Burguesia apoia a re-reeleição de Evo Morales... em retribuição governo ataca greve geral da COB
A greve geral na Bolívia
já ultrapassou 10 dias. Dirigida pela COB, a paralisação reivindica
aposentadoria integral para os mineiros, exigência negada pelo governo Evo
Morales. Nos piquetes, bloqueios de estradas e passeatas os manifestantes em
várias oportunidades estavam com dinamites e tentaram cercar o palácio
presidencial e o parlamento, mas foram reprimidos pela polícia antimotins que
os dispersou com bombas de gás lacrimogêneo. O governo da frente popular vem
atacando o protesto, acusando-o de estar a serviço da direita, porém, de fato,
quem estimula a reação fascista é Evo Morales. Tanto que os policiais estão
chantageando o governo, exigindo aumento salarial e outras vantagens para
seguir reprimindo os trabalhadores, enquanto o alto-comando das FFAA pressiona
para desferir um feroz ataque à greve geral da COB. Por sua vez, Evo acionou
sua base de apoio camponesa para hostilizar as manifestações dos mineiros,
operários fabris e professores, buscando dividir o movimento de massas. Esta
polarizada situação na Bolívia ocorre em meio à aprovação no parlamento da
possibilidade de re-reeleição de Evo em 2014, o que significa que o grosso da
burguesia aposta no “presidente-índio” para estabilizar a situação no
altiplano.
Nesta quarta-feira, 15
de Maio, a Câmara dos Deputados da Bolívia aprovou a norma que permite a Evo
Morales se candidatar a um terceiro mandato consecutivo. A proposta foi
aprovada com folga. Foram 84 votos a favor e 33 contra. A eleição presidencial
boliviana será realizada em dezembro do próximo ano. Em abril, o Tribunal
Constitucional da Bolívia já havia julgado a constitucionalidade do projeto e
entendeu que ele não desrespeita a Carta Magna do país. Segundo o tribunal, o
atual mandato de Evo Morales, iniciado em 2009, é o que deve ser considerado na
contagem de tempo. Esta decisão demonstra claramente que a burguesia se
unificou em torno de Evo ante a polarizada situação do país, depois do MAS ter
conseguido fechar um acordo com a oligarquia da chamada Meia Luna.
Para mostrar fidelidade
aos interesses capitalistas, o governo insiste que a proposta da COB de
aposentadorias mantendo 100% da renda para os mineiros e 80% para o restante
das atividades é tecnicamente insustentável e afetará a estabilidade do sistema
previdenciário boliviano em menos de dez anos, ou seja, o velho discurso
“neoliberal” da responsabilidade fiscal. Com a lei de Evo Morales, um mineiro
que hoje ganha 12.000 bolivianos, se aposentaria com 4000, e uma professora de
33 anos de aportes com 2500. A COB reivindica uma aposentadoria mínima de 8000
bolivianos para os mineiros e 5000 para o resto dos trabalhadores. Os militares
se aposentam com 100% de seu último salário, segundo um decreto da ditadura de
Banzer vigente no “Estado plurinacional”. Evo Morales, em um típico discurso de
direita, classificou a greve geral como uma “ação política” e convocou os
bolivianos a “defender a democracia, a defender o processo de mudanças, a se
organizar e a se mobilizar” em uma cantilena voltada claramente a centralizar a
classe dominante sob seu comando, além de estimular sua base social a atacar os
protestos. Em Potosí, sudoeste da Bolívia, grupos de camponeses seguidores de
Morales entraram em confronto com trabalhadores filiados à COB pelo controle de
uma estrada, em choques que deixaram pelo menos quatro feridos.
A radicalização é enorme
e a burocracia da COB não conseguiu ainda quebrar a paralisação. Mas, neste dia
16, a direção da central resolveu dar um freio à greve, suspendendo os
bloqueios de estradas. Em meio à greve, nos dias 24 e 25 de maio está previsto
para ocorrer em Oruro o segundo Congresso do Partido de Trabalhadores (PT)
nascido por iniciativa da burocracia sindical da COB em março. O MAS vinha
operando desde dentro da central operária para abortá-lo ou transformá-lo em um
instrumento dócil. Esta questão mantém toda sua vigência, já que a burocracia
da COB tem em geral uma atitude conciliadora com o governo. A luta de classes,
com o alinhamento de Evo com os principais setores da burguesia, empurrou
temporariamente a burocracia sindical “à esquerda”, agrupando em torno do PT
importante setores de vanguarda. A burocracia manobra para tentar transformar o
partido em base de manobra para disputar as eleições nacionais que acontecerão
no próximo ano, após terem sido relegados do MAS e ao crescente desgaste do
governo com os operários, principalmente os mineiros. Frente a esta realidade a
tarefa dos trotskistas é intervir no processo de formação do PT, denunciando os
limites impostos pela burocracia e apresentando um programa de transição
baseado nas melhores tradições operárias.
Desgraçadamente,
organizações trotskistas que se colocam no campo da oposição de classe ao
governo Evo, como o POR boliviano, que tiveram no passado um peso político e
social importante na luta do proletariado boliviano, mas foram castigadas
justamente por terem capitulado ao nacionalismo burguês e ao frente populismo,
hoje vegetam no messianismo e sequer intervêm no processo de formação do PT. A
construção de um genuíno partido revolucionário, bolchevique-leninista, baseado
na própria experiência do heroico proletariado boliviano e enraizado mas
massas, é o caminho para apresentar uma saída operária e socialista ao governo
de Evo Morales e ao avanço da direita arquirreacionária. Está colocado para os
setores classistas, combativos e radicalizados da Bolívia, se agrupar em
organismos de base, intersindicais e interbarriais, independente do governo e
das entidades que este controla, levantando o eixo da oposição operária e
revolucionária à frente popular, ao mesmo tempo em que se organizam para
enfrentar, via comitês de autodefesa, os bandos fascistas patrocinados pelas
oligarquias reacionárias e seus “comitês cívicos”. Esse combate deve ter como
palco a luta direta das massas e também na própria COB, instrumento unitário de
luta que precisa entrar em cena de forma mais decidida para opor-se ao processo
de domesticação que o MAS impõe ao movimento operário e camponês. Por esta via,
certamente se acelerará a experiência das massas, o que reduzirá em muito a
margem das manobras burocráticas e distracionistas da burocracia governista.
Nesse combate, os mineiros e o proletariado industrial devem acaudilhar o
conjunto dos oprimidos na luta estratégica pelo governo operário e camponês,
expressão da superação política da frente popular e da expropriação da
burguesia.