terça-feira, 20 de março de 2012


A república dos novos Barões e a morte de mais um “Zé Ninguém”

Mal saía das manchetes com o anúncio de que figurava entre os dez homens mais ricos do mundo (7ª posição), Eike Batista voltou aos noticiários, desta vez policiais, com a notícia da morte de um trabalhador em uma rodovia do estado do Rio de Janeiro. O fato ocorreu na noite deste sábado (17) quando a Mercedez McLaren dirigida em alta velocidade pelo seu filho mais velho, Thor Batista, atropelou e matou Wanderson dos Santos, 30 anos, um trabalhador negro que utilizava seu meio de transporte (uma bicicleta) para fazer compras para a família. O carro de Thor (incidentalmente o nome de um deus da guerra Viking), avaliado em mais de um milhão de reais pode atingir uma velocidade de 350Km por hora (por isso a denominação de McLaren da fórmula-1), colheu frontalmente a bicicleta de Wanderson, que custava cerca de cem reais, sem que a vítima tivesse a menor chance de sobrevivência. Logo o “deusinho” Batista foi apresentado como a “vítima” de um irresponsável pobre “Zé Ninguém”, que sequer amealhou um patrimônio em sua curta vida, e sai por aí pedalando uma miserável bicicleta para ameaçar a vida do primogênito herdeiro mais rico do país. Registre-se o fato de que a carteira de habilitação de Thor (Eike quando criança gostava muito de desenhos animados épicos) já acumulava infrações suficientes para sua cassação e, não por coincidência, todas por excesso de velocidade. Mais uma vez na história, a república escravocrata dos barões inocentou rapidamente o jovem bilhiardário, emitindo rapidamente “laudos periciais” que comprovaram a culpa da “direção perigosa” do negro e sua temível bicicleta auto-assassina contra a “singela” McLaren de propriedade do clã Batista.

Oito mil reais foi o preço pago por Eike pela vida de operário Wanderson, dinheiro oferecido “generosamente” a sua família para as despesas do funeral. Duzentos mil reais vai para o concerto de sua Mercedez McLaren, que já não mais servirá para uso da família Batista por ser considerada “sucateada”. Nunca se saberá quanto exatamente pagará de propina a gestores corruptos (incluindo juízes) para livrar a cara do filho assassino. E o mais importante que “não tem preço”, a solidariedade de toda a elite dominante com o infante Thor, passando pelos astros globais como Luciano Hulk (o mesmo que reforma carros de gente humilde para ganhar audiência) até o todo poderoso oligarca Sarney e sua asquerosa entourage política.

Eike acumulou rapidamente um patrimônio pessoal de mais de cinquenta bilhões de reais as custas da “generosidade patrimonialista” do estado brasileiro. Seu pai Elieser Batista, um ex-colaborador do governo João Goulart, ocupou várias vezes a presidência da Vale do Rio Doce sendo o principal articulador “técnico” de sua privatização na gestão FHC. Com a “herança” estatal da Vale em suas mãos, Eike logo potenciou a fortuna da família, especializando-se na estratégica área da mineração e gás. Mas foi na gestão da frente popular que Eike deu um salto em seus negócios, tornando-se o empresário mais rico do país. Lula tinha um projeto de “criar” uma nova burguesia brasileira, escapando das chantagens da decadente elite dominante da FIESP tucanada. O “casamento” dos interesses de Lula e Eike resultou em uma parceria para desenvolver megaprojetos bancados pelo BNDES, buscando aproveitar o excesso de liquidez do mercado financeiro internacional. Com o BNDES na função de seu avalista privado, Eike desenvolveu um verdadeiro império econômico no Rio de Janeiro (estaleiros, refinarias, siderúrgicas, indústria de motores, entretenimento, etc.),que todavia ainda não está em pleno funcionamento. Como contra partida a “ajudazinha” estatal, Eike se compromete com a fidelidade política e financeira ao PT e seus aliados mais próximos, este é o caso do governador carioca Sergio “Caveirão”.

Seria mesmo impensável que o maior herdeiro das capitanias “brasiles” fosse parar na cadeia por matar um negro e pobre ajudante de caminhoneiro, como era o caso de Wanderson. Ainda mais sob a égide de governos (Dilma e Cabralzinho) tão afinados com os negócios do ascendente “papai business world”. Cadeia neste Brasil, apesar de ter passado pelas mãos da presidência de um operário nordestino, continua sendo coisa para 3P (puta, preto e pobre) e nunca para um tipo da “espécie” dominante 3B (barão, bilionário e business).