38 CONTRA 27 NA COMISSÃO DO IMPEACHMENT: NEM DERROTA NEM
VITÓRIA DO GOVERNO REFLETE O IMPASSE DA BURGUESIA SOBRE O QUE
FAZER COM DILMA
FAZER COM DILMA
A votação ocorrida ontem à noite na Comissão Especial do
Impeachment instaurada na Câmara dos Deputados revelou o atual impasse da
burguesia nacional diante da aguda crise política do governo da Frente Popular.
Com o placar de 38 votos a favor do impeachment e 27 contra nem a oposição
conservadora pôde comemorar o triunfo do "golpe" e tampouco a base
aliada governista conseguiu um alívio mais consistente. O resultado da
indicação de voto das lideranças partidárias na mesma Comissão ainda é mais
apertado 11 a 11 e algumas liberações de bancada. Como o bloco opositor
necessita de 2/3 do plenário da Casa para aprovar o começo do trâmite
institucional do impedimento da presidente da república podemos constatar pela
votação de ontem que as duas alas parlamentares da burguesia estão no limite de
conquistarem seu objetivo: Apear ou segurar mais um pouco Dilma no Palácio do
Planalto. Apesar de não ter obtido a maioria qualificada na Comissão, o
relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) que foi favorável à abertura do
processo do impeachment, segue ao plenário da Câmara e possivelmente será
celeremente votado no próximo domingo 17/04. Ambos prognósticos, tanto do bando
capitalista reacionário de direita quanto de sua outra versão política "democrática
de esquerda", apontam um desfecho muito "apertado", levando em
consideração a gravidade da deliberação a ser tomada pelo parlamento
brasileiro. O impasse das classes dominantes, na qual o PT representa um mero
gerente estatal, é produto da etapa histórica que atravessamos, ou seja, o
esgotamento de um ciclo econômico mundial lastreado pela valorização das commodities
e também pelo extraordinário crescimento capitalista da China. Os consecutivos
governos da Frente Popular se alimentaram desta bolha internacional de crédito
e acreditaram que teriam a "gratidão eterna" da burguesia pelos
serviços prestados. O PT destilou a trágica ilusão que "mudou a cara do
país", beneficiando milhões de pessoas no acesso ao mercado de consumo.
Porém não o foi o PT que operou este "neomilagre" brasileiro, mas sim
o período capitalista virtuoso que induziu o surgimento da chamada "classe
C"! O programa gerencial do PT foi tão neoliberal quanto do seu antecessor,
o velhaco da privataria tucana FHC, a única diferença residia justamente na etapa
histórica totalmente distinta. Os rentistas e latifundiários do agro-negócio
ganharam mais dinheiro com Lula e Dilma, entretanto como ratos que são pulam
fora do barco da Frente Popular em pleno naufrágio político. Porém mesmo em
época de escassez capitalista, Dilma seguiu fielmente o ditado do capital
financeiro e aplicou um duro ajuste fiscal e tributário contra as massas
trabalhadoras e populares, gerando uma sensação de estelionato eleitoral. Com a
economia estagnada e os "investimentos" estatais congelados pela famigerada
"Lava Jato", a burguesia esperava encurtar o mandato de Dilma
estabelecendo uma transição pactuada com o próprio PT. Mas a dinâmica da crise
do regime democratizante vem se acelerando e nesta altura é impossível cravar
uma aposta minimamente segura. Se Dilma escapar desta primeira "dentada"
dos vampiros Temer e Cunha no Congresso não conseguirá completar seu mandato.
Se Dilma perder já no domingo a burguesia tratará de agilizar o afastamento da
dupla de bandidos convocando novas eleições presidenciais pela via direta ou
indireta. A única certeza para o capital é a necessidade de semear um caminho
mais estratégico para seus negócios, ao que tudo indica um novo governo
bonapartista encabeçado pelo "justiceiro" Sérgio Moro.