quinta-feira, 10 de setembro de 2020

BREVE ANÁLISE MARXISTA DO DISCURSO DE LULA: UM CHAMADO PARA CELEBRAR “NOVO CONTRATO SOCIAL” ENTRE A BURGUESIA E OS TRABALHADORES, TENDO A CONCILIAÇÃO DE CLASSES COMO CLÁUSULA PÉTREA E O PT DE FIADOR!  

O discurso de Lula, gravado no 7 de setembro, foi um apelo dramático para a burguesia nacional estabelecer um “novo contrato social” ou, como caracterizamos os Marxistas Revolucionários, um chamado público à classe dominante para concretizar um grande acordo político baseado na conciliação entre as classes sociais. O PT seria o principal fiador do pacto por controlar a CUT e o movimento operário e popular, tendo como cláusula pétrea desse “contrato” a harmonia das relações entre proletários e capitalistas para estabilizar o regime político burguês e garantir que a economia volte a crescer, uma equação político-econômica que segundo Lula “beneficiaria todos os brasileiros”.

Para efetivar essa plataforma socialdemocrata, Lula propõe que os capitalistas deixem de apoiar o governo neoliberal de Bolsonaro e apresenta seu nome para ser novamente o gerente do comitê de negócios da burguesia em 2022. Não por acaso, o petista fala de “unir todos os brasileiros para vivermos em harmonia” e apresenta o “voto” como o instrumento político para celebrar o pacto social. Esta é a síntese da ditadura do capital travestida em democracia, uma formulação que os reformistas não se cansam de repetir!

Foi um discurso emotivo para sua base política e eleitoral, porém voltado a um endereço social certo: os grandes empresários que controlam o PIB nativo. O chamado à “reconstrução nacional” passaria necessariamente por um governo de centro-esquerda burguesa como as gestões passadas da Frente Popular. Essa utopia do “Brasil de todos, para todos” não passa de demagogia pré-eleitoral para demonstrar que o PT se compromete a respeitar o calendário eleitoral e se manter como guardião da democracia burguesa. Lula não prestou solidariedade à greve dos Correios justamente porque ela é expressão da luta direta que o PT busca sabotar via a CUT e a burocracia sindical pelega.

Por isso o petista fala que o alicerce desse contrato social é o Estado de direito burguês, ou seja, a manutenção das instituições da república capitalista que se assenta sobre a miséria e a exploração dos trabalhadores. Não por acaso, Lula encobre que os interesses sociais imediatos e históricos entre o proletariado e capitalistas são irreconciliáveis como nos explicou Marx, uma tese revolucionária que a esquerda reformista e até grupos que se dizem trotskistas satélites do PT tentam esconder com todo o malabarismo político, lançado em nome da necessidade de “derrotar a direita” nas urnas.

Um elemento importante bastante explorado pela “esquerda” é que Lula disse não aceitar um “pacto pelo alto com as elites” ou “subscrever acordos que não tenham a participação efetiva dos trabalhadores”. Trata-se de um claro recado que não deseja uma “frente ampla” que não seja encabeçada pelo PT. Tem a “certeza pessoal” que seu partido e a CUT são o pilar de sustentação do regime burguês e do próprio governo Bolsonaro. Avisa que não serão meros espectadores e coadjuvantes eleitorais.

No fim do seu discurso, Lula não vacila em afirmar: “Através dessa reconstrução lastreada no voto, teremos um Brasil democrático... Nessa empreitada árdua, mas essencial, eu me coloco a disposição do povo brasileiro”. Trata-se de uma completa ilusão do seu papel neste momento. O fim prematuro da quarta gerência petista foi produto do colapso de um ciclo econômico mundial, no qual a política de conciliação de classes da Frente Popular foi extremamente útil para os negócios da burguesia nacional. Encerrado o “boom” das commodities e da fartura do crédito para introduzir no mercado de consumo a chamada “classe C” e financiar a expansão das grandes empresas, o governo petista perdeu sua utilidade para os reais donos do poder, o capital. Essa conjuntura à direita se mantém plenamente em nossos dias, por essa razão a burguesia nativa e o imperialismo ianque negam-se a assinar o “novo contrato social” apesar de todas as garantias prometidas por Lula e o PT...