quinta-feira, 16 de maio de 2013

Leia o Editorial do Jornal Luta Operária nº 257, 1ª Quinzena de Maio/2013

Por um encontro nacional da esquerda marxista e revolucionária para debater a construção de uma alternativa classista para as lutas

Estamos presenciando no Brasil um claro processo de polarização política pré-eleitoral antecipado que tem como objetivo amortecer ainda mais a luta de classes, consolidando um pacto social não declarado “oficialmente”. Apesar da disputa presidencial e nos estados da federação ocorrer somente no final de 2014, a burguesia e todo seu espectro político, da “esquerda à direita”, já se articula com o objetivo de apresentar suas candidaturas para gerenciar a crise capitalista. O Planalto costura para manter a ampla aliança burguesa comandada pelo PT, estendendo ainda mais à direita sua coligação em torno da reeleição de Dilma, vide a entrada do PSD no ministério. Já a Oposição Conservadora (PSDB-DEM), fragilizada, porém resistente, se apoia na força dos meios de alienação de massa e na ofensiva reacionária do STF para seguir na disputa no próximo ano, levando-a para um segundo turno caso haja fissuras no seio da frente popular, como a candidatura de Eduardo Campos (PSB) ou mesmo de Marina Silva (Rede). Em meio a este embate interburguês, PSTU e PSOL com suas “colaterais” sindicais (Conlutas e Intersindical) buscam construir um “terceiro campo” que abarque até mesmo a eco-capitalista Marina, tentando fazer da Marcha a Brasília do último dia 24 de abril um elemento de “massas” impulsionador de sua frente eleitoral. À margem destas articulações, as lutas seguem dispersas e atomizadas, como as greves de Jirau e Belo Monte ou mesmo a paralisação dos professores de São Paulo, sendo invariavelmente derrotadas. Frente a esta realidade, a esquerda marxista e revolucionária (em um esforço de superar sua dispersão sectária) precisa debater a construção de uma alternativa classista para as lutas em curso (limitadas ao mais puro economicismo), a fim de fazer um contraponto programático ao circo eleitoral burguês e a suas marionetes reformistas, intervindo vigorosamente nos combates de nossa classe com uma plataforma de ação direta e de independência política dos trabalhadores.

A importância em realizar um encontro nacional para discutir estas questões candentes resulta uma necessidade vital para a esquerda revolucionária. A conjuntura nacional, lastreada pela ofensiva imperialista planetária incrementada após a vitória da OTAN da Líbia, aponta para um fortalecimento social e ideológico da direita fascitizante em nosso país. Apesar da reeleição de Dilma estar assegurada, a Casa Branca já trabalha intensamente para em 2018 impor um nome alinhado diretamente a seus interesses políticos e econômicos. O ciclo da frente popular entrará em fase de esgotamento. Toda a grita contra a vinda dos médicos cubanos para o Brasil, a criminalização dos movimentos sociais via justiça burguesa e a sanha conservadora comandada pela Rede Globo e a Veja demonstram que os setores mais reacionários da burguesia vão se organizar para centralizar seu peso político e social para construir uma alternativa robusta em 2018. Estamos apenas vendo o balão de ensaio deste processo com a defesa da redução da maioridade penal pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o homem da Opus Dei escolhido para no futuro personificar esta “virada”.

A polarização eleitoral encobre a verdadeira polarização de classe que aos poucos vai tensionado a sociedade burguesa em nosso país. Em seus dez anos de governo, a frente popular tratou de desmoralizar o movimento de massas e cooptar suas direções em um processo de aberta corrupção material. Neste período, as categorias mais organizadas (bancários, petroleiros, metalúrgicos, professores, servidores federais) se limitaram a protagonizar greves economicistas e corporativas, sem eixos políticos de enfrentamento com o governo burguês petista, fiel aliado das oligarquias. As referências classistas foram quebradas e, aos poucos, a base social da frente popular foi se estendendo para a chamada “nova classe média” formada por microempreendedores e ex-assalariados que abriram seus próprios negócios. O crédito fácil ampliou imensamente esta influência da frente popular. Entretanto, esses setores despolitizados foram arrastados pela classe média tradicional que têm um claro eixo reacionário e fascistizante, adversária das mais elementares demandas democráticas do povo, já que seu objetivo é acumular capital e ascender socialmente. Em certa medida estamos vendo a afirmação de Trotsky de que a frente popular é a antessala do fascismo se confirmar mais uma vez. Não se trata “ainda” do fascismo tradicional, dos gorilas armados, mas da ideologia que permite tal fim, como vimos recentemente em Honduras e no Paraguay, além desta perspectiva avançar a passos largos na Venezuela. Por enquanto, o governo da frente popular é uma espécie de árbitro na América Latina destas tendências contrárias em choque. Pela sua orientação de classe, o PT é incapaz de enfrentar a direita de forma consequente, na verdade acaba por fortalecê-la ao esterilizar o movimento de massas e avançar no programa “neoliberal” de privatizações (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e petróleo). Desta forma, “cava sua própria cova” abrindo caminho para “alternativas” cada vez mais conservadoras.

Não podemos ficar inertes diante deste processo político. Devemos intervir nas lutas, radicalizando-as para através de sua politização se opor ao curso dramático da conjuntura. PSTU e PSOL desejam apenas construir um “terceiro campo” eleitoral para galgar alguns reduzidos postos parlamentares, se localizando sempre a reboque da direita, seja no episódio do Mensalão, seja na legislação da portabilidade dos mandatos/fundo partidário ou na defesa que fazem do STF. Não por acaso, sua frente eleitoral já trabalha em função do caminho que tomar Marina Silva. Como ficou demonstrado, a marcha do dia 24 de abril foi mais um capítulo do calendário de falsas mobilizações de massas que antecederão as campanhas salariais corporativas do segundo semestre. Logo depois, no ato de 1º de Maio na Praça da Sé, a Conlutas, Intersindical, PSTU, PCB e PSOL se restringiram a pedir ao governo Dilma para “mudar a política econômica”, transferindo a disputa que realmente lhe interessa para as eleições de 2014. No máximo, deseja usar as campanhas salariais do segundo semestre para desgastar eleitoralmente o governo do PT.

Desde a LBI fazemos o chamado por um encontro nacional da esquerda marxista e revolucionária para debater a construção de uma alternativa classista para as lutas e também para a propaganda leninista (utilizando inclusive a tribuna eleitoral da burguesia), porque compreendemos que esta iniciativa pode ser um embrião para se edificar um polo combativo para os embates concretos em curso, que sirva também como um espaço para discutir nossa posição político-eleitoral para a conjuntura. Denunciamos que, longe do lobby sobre o Congresso, como é a campanha pelo “Fora Feliciano” ou de alimentar o “terceiro campo” com Marina Silva, está colocado ao movimento de massas irromper nesta conjuntura apresentando uma alternativa independente, radicalmente oposta à da “moralização” das instituições apodrecidas deste regime da democracia dos ricos, de seu circo eleitoral e aos pedidos que o governo do capital financeiro e do agronegócio “mude de rumo”. A chave para a mudança qualitativa da situação política consiste na entrada em cena dos batalhões pesados do proletariado, empunhando bandeiras históricas da classe em sua ação direta nos grandes centros urbanos, nas concentrações fabris e ocupando os grandes latifúndios produtivos e as agroindústrias. Advertimos a vanguarda classista que o momento é da ação direta do proletariado, rejeitando toda forma de lobby sobre o governo da frente popular e instituições da república capitalista. Esta plataforma de combate radicalizado das massas deve ligar-se umbilicalmente à necessidade da publicidade socialista e revolucionária diante do debate eleitoral posto no cenário nacional.

Apesar de nossas modestas forças, convocamos publicamente todos os coletivos classistas, as correntes que se reivindicam da esquerda marxista e revolucionária assim como os ativistas combativos do movimento de massas a desenvolverem em frente única conosco em torno da organização de um encontro nacional com este objetivo. Como coroamento deste processo, defendemos o lançamento de uma anticandidatura da classe operária, a partir de uma ampla discussão programática com todas as forças genuinamente comunistas existentes em nosso país. Essa anticandidatura deve ser um ponto de apoio para as lutas e as greves em curso, se constituindo com um polo aglutinador dos lutadores da vanguarda classista que não se vergaram ao eleitoralismo e à política de colaboração de classes, sendo a personificação dos combates diretos dos trabalhadores do campo e da cidade. A convocação desse encontro nacional se reveste em um verdadeiro contraponto ao circo eleitoral, são exigências da própria luta de classes e se constituem como passos fundamentais para a superação do anarcossindicalismo de esquerda e da ausência de uma direção revolucionária no movimento operário e popular. A proposta que apresentamos fortalece a unidade política e programática entre agrupamentos que se reivindicam comunistas, sendo um elemento de atração de setores classistas, combativos e anticapitalistas do movimento operário que, neste momento, estão dispersamente se posicionando em oposição à frente popular, ao tucanato e ao “terceiro campo” formado por Marina, PSOL e PSTU.

LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA