O MST (ex-UIT) depois de considerar “superado” o Trotsquismo, rompe com Pino Solanas (“Proyecto SUR”) e agora tenta um acordo até com a FIT
O Movimento Socialista
dos Trabalhadores, MST, ex-seção argentina da UIT (CST no Brasil) acaba de
romper sua “experiência” com o movimento Projeto Sul-PS (Proyecto Sur), fundado
e dirigido pelo deputado cineasta Pino Solanas. O MST em meados de 2011
deliberou sua entrada no PS, um movimento político que se propunha a reeditar a
“Frente Grande”, uma aliança entre políticos nacionalistas burgueses (como
Solanas e Chacho Alvarez) que acabou convergindo com o Partido Radical na
eleição do presidente deposto De La Rua. Para ingressar no PS como corrente
interna, o MST abandonou seus vínculos internacionais com o Trotsquismo,
deixando inclusive de portar em seu periódico o símbolo da Quarta
Internacional. A passagem de mais de dois anos no interior do PS, rendeu ao MST
a eleição de um vereador na capital federal argentina, além de um completo
distanciamento do restante das correntes revisionistas que participam da FIT (Frente
de Izquierda y de los Trabajadores), que passaram a considerar a ex-seção da
UIT como parte orgânica de um partido burguês. Neste intervalo de tempo, o MST
estabeleceu profundos acordos com a reacionária oposição “Sojera”, declarando
seu ódio visceral a qualquer medida “progressiva” do governo Kirchner (referência
aos latifundiários da soja). Mas agora os ex-morenistas do MST foram obrigados
a deixar o PS em função do escandaloso acordo eleitoral firmado entre Solanas
(PS) e a ultradireitista Elisa Carrió da corrente ARI. Quase às vésperas das
eleições que renovarão uma parte do parlamento argentino , em outubro deste
ano, o MST “descobriu” que sua diluição no PS poderia os conduzir a estabelecer
uma frente com políticos que nem a maquiagem da “esquerda” burguesa possuem.
Posto que sua ação de romper com o acordo celebrado entre Pino e Carrió poderia
ser considerada muito “radical” pelos partidários do PS, o vereador do MST,
Alejandro Bodart, tratou logo de esclarecer que o “veto” do MST não se estendia
ao conjunto do ARI, mas somente à aliança estabelecida na capital portenha, já que
na província de Chubut estão constituindo o “FUS” onde integra o ARI. Neste
momento, o MST sem rumo programático procura desesperadamente novos parceiros
em Buenos Aires, atirando para todo lado, desde os ex-Maoistas do PTP, passando
pela UP do sindicalista Lozano do CTA e até os antigos “camaradas”
revisionistas da FIT, o importante mesmo... é não passar em branco nas eleições
burguesas...
Para não deixar nenhuma
margem de dúvidas acerca da desorientação oportunista do MST deixemos que eles
mesmos relatem em seu idioma original: “A partir de esa instancia, llamamos
también a otros espacios como ‘Buenos Aires Para Todos’, Marea Popular, el
Partido Social, el PCR-PTP, el FIT y demás fuerzas que quieran compartir un
rumbo unitario a construir un frente electoral que levante un proyecto
emancipatorio e integre sus listas con los mejores referentes de cada fuerza,
reflejando su peso real” (Resolução do congresso nacional do MST 11/05/13).
Nesta “lista” de possíveis aliados do MST, à exceção da FIT, todas as demais
correntes políticas pertencem diretamente ao campo do nacionalismo burguês de “direita”,
opositores ferrenhos do projeto "Nacional e Popular" dos Kirchner,
este é por sinal o único ponto de convergência no “balaio de gatos” sonhado
pelo MST. Como as eleições para a prefeitura da capital federal só se
realizarão em 2015, o MST tratou de deixar uma porta aberta para um possível
retorno ao PS, saudando como: “Muito importante nossa experiência no Movimento
Projeto Sul.” (informe de Bodart ao congresso do MST). Quando se perde as
referências teóricas e programáticas no marxismo revolucionário, e este é o caso
da tendência mais direitista que já pertenceu ao Morenismo, ocorre o fenômeno
político da desmoralização junto aos setores mais conscientes do proletariado,
restando recompor as “alianças” eleitorais no terreno da burguesia e de seus
representantes parlamentares mais demagógicos.
Parece que a maioria dos
integrantes da FIT (PO, IS e PTS), não se empolgaram muito com o aceno
eleitoral do MST, à exceção da IS que
comparte da mesma estratégia de aproximação aberta com a “Oposição Sojera”.
Nesta questão, os Altamiristas defendem um certo nível de “pudor” em declarar
seu apoio direto às mobilizações “populares” da direita contra o governo de CFK,
enquanto o PTS se mostra bem mais “crítico” em defender os reacionários “cacerolazos”
ocorridos nos últimos dois anos. Na realidade, a FIT é avessa a ampliar sua
margem de alianças, bem mais por problemas de disputa interna de aparato do que
por questões de afinidade programática. No momento, os três grupos fundadores
da FIT não conseguem sequer chegar a um consenso sobre a ordem na composição da
lista partidária que se apresentará nas eleições de outubro próximo. Diante do
impasse, Altamiristas e Morenistas resolveram dirimir as diferenças nas
primárias oficiais, impostas pela legislação draconiana vigente, ou seja, a FIT
ao invés de convocar uma conferência aberta do próprio movimento da esquerda
recorrerá a um instrumento legal repudiado por todos, o “PASO” (sigla das
primárias obrigatórias exigidas pela nova legislação). Este elemento por si só
já revela o grau de integração da FIT às instituições mais antidemocráticas do Estado
capitalista. Resolver divergências políticas do campo da esquerda, no balcão da
justiça eleitoral é próprio de quem já perdeu todas as referências de classe,
neste ponto FIT e o MST demonstram claramente que pertencem a mesma “família”
do revisionismo do Programa de Transição.
Mas se os blocos
eleitorais revisionistas demonstram absoluta indiferença no debate
programático, rebaixando o conjunto da esquerda ao mesmo nível do oportunismo
Morenista (muito preocupado com a indicação dos cargos), os Leninistas procuram
trilhar o caminho oposto. Mesmo sem a existência de um partido revolucionário
na Argentina, a última tentativa foi totalmente encerrada em 2003 com a
cooptação dos quadros dirigentes do PBCI para o aparelho Kirchnerista, a tarefa
que se impõe no país platino é o da recomposição programática dos setores
classistas do movimento operário, rumo a construção de uma ferramenta política
independente do nacionalismo burguês e das oligarquias reacionárias “opositoras”.
Neste sentido, superar a “tradição” Morenista, que parece ter “contaminado” o
conjunto do revisionismo argentino, incluindo seu pior detrator Jorge Altamira,
passa necessariamente pela vigorosa demarcação internacionalista com as
posições pró-imperialistas deste arco que em uníssono festejou a derrubada do “ditador”
Kadaffi pela poderosa aviação da OTAN e atualmente envida todos os esforços na
vitória da malfadada “revolução síria”.