segunda-feira, 20 de maio de 2013


Serra decide ficar no PSDB e de “quebra” desmonta a candidatura de Eduardo Campos

Contrariando os prognósticos (inclusive o nosso) o mais improvável politicamente aconteceu e José Serra compareceu à convenção nacional do PSDB no último dia 18/05, que praticamente selou a candidatura de Aécio Neves à presidência da república. Serra acabou cedendo às pressões da alta cúpula Tucana e aceitou o “quinhão” da direção do PSDB cedido a seu grupo político. Em um discurso pré-elaborado, um constrangido Serra afirmava que marcharia unido com o partido em 2014, embora sem citar o nome de seu rival interno, Aécio empossado na direção máxima do PSDB. Mas, coube ao braço direito do ex-governador, Aloysio Nunes líder dos Tucanos no Senado, a missão de coroar a decolada de Aécio rumo ao Palácio do Planalto. Para não deixar dúvidas de suas intenções de permanecer no PSDB, pelo menos até as próximas eleições, Serra levou até a convenção Tucana dois importantes “avalistas”, trata-se das figuras de Roberto Freire (Mobilização Democrática, seu atual office boy) e o senador Agripino Maia (presidente do DEM). O deputado pernambucano eleito em 2010 por São Paulo, Roberto Freire, se lançou recentemente na empreitada de fundir seu PPS com o PMN, para pavimentar a saída de Serra do PSDB e azeitar a candidatura do governador “socialista” Eduardo Campos. O debutante MD que jurava fidelidade a Campos poderá nem ser oficializado (falta a finalização dos trâmites no TSE), já que Freire na convenção Tucana declarou apoio integral do PPS às pretensões de Aécio derrotar nas próximas eleições Dilma e o PT. O senador Potiguar também enveredou na mesma direção e retirou a mão estendida do DEM à possível candidatura do PSB ao Planalto. A brusca inflexão de Serra surpreendeu até mesmo aos seus mais próximos interlocutores, que apostavam, no mínimo, no seu não comparecimento à convenção Tucana. Mas ao que tudo indica pesou o fato da cúpula do PSDB não ter conseguido chegar a um acordo de como “repartir” o “caixa 2” do partido, sob controle de Serra. Sob pressões e ameaças, o “capo” ideológico da privataria na era FHC, não conseguiu migrar parte das contas ilegais (situadas em paraísos fiscais) do PSDB para o MD, inviabilizando assim a legenda nanica impulsionada pelo PPS. Desta forma, ou seja, sem “grana pesada”, não se sustenta um projeto Serrista por fora do ninho Tucano e tampouco terá capacidade de atrair gente tão “honesta e principista” como os colegas da oposição conservadora do DEM. Obviamente, que a mídia “murdochiana” atribuiu o recuo político de Serra ao projeto governista que limita o horário eleitoral gratuito dos novos partidos (caso aprovada a nova lei o MD perderia pouco tempo de propaganda gratuita), nada mais falso para um “cacique” antipatizado pelas massas, que sabe que quanto menor sua exposição na TV menos perde votos. A cartada final de Aécio, para “consagrar” a unidade partidária do fragilizado PSDB parece mesmo ter sido a oferta de ceder a indicação de vice em sua chapa ao Planalto a um nome apontado pelo grupo de Serra, que inicialmente pretendia sem obter sucesso ter seu nome chancelado para a sucessão do Palácio dos Bandeirantes.

Mas se nas hostes Tucanas não podemos falar de “grandes derrotados” após a convenção nacional, o mesmo não se pode dizer do “campo(s)socialista”. O “dia do fico” de “Dom” Serra causou estragos irreversíveis à postulação de Eduardo Campos, que agora fica sem nenhum arco de aliança para a disputa em 2014. O MD que estava sendo “fabricado” sob encomenda para o voo presidencial do governador pernambucano, acabou de entrar em pane e o motivo bem simples: o financiador do “projeto”, José Serra, desistiu da aventura política. Outro possível aliado do PSB na corrida presidencial, o DEM, retorna ao leito natural do rio Tucano, após a “pacificação” diplomática selada entre Serra e Aécio Neves. Campos que já vinha enfrentando grandes dificuldades no interior do PSB para bancar seu “sonho de poder”, agora de uma tacada só perde seus dois únicos partidos coligáveis (MD e DEM), fornecendo o argumento determinante para a oligarquia Ferreira Gomes detonarem sua aspiração presidencial. Na base de apoio a Dilma, não há um único partido que tenha se animado com as ameaças de rompimento do PSB, ao contrario abriram “fogo cerrado” contra Campos quando este declinou seus novos “companheiros” da oposição conservadora e reacionária. Agora só resta a Eduardo Campos uma retirada “honrosa” do cenário eleitoral e “lamber as feridas” políticas causadas pelo erro de avaliação da conjuntura, que podem não cicatrizar até 2018, onde provavelmente seria “convidado” para encabeçar a Frente Popular.

Outra candidatura afetada diretamente com a decretação da “pax Tucana” foi a da ex-senadora Marina Silva do REDE. Ainda é cedo para aferir o “tamanho do estrago” causado para as legendas menores de “oposição” após o fortalecimento conjuntural do PSDB, que emerge como o principal adversário de Dilma em 2014. O REDE ainda não obteve seu registro eleitoral, mas já sabe que mesmo na possibilidade de êxito legal junto ao TSE disporá de pouquíssimo tempo de propaganda gratuita na TV. Neste quadro, sem a possibilidade de acordos pontuais com o MD ou o PSB, o REDE (caso venha  mesmo a disputar o Planalto) será forçado a buscar suas alianças com a chamada “ oposição de esquerda”, o que lhe garantiria logo de cara somar o tempo de mais três partidos já constituídos (PSOL, PSTU e PCB). A costura deste “terceiro campo”, ardentemente defendida pelo PSTU, garantiria se não a eleição de Marina, mas a conquista de uma “representativa” bancada parlamentar nacional. É certo que neste novo bloco em gestação existem áreas de atrito regional, principalmente entre o PSOL carioca e o REDE de Alfredo Sirkis, mas nada que não se possa superar entre correntes políticas sem princípios ou vínculos programáticos e históricos com a classe operária. O REDE de Marina e agregados é patrocinado diretamente pelo capital financeiro internacional, sob a máscara da “eco-sustentabilidade” e o PSOL (principal partido da “oposição de esquerda”) configura-se como um agrupamento de pequeno burgueses carreiristas, parasitas do parlamento e do Estado capitalista. Em um cenário nacional (político e econômico) totalmente favorável à continuidade do governo neoliberal petista, as oposições consentidas (à esquerda e à direita) buscam mesmo é a consolidação de “espaços” no interior das instituições republicanas, para darem prosseguimento à realização de seus “negócios”, tendo como legitimo “fiador” o botim estatal.

Atravessando uma correlação de forças totalmente desfavorável, os marxistas revolucionários tem plena consciência do que realmente está em jogo nesta disputa interburguesa. Mas nem por isso devem se abster de apresentar seu projeto histórico, se não ao conjunto do proletariado, mas ao menos à sua vanguarda mais destacada. Sempre focando na ação direta da classe operária, os comunistas devem denunciar vigorosamente todas as formas de distracionismo político, como esta que ocorre com a antecipação do debate eleitoral da sucessão presidencial de 2014. Ao mesmo tempo em que apontamos o caminho da mobilização permanente dos explorados como a única vereda das conquistas sociais, não podemos permitir que a panaceia eleitoral dos conservadores, reformistas e afins revisionistas embotem impunemente a consciência do proletariado sem a contrapublicidade leninista. Por isso, lançamos o chamado de emergência para a realização de uma conferência nacional da esquerda revolucionária, que possa debater democraticamente (com todas as divergências e convergências) a construção de uma alternativa programática e classista para as lutas concretas de nossa classe que emergem em pleno curso dos acontecimentos e terminam sem nenhum horizonte estratégico.