CONFLITO DE NAGORNO-KARABAKH: OTAN ESTIMULA AGRESSÃO MILITAR DO AZERBAIJÃO CONTRA A ARMÊNIA PARA TENSIONAR AS RELAÇÕES COM A RÚSSIA NO CÁUCASO
No Azerbaijão dos dias de hoje, um consórcio das grandes transnacionais
petrolíferas (por sinal liderado pela BP) controla a fatia maior do petróleo
azeri, “reavendo” assim o domínio que até à instauração definitiva do poder
soviético em Baku, em 1920, foi exercido pela Inglaterra. É daqui que parte o
dispendioso pipeline, em fase de construção, para escoamento do petróleo do
Cáspio diretamente para o mediterrâneo turco, através da Geórgia, um projeto auspiciado pelos EUA e concebido à medida dos seus interesses com o suporte militar da OTAN que tem soldados na região.
A Rússia tem acordos juridicamente vinculativos de defesa
mútua estão, em primeiro lugar, os membros da Organização do Tratado de
Segurança Coletiva (OTSC), uma aliança intergovernamental criada em 1992
reunindo atualmente seis ex-repúblicas soviéticas: além da Rússia, integram
também Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguizistão e Tadjiquistão. Por
isso Putin considerou "inaceitável qualquer nova escalada que ameace a
segurança regional" no Cáucaso e pediu aos beligerantes
"contenção", segundo o Ministério das Relações Exteriores russo. Uma
reunião da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, um bloco liderado pela
Rússia e ao qual a Armênia faz parte, deve discutir nesta segunda a retomada da
violência entre os dois países em conflito há décadas. Chefes de governos dos dois
países trocaram acusações sobre quem teria iniciado as hostilidades na região. A
presidência do Azerbaijão acusou a Armênia de querer envolver no conflito a
aliança político-militar liderada pelos russos.
Uma guerra aberta entre o Azerbaijão e a Armênia poderia
desestabilizar toda a região do Cáucaso, onde a Rússia e a Turquia, em
particular, têm interesses geo-estratégicos concorrentes. Armênia e Azerbaijão
estão em conflito desde o início dos anos 1990 pelo controle de
Nagorno-Karabakh, também conhecido como Artsakh. O território é um enclave de
maioria armênia no Azerbaijão. Nagorno-Karabakh proclamou unilateralmente sua
independência em 1991, com o apoio da Armênia, iniciando uma guerra com o
Azerbaijão que matou cerca de 30 mil pessoas até um cessar-fogo em 1994.
Os efeitos da decomposição social decorrentes do processo de
restauração capitalista na Rússia, combinados com fatores de ordem étnica e
nacional, que não podem ser desligados do quadro geral da ofensiva imperialista
no mundo e em particular no espaço da ex-URSS, assumem na região caucásica um
carácter explosivo. São processos que não se confinam às fronteiras russas,
abarcando toda a região, embora sujeitos à ação de forças externas de sentido
oposto. Trata-se da política adotada pelo imperialismo na região: nas repúblicas do Cáucaso, a estratégia dos EUA (com o apoio da UE, a OTAN e,
inclusive, da própria OSCE) propicia e explora as linhas de ação centrífuga e
tendências de carácter desagregador, contribuindo para o enfraquecimento da
Federação Russa.
O Cáucaso inclui as Repúblicas e regiões do Cáucaso do Norte
que integram a atual Federação Russa, e os países da Transcaucásia: Azerbaijão,
Armênia e Geórgia. A cadeia de montanhas que se estende entre o mar Negro e o
mar Cáspio constitui um intricado mosaico de povos, etnias, culturas e
religiões, e por isso um terreno propenso a antagonismos e disputas. Sendo uma
região historicamente atrasada, possui contudo um valor estratégico
privilegiado como via de acesso às riquezas de petróleo e gás do Cáspio, e
devido à sua localização geográfica no eixo da placa euro-asiática. O que
explica o interesse, já de longa data, das potências imperialistas.
A região caucásica foi palco dum dos principais conflitos
inter-étnicos que influenciou o desmembramento da URSS – a guerra do
Nagorno-Karabakh entre a Armênia e o Azerbaijão – que até agora se encontrava em
estado latente mas voltou a um conflito bélico aberto. No entanto, alguns
dos conflitos que explodiram em consequência do colapso da URSS, encontram-se
ali no estádio ativo ou em convulsão intermitente. São os casos dos conflitos
“separatistas” da Abkházia e da Ossétia do Sul na Geórgia – que em muito se
constituíram em resultado do radicalismo nacionalista georgiano – ou da
paradigmática guerra da Chechênia, na Rússia. Em termos práticos, toda esta
região configura um crescentemente ameaçador “barril de pólvora”.
É neste contexto que se desenvolve a investida do
imperialismo no Cáucaso. Perseguindo os seus objetivos econômicos, políticos e
geo-estratégicos, os EUA proclamam a Transcaucásia como zona do seu “interesse
vital”. Estes desenvolvimentos são indissociáveis da estratégia de expansão da OTAN
para Leste e da deslocação das bases militares da Aliança imperialista para junto das
fronteiras russas e fazem-se acompanhar de uma atividade febril do imperialismo
euro-atlântico nas restantes Repúblicas soviéticas: desde o isolamento da
Bielorússia e a diabolização do seu regime, passando pelo controle da Ucrânia e
a agora por estimular o conflito em torno de Nagorno-Karabakh. Nesse sentido é preciso denunciar amplamente a ação do imperialismo ianque e da OTAN, aliados do Azerbaijão, para desestabilizar o Cáucaso e tensionar ainda mais as relações com a Rússia.