TURQUIA APÓIA O AZERBAIJÃO CONTRA A ARMÊNIA: O QUE ESTÁ POR TRÁS DO CONFLITO MILITAR EM NAGORNO-KARABAKH?
Em meio à escalada das tensões em Nagorno-Karabakh, o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu e porta-voz do presidente Erdogan, anunciou que Ancara prestará “solidariedade total” a Baku: “Nós estamos ao lado do Azerbaijão tanto no campo de batalha quanto na mesa de negociações”. O Kremlin por sua vez expressou sua profunda preocupação com a deterioração dramática da situação na região, o que levou a numerosas baixas, tendo condenado veementemente o uso da força pelas partes do conflito. Os Marxistas denunciam amplamente a ação do imperialismo ianque e da OTAN para desestabilizar o Cáucaso e tensionar as relações entre a Rússia e a Turquia. A Turquia é uma potência colonial armada pelos EUA mas desde que o regime de Erdogan começou a estabelecer parcerias comerciais e militares com a Rússia de Putin, Washington começou um movimento gradual de afastamento da Turquia, que no entanto permanece como membro da OTAN.
Nesta segunda-feira, o Ministério das Relações Exteriores da Armênia acusou a Turquia de estar diretamente envolvida em ações militares na zona de conflito. “Especialistas militares turcos usando armas turcas, incluindo drones e aeronaves militares, estão lutando com os azerbaijanos”. Ancara pretende conseguir uma ligação terrestre com o Azerbaijão, pelo que Nagorno Karabakh e a Armênia são um obstáculo neste sentido. O presidente armênio Pashinyan telefonou para o presidente Vladimir Putin para discutir a situação na região.
Nagorno Karabakh é uma região montanhosa e sem litoral no sul do Cáucaso, que está no centro de um confronto de décadas entre a Armênia e o Azerbaijão. É um estado independente 'de fato' que ocupa territórios reivindicados pelo Azerbaijão e tem fortes laços com a Armênia. Povoado historicamente por armênios, durante o tempo da União Soviética esse território estava administrativamente sujeito ao Azerbaijão com o nome de Província Autônoma de Nagorno Karabakh, embora gozasse de certo nível de autonomia. No final da década de 1980, as relações entre armênios e azerbaijanos pioraram, levando a confrontos entre os dois grupos étnicos. Quando o Azerbaijão anunciou sua independência em 1991, a província - que em 1989 tinha 189.000 habitantes, 77% dos quais eram armênios - também se declarou independente no marco do processo de restauração capitalista.
Com a escalada das hostilidades entre 1992 e 1994, a
República de Nagorno Karabakh - apoiada pela Armênia e voluntários de outros
países - conseguiu conter a ofensiva do Azerbaijão e até anexou vários
distritos vizinhos, garantindo uma fronteira comum com a Armênia. Em 1994, a
guerra terminou com a assinatura de acordos de cessar-fogo. Para controlar a
trégua, foi criado o chamado Grupo de Minsk, subordinado à OSCE e presidido
pela Rússia, França e Estados Unidos. Desde então, porém, a trégua foi violada
em inúmeras ocasiões, e as últimas escaladas mais notáveis ocorreram em abril
de 2016 e em julho deste ano.
Todo esse conflito ocorre porque Nagorno Karabakh serve como
um corredor para oleodutos que levam petróleo e gás aos mercados mundiais. É
uma região de importância internacional, que de fato se tornou mais importante
nos últimos 25 anos devido aos oleodutos e gasodutos que a atravessam. Temos a
Turquia a oeste, o Irã ao sul, a Rússia ao norte e enormes quantidades de
reservas de hidrocarbonetos do Cáspio a leste, que transitam pelo Cáucaso,
muito perto de onde os combates estão ocorrendo no momento.
Em uma conversa telefônica com seu homólogo armênio
Pashinyan, o presidente russo Vladimir Putin afirmou que é necessário evitar
uma nova escalada do confronto e, mais importante, interromper as operações militares
em Karabakh. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, falou
com seus homólogos do Azerbaijão e da Armênia e "pediu uma influência na
situação para acabar com a violência". Outro vizinho dos dois estados
envolvidos no conflito, o Irã, pediu o fim das hostilidades sem demora e
ofereceu sua ajuda para "iniciar as negociações entre as duas partes”. O secretário de imprensa da Organização do
Tratado de Segurança Coletiva (CSTO), Vladimir Zainetdinov, que culpou Baku
pelas hostilidades.
O único país a expressar abertamente seu apoio ao Azerbaijão foi a Turquia, que no mesmo domingo acusou a Armênia de iniciar o conflito. "Condenamos veementemente o ataque armênio, que é uma clara violação do direito internacional e causou vítimas civis", disse o Ministério das Relações Exteriores turco em um comunicado, acrescentando que apoiará Baku "por todos os meios". O presidente turco Recep Tayyip Erdogan apelou "a todo o mundo para apoiar o Azerbaijão em sua luta contra a ocupação e opressão" em um claro chamado a guerra. O presidente da Armênia denunciou que a Turquia participa dos combates em Nagorno Karabakh apoiando as forças do Azerbaijão com a ajuda de mercenários e combatentes F-16.
Logo depois, Erdogan reiterou que a Armênia deve retirar-se
imediatamente do território azeri que está "invadindo" e que é hora
de acabar com a crise em Nagorno Karabakh. Por sua vez, o ministro da Defesa
turco, Hulusi Akar, disse que Yerevan deveria parar com a ocupação das terras
do Azerbaijão e mandar de volta os "mercenários e terroristas" que
trouxe do exterior para alcançar a estabilidade na região.
O principal conselheiro do primeiro-ministro armênio,
Vagharshak Arutiunián, afirmou que uma guerra em grande escala está ocorrendo
em Nagorno-Karabakh com a participação do Azerbaijão e da Armênia, e a Turquia
está influenciando diretamente esta situação. "Estamos nos preparando para
uma guerra de longo prazo. Por quê? Porque eu digo novamente que o jogador
principal aqui não é o Azerbaijão, mas a Turquia . E busca seus objetivos
geopolíticos".
É neste contexto que se desenvolve a investida do
imperialismo no Cáucaso. Perseguindo os seus objetivos econômicos, políticos e
geo-estratégicos, os EUA proclamam a Transcaucásia como zona do seu “interesse
vital”. Estes desenvolvimentos são indissociáveis da estratégia de expansão da
OTAN para Leste e da deslocação das bases militares da Aliança imperialista
para junto das fronteiras russas e fazem-se acompanhar de uma atividade febril
do imperialismo euro-atlântico nas restantes Repúblicas soviéticas: desde o
isolamento da Bielorússia e a diabolização do seu regime, passando pelo
controle da Ucrânia e a agora por estimular o conflito em torno de
Nagorno-Karabakh.