China pactua “trégua nuclear” da Coreia do Norte com a Casa Branca
O governo da Coreia do Norte anunciou uma suspensão dos testes com mísseis de longo alcance e das experiências nucleares, além da permissão para inspetores-espiões da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU visitarem as instalações nucleares do país. A decisão foi produto de negociações com os EUA intermediadas pela China logo após a morte de Kim Jong-Il. O mais sintomático é que medida foi adotada justamente quando estão sendo realizados exercícios militares conjuntos entre os EUA e a Coreia do Sul nas proximidades da fronteira com o Estado operário norte-coreano envolvendo 200 mil soldados, previstos para durar até 9 de março. Desta forma fica absolutamente claro que o governo norte-coreano, pressionado pela China, seu principal parceiro comercial e político, foi “aconselhado” a fechar um acordo com o imperialismo ianque, justamente no momento em que o Pentágono está desenvolvendo uma nova provocação militar contra a República Popular Democrática da Coreia (RPDC). Afinal, o que está por trás dessa “trégua nuclear” anunciada pelo regime stalinista comandado por Kim Jong-un há menos de dois meses da morte de seu pai, Kim Jong-Il?
A imprensa burguesa mundial apresentou o acordo como uma troca de 240 mil toneladas de alimentos pela suspensão das atividades nucleares e dos testes de mísseis de longo alcance. Mas esta permuta é apenas uma cortina de fumaça para dar um tom “humanitário” à chantagem que é exercida pelos EUA contra a Coreia do Norte, avalizada pela China. Na verdade, por trás dessa pressão há o objetivo de levar a cabo o processo de restauração capitalista na Coreia do Norte. Os dirigentes do Estado operário norte-coreano parecem ter optado por copiar o chamado “modelo chinês”, baseado no rígido controle político do aparelho do Estado ao lado de uma lenta e gradual política de concessões econômicas ao capitalismo que possibilite formar uma nova classe social burguesa no país. Buscando conduzir esse processo, o governo chinês planeja reduzir o poderio militar da Coreia do Norte para ter mais controle da transição ordenada no país. Justamente por esta razão, o desarmamento nuclear da Península Coreana foi tema da reunião ocorrida no dia 24 de fevereiro entre diplomatas norte-coreanos, norte-americanos e chineses em Pequim.
Uma prova disso é que as medidas adotadas pelo governo da RPDC foram comemoradas no Brasil pelo PCdoB, defensor do mal-chamado “socialismo de mercado” chinês. Em Editorial do portal Vermelho os ex-estalinistas afirmam: “O governo de Pyongyang sinaliza sua intenção pacífica. A necessidade de defender o país impõe um alto custo e a busca da paz é necessária para enfrentar os graves problemas econômicos e sociais” (01/03). Ao mesmo tempo, o PCdoB noticiou que a “China saúda resultados de diálogo entre Coreia do Norte e EUA” afirmando “O porta-voz da chancelaria chinesa, Hong Lei, disse que seu governo fará esforços com as partes interessadas a fim de promover a retomada das conversações de seis partes para a desnuclearização da Península Coreana, nas quais participam as duas Coreias, os Estados Unidos, a Rússia, o Japão e a China. A China conclama a República Popular Democrática da Coreia (RPDC) e os Estados Unidos a melhorar suas relações e dar suas respectivas contribuições à manutenção da paz e estabilidade na península, disse o porta-voz” (Idem). Como se vê, envolto no cínico discurso em defesa da “paz”, estes canalhas traficam a rendição militar da Coreia do Norte e apresentam oficiosamente a restauração capitalista “à chinesa” como suposta alternativa aos problemas econômicos e sociais que enfrenta o Estado operário norte-coreano. Como parte desse jogo político e militar pelo contole da região, apesar de pressionar pelo acordo, está claro que não interessa a China uma reunificação coreana sobre controle dos EUA, que daria a Casa Branca influência estratégica na Península que lhe é fronteiriça. Daí a aproximação do governo chinês com Kim Jong-un e seu tio, Chang Sung-taek, tido como o real dirigente da burocracia stalinista.
O certo é que com a morte do Kim Jong-Il a pressão pela restauração capitalista, que ganhou grande incremento com a liquidação contrarrevolucionária da URSS e a conversão da China ao capitalismo, vem se recrudescendo para impor o fim do Estado operário norte-coreano. A política contrarrevolucionária da burocracia stalinista, hoje formalmente dirigida por Kim Jong-un, mas de fato controlada pelos generais do exército, está buscando uma mediação com as potências imperialistas através da China para uma transição ordenada ao capitalismo. Porém, a tomar como exemplo os planos do imperialismo para a Síria e a investida “democrática” contra Putin na Rússia, o imperialismo deve pressionar para haver uma ruptura por dentro do aparato estatal, ainda mais com uma liderança frágil a frente do Estado e do PTC. O controle de como será esse processo e quem o comandará é justamente o ponto de tensão entre a China e o imperialismo ianque. A Casa Branca está se aproveitando do quadro de instabilidade interna na Coreia do Norte para acelerar o processo de restauração capitalista no país a seu modo e patrocinar grupos civis que busquem insuflar protestos made em CIA no estado operário norte-coreano aos moldes dos que vem patrocinando no Oriente Médio e na Rússia. Com o fim da URSS e a perda dos parceiros comerciais do Leste europeu, a Coreia do Norte viu sua economia contrair-se em 30% nos cinco anos que se seguiram a 1991. Restou a China, hoje convertida ao capitalismo. A intensa reação ideológica mundial patrocinada pela mídia imperialista e o cerrado bloqueio econômico tendem, cada vez com maior intensidade, a estrangular o Estado operário, aumentando as tensões intraburocráticas.
Como genuínos revolucionários jamais nos somamos à sórdida e criminosa campanha da Casa Branca que sataniza o regime político da Coreia do Norte para debilitar o Estado operário; ao contrário, defendemos incondicionalmente suas conquistas sociais revolucionárias. Justamente por esta razão, nos opomos a essa “trégua nuclear” e reivindicamos o legítimo direito de defesa da Coreia do Norte, inclusive utilizando seu arsenal bélico nuclear, para responder às provocações imperialistas. Para tanto, é preciso o proletariado norte-coreano se opor ao processo de restauração capitalista, seja pelas mãos da China ou dos EUA, pela via de uma revolução política para colocar à frente do Estado operário um autêntico partido comunista como alternativa proletária à empedernida burocracia stalinista.