O presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Joseph Blatter, chegou na noite desta quinta-feira (15) a Brasília. Depois de desembarcar no aeroporto em um moderno avião da própria FIFA, onde não precisou sequer passar pela alfândega, ele foi recebido por batedores oficiais que o levaram direto para um hotel, e em seguida para a casa do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, onde seria recepcionado com um jantar. O cerimonial da recepção dedicado a Blatter só é utilizado para chefes de estado em viagens diplomáticas, e até onde nós sabemos, a Fifa, uma entidade privada, ainda não foi proclamada pela ONU como uma nação soberana. O que mais surpreende no servilismo do governo da frente popular é que o fato ocorre logo após o secretário geral da Fifa, Jérome Valcke, ter declarado publicamente que o Brasil deveria levar um “chute no traseiro”. Indagado pela imprensa “murdochiana” se o secretário geral da entidade continuaria a vistoriar as obras dos estádios da copa do mundo em construção “acelerada” para 2014, Blatter não se fez de rogado, e afirmou que “Valcke continua vivo e desempenhando normalmente suas funções no Brasil”. Logo após, no jantar com “autoridades” palacianas, o chefão da Fifa declarou que só discutiria as pendências da Copa com a própria presidente Dilma, a quem considera uma “colega de estado”. O “poder” da mafiosa Fifa sobre os governos lacaios parece que não se intimida nem mesmo diante do gigantismo do “milagre” brasileiro, que sob o comando de Lula bradava que o país não se ajoelharia mais ao FMI, como nos tempos de FHC, agora faz pior e pede a “benção” a um clube imperialista de gangsters do “futebol business”.
A chegada de Blatter ao Brasil, ocorre não por coincidência no momento da renúncia do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, após um “reinado” absoluto de mais de vinte anos a frente da entidade. Teixeira foi levado ao controle da CBF pelo sogro, João Havelange ex-presidente da FIFA que depois se tornou principal adversário de Blatter. No último período Teixeira e Blatter vinham se chantageando mutuamente através de dossiês onde se comprovava fartamente a corrupção de ambas as entidades. Nesta briga de ladrões, na qual Teixeira era amplamente respaldado pelo império das comunicações dos Marinho, o governo Dilma optou pelo campo de Blatter, pressionando pela renúncia do capo da CBF. A escolha do novo presidente da CBF, o ex-governador de São Paulo José Maria Marin, foi uma solução acordada diretamente entre as partes que disputam o “pote de ouro” da Copa de 2014.
A polêmica que tomou conta dos noticiários em torno da liberação de bebida alcoólica nos estádios de futebol durante os jogos do mundial, um dos itens da lei geral da Copa que ainda tramita no Congresso Nacional, não passa de uma verdadeira cortina de fumaça para enganar os tolos e falsos moralistas da “esquerda” pequeno-burguesa. Logo a reacionária bancada evangélica se insurgiu contra a venda de cerveja nos estádios, e logo foi seguida pelos “probos” do PT e PSOL, que desta forma legitimavam a própria aprovação do “grosso” dos negócios milionários da Copa, que envolvem as grandes empreiteiras do país. O governo se aproveitou da falsa polêmica moralista do álcool, chegando a emitir apoio ao mesmo tempo às duas posições em conflito, para logo depois afirmar que iria honrar a carta de compromisso assinada por Lula com a Fifa, que incluía a permissão da venda de bebidas alcoólicas. Desta forma, o fulcro do debate acabou passando desapercebido, ou seja, os vultuosos empréstimos subsidiados pelo BNDES, a juros muito abaixo do mercado, para as grandes empreiteiras que dão suporte ao governo da frente popular.
A submissão de uma nação que se diz soberana a um clube de mafiosos, sob o pretexto de não prejudicar a “paixão nacional” pelo futebol, é apenas um dos elementos que marcam o caráter dependente ao imperialismo , dos governos do PT e seus aliados “socialistas”. Não devemos esquecer que recentemente o Brasil votou na ONU, a favor da intervenção imperialista na Síria e não muito distante se absteve de condenar a invasão da Líbia pelas forças da OTAN. A retórica de “independência” verbalizada nos últimos tempos pela diplomacia do Itamaraty, não resiste sequer a ingerência do país por uma quadrilha comandada por Blatter e seus acólitos de menor quilate, como Valcke. Por sua vez, os comitês populares que vem se formando contra os desmandos da Fifa no Brasil, carecem de uma clareza programática e permanecem reivindicando a realização de uma “outra copa”, como se fosse possível conciliar a atual estrutura mercantil dos esportes com o entretenimento popular do futebol. Por este motivo os marxistas revolucionários devem declarar, sem medo da opinião pública, que nesta copa do futebol mercenário “torceremos” pela derrota de todas as seleções (incluindo a “canarinha”), aliando a denúncia ativa de massas das negociatas estatais da copa do mundo, que só levarão mais pobreza e infelicidade ao nosso povo.