terça-feira, 21 de maio de 2013


A Boataria da Tucanalha e o conto Petista da “transferência de renda”

Logo após o término da convenção nacional do PSDB no último sábado um boato cruzou o país como um verdadeiro rastilho de pólvora, as chamadas redes sociais obviamente não trataram da “unção” recebida pelo senador Aécio Neves em sua “santa” caminhada até o Palácio do Planalto, mas sim de uma suposta interrupção no programa “Bolsa Família” do governo federal. Imediatamente, as agências da Caixa Econômica de todo o Brasil foram tomadas por milhares de pessoas assistidas pelo “BF” que procuravam sacar o saldo restante em suas contas abertas pelo programa. Mesmo após o desmentido do governo a Caixa registrou quase um milhão de saques (somando cerca de mais de 150 milhões de Reais), o que indica a presença de quase três milhões de cidadãos tentando, com sucesso ou não, resgatar algum dinheiro de suas contas. Além do boato sobre o término do “BF”, também circularam outros rumores sobre um bônus extra dado por Dilma em razão do dia das mães que ocorreu no domingo retrasado. Os boatos tinham como objetivo criar um clima de pânico nos extratos mais carentes da população, que em sua grande maioria não dependem exclusivamente do chamado programa de “transferência de renda” do governo, mas sobretudo desmoralizar a figura política da presidente Dilma em um cenário nacional eminentemente eleitoral, apesar de estarmos a quase dois anos da sucessão presidencial. Não se trata de uma mera coincidência os boatos terem sidos deflagrados no exato momento que a Tucanalha dava uma (rara) demonstração de força, unificando as lideranças do partido em torno do nome do “mineirinho playboy”. A utilização do “terrorismo” eleitoral não é propriamente uma novidade em nosso país, sempre que as elites dominantes se sentem encurraladas por adversários políticos com algum nível de atrito com seus interesses de classe, lançam mão dos expedientes mais sórdidos para derrotá-los. Foi assim com Brizola em 82 na eleição para o governo do Rio, se repetindo com mais intensidade com Lula em 89 na eleição presidencial, onde foi acusado de “assassino” e “sequestrador”. Agora o desespero das forças reacionárias se concentra na possibilidade de não haver um segundo turno para o Planalto em 2014, configurando uma decadência quase irreversível para o PSDB, “unificado” artificialmente sob o medo do desastre eleitoral completo. A burguesia nacional aposta na reeleição do PT (no mesmo pacote de 2010), mas nem de longe pretende desmoralizar seus partidos mais fiéis e tradicionais, como o PSDB e DEM. Por isso mesmo, agora busca meios menos visados (a Globo já anda bastante queimada) para difundir o medo entre a população “periférica”, que vem seguindo eleitoralmente o PT nas últimas eleições. O instrumento das redes sociais na internet, ponteada com seu “Face”, parece que foi concebido pelo imperialismo na medida certa para manipular a informação nos setores menos conscientes e mais despolitizados do proletariado e camadas populares, em 2014 será com certeza a “avant premiere” deste novo engodo eletrônico.

A boataria sobre o fim “BF” tocou em um ponto nevrálgico para o governo da Frente Popular, que acionou imediatamente vários ministros para desmentir a patifaria da Tucanalha. A ministra dos direitos humanos, Maria do Rosário, chegou a acusar a oposição pela boataria, mas logo foi “enquadrada” por Dilma, temerosa de alimentar o debate na mídia sobre um tema que é a “vitrine” de seu governo. Na verdade não é do PT a paternidade dos programas estatais de “transferência de renda”, já no governo FHC estes “equipamentos sociais” ganharam atenção especial com o lançamento da “Comunidade Solidária” organizada pela “primeira dama” Ruth Cardoso. Na época, os Tucanos impulsionaram com bastante destaque os programas “Bolsa Escola” e “Bolsa Alimentação”, depois unificados por Lula no “Bolsa Família”. Portanto, não foram os “intelectuais” do PT que tiveram a “genial” ideia de criar o “Welfare State” tupiniquim. A real diferença entre Tucanos e Petistas acerca da adoção das “políticas Keynesianas” de governo reside no fato da economia do país ter se deslocado da estagnação financeira dos centros imperialistas na gestão petista. Este elemento permitiu um investimento estatal bem maior nos chamados programas sociais de transferência de renda (praticamente três vezes maior do que a “Era FHC”), diferencial que a Frente Popular tratou de capitalizar como sendo a “paladina” da eliminação da fome e miséria no “terceiro mundo”.

Além do mito da eliminação da fome e miséria no Brasil, o PT criou outros acerca de sua capacidade de “empurrar” a burguesia nacional para a conquista de novos mercados, descolando o país do eixo econômico norte-americano, mas o que ocorreu foi justamente o contrário. Foi a burguesia que se utilizou do modelo “gerencial” de colaboração de classes do PT para estabilizar internamente o país e, desta forma, buscar novos mercados para fugir do crash financeiro internacional. Com um “pacto social” implícito firmado pelas organizações sindicais “chapa branca”, a classe dominante nativa obteve a “tranquilidade” necessária para estabelecer novos acordos comerciais, fundamentalmente com o bloco Chinês, hoje nosso principal parceiro econômico. Como as previsões catastrofistas (principalmente formuladas pela esquerda revisionista) não se realizaram em nenhuma área econômica, o Brazil mesmo com um crescimento funesto do PIB, pôde realizar uma política de potenciar seu mercado interno, baseado em uma forte injeção de crédito internacional. Este mecanismo é, na verdade, a essência do chamado “milagre econômico” petista, que longe de transferir qualquer renda ou patrimônio da burguesia para o proletariado, aqueceu fortemente o consumo colocando no mercado mais de trinta milhões de brasileiros. O “BF” é, portanto, apenas um apêndice complementar desta nova realidade social que atravessa o país.

A verdadeira transferência histórica dos meios de produção e troca, hoje sob controle da burguesia e seu Estado capitalista, só poderá ocorrer pela via da revolução socialista, a única senda das massas proletárias para a eliminação definitiva da miséria e enorme desigualdade social existente em nosso país semicolonial. A propaganda oficial que afirma que estamos muito próximos de eliminar a fome, não passa de mais uma cínica enganação deste governo da Frente Popular, não resistindo a uma simples jornada de observação pelo país. Tucanos e Petistas, a seu turno, são apenas gerentes de um Estado completamente subordinado ao capital financeiro, indutor de uma pífia “assistência social” que trata apenas de amortizar a luta de classes. Em um regime capitalista periférico, dependente do fluxo de investimentos internacionais e carente de qualquer traço de soberania nacional, somente a instauração de um governo revolucionário será capaz de alterar drasticamente os vergonhosos indicadores sociais de pobreza e barbárie que hoje infelicitam nosso povo.