domingo, 27 de setembro de 2020

CONFLITO DE NAGORNO-KARABAKH: OTAN ESTIMULA AGRESSÃO MILITAR DO AZERBAIJÃO CONTRA A ARMÊNIA PARA TENSIONAR AS RELAÇÕES COM A RÚSSIA NO CÁUCASO

Ganhou as manchetes mundiais o conflito de Nagorno-Karabakh na fronteira entre as ex-repúblicas soviéticas da Armênia e Azerbaijão. As forças armênias derrubaram dois helicópteros e três drones do Azerbaijão na zona de conflito após a agressão em sua fronteira. O Exército do Azerbaijão, por sua vez, anunciou uma contraofensiva “em toda a linha de frente”, com o apoio de carros de combate, forças de artilharia, mísseis, aviões e drones. A primeira Guerra de Nagorno-Karabakh ocorreu entre 1988 e 1994, no primeiro momento entre as repúblicas soviéticas da Armênia e do Azerbaijão e, com as respectivas independências, em 1991 como subproduto da restauração capitalista na URSS, o conflito continuou e tomou maiores proporções. Em decorrência da importância geopolítica da região, as potências capitalistas passaram a influenciar no conflito que não foi resolvido até o momento, o que lhe dá um status de “nem guerra, nem paz”, com um cessar-fogo costurado pela Rússia que não gerou o fim das hostilidades na medida que o Azerbaijão vem se aliando as forças imperialistas e a OTAN contra a influência da Rússia na região caucasiana. 

No Azerbaijão dos dias de hoje, um consórcio das grandes transnacionais petrolíferas (por sinal liderado pela BP) controla a fatia maior do petróleo azeri, “reavendo” assim o domínio que até à instauração definitiva do poder soviético em Baku, em 1920, foi exercido pela Inglaterra. É daqui que parte o dispendioso pipeline, em fase de construção, para escoamento do petróleo do Cáspio diretamente para o mediterrâneo turco, através da Geórgia, um projeto auspiciado pelos EUA e concebido à medida dos seus interesses com o suporte militar da OTAN que tem soldados na região.

A Rússia tem acordos juridicamente vinculativos de defesa mútua estão, em primeiro lugar, os membros da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), uma aliança intergovernamental criada em 1992 reunindo atualmente seis ex-repúblicas soviéticas: além da Rússia, integram também Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguizistão e Tadjiquistão. Por isso Putin considerou "inaceitável qualquer nova escalada que ameace a segurança regional" no Cáucaso e pediu aos beligerantes "contenção", segundo o Ministério das Relações Exteriores russo. Uma reunião da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, um bloco liderado pela Rússia e ao qual a Armênia faz parte, deve discutir nesta segunda a retomada da violência entre os dois países em conflito há décadas. Chefes de governos dos dois países trocaram acusações sobre quem teria iniciado as hostilidades na região. A presidência do Azerbaijão acusou a Armênia de querer envolver no conflito a aliança político-militar liderada pelos russos.

Uma guerra aberta entre o Azerbaijão e a Armênia poderia desestabilizar toda a região do Cáucaso, onde a Rússia e a Turquia, em particular, têm interesses geo-estratégicos concorrentes. Armênia e Azerbaijão estão em conflito desde o início dos anos 1990 pelo controle de Nagorno-Karabakh, também conhecido como Artsakh. O território é um enclave de maioria armênia no Azerbaijão. Nagorno-Karabakh proclamou unilateralmente sua independência em 1991, com o apoio da Armênia, iniciando uma guerra com o Azerbaijão que matou cerca de 30 mil pessoas até um cessar-fogo em 1994.

Os efeitos da decomposição social decorrentes do processo de restauração capitalista na Rússia, combinados com fatores de ordem étnica e nacional, que não podem ser desligados do quadro geral da ofensiva imperialista no mundo e em particular no espaço da ex-URSS, assumem na região caucásica um carácter explosivo. São processos que não se confinam às fronteiras russas, abarcando toda a região, embora sujeitos à ação de forças externas de sentido oposto. Trata-se da política adotada pelo imperialismo na região: nas repúblicas do Cáucaso, a estratégia dos EUA (com o apoio da UE, a OTAN e, inclusive, da própria OSCE) propicia e explora as linhas de ação centrífuga e tendências de carácter desagregador, contribuindo para o enfraquecimento da Federação Russa.

O Cáucaso inclui as Repúblicas e regiões do Cáucaso do Norte que integram a atual Federação Russa, e os países da Transcaucásia: Azerbaijão, Armênia e Geórgia. A cadeia de montanhas que se estende entre o mar Negro e o mar Cáspio constitui um intricado mosaico de povos, etnias, culturas e religiões, e por isso um terreno propenso a antagonismos e disputas. Sendo uma região historicamente atrasada, possui contudo um valor estratégico privilegiado como via de acesso às riquezas de petróleo e gás do Cáspio, e devido à sua localização geográfica no eixo da placa euro-asiática. O que explica o interesse, já de longa data, das potências imperialistas.

A região caucásica foi palco dum dos principais conflitos inter-étnicos que influenciou o desmembramento da URSS – a guerra do Nagorno-Karabakh entre a Armênia e o Azerbaijão – que até agora se encontrava em estado latente mas voltou a um conflito bélico aberto. No entanto, alguns dos conflitos que explodiram em consequência do colapso da URSS, encontram-se ali no estádio ativo ou em convulsão intermitente. São os casos dos conflitos “separatistas” da Abkházia e da Ossétia do Sul na Geórgia – que em muito se constituíram em resultado do radicalismo nacionalista georgiano – ou da paradigmática guerra da Chechênia, na Rússia. Em termos práticos, toda esta região configura um crescentemente ameaçador “barril de pólvora”.

É neste contexto que se desenvolve a investida do imperialismo no Cáucaso. Perseguindo os seus objetivos econômicos, políticos e geo-estratégicos, os EUA proclamam a Transcaucásia como zona do seu “interesse vital”. Estes desenvolvimentos são indissociáveis da estratégia de expansão da OTAN para Leste e da deslocação das bases militares da Aliança imperialista para junto das fronteiras russas e fazem-se acompanhar de uma atividade febril do imperialismo euro-atlântico nas restantes Repúblicas soviéticas: desde o isolamento da Bielorússia e a diabolização do seu regime, passando pelo controle da Ucrânia e a agora por estimular o conflito em torno de Nagorno-Karabakh. Nesse sentido é preciso denunciar amplamente a ação do imperialismo ianque e da OTAN, aliados do Azerbaijão, para desestabilizar o Cáucaso e tensionar ainda mais as relações com a Rússia.