A Boataria da Tucanalha e o conto Petista da “transferência de renda”
Logo após o término da
convenção nacional do PSDB no último sábado um boato cruzou o país como um
verdadeiro rastilho de pólvora, as chamadas redes sociais obviamente não
trataram da “unção” recebida pelo senador Aécio Neves em sua “santa” caminhada
até o Palácio do Planalto, mas sim de uma suposta interrupção no programa “Bolsa
Família” do governo federal. Imediatamente, as agências da Caixa Econômica de
todo o Brasil foram tomadas por milhares de pessoas assistidas pelo “BF” que
procuravam sacar o saldo restante em suas contas abertas pelo programa. Mesmo
após o desmentido do governo a Caixa registrou quase um milhão de saques (somando
cerca de mais de 150 milhões de Reais), o que indica a presença de quase três
milhões de cidadãos tentando, com sucesso ou não, resgatar algum dinheiro de
suas contas. Além do boato sobre o término do “BF”, também circularam outros
rumores sobre um bônus extra dado por Dilma em razão do dia das mães que
ocorreu no domingo retrasado. Os boatos tinham como objetivo criar um clima de
pânico nos extratos mais carentes da população, que em sua grande maioria não
dependem exclusivamente do chamado programa de “transferência de renda” do
governo, mas sobretudo desmoralizar a figura política da presidente Dilma em um
cenário nacional eminentemente eleitoral, apesar de estarmos a quase dois anos
da sucessão presidencial. Não se trata de uma mera coincidência os boatos terem
sidos deflagrados no exato momento que a Tucanalha dava uma (rara) demonstração
de força, unificando as lideranças do partido em torno do nome do “mineirinho
playboy”. A utilização do “terrorismo” eleitoral não é propriamente uma
novidade em nosso país, sempre que as elites dominantes se sentem encurraladas
por adversários políticos com algum nível de atrito com seus interesses de
classe, lançam mão dos expedientes mais sórdidos para derrotá-los. Foi assim
com Brizola em 82 na eleição para o governo do Rio, se repetindo com mais
intensidade com Lula em 89 na eleição presidencial, onde foi acusado de “assassino”
e “sequestrador”. Agora o desespero das forças reacionárias se concentra na
possibilidade de não haver um segundo turno para o Planalto em 2014,
configurando uma decadência quase irreversível para o PSDB, “unificado”
artificialmente sob o medo do desastre eleitoral completo. A burguesia nacional
aposta na reeleição do PT (no mesmo pacote de 2010), mas nem de longe pretende
desmoralizar seus partidos mais fiéis e tradicionais, como o PSDB e DEM. Por
isso mesmo, agora busca meios menos visados (a Globo já anda bastante queimada)
para difundir o medo entre a população “periférica”, que vem seguindo
eleitoralmente o PT nas últimas eleições. O instrumento das redes sociais na
internet, ponteada com seu “Face”, parece que foi concebido pelo imperialismo
na medida certa para manipular a informação nos setores menos conscientes e
mais despolitizados do proletariado e camadas populares, em 2014 será com
certeza a “avant premiere” deste novo engodo eletrônico.
A boataria sobre o fim “BF”
tocou em um ponto nevrálgico para o governo da Frente Popular, que acionou
imediatamente vários ministros para desmentir a patifaria da Tucanalha. A
ministra dos direitos humanos, Maria do Rosário, chegou a acusar a oposição
pela boataria, mas logo foi “enquadrada” por Dilma, temerosa de alimentar o
debate na mídia sobre um tema que é a “vitrine” de seu governo. Na verdade não
é do PT a paternidade dos programas estatais de “transferência de renda”, já no
governo FHC estes “equipamentos sociais” ganharam atenção especial com o
lançamento da “Comunidade Solidária” organizada pela “primeira dama” Ruth
Cardoso. Na época, os Tucanos impulsionaram com bastante destaque os programas “Bolsa
Escola” e “Bolsa Alimentação”, depois unificados por Lula no “Bolsa Família”.
Portanto, não foram os “intelectuais” do PT que tiveram a “genial” ideia de
criar o “Welfare State” tupiniquim. A real diferença entre Tucanos e Petistas
acerca da adoção das “políticas Keynesianas” de governo reside no fato da
economia do país ter se deslocado da estagnação financeira dos centros
imperialistas na gestão petista. Este elemento permitiu um investimento estatal
bem maior nos chamados programas sociais de transferência de renda (praticamente
três vezes maior do que a “Era FHC”), diferencial que a Frente Popular tratou
de capitalizar como sendo a “paladina” da eliminação da fome e miséria no “terceiro
mundo”.
Além do mito da
eliminação da fome e miséria no Brasil, o PT criou outros acerca de sua
capacidade de “empurrar” a burguesia nacional para a conquista de novos
mercados, descolando o país do eixo econômico norte-americano, mas o que
ocorreu foi justamente o contrário. Foi a burguesia que se utilizou do modelo “gerencial”
de colaboração de classes do PT para estabilizar internamente o país e, desta
forma, buscar novos mercados para fugir do crash financeiro internacional. Com
um “pacto social” implícito firmado pelas organizações sindicais “chapa branca”,
a classe dominante nativa obteve a “tranquilidade” necessária para estabelecer
novos acordos comerciais, fundamentalmente com o bloco Chinês, hoje nosso principal
parceiro econômico. Como as previsões catastrofistas (principalmente formuladas
pela esquerda revisionista) não se realizaram em nenhuma área econômica, o
Brazil mesmo com um crescimento funesto do PIB, pôde realizar uma política de
potenciar seu mercado interno, baseado em uma forte injeção de crédito
internacional. Este mecanismo é, na verdade, a essência do chamado “milagre
econômico” petista, que longe de transferir qualquer renda ou patrimônio da
burguesia para o proletariado, aqueceu fortemente o consumo colocando no
mercado mais de trinta milhões de brasileiros. O “BF” é, portanto, apenas um
apêndice complementar desta nova realidade social que atravessa o país.
A verdadeira
transferência histórica dos meios de produção e troca, hoje sob controle da
burguesia e seu Estado capitalista, só poderá ocorrer pela via da revolução
socialista, a única senda das massas proletárias para a eliminação definitiva
da miséria e enorme desigualdade social existente em nosso país semicolonial. A
propaganda oficial que afirma que estamos muito próximos de eliminar a fome,
não passa de mais uma cínica enganação deste governo da Frente Popular, não
resistindo a uma simples jornada de observação pelo país. Tucanos e Petistas, a
seu turno, são apenas gerentes de um Estado completamente subordinado ao
capital financeiro, indutor de uma pífia “assistência social” que trata apenas
de amortizar a luta de classes. Em um regime capitalista periférico, dependente
do fluxo de investimentos internacionais e carente de qualquer traço de
soberania nacional, somente a instauração de um governo revolucionário será
capaz de alterar drasticamente os vergonhosos indicadores sociais de pobreza e
barbárie que hoje infelicitam nosso povo.