vimos com o lançamento da Frente Brasil Popular (FBP) e, principalmente, da Frente Povo Sem Medo (FPSM), que incorporou a essa tarefa inglória o MTST e a Intersindical, ligada a setores PSOL. Enquanto não há nenhuma mobilização contra os ataques covardes do governo Dilma aos trabalhadores, que acaba de anunciar um plano de demissões “voluntárias” para 2600 funcionários da Infraero devido à privatização dos Aeroportos no marco do pacote de concessões de toda a infraestrutura nacional, pipocam atos pelo “Fora Cunha” no país como o que a FPSM promoveu no dia 08 e a FBP promete para este dia 13. Com o seu “ídolo” Cunha acuado e, no fundo, sustentado nos bastidores pelo governo Dilma, a direita sequer consegue convocar novas marchas reacionárias “verde-amarelas”, em uma prova concreta que a divisão de tarefas no interior da Frente Popular esta dando resultados satisfatórios.

Como parte desse jogo de ilusionismo, os líderes do PT e do governo na Câmara articularam para os partidos da base aliada assinarem uma nota de apoio a Cunha, documento que obviamente não teve a assinatura do PT justamente para que parecesse uma iniciativa independente da vontade do Planalto e um claro movimento de autopreservação diante de sua base política e social. Doze partidos assinaram o manifesto: PMDB, PSD, PSC, PR, PP, PTB, PRP, PTN, PTdoB, PHS, PEN e Solidariedade. Com se observa aqui se encontra o grosso das legendas apoiadoras de Dilma, tanto que o líder do governo, José Guimarães, declarou “Acho que tem [condição de permanecer no cargo]. O processo corre naturalmente. Ninguém pode ser excluído de suas funções ou condenado sem o trânsito em julgado. E isso também vale para o Conselho de Ética” (G1, 04/11) e depois arrematou “Ele tem colaborado. Ele não tem criado nenhuma dificuldade na votação das matérias. Não tem troca. Eu sou o líder do governo e como tal tenho que dialogar com ele institucionalmente” (Idem). Mais claro impossível! A estratégia planaltina é prolongar a agonia de Cunha que pode no mês de abril, ao final do processo no Conselho de Ética, até renunciar ao cargo de presidente da Câmara já que seu mandato no comando da Casa acaba em agosto, porém mantendo-se deputado federal com o voto de seus “pares” no plenário e o aval do governo petista. Desta vez, o jogo se inverteu, já que PSDB, DEM e PPS não subscreveram a nota justamente porque sabem que a manutenção de Cunha vem sendo costurada pelo Planalto como uma forma de barrar o processo de impeachment de Dilma impulsionada pela oposição conservadora no parlamento. Somente picaretas a soldo do governo Dilma, corrompidos materialmente pelas benesses da Frente Popular, seja pela via estatal ou sindical, podem proclamar que o PT e o governo Dilma estão pela saída de Cunha. A reunião do diretório nacional do PT não se pronunciou sobre o tema, deixando-o em aberto justamente para deixar de mãos livres seus “interlocutores” para fazerem a estratagema em curso. Em harmonia com esta tática canalha, Sibá Machado, líder do partido na Câmara declarou “Não chegou nada de contundente. É preciso aguardar a documentação. É uma questão de foro íntimo. Se se sentir à vontade para permanecer... Não tem fundamentação nenhuma. O debate será eminentemente político. O presidente age como achar melhor. E as bancadas partidárias tomarão as providências que acharem melhor. Não tomaremos posição extemporânea” (G1, 04/11).

O “truque” mais sofisticado dessa mágica promovida pela Frente Popular está voltado justamente para ampliar o horizonte de sua política de colaboração de classes para garantir de fato a governabilidade burguesa da “gerentona” petista. Enquanto sua ala direita trabalha pela permanência do corrupto neoliberal Cunha, sua ala esquerda agrupada na FBP e FPSM tem espaço até para junto dos slogans “Fora Cunha” e “Em defesa da Democracia” se colocar “Contra o Ajuste Fiscal”! Estes três eixos estão estampados nos cartazes que convocam o ato do dia 13 de novembro. Esta política distracionista de críticas pontuais ao ajuste é avalizada pelo PT porque permite que as direções sindicais “chapa branca” (CUT, UNE e MST) mobilizem suas bases não contra Dilma e seus ataques aos trabalhadores mas pelo “Fora Cunha”! Este é o segrego do embuste que agora denunciamos vigorosamente! Não fazemos parte desse séquito governista e muito menos somos adoradores da “ética na política” bem ao gosto da pequena-burguesia progressista, eleitorado preferencial do PT e do PSOL. Neste combate de classe também denunciamos o MTST que através da FPSM dão guarida a esta política que preserva o governo Dilma, tanto que os eixos das duas frentes são os mesmos, a diferença é que a FPSM é exclusivamente sindical, agregando entidades ligadas ao PT, PCdoB e PSOL. Desgraçadamente, a luta contra o ajuste neoliberal vem sendo secundarizada e apenas figurativa, já que a luta direta dos trabalhadores vem sendo sabotada pela CUT, UNE e MST, que conseguiram amarrar o MTST e o PSOL no engodo dessa política governista. Não por acaso, o PCO, em seu governismo embriagado “alerta” seus parceiros frentistas: “A luta contra Eduardo Cunha, embora seja correta, é totalmente insuficiente se não estiver ligada ao problema do golpe. O presidente da Câmara é um dos principais articuladores políticos do impeachment e por isso não é atingido pelas denúncias de corrupção” (Frente Povo sem medo: Apesar da confusão política das direções, movimentos saem às ruas contra a direita, sítio PCO, 09/11). Em resumo, para esse amplo leve de forças políticas todas as manifestações pelo “Fora Cunha” devem estar subordinada a dinâmica política que leve a garantia da governabilidade burguesa da presidente Dilma e não o contrário!

Como parte de nossa delimitação com as manifestações pelo “Fora Cunha” e “Em defesa de Democracia” a LBI considera que não há risco de golpe militar no Brasil a curto prazo, como afirmam o PT, PCdoB, PCO e outros setores chapa branca que na verdade desejam blindar o governo Dilma e sabotar a resistência operária ao ajuste neoliberal imposto pelo PT. Em nenhum momento flertamos com o “Fora Dilma” e muito menos assistimos com alguma simpatia as marchas da reação fascista. Desde as manifestações de março e abril chamamos a enfrentar a direita e inclusive nas ruas através de brigadas de militantes para responder as provocações fascistas em tom “verde-amarelo”. Neste momento, consideramos que o melhor caminho para enfrentar o ajuste neoliberal é fortalecendo as greves e a ação direta dos trabalhadores. Como já afirmamos nossa tarefa é ganhar as ruas não para defender o lacaio governo Dilma de um suposto golpe militar inexistente ou para dar suporte ao “Estado Democrático” que espolia e assassina a população pobre e negra. Vamos mobilizar o proletariado para com a ação direta derrotar a ‘Agenda Brasil’, a direita fascista e impor nosso programa histórico de reivindicações sociais! A vanguarda classista também não pode ser ludibriada com o truque do “Fora Levy”, levantado pelo arco da esquerda reformista com parte da suposta luta contra o ajuste neoliberal, quando este estafeta é apenas um instrumento de negociação do governo com a burguesia nacional e o imperialismo. Combater o “ajuste” contra o povo e a nação sem derrotar quem o impulsiona, ou seja, governo Dilma em seu conjunto, é completamente inócuo!

Nossa análise marxista da conjuntura vai além das aparências e das ilusões democratizantes da pequena-burguesia, está a serviço de apontar as tarefas revolucionárias para a vanguarda política e militante dos trabalhadores assim como para os ativistas classistas. Demos ter como eixo central neste momento a luta contra os ataques covardes do governo Dilma aos trabalhadores, o apoio às greves e manifestações classistas contra as demissões como ocorreu na Usiminas de Cubatão (SP) ou o fechamento das escolas por Alckmin. Em cada greve, luta e manifestação ligar as demandas imediatas a esta batalha estratégica. Nesse sentido, nossa palavra de ordem é “Fora Cunha, Renan e o parlamento burguês corrupto que aprovou o ajuste neoliberal de Dilma e a contrarreforma política! Construir uma alternativa revolucionária de poder dos trabalhadores!”. Agitar somente o “Fora Cunha” não basta, é preciso denunciar o acordão em curso entre o PT e PMDB assim com o  parlamento corrupto e o conjunto do regime político burguês em que se assenta a democracia dos ricos, apontando a necessidade de se construir uma alternativa revolucionária ao PT, sem nunca abrir espaço para a direita demo-tucana e a reação fascista como em geral faz a mal chamada “oposição de esquerda” (PSOL e PSTU) que deseja capitalizar eleitoralmente a crise petista. Desgraçadamente, o movimento operário acompanha a crise política dos partidos burgueses e os ataques neoliberais perpetrados pelo governo Dilma sem uma reação à altura, neste momento suas direções estão amarrando os atos do “Fora Cunha” a política distracionista “Em defesa de Democracia” que se traduz na defesa do mandato burguês da gerentona “petista”. Já passa da hora de aproveitar esse momento de disputa fratricida entre as diversas alas da burguesia para colocar em cena o movimento independente de massas empunhando suas reivindicações políticas e econômicas, para forjar uma conjuntura que possibilite aos explorados de forma organizada sair da defensiva a fim de avançar na resistência com o norte socialista para derrotar os ataques deferidos pelo conjunto dos bandidos burgueses que estão alojados em todos os partidos da ordem capitalista, no parlamento e no Palácio do Planalto!