Crise na “base aliada” do governo ou a guerra das quadrilhas quando se ausenta o “capo”
O termo “base aliada”, criado para definir o arco político de apoio parlamentar ao governo Dilma, parece que não corresponde mais a nova realidade nacional. Poderia se chamar agora “base inimiga” em plena guerra intestinal. O certo é que após a troca das lideranças do governo na Câmara e no Senado, medida tomada para tentar estancar a crise, Dilma vem enfrentando um verdadeiro “inferno astral”, paralisando todas as votações “importantes” no Congresso Nacional. O móvel da mudança de lideranças do governo no parlamento teve como eixo a formação de uma nova cúpula, identificada mais diretamente com a presidente “poste” Dilma, e não com os velhos caciques corruptos do Congresso, como Sarney, Renan e Alves. Mas a manobra teve efeito contrário e nem sequer os senadores do “bloco independente” do PMDB (Simon e Jarbas) foram atraídos para a ex-base aliada. Já os desafetos políticos dos novos líderes do Congresso, como a bancada do PR, anunciaram que ingressariam no campo da oposição. A situação é tensa impedindo que o governo consiga vencer alguma votação importante na Câmara dos Deputados, como a lei geral da Copa e o novo código florestal, ambas adiadas para depois da Páscoa.
A tentativa feita por Dilma de “passar por cima” da costura podre feita por Lula no congresso com as oligarquias mais asquerosas da política burguesa, corresponde a uma avaliação equivocada da conjuntura, qual seja, já que o país atravessa um bom momento econômico, gerando altos índices de popularidade para o governo, e Lula amarga uma ausência prolongada da vida política, “Eu posso deixar de ser poste!”. Acontece que o sonho de deixar de ser a sombra do mito, esbarra na completa falta de carisma político de Dilma, uma “criatura” sem vida própria, forjada apenas para ser um mandato tampão de plena confiança. Outro elemento fundamental “esquecido” por Dilma foi o próprio caráter fisiológico e corrupto da “base aliada” montada por Lula. Sem a menor identidade “ideológica” com o já desfigurado PT, os partidos tradicionais burgueses (PMDB, PR, PP, PTB etc.) foram se incorporando a base da frente popular em troca de espaços e controle de verbas do Estado capitalista, e jamais se dispuseram a praticar alguma “firula” populista de esquerda, como faz o PDT ou PSB.
O resultado da “aventura” Dilmista foi a instalação de uma guerra das velhas quadrilhas no Congresso, que agora se sentem desprestigiadas politicamente, apesar de ainda conservarem boa parte dos seus cargos no organograma do Estado burguês, encavacado pela frente popular. A votação do novo código florestal, que retorna à Câmara após as modificações feitas pelo Senado, é um bom exemplo da impotência de Dilma frente aos apetites mais vorazes da chamada bancada ruralista. Mesmo apelando “humildemente” ao PMDB, PP e até ao novato PSD, Dilma ouviu um sonoro “não” a sua reivindicação pela aprovação do projeto, já formatado pelo governo para atender aos interesses do latifúndio. Os ruralistas querem mais concessões e impuseram sua vontade a liderança do PMDB. Também a aprovação da lei geral da Copa passa pelo mesmo impasse, desta vez sob a chantagem da bancada evangélica que domina boa parte dos partidos da “base aliada”.
A presença política ativa de Lula, exercendo seu bonapartismo tupiniquim, era um elemento fundamental para o equilíbrio da feroz disputa das quadrilhas burguesas pelo controle do botim estatal. Mesmo tendo ultrapassado bem as “crises” anteriores, provocadas pela sequência de escândalos de corrupção em seu ministério, Dilma não conseguirá solucionar o atual impasse no Congresso sem ceder às chantagens das frações partidárias corrompidas e “seviciadas” pelo capo maior da frente popular. A ausência de qualquer iniciativa independente das massas no cenário político nacional, remete a resolução da “crise parlamentar” para as viciadas instâncias do “toma lá da cá” do regime bastardo da democracia dos ricos. A “oposição de esquerda” que acaba se solidarizar-se no Senado com o reacionário Demostenes Torres, considerado um aliado circunstancial, se mostra impotente programaticamente para realizar uma ampla campanha de desmoralização das instituições “representativas” (das classes dominantes) do Estado burguês. Somente a entrada em cena da classe operária e seu partido revolucionário, poderá estabelecer um verdadeiro confronto de massas entre os “corruptores e as corrompidas” instituições desta república apodrecida dos “novos barões” capitalistas.