Na tarde desta quinta-feira, 29, oficiais militares da reserva se reuniram no Clube Militar, Rio de Janeiro, para comemorar o 48º ano do golpe contrarrevolucionário de 64 com o debate: “1964 – A verdade”, em um ato contrário à “Comissão da Verdade” criada pelo governo Dilma. Trata-se de uma clara provocação política com o objetivo de colocar o governo da frente popular ainda mais na defensiva, apesar desta iniciativa institucional não representar nenhuma ameaça de fato aos milicos torturadores. Em uma resposta a este ato da direita fascista, centenas de manifestantes ocuparam e bloquearam a entrada principal do Clube Militar, contando com a presença de familiares de desaparecidos políticos e ativistas do movimento popular e organizações de direitos humanos que logo foram duramente reprimidos pela PM do governo Sérgio “Caveirão” (PMDB), partido da “base aliada” do governo Dilma.
Para simbolizar a selvageria da ditadura semifascista e os assassinatos de militantes de esquerda, foi derramada sobre as escadarias do Clube Militar várias latas de tinta vermelha, lembrando o sangue das vítimas da repressão. Os manifestantes bloquearam a entrada do Clube gritando palavras de ordem contra cada militar que conseguia furar o cerco e adentrar no prédio, além de jogar ovos contra os saudosistas do regime militar e da tortura de presos políticos. Como ratos covardes, muitos militares entraram escoltados pela PM por uma entrada secundária ao lado do prédio. No encerramento da malfadada “reunião” dos gorilas assassinos de pijama, os manifestantes protestaram contra os militares que tentavam deixar o local, principalmente tendo como alvo o general Nilton Cerqueira, ex-secretário de Segurança do Rio, que comandou a operação que assassinou Carlos Lamarca, no interior da Bahia em 1971. Neste momento, dois ativistas foram presos e a multidão foi até o camburão para exigir a soltura dos mesmos, quando a PM, a mando do Sérgio “Caveirão”, passou a reprimir duramente os ativistas com gás pimenta e bombas de efeito moral. Em protesto a esta brutalidade, os ativistas conseguiram fechar a Avenida Rio Branco empunhando faixas, bandeiras e gritando palavras de ordem contra os gorilas durante vários minutos.
Apesar de importante, este contra-ato de protesto não pode ficar isolado e organizado a partir da espontaneidade de ativistas. Esta iniciativa de combate deve ser estendida para todo o movimento operário, popular e estudantil porque trata-se de uma real provocação contra o conjunto do movimento de massas arquitetada pela alta cúpula das FFAA e não como quer fazer crer os partidos “chapa branca” como algo isolado dos militares da reserva. Esta “comemoração” é uma resposta às tímidas tentativas do governo Dilma de instalar a chamada “Comissão da Verdade” no sentido de limitá-la ainda mais. O comando do Planalto já garantiu que nenhum general da reserva ou da ativa será punido, mas os militares nem sequer querem cogitar “debater” a público seus crimes covardes,os quais envolvem evidentemente personalidades do ramo empresarial como banqueiros, empreiteiros, a Globo, Folha de S.Paulo etc.
Para derrotar efetivamente os milicos assassinos somente a ação independente da classe operária poderá “vingar” historicamente nossos heróicos combatentes mortos e torturados por um regime militar instaurado a serviço da acumulação capitalista mais selvagem. A condenação dos militares assassinos deverá ser produto de um novo ascenso do proletariado, desaguando na organização de conselhos populares para impulsionar os tribunais da justiça de classe e, por consequência, na abolição da democratizante “Lei de Anistia”, tão festejada à época por todos os reformistas do PCB , PCdoB e MR8. Esta tarefa radicalmente democrática é parte integrante do programa da revolução socialista para demolir todas as instituições do atual regime político democratizante, herdeiro bastardo das mesmas instituições de classe da ditadura militar. Se o golpe fascistizante de 64 foi “pensado” e efetivado pelos grandes grupos econômicos capitalistas, “nacionais” e imperialistas, utilizando o braço militar do Estado burguês, seu contraponto definitivo, para o proletariado, será estabelecido com a abolição da mercadoria e da própria lei do valor, em síntese com o surgimento de um novo regime de produção (socialista) e da instauração de um Estado de “novo tipo”.