terça-feira, 14 de maio de 2013


Enquanto avança a ofensiva reacionária do governo Rajoy, 15-M retrocede pela ausência de uma perspectiva revolucionária!

Nesta quarta-feira, 15 de Maio, celebram-se os dois anos de existência do 15-M, movimento inicialmente autointitulado dos “indignados” espanhóis que debutou em maio de 2011 protestando contra os efeitos da crise capitalista mundial no país, comandado a época pelo governo “socialista” de Zapatero. Antes mesmo do dia 15 já ocorreram uma série de manifestações temáticas e lúdicas em Madri e em outras vinte cidades espanholas como parte do “Maio Global”. A maior mobilização até agora ocorreu Praça da Puerta del Sol, porém amanhã será o seu ápice. Entretanto, o que marcou esses dois anos do 15-M foi o retrocesso político do movimento, que pela ausência de uma perspectiva revolucionário acabou por perder força política de massas como eixo de aglutinação da luta contra o governo reacionário de Mariano Rajoy, que substituiu a desgastada gerência do PS. Enquanto os ataques da gestão do fascistizante PP se aprofundaram e a própria ofensiva imperialista ganhou impulso com a agressão da OTAN a Líbia em 2011, a desestabilização da Síria, a ocupação francesa no Mali e os preparativos da guerra contra o Irã, além das provocações a Coreia do Norte, os “indignados” se limitaram neste período o exigir “ética” e “reformas” dentro do modo de produção capitalista.

Esse retrocesso ocorreu porque apesar de apresentar-se como uma “nova vanguarda”, o 15M propõe, com uma roupagem “modernosa”, as velhas fórmulas sociais-democratas como “regular os mercados”, “taxar os investidores”, “justiça social” e uma “nova economia” condensada na palavra dor ordem “Sí se pude”. A novidade agora, dois anos após o início do movimento, é que o 15-M pode se transformar em uma frente eleitoral já para a próxima disputa municipal espanhola. O objetivo seria “promover as várias iniciativas que vão criar uma frente ampla de progresso que podem concorrer às eleições com um programa básico” (RT, 14/05), declarou o advogado Ramon Hernandez, membro do grupo coordenador do 15-M concluindo que “Temos de mudar o sistema pelas duas vias, as ruas e as urnas” (Idem). Por sua parte, o representante do “Democracia Real Já”, Paul Erlantz, acrescentou que as próximas eleições seria um bom momento para tentar a nova estratégia. Lembremos que em maio de 2011, os autoproclamados “indignados” chamaram o boicote às eleições por consideram corretamente que os dois principais partidos do regime PP e PSOE não representavam os interesses do povo. Já naquele momento, em vez de defenderem a construção de organismos de poder do proletariado e a destruição do Estado burguês, os “indignados” propuseram medidas ilusórias para regenerar as corrompidas instituições do regime, reivindicando a realização de “referendos obrigatórios”, “modificação na Lei Eleitoral”, “independência do poder judiciário” e mecanismos que garantam a “democracia interna nos partidos políticos”. Tais reivindicações revelam o caráter pequeno-burguês desse movimento e a recusa em admitir o princípio científico marxista de que o Estado burguês é essencialmente uma máquina a serviço dos interesses dos capitalistas, um balcão de negócios comuns da burguesia, e como tal não deve ser regenerado para dar continuidade à exploração capitalista, mas destruído pelo proletariado revolucionário através de uma revolução socialista. Agora, os mesmos que reivindicavam “democracia real já” desejam se postar como “alternativa eleitoral” dentro dos marcos da corrupta democracia burguesa!

Seguindo essa lógica, a tarefa dos “indignados” não seria mais derrotar pela via da ação direta os planos de ajuste do imperialismo e do FMI e organizar-se para derrubar os governos burgueses de plantão, sejam eles “socialistas” ou “conservadores”, através da luta revolucionária sob a direção de um partido comunista, abrindo desta forma caminho para a construção de uma alternativa própria de poder do proletariado e do campesinato. Mas simplesmente reafirmar alegoricamente que são homens e mulheres a favor de uma “cidadania planetária”, de “referendos vinculantes” e da “paz mundial”, significa ir a fundo na lógica do aperfeiçoamento do próprio regime democrático-burguês, substituindo o enfrentamento entre as classes sociais pela “pressão das praças sem sindicatos e partidos” para que os governos capitalistas sejam sucedidos por gestores supostamente éticos e não corrompidos “que cumpram o que prometeram”. Já a “paz” defendida pelo 15M resume-se a ocas palavras contra as “guerras”, enquanto se colocam a favor dos “rebeldes” apoiados pela OTAN na Síria, já que são entusiastas da fantasiosa “revolução árabe” que não passa de uma transição ordenada controlada pela Casa Branca em meio a ofensiva geral do imperialismo ianque no planeta.

O 15M foi apresentado por toda sorte de revisionistas (LIT, UIT, CMI) como a melhor expressão da “onda revolucionária que varreu a Europa” depois do crash financeiro de 2008. Nada mais falso, tratou-se justamente o contrário, de fórmulas modernosas usadas pelas ONGs e seus “movimentos de novas vanguardas” para amortecer a luta de classes enquanto a direita e a extrema-direita crescem eleitoralmente na Europa, organizam milícias neonazistas contra negros, imigrantes e muçulmanos, produzindo atentados terroristas como os da Noruega. O retorno do franquismo à chefia do governo espanhol significou o triunfo da direita fascista na Espanha, que usa métodos de guerra civil contra os explorados, justamente em um período de profunda crise capitalista como a que atravessamos neste momento histórico de brutal ofensiva imperialista... Tudo o contrário do que diziam aos catastrofistas de plantão que vendiam a crise como a “antessala” da revolução, apresentando inofensivos movimentos pequeno-burgueses como o 15-M como uma alternativa política “revolucionária” à barbárie capitalista! Como alertamos desde o surgimento do 15M, devido à ausência de direção revolucionária com peso de massas e o quadro de ofensiva ideológica imposto pelo grande capital desde a queda da URSS, a tendência era não só que a burguesia utilizasse a crise econômica para incrementar sua investida contra as conquistas operárias em todo o planeta, mas que esta situação abriria uma etapa política de ascensão de governos de direita ou extrema-direita nos países mais castigados pela débâcle financeira, como o crescimento de grupos fascistas e neonazistas. A verdadeira intervenção da Troika na economia espanhola e os ataques do governo franquista de Rajoy contra os trabalhadores apontaram nesta trágica direção, colocando ainda mais na ordem do dia a construção de uma verdadeira resistência operária e revolucionária através da ação direta da classe ao governo do PP, o que passa bem longe da plataforma do 15-M apoiado pelos revisionistas de todos os matizes, mas já em franco retrocesso político.

O 15-M em seu aniversário de dois anos apresenta um conjunto de medidas que consideram “essenciais para a regeneração de nosso sistema político e econômico”, entre as quais se destacam as reduções de jornada de trabalho para acabar com o desemprego estrutural, ou seja, manter as taxas de desemprego abaixo de 5%; aposentadoria aos 65 anos; auxílio aluguel para jovens e para as pessoas de poucos recursos. Na área educacional em vez de defender a educação pública e gratuita em todos os níveis, reivindicam a “redução do custo da matrícula em toda a educação universitária, equiparando o preço de pós-graduação aos de graduação”. A maioria dessas reformas não pode ser realizada no atual estágio de decomposição do capitalismo e muito menos na atual conjuntura de crise. Mas se isso fosse possível, tais medidas não poriam em risco a existência desse regime de exploração de classe. Ainda mais utópicas são as propostas de controle sobre as instituições financeiras, que reivindicam a devolução aos cofres públicos de todo o capital público fornecido aos bancos, sanções aos movimentos especulativos e às “más práticas bancárias”, o controle da fraude fiscal e da fuga de capitais para paraísos fiscais. Tudo isso realizado nos marcos da ordem social burguesa, por meio de uma regeneração do sistema político com a “eliminação dos privilégios da classe política”, objetivos que seriam alcançados, segundo o manifesto da “Democracia Real Já!”, através de uma “revolução ética”. Esse programa tão rebaixado e utópico não atrai os setores mais combativos e conscientes do proletariado, como os mineiros que encabeçaram a luta classista 2012. Essas reivindicações estão a anos-luz das reais necessidades dos trabalhadores, que quando se levantam em defesa de seus interesses, questionam a propriedade burguesa e utilizam seus próprios métodos de luta, greves, ocupações de fábrica e enfrentamentos com as forças de repressão estatal, métodos com certeza considerados “antiéticos” aos olhos desses filisteus pequeno burgueses.

Sob essas bandeiras reformistas do 15M, a juventude e as massas exploradas que se mostram “indignadas”, não poderão se armar politicamente para enfrentar a onda reacionária que se aprofunda com a agudização da crise econômica e a ascensão política da direita fascistizante de Rajoy e do PP. Para romper essa encruzilhada, somente uma política de independência de classe do proletariado baseada num programa que defenda a necessidade da destruição do Estado burguês através de uma revolução socialista que pode armar a juventude e os trabalhadores para enfrentar a catástrofe gerada pela agonia do sistema de exploração capitalista. A tarefa que se coloca, portanto, para a juventude e as massas trabalhadoras na Espanha e outros países da Europa é transformar sua indignação em ação consciente, construindo o instrumento capaz de levantar esse programa revolucionário, o partido da revolução proletária mundial.