Por um encontro nacional da esquerda marxista e revolucionária para debater a construção de uma alternativa classista para as lutas
Estamos presenciando no
Brasil um claro processo de polarização política pré-eleitoral antecipado que
tem como objetivo amortecer ainda mais a luta de classes, consolidando um pacto
social não declarado “oficialmente”. Apesar da disputa presidencial e nos
estados da federação ocorrer somente no final de 2014, a burguesia e todo seu
espectro político, da “esquerda à direita”, já se articula com o objetivo de
apresentar suas candidaturas para gerenciar a crise capitalista. O Planalto
costura para manter a ampla aliança burguesa comandada pelo PT, estendendo
ainda mais à direita sua coligação em torno da reeleição de Dilma, vide a
entrada do PSD no ministério. Já a Oposição Conservadora (PSDB-DEM),
fragilizada, porém resistente, se apoia na força dos meios de alienação de
massa e na ofensiva reacionária do STF para seguir na disputa no próximo ano,
levando-a para um segundo turno caso haja fissuras no seio da frente popular,
como a candidatura de Eduardo Campos (PSB) ou mesmo de Marina Silva (Rede). Em
meio a este embate interburguês, PSTU e PSOL com suas “colaterais” sindicais
(Conlutas e Intersindical) buscam construir um “terceiro campo” que abarque até
mesmo a eco-capitalista Marina, tentando fazer da Marcha a Brasília do último
dia 24 de abril um elemento de “massas” impulsionador de sua frente eleitoral.
À margem destas articulações, as lutas seguem dispersas e atomizadas, como as
greves de Jirau e Belo Monte ou mesmo a paralisação dos professores de São
Paulo, sendo invariavelmente derrotadas. Frente a esta realidade, a esquerda
marxista e revolucionária (em um esforço de superar sua dispersão sectária)
precisa debater a construção de uma alternativa classista para as lutas em
curso (limitadas ao mais puro economicismo), a fim de fazer um contraponto
programático ao circo eleitoral burguês e a suas marionetes reformistas,
intervindo vigorosamente nos combates de nossa classe com uma plataforma de
ação direta e de independência política dos trabalhadores.
A importância em
realizar um encontro nacional para discutir estas questões candentes resulta
uma necessidade vital para a esquerda revolucionária. A conjuntura nacional,
lastreada pela ofensiva imperialista planetária incrementada após a vitória da
OTAN da Líbia, aponta para um fortalecimento social e ideológico da direita
fascitizante em nosso país. Apesar da reeleição de Dilma estar assegurada, a
Casa Branca já trabalha intensamente para em 2018 impor um nome alinhado
diretamente a seus interesses políticos e econômicos. O ciclo da frente popular
entrará em fase de esgotamento. Toda a grita contra a vinda dos médicos cubanos
para o Brasil, a criminalização dos movimentos sociais via justiça burguesa e a
sanha conservadora comandada pela Rede Globo e a Veja demonstram que os setores
mais reacionários da burguesia vão se organizar para centralizar seu peso
político e social para construir uma alternativa robusta em 2018. Estamos
apenas vendo o balão de ensaio deste processo com a defesa da redução da
maioridade penal pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o homem da Opus
Dei escolhido para no futuro personificar esta “virada”.
A polarização eleitoral
encobre a verdadeira polarização de classe que aos poucos vai tensionado a
sociedade burguesa em nosso país. Em seus dez anos de governo, a frente popular
tratou de desmoralizar o movimento de massas e cooptar suas direções em um
processo de aberta corrupção material. Neste período, as categorias mais
organizadas (bancários, petroleiros, metalúrgicos, professores, servidores
federais) se limitaram a protagonizar greves economicistas e corporativas, sem
eixos políticos de enfrentamento com o governo burguês petista, fiel aliado das
oligarquias. As referências classistas foram quebradas e, aos poucos, a base
social da frente popular foi se estendendo para a chamada “nova classe média”
formada por microempreendedores e ex-assalariados que abriram seus próprios
negócios. O crédito fácil ampliou imensamente esta influência da frente
popular. Entretanto, esses setores despolitizados foram arrastados pela classe
média tradicional que têm um claro eixo reacionário e fascistizante, adversária
das mais elementares demandas democráticas do povo, já que seu objetivo é
acumular capital e ascender socialmente. Em certa medida estamos vendo a afirmação
de Trotsky de que a frente popular é a antessala do fascismo se confirmar mais
uma vez. Não se trata “ainda” do fascismo tradicional, dos gorilas armados, mas
da ideologia que permite tal fim, como vimos recentemente em Honduras e no
Paraguay, além desta perspectiva avançar a passos largos na Venezuela. Por
enquanto, o governo da frente popular é uma espécie de árbitro na América
Latina destas tendências contrárias em choque. Pela sua orientação de classe, o
PT é incapaz de enfrentar a direita de forma consequente, na verdade acaba por
fortalecê-la ao esterilizar o movimento de massas e avançar no programa
“neoliberal” de privatizações (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e
petróleo). Desta forma, “cava sua própria cova” abrindo caminho para
“alternativas” cada vez mais conservadoras.
Não podemos ficar
inertes diante deste processo político. Devemos intervir nas lutas,
radicalizando-as para através de sua politização se opor ao curso dramático da
conjuntura. PSTU e PSOL desejam apenas construir um “terceiro campo” eleitoral
para galgar alguns reduzidos postos parlamentares, se localizando sempre a
reboque da direita, seja no episódio do Mensalão, seja na legislação da
portabilidade dos mandatos/fundo partidário ou na defesa que fazem do STF. Não
por acaso, sua frente eleitoral já trabalha em função do caminho que tomar
Marina Silva. Como ficou demonstrado, a marcha do dia 24 de abril foi mais um
capítulo do calendário de falsas mobilizações de massas que antecederão as
campanhas salariais corporativas do segundo semestre. Logo depois, no ato de 1º
de Maio na Praça da Sé, a Conlutas, Intersindical, PSTU, PCB e PSOL se
restringiram a pedir ao governo Dilma para “mudar a política econômica”,
transferindo a disputa que realmente lhe interessa para as eleições de 2014. No
máximo, deseja usar as campanhas salariais do segundo semestre para desgastar
eleitoralmente o governo do PT.
Desde a LBI fazemos o
chamado por um encontro nacional da esquerda marxista e revolucionária para
debater a construção de uma alternativa classista para as lutas e também para a
propaganda leninista (utilizando inclusive a tribuna eleitoral da burguesia), porque
compreendemos que esta iniciativa pode ser um embrião para se edificar um polo
combativo para os embates concretos em curso, que sirva também como um espaço
para discutir nossa posição político-eleitoral para a conjuntura. Denunciamos
que, longe do lobby sobre o Congresso, como é a campanha pelo “Fora Feliciano”
ou de alimentar o “terceiro campo” com Marina Silva, está colocado ao movimento
de massas irromper nesta conjuntura apresentando uma alternativa independente,
radicalmente oposta à da “moralização” das instituições apodrecidas deste
regime da democracia dos ricos, de seu circo eleitoral e aos pedidos que o
governo do capital financeiro e do agronegócio “mude de rumo”. A chave para a
mudança qualitativa da situação política consiste na entrada em cena dos
batalhões pesados do proletariado, empunhando bandeiras históricas da classe em
sua ação direta nos grandes centros urbanos, nas concentrações fabris e
ocupando os grandes latifúndios produtivos e as agroindústrias. Advertimos a
vanguarda classista que o momento é da ação direta do proletariado, rejeitando
toda forma de lobby sobre o governo da frente popular e instituições da
república capitalista. Esta plataforma de combate radicalizado das massas deve
ligar-se umbilicalmente à necessidade da publicidade socialista e
revolucionária diante do debate eleitoral posto no cenário nacional.
Apesar de nossas
modestas forças, convocamos publicamente todos os coletivos classistas, as
correntes que se reivindicam da esquerda marxista e revolucionária assim como
os ativistas combativos do movimento de massas a desenvolverem em frente única
conosco em torno da organização de um encontro nacional com este objetivo. Como
coroamento deste processo, defendemos o lançamento de uma anticandidatura da
classe operária, a partir de uma ampla discussão programática com todas as
forças genuinamente comunistas existentes em nosso país. Essa anticandidatura
deve ser um ponto de apoio para as lutas e as greves em curso, se constituindo
com um polo aglutinador dos lutadores da vanguarda classista que não se
vergaram ao eleitoralismo e à política de colaboração de classes, sendo a
personificação dos combates diretos dos trabalhadores do campo e da cidade. A
convocação desse encontro nacional se reveste em um verdadeiro contraponto ao
circo eleitoral, são exigências da própria luta de classes e se constituem como
passos fundamentais para a superação do anarcossindicalismo de esquerda e da
ausência de uma direção revolucionária no movimento operário e popular. A
proposta que apresentamos fortalece a unidade política e programática entre
agrupamentos que se reivindicam comunistas, sendo um elemento de atração de
setores classistas, combativos e anticapitalistas do movimento operário que,
neste momento, estão dispersamente se posicionando em oposição à frente
popular, ao tucanato e ao “terceiro campo” formado por Marina, PSOL e PSTU.
LIGA BOLCHEVIQUE
INTERNACIONALISTA