DIREITISTA PIÑERA VENCE 1º TURNO E CRISE NA GESTÃO NEOLIBERAL DE BACHELET (PS) PROVOCA FRAGMENTAÇÃO DA
FRENTE POPULAR: SURGE A “FRENTE AMPLA”, UMA OPÇÃO SOCIAL-DEMOCRATA
DE “ESQUERDA” NO CIRCO DA DEMOCRACIA DOS RICOS DO CHILE
Com uma altíssima taxa de abstenção de 53% dos votos dos
chilenos em um sistema de comparecimento eleitoral facultativo, o primeiro
turno das eleições presidenciais realizado em 19 de novembro deu a vitória a
Sebastião Piñera (com apenas 36% dos votos quando as previsões eram 45%)
derrotando o candidato apoiado por Michele Bachelet (PS), Alejandro Guillier (22%).
O segundo turno ocorrerá em 17 de dezembro, tende a ser muito disputado porque
a terceira força política, a chamada “Frente Ampla”, conquistou 20,5% dos votos
e seus eleitores devem apoiar Guillier no segundo turno. A chamada “Nova
Maioria” comandada pelo PS em em grave crise interna sofreu um racha, que a
levou a disputar a eleição com três candidatos pela primeira vez em 30 anos.
Guillier foi apoiado por todos os partidos da coalizão “Nova Força da Maioria”,
inclusive o PC, com exceção do centrista Democracia Cristã, que, pela primeira
vez em 30 anos, apostou numa candidata própria, a senadora Carolina Goic (6%). Esta
declarou apoio a Guillier para o segundo turno. O fenômeno “novo” na
conjuntura eleitoral até então polarizada entre a centro-esquerda burguesa
comandada pelo PS e a velha direita pinochetista de Piñera, foi o surgimento da
“Frente Ampla”, uma espécie de “nova esquerda” social democrata como o PSOL
brasileiro e o PODEMOS espanhol, liderados por alguns grupos protagonistas da
mobilização estudantil em 2011 (Revolução Democrática, Movimento Autonomista,
Partido Humanista, Nova Democracia, Esquerda Autónoma, Poder Cidadão, Esquerda
Libertária, Convergência das Esquerdas, Partido Ecologista Verde, Partido
Igualdade). Em janeiro de 2016, a Revolução Democrática (RD), fundada pelo
deputado Giorgio Jackson, e a Esquerda Autônoma, do também deputado Gabriel
Boric (ambos reeleitos no domingo), entregaram seus cargos no governo Bachelet,
anunciaram um distanciamento da “Nova Maioria” e fundaram a “Frente Ampla”,
escolhendo com candidata Beatriz Sánchez, uma conhecida jornalista, que
conseguiu um resultado surpreendente. As pesquisas lhes davam 8%, mas conseguiu
20%. Segundo Gabriel Boric “Para nós, uma nova Constituição deve garantir os
direitos sociais e recursos naturais que hoje foram violados e saqueados em
nome do mercado. Deve reconhecer a plurinacionalidade de nosso país, a
pré-existência dos povos indígenas como nação e suas formas de organização
territorial. Deve delimitar claramente os limites entre a política e os
negócios. E enfim, o importante é que o Chile necessita uma Constituição
legitimada, nascida em democracia, voltada aos desafios do século XXI”. Com
esse programa socialdemocrata de “esquerda”, os votos da Frente Ampla são os
mais desejados, porque tendem a ser direcionados para Guillier e assim evitar a
vitória de Piñera. Além do expressivo
resultado na eleição para presidente, a Frente Ampla também conseguiu um bom
número de cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado. Segundo o Servel
(Serviço Eleitoral do Chile), a FA elegeu um senador e 20 deputados,
efetivamente se tornando a terceira força na Câmara Baixa (atrás da Chile Vamos,
de Piñera, que terá 73, e da Nova Força da Maioria, que apoia Guillier, com
43). A centro-direita de Piñera e a extrema-direita do pinochetista
ultraconservador José Antonio Kast (8%), uma espécie de Bolsonaro chileno,
somam 44%. Ainda assim, Piñera pode buscar votos na Democracia Cristã e torcer
para que parte dos eleitores da Frente Ampla não apoiem Guillier, representante
política do governo neoliberal do PS. No momento, já está se costurando uma
grande frente da centro-esquerda burguesa contra Piñera, em que Guillier não
para de receber apoios, incluindo o do ex-presidente Ricardo Lagos, seu grande
rival interno. Nestas eleições o candidato da “Nova Força da Maioria”, reproduz
de forma ainda mais neoliberal o programa da “Concertação Democrática”, prometendo
um alinhamento econômico preferencial com o bloco comercial liderado pelos EUA.
Não será apoiando Alejandro Guillier dentro da institucionalidade burguesa,
como pregam os stalinistas do PC e a maioria da “Frente Ampla” neste segundo
turno, que a classe operária irá derrotar o atual regime neopinochetista de
opressão às massas e seu candidato Piñera, herdeiro civil dos gorilas de farda.
Assim como no passado, a política frentepopulista é a responsável pelas maiores
derrotas impostas à classe operária em nome da institucionalidade e da ordem
burguesa. Está colocada para a vanguarda classista a superação deste quadro de
conciliação de classes, não só para derrotar a direita fascista, mas também
para denunciar os partidos da “Nova Maioria” e seus satélites da “Frente Ampla”
que apenas patrocinam ilusões no regime cívico-militar atual. Por esta razão,
está na ordem do dia o boicote ativo à farsa eleitoral da democracia dos ricos
como já fizeram mais de 50% da população no primeiro turno apontando a luta dos
trabalhadores para o norte da revolução socialista, retomando o caminho de
interrompido pelo chacal Pinochet e superando a política impotente de
colaboração de classes da UP e da “nova esquerda” da Frente Ampla.