O ocaso do “xerife” Demóstenes, o malabarismo do PSOL e a corrupção nas instituições da República dos novos “barões”
O até então “vestal” Demóstenes Torres foi “flagrado” pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em ligações telefônicas com Carlos Cachoeira, chefe do jogo de caça-níqueis em Goiás e Brasília. O senador do DEM estava intermediando favores junto aos três poderes da República, particularmente do judiciário, onde mantinha uma relação privilegiada com o ministro do STF, Gilmar Mendes. Demóstenes também estava fazendo negociatas em torno de compras e licitações na Infraero e mantinha contatos diretos com a direção da revista Veja, para plantar e capitalizar escândalos que lhe rendiam poder de barganha em novas negociatas. Nada de novo no “reino” de Brasília, ou melhor dizendo, no balcão de negócios que é o parlamento burguês, onde cada parlamentar está responsável por defender os interesses mafiosos das grandes empresas capitalistas, legais e ilegais. Não é de se estranhar, portanto, que nada menos que toda a bancada parlamentar de Goiás receba “presentes” de Cachoeira.
O que chama atenção nesse “escândalo” reside no fato de que logo no início das “denúncias” todo o espectro político do Congresso Nacional, desde o PSDB-DEM passando pelo PT-PMDB-PCdoB e abarcando até o PSOL, do senador Randolph Rodrigues, do Amapá, saiu em defesa do “probo” Demóstenes. Isso significa que todos os partidos estão envolvidos com esquemas iguais ou no próprio negócio armado por Cachoeira. O fato de Randolph inicialmente defender Demóstenes “contra as precipitações da mídia” deve-se a que o senador do PSOL ser afilhado político de Sarney, que elegeu essa figura tragicômica e agora cobrou a conta. Coisas da política... burguesa, Sarney também tem seu negócios com Demóstenes e pediu para o senador do PSOL fazer uma fala acerca do “julgamento sem precipitações” em relação ao parlamentar do DEM! Com as novas revelações ficou insustentável manter o script para blindar o ex-promotor de justiça de Goiás metido a vestal e logo o PSOL deu um giro de 180º graus. Ivan Valente e Chico Alencar, tendo ao lado o mesmo palhaço Randolph, protocolaram uma representação contra o senador do DEM por quebra de decoro parlamentar visando capitalizar o escândalo como paladinos da “ética na política”. Já se fala até em CPI...
Na verdade, o esforço no parlamento burguês é para o caso Demóstenes agora ser resolvido o mais rápido possível, exigindo-se sua renúncia. Não interessa ao governo aprofundar qualquer investigação, afinal de contas, todo o espectro político partidário e os altos escalões da República estão envolvidos, inclusive o PT, já que Cachoeira tem informações privilegiadas sobre o esquema do mensalão de 2005 com participação direta de José Dirceu e Lula. As informações levantadas pela PF visam unicamente tirar Demóstenes de cena, já que o senador do DEM era um dos porta-vozes da oposição conservadora, sempre auxiliada pelo PSOL, nas denúncias sobre os esquemas de corrupção nos governo da frente popular de Lula e Dilma. Sonhava até com uma candidatura a presidente em 2014. Por tabela, o escândalo atinge também José Serra, a revista Veja e Gilmar Mendes, que saem do episódio fragilizados pela exposição pública de suas relações íntimas com Demóstenes e, indiretamente, Cachoeira. Tais informações são muito úteis em um ano eleitoral, ainda mais no duro embate eleitoral que haverá entre PT e PSDB pela prefeitura de São Paulo.
Como se vê, trata-se literalmente de uma queima de arquivo vivo. O mais interessante de todo esse enredo é que do ponto de vista político o governo Dilma sai fortalecido diante dos acontecimentos, tendo em vista que o DEM se fragiliza ainda mais e o Senado perde o seu “xerife” direitista. Para o movimento operário, que assiste passivo ao festival de escândalos de corrupção e de denúncias envolvendo o governo Dilma e os expoentes da oposição burguesa conservadora, fica a lição de que na ausência de uma alternativa de classe à frente popular e a direita, o regime político burguês segue estabilizado para suas “instituições democráticas” avançarem contra os direitos e conquistas dos trabalhadores como se viu na recente aprovação do Funpresp neste dia 29 de março no próprio Senado, que privatiza a previdência dos futuros servidores públicos, justamente no momento em que “ardia a fogueira” contra Demóstenes.