Serra decide ficar no PSDB e de “quebra” desmonta a candidatura de Eduardo Campos
Contrariando os
prognósticos (inclusive o nosso) o mais improvável politicamente aconteceu e
José Serra compareceu à convenção nacional do PSDB no último dia 18/05, que
praticamente selou a candidatura de Aécio Neves à presidência da república. Serra
acabou cedendo às pressões da alta cúpula Tucana e aceitou o “quinhão” da
direção do PSDB cedido a seu grupo político. Em um discurso pré-elaborado, um
constrangido Serra afirmava que marcharia unido com o partido em 2014, embora
sem citar o nome de seu rival interno, Aécio empossado na direção máxima do
PSDB. Mas, coube ao braço direito do ex-governador, Aloysio Nunes líder dos
Tucanos no Senado, a missão de coroar a decolada de Aécio rumo ao Palácio do
Planalto. Para não deixar dúvidas de suas intenções de permanecer no PSDB, pelo
menos até as próximas eleições, Serra levou até a convenção Tucana dois
importantes “avalistas”, trata-se das figuras de Roberto Freire (Mobilização
Democrática, seu atual office boy) e o senador Agripino Maia (presidente do
DEM). O deputado pernambucano eleito em 2010 por São Paulo, Roberto Freire, se
lançou recentemente na empreitada de fundir seu PPS com o PMN, para pavimentar
a saída de Serra do PSDB e azeitar a candidatura do governador “socialista”
Eduardo Campos. O debutante MD que jurava fidelidade a Campos poderá nem ser
oficializado (falta a finalização dos trâmites no TSE), já que Freire na
convenção Tucana declarou apoio integral do PPS às pretensões de Aécio derrotar
nas próximas eleições Dilma e o PT. O senador Potiguar também enveredou na
mesma direção e retirou a mão estendida do DEM à possível candidatura do PSB ao
Planalto. A brusca inflexão de Serra surpreendeu até mesmo aos seus mais
próximos interlocutores, que apostavam, no mínimo, no seu não comparecimento à
convenção Tucana. Mas ao que tudo indica pesou o fato da cúpula do PSDB não ter
conseguido chegar a um acordo de como “repartir” o “caixa 2” do partido, sob
controle de Serra. Sob pressões e ameaças, o “capo” ideológico da privataria na
era FHC, não conseguiu migrar parte das contas ilegais (situadas em paraísos
fiscais) do PSDB para o MD, inviabilizando assim a legenda nanica impulsionada
pelo PPS. Desta forma, ou seja, sem “grana pesada”, não se sustenta um projeto
Serrista por fora do ninho Tucano e tampouco terá capacidade de atrair gente
tão “honesta e principista” como os colegas da oposição conservadora do DEM.
Obviamente, que a mídia “murdochiana” atribuiu o recuo político de Serra ao
projeto governista que limita o horário eleitoral gratuito dos novos partidos (caso
aprovada a nova lei o MD perderia pouco tempo de propaganda gratuita), nada
mais falso para um “cacique” antipatizado pelas massas, que sabe que quanto
menor sua exposição na TV menos perde votos. A cartada final de Aécio, para “consagrar”
a unidade partidária do fragilizado PSDB parece mesmo ter sido a oferta de
ceder a indicação de vice em sua chapa ao Planalto a um nome apontado pelo
grupo de Serra, que inicialmente pretendia sem obter sucesso ter seu nome
chancelado para a sucessão do Palácio dos Bandeirantes.
Mas se nas hostes
Tucanas não podemos falar de “grandes derrotados” após a convenção nacional, o
mesmo não se pode dizer do “campo(s)socialista”. O “dia do fico” de “Dom” Serra
causou estragos irreversíveis à postulação de Eduardo Campos, que agora fica
sem nenhum arco de aliança para a disputa em 2014. O MD que estava sendo “fabricado”
sob encomenda para o voo presidencial do governador pernambucano, acabou de
entrar em pane e o motivo bem simples: o financiador do “projeto”, José Serra,
desistiu da aventura política. Outro possível aliado do PSB na corrida
presidencial, o DEM, retorna ao leito natural do rio Tucano, após a “pacificação”
diplomática selada entre Serra e Aécio Neves. Campos que já vinha enfrentando
grandes dificuldades no interior do PSB para bancar seu “sonho de poder”, agora
de uma tacada só perde seus dois únicos partidos coligáveis (MD e DEM),
fornecendo o argumento determinante para a oligarquia Ferreira Gomes detonarem
sua aspiração presidencial. Na base de apoio a Dilma, não há um único partido
que tenha se animado com as ameaças de rompimento do PSB, ao contrario abriram “fogo
cerrado” contra Campos quando este declinou seus novos “companheiros” da
oposição conservadora e reacionária. Agora só resta a Eduardo Campos uma
retirada “honrosa” do cenário eleitoral e “lamber as feridas” políticas
causadas pelo erro de avaliação da conjuntura, que podem não cicatrizar até
2018, onde provavelmente seria “convidado” para encabeçar a Frente Popular.
Outra candidatura
afetada diretamente com a decretação da “pax Tucana” foi a da ex-senadora
Marina Silva do REDE. Ainda é cedo para aferir o “tamanho do estrago” causado
para as legendas menores de “oposição” após o fortalecimento conjuntural do
PSDB, que emerge como o principal adversário de Dilma em 2014. O REDE ainda não
obteve seu registro eleitoral, mas já sabe que mesmo na possibilidade de êxito
legal junto ao TSE disporá de pouquíssimo tempo de propaganda gratuita na TV.
Neste quadro, sem a possibilidade de acordos pontuais com o MD ou o PSB, o REDE
(caso venha mesmo a disputar o Planalto)
será forçado a buscar suas alianças com a chamada “ oposição de esquerda”, o
que lhe garantiria logo de cara somar o tempo de mais três partidos já
constituídos (PSOL, PSTU e PCB). A costura deste “terceiro campo”, ardentemente
defendida pelo PSTU, garantiria se não a eleição de Marina, mas a conquista de
uma “representativa” bancada parlamentar nacional. É certo que neste novo bloco
em gestação existem áreas de atrito regional, principalmente entre o PSOL
carioca e o REDE de Alfredo Sirkis, mas nada que não se possa superar entre
correntes políticas sem princípios ou vínculos programáticos e históricos com a
classe operária. O REDE de Marina e agregados é patrocinado diretamente pelo
capital financeiro internacional, sob a máscara da “eco-sustentabilidade” e o
PSOL (principal partido da “oposição de esquerda”) configura-se como um
agrupamento de pequeno burgueses carreiristas, parasitas do parlamento e do Estado
capitalista. Em um cenário nacional (político e econômico) totalmente favorável
à continuidade do governo neoliberal petista, as oposições consentidas (à
esquerda e à direita) buscam mesmo é a consolidação de “espaços” no interior
das instituições republicanas, para darem prosseguimento à realização de seus “negócios”,
tendo como legitimo “fiador” o botim estatal.
Atravessando uma
correlação de forças totalmente desfavorável, os marxistas revolucionários tem
plena consciência do que realmente está em jogo nesta disputa interburguesa.
Mas nem por isso devem se abster de apresentar seu projeto histórico, se não ao
conjunto do proletariado, mas ao menos à sua vanguarda mais destacada. Sempre
focando na ação direta da classe operária, os comunistas devem denunciar
vigorosamente todas as formas de distracionismo político, como esta que ocorre
com a antecipação do debate eleitoral da sucessão presidencial de 2014. Ao
mesmo tempo em que apontamos o caminho da mobilização permanente dos explorados
como a única vereda das conquistas sociais, não podemos permitir que a panaceia
eleitoral dos conservadores, reformistas e afins revisionistas embotem
impunemente a consciência do proletariado sem a contrapublicidade leninista.
Por isso, lançamos o chamado de emergência para a realização de uma conferência
nacional da esquerda revolucionária, que possa debater democraticamente (com
todas as divergências e convergências) a construção de uma alternativa
programática e classista para as lutas concretas de nossa classe que emergem em
pleno curso dos acontecimentos e terminam sem nenhum horizonte estratégico.