sexta-feira, 17 de maio de 2013


Burguesia apoia a re-reeleição de Evo Morales... em retribuição governo ataca greve geral da COB

A greve geral na Bolívia já ultrapassou 10 dias. Dirigida pela COB, a paralisação reivindica aposentadoria integral para os mineiros, exigência negada pelo governo Evo Morales. Nos piquetes, bloqueios de estradas e passeatas os manifestantes em várias oportunidades estavam com dinamites e tentaram cercar o palácio presidencial e o parlamento, mas foram reprimidos pela polícia antimotins que os dispersou com bombas de gás lacrimogêneo. O governo da frente popular vem atacando o protesto, acusando-o de estar a serviço da direita, porém, de fato, quem estimula a reação fascista é Evo Morales. Tanto que os policiais estão chantageando o governo, exigindo aumento salarial e outras vantagens para seguir reprimindo os trabalhadores, enquanto o alto-comando das FFAA pressiona para desferir um feroz ataque à greve geral da COB. Por sua vez, Evo acionou sua base de apoio camponesa para hostilizar as manifestações dos mineiros, operários fabris e professores, buscando dividir o movimento de massas. Esta polarizada situação na Bolívia ocorre em meio à aprovação no parlamento da possibilidade de re-reeleição de Evo em 2014, o que significa que o grosso da burguesia aposta no “presidente-índio” para estabilizar a situação no altiplano.

Nesta quarta-feira, 15 de Maio, a Câmara dos Deputados da Bolívia aprovou a norma que permite a Evo Morales se candidatar a um terceiro mandato consecutivo. A proposta foi aprovada com folga. Foram 84 votos a favor e 33 contra. A eleição presidencial boliviana será realizada em dezembro do próximo ano. Em abril, o Tribunal Constitucional da Bolívia já havia julgado a constitucionalidade do projeto e entendeu que ele não desrespeita a Carta Magna do país. Segundo o tribunal, o atual mandato de Evo Morales, iniciado em 2009, é o que deve ser considerado na contagem de tempo. Esta decisão demonstra claramente que a burguesia se unificou em torno de Evo ante a polarizada situação do país, depois do MAS ter conseguido fechar um acordo com a oligarquia da chamada Meia Luna.

Para mostrar fidelidade aos interesses capitalistas, o governo insiste que a proposta da COB de aposentadorias mantendo 100% da renda para os mineiros e 80% para o restante das atividades é tecnicamente insustentável e afetará a estabilidade do sistema previdenciário boliviano em menos de dez anos, ou seja, o velho discurso “neoliberal” da responsabilidade fiscal. Com a lei de Evo Morales, um mineiro que hoje ganha 12.000 bolivianos, se aposentaria com 4000, e uma professora de 33 anos de aportes com 2500. A COB reivindica uma aposentadoria mínima de 8000 bolivianos para os mineiros e 5000 para o resto dos trabalhadores. Os militares se aposentam com 100% de seu último salário, segundo um decreto da ditadura de Banzer vigente no “Estado plurinacional”. Evo Morales, em um típico discurso de direita, classificou a greve geral como uma “ação política” e convocou os bolivianos a “defender a democracia, a defender o processo de mudanças, a se organizar e a se mobilizar” em uma cantilena voltada claramente a centralizar a classe dominante sob seu comando, além de estimular sua base social a atacar os protestos. Em Potosí, sudoeste da Bolívia, grupos de camponeses seguidores de Morales entraram em confronto com trabalhadores filiados à COB pelo controle de uma estrada, em choques que deixaram pelo menos quatro feridos.

A radicalização é enorme e a burocracia da COB não conseguiu ainda quebrar a paralisação. Mas, neste dia 16, a direção da central resolveu dar um freio à greve, suspendendo os bloqueios de estradas. Em meio à greve, nos dias 24 e 25 de maio está previsto para ocorrer em Oruro o segundo Congresso do Partido de Trabalhadores (PT) nascido por iniciativa da burocracia sindical da COB em março. O MAS vinha operando desde dentro da central operária para abortá-lo ou transformá-lo em um instrumento dócil. Esta questão mantém toda sua vigência, já que a burocracia da COB tem em geral uma atitude conciliadora com o governo. A luta de classes, com o alinhamento de Evo com os principais setores da burguesia, empurrou temporariamente a burocracia sindical “à esquerda”, agrupando em torno do PT importante setores de vanguarda. A burocracia manobra para tentar transformar o partido em base de manobra para disputar as eleições nacionais que acontecerão no próximo ano, após terem sido relegados do MAS e ao crescente desgaste do governo com os operários, principalmente os mineiros. Frente a esta realidade a tarefa dos trotskistas é intervir no processo de formação do PT, denunciando os limites impostos pela burocracia e apresentando um programa de transição baseado nas melhores tradições operárias.

Desgraçadamente, organizações trotskistas que se colocam no campo da oposição de classe ao governo Evo, como o POR boliviano, que tiveram no passado um peso político e social importante na luta do proletariado boliviano, mas foram castigadas justamente por terem capitulado ao nacionalismo burguês e ao frente populismo, hoje vegetam no messianismo e sequer intervêm no processo de formação do PT. A construção de um genuíno partido revolucionário, bolchevique-leninista, baseado na própria experiência do heroico proletariado boliviano e enraizado mas massas, é o caminho para apresentar uma saída operária e socialista ao governo de Evo Morales e ao avanço da direita arquirreacionária. Está colocado para os setores classistas, combativos e radicalizados da Bolívia, se agrupar em organismos de base, intersindicais e interbarriais, independente do governo e das entidades que este controla, levantando o eixo da oposição operária e revolucionária à frente popular, ao mesmo tempo em que se organizam para enfrentar, via comitês de autodefesa, os bandos fascistas patrocinados pelas oligarquias reacionárias e seus “comitês cívicos”. Esse combate deve ter como palco a luta direta das massas e também na própria COB, instrumento unitário de luta que precisa entrar em cena de forma mais decidida para opor-se ao processo de domesticação que o MAS impõe ao movimento operário e camponês. Por esta via, certamente se acelerará a experiência das massas, o que reduzirá em muito a margem das manobras burocráticas e distracionistas da burocracia governista. Nesse combate, os mineiros e o proletariado industrial devem acaudilhar o conjunto dos oprimidos na luta estratégica pelo governo operário e camponês, expressão da superação política da frente popular e da expropriação da burguesia.